quinta-feira, 27 de outubro de 2011

De tempos em tempos um furacão passa pela minha vida. Depois da passagem dele, eu fico alguns dias em estado semi-catatônico, juntando os pedaços espalhados. Desta última vez foi tão intenso, a dor foi tão aguda e a beleza da catástrofe tão hipnotizante que somente hoje depois de vários dias consegui começar a sair do limbo, os olhos deixaram de ficar arregalados.

Preciso organizar as idéias, recolher o que sobrou nos escombros, porque ao que parece em sua próxima passagem o furacão vai me levar junto. Preciso saber se estou preparada para o vórtice, para o pulo derradeiro, e isso toma tempo. A distância ainda que dolorida acaba sendo necessária e um bálsamo. É hora de contabilizar. E decidir se tenho coragem de aceitar aquilo que quero.

sábado, 15 de outubro de 2011

O medo, a dúvida e a coragem.

Eu caminho como quem anda sobre o gelo fino, à beira do precipício, pisando em ovos. Uma hesitação, o cálculo errado de peso, o reflexo do sol, e é o fim. O fim me espreita e me enche de pavor. E o pavor me leva cada vez para mais perto do fim. E no entanto ele não chega. Mas está à espreita para - quem pode me dizer?  - vir para ficar. Ou não ficar. Mas em todos os momentos as armadilhas do caminho já vão me matando aos poucos.

As situações extremas sempre me impressionam quando vejo em um filme, leio em um livro - grandes catástrofes, guerras, doenças incuráveis, perdas irreparáveis, ou até as chateações diárias que vão se acumulando até virarem polvos com tentáculos dos quais não conseguimos mais escapar. Mas para serem extremas não precisam ser tão palpáveis.

Aquilo que vamos arrastando todos os dias, o que vai nos consumindo por dentro, comendo-nos vivos aos poucos, as punhaladas ora no coração, ora no estômago, o entre esperança e desespero, o não saber, o não aceitar, o não poder saber, o esperar, o desistir, o grande ponto de interrogação. Tudo isso vai minando nossas forças, cada dia um pouco, uma gota por vez, quando se vê, a infiltração vem derrubando as paredes.

E o medo, o medo. O medo de deixar ir o que tinha que ser para ficar. O medo de não deixar ir o que deveria partir. E o medo de não poder decidir, esse sim, o mais cruel, o que nos põe de joelhos, mãos no rosto, e nem lágrimas servem mais.

O vórtice, o redemoinho, o escoadouro que ameaça levar tudo, tudo como se não tivesse sido nada. E poderia. E deveria. E seria. Mas a voz grita lá dentro, no mesmo lugar onde já gritou antes - e ela tinha razão. Mas nem sei se é a mesma voz ou se é o medo falando, ele tende a ser enganador, venenoso, cheio de truques.

E a dúvida. O coração dividido sem saber para que lado ir. Ou se deve ir para nenhum lado e ficar quieto que dá menos trabalho e dói menos. E ainda mais estranha é a presença da dúvida - onde antes as certezas pareciam absolutas. Mas apesar de tão cruel quanto o medo, a dúvida pelo menos oferece a possibilidade da possibilidade - a opção. Resta saber onde encontrar a coragem para fazê-la.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O meu desejo atendido que caiu nos meus braços acaba de cair no chão, e quebrou irremediavelmente. A felicidade durou umas trinta horas e acabou. Estou de luto. E vai demorar para passar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A gente quer...



Grande parte da vida é desejar. O óbvio é o atendimento às necessidades básicas. Depois disso começa o perigo, começamos a querer. Desde o início da vida desejamos. Primeiro colo, depois brinquedos, depois objetos variados, aceitação, amor, realização. Alguns desejos nos engolem e nos fazem escravos. Dos materiais não quero falar, esses são objeto de discussão de quem sabe do que está falando. Eu hoje modestamente também sei do que estou falando, mas é intangível.

Os desejos não cessam nunca, o que é bom, porque senão estaríamos mortos, porém, também nos escravizam. O mais engraçado é quando vemos a perspectiva de um desejo há longo tempo acalentado tornar-se real. Eu vejo a imagem dos braços abertos esperando uma coisa cair. E quando ela cai, finalmente, depois de muito sangue, suor e lágrimas, não sei o que fazer com ela. Realmente temos que tomar cuidado com o que pedimos. Eu levo dias para processar grandes coisas que acontecem. Ainda está em andamento. É dolorido, porque os meus processos nunca são simples, eu pedi tanto uma complicação que consegui. E ao mesmo tempo, é magnífico, é tão grande que em alguns momentos nem cabe dentro de mim.

Eu tenho medo. Você tem medo. Mas nós dois queremos o que sabemos que queremos. Guarde as suas armas. Recolha os cacos que ainda sobraram e jogue fora. Não adianta procurar mais nada, já encontramos. Nada mais resta a não ser fechar os olhos e pular. Não há garantias. Não há certezas. Só desejo.