sábado, 31 de agosto de 2013

Porta


Estou a um dia de viver há exatas X voltas do sol ao redor da Terra com uma porta semi-aberta.

Essa porta, uma vez aberta, andou com o vento, quase fechou, bateu, rangeu, emperrou, empenou, descascou a pintura, escancarou, deixou passar fantasmas, dor, alegria, mas acima de tudo foi a porta que me abriu para dentro de mim mesma.

A única coisa que eu não consegui fazer foi fechar e passar a chave.

Hoje eu tenho a sensação que a chave está na minha mão e vejo que a frestinha aberta diminui cada vez mais. Todo mundo sabe que eu odeio o Gregório e o calendário dele, mas só para calar a minha boca provavelmente vai ser o famigerado marcador aleatório de tempo que vai determinar o dia em que eu finalmente vou trancar essa porta para sempre.

Haverá janelas que se abrirão, com certeza. Mas essa porta me parece que vai ficar selada eternidade afora. É estranho. Mas por incrível que pareça, uma porta fechada pode ser o caminho mais aberto a que se chega por toda uma vida.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Soco na cara


O bom de escrever é que quando a gente na verdade quer dar um murro na cara de alguém - bastante merecido, por sinal - mas tem medo até da própria força quando sente que o limite máximo foi ultrapassado faz tempo, podemos ir ao blog e despejar o murro em forma de verborragia, que por sinal é uma palavra horrorosa como tudo o que se relaciona a esses assuntos de socar a cara dos outros.

Primeiro adoraria informar que mesmo sangue não significa afinidade, melhor que eu dizer estão aí todas as provas de filhos que matam pais, pais que jogam filhos das janelas, etc. etc. No meu caso com meus pais e minha filha os problemas são os normais ninguém ainda chegou ao ponto de pegar nas armas, e espero que não cheguemos nunca. Isto posto, vou me abster de mais comentários relacionados a parentescos ou armamentos.

Independentemente do tipo de relacionamento, algumas pessoas se arvoram em imbecilidades das quais são portadoras desde o dia que nasceram, foram refinando ao longo dos anos, através de frustrações, inveja, incompetência e outras qualidades mais que por fim acabam, um dia, coroando uma existência vazia através do cuidado com a vida alheia.

Cada um escolhe a vida que quer, e quem quer ter uma vida "certinha", dizer que fez e faz tudo como se deve, apregoar as qualidades que acredita ter de boa profissional, boa mãe, boa filha, tem o marido perfeito, é boa em tudo (rá!), e acreditar nisso, tem todo direito. O que me deixa com sangue nos olhos é toda essa experiência e bom senso terem necessidade de mexer com uma vida que não lhe pertence, e, sabendo do calcanhar de aquiles, é lá mesmo que vai mirar a flecha.

Eu já tinha riscado do meu cérebro essa coisa toda para sobrar espaço para coisas relevantes, boas e que me acrescentem - e não tentem me tirar - porém, eu tenho sangue nas veias (parece que ferve às vezes), sou humana e tenho blog é pra isso mesmo, o blog é meu, eu venho aqui e destilo o veneno que quiser.

Já chorei rios (literalmente), já soquei as paredes (não literalmente porque não vou correr o risco de machucar minhas mãos que são lindas e úteis para trabalhar), já destilei e pus para correr todo veneno que tinha guardado.

E quem pensou em catfight com agarrar os cabelos, etc., pode esquecer, porque se a luta se concretizasse, seria muito, muito feia de se ver.

E no final das contas eu me irrito mais é comigo mesma. Porque sendo o que sou, tudo isso deveria passar como brisa que não tira nem um fio do meu cabelo do lugar.

Mas eu me importo. E me odeio por isso.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mas outra vez?


Como é que se convive com o que não faz sentido? Como se administra não saber? Como se aprende o que não se ensina em nenhuma escola? Como se para de fugir de algo que é mais rápido e mais esperto que nós? Como se adaptar a não ter outra solução? Como se sai dos abismos infindáveis das incertezas que encobrem as certezas mais pétreas? Como se finge que não é com a gente? Como se olha para o outro lado? Onde se acha mais argumentos para provar o contrário? Em qual mundo é possível se esconder? Como se faz para sair de dentro da gente mesmo? Para quem e como se justifica o que não tem explicação? Ou se dá desculpas esfarrapadas, maltrapilhas, oblíquas, dissimuladas? Para onde mais se espalhar se por mais que se tente fragmentar o ponto de ser inteira é um só? Como fechar os olhos para o que não se pode, não se deve e não se permite ignorar? Por que não escolher os caminhos largos, ensolarados e floridos? Por que calar? Por que a vergonha de não ter mais justificativa? Por que querer ter justificativa? Por que negar? Por que aceitar? Por que afirmar, rotular, embalar e guardar? Por que se repetir tantas e tantas vezes, pisar o mesmo chão, seguir o mesmo caminho que vai de nada a lugar algum? O que dizer mais? Quando calar? Por quanto tempo? Por que motivo? Em que momento ocorreram os turning points? Onde foi que eu errei? Ou qual acerto me trouxe a isto? Como comunicar a todos os envolvidos? Para que envolver mais inocentes? Quais as palavras mais dolorosas ecolhidas a dedo serão usadas? Qual dos lugares do mundo foi o cenário perfeito? O dia perfeito? Qual pretérito imperfeito feriu a concordância? Em que planeta aterrissamos? Em que ano? É o carma? Juízo final? Pimenta nos olhos? Lágrimas, lágrimas, lágrimas. A hora errada, a palavra errada, a atitude errada, mas errada para quem? De onde surgiu? Como evoluiu? Existe tratamento?
O carro faz a curva e a saudade - que estava de plantão à porta - entra sorrateira e se instala. E as perguntas dançam no ar desafiadoras, desaforadas, desdenhosas.
Nem procuro as respostas, porque amanhã as perguntas serão outras.

sábado, 10 de agosto de 2013

Epifania



Quando se tem opção, decidir torna-se martírio.

Se um vestido só tivéssemos não haveria dúvida do que usar na festa. Se os menus tivessem uma só página não haveria elucubrações sobre saudável ou calórico.

Mas vivemos na era do milhão de opções, para todos os lados, em todos os sentidos, de toda maneira.

Isso pode tomar forma de tortura para as almas indecisas como a minha. Só faltou auto-flagelo em busca das respostas.

E um dia eu acordo, olho para os últimos dias e penso - mas eu já sei o que me faz feliz. Por que mesmo ainda estou estendendo as questões?

É hora de me deixar em paz e me encaixar no meu lugar. Definitivamente, até que ele me acomode. Se um dia não acomodar mais vemos o que fazemos. Mas hoje? É impressionante - o que mais eu quero? Procurei tanto e por tanto tempo o caminho que de tão confusa nem percebi que tinha chegado ao destino. Se não fosse o despertar de um dia qualquer como todos os outros de repente eu ia ter passado e nem ter notado.

Mas já que vi, que seja. Isso tudo é tão simples que eu fico muito, muito desconfiada.