tag:blogger.com,1999:blog-25077167614996460542024-03-14T00:02:04.842-03:00flordelis...que virou rosaflordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.comBlogger340125tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-2980447425478160762021-04-01T15:42:00.002-03:002021-04-01T15:44:08.514-03:0031 coisas que eu re(aprendi em um ano de pandemia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-xP_2HZYTfiU/YGYSeOIM8VI/AAAAAAAAjdI/J__jmnLdrF8IYzTkttmeP8eLXb-rKTalgCNcBGAsYHQ/s727/adam-creation-brain-tSa-727X360.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="727" height="277" src="https://1.bp.blogspot.com/-xP_2HZYTfiU/YGYSeOIM8VI/AAAAAAAAjdI/J__jmnLdrF8IYzTkttmeP8eLXb-rKTalgCNcBGAsYHQ/w541-h277/adam-creation-brain-tSa-727X360.jpg" width="541" /></a></div><br /><p>1. Viver o momento histórico é exaustivo. </p><p>2. Bicho é bicho, gente é gente. E político é político. Cada um é nojento à sua maneira.</p><p>3. Influenciador/a / influencer digital NÃO é profissão. Fazer bico pra foto e/ou tutorial de alguma coisa não deve constar em curriculum.</p><p>4. O Brasil é um país que não tem jeito. Esquerda, direita, isentão, ladrão, assassino, é tudo igual, não vai mudar nem nos próximos mil anos. A saída é o aeroporto.</p><p>5. Não existe gênero neutro na língua culta, a menos que se esteja falando alemão ou alguma outra língua que eu não conheço que tenha gênero neutro no registro oficial. E não, a língua culta não vai aceitar essa "evolução".</p><p>6. Votei em um candidato e fui taxada de "fascista". Votei no mesmo candidato em outra eleição e agora sou "comunista". Ou seja.</p><p>7. Quem não se impõe não recebe respeito. Quem se impõe também não, mas as chances são menores.</p><p>8. Não é necessário se justificar. Ninguém liga. </p><p>9. Se uma mulher sair vestida como quer, pode ouvir o que não quer. Não é opinião, não estou defendendo machismo, é o que é, não adianta espernear. É justo? Obviamente que não. Cada uma banca o que tem coragem. </p><p>10. Ler qualquer lixo não é melhor que não ler nada. Nesse caso, melhor ler bula ou rótulo de shampoo, causa menos dano.</p><p>11. Viver em condomínio é o inferno na terra. Ninguém tem respeito por absolutamente nada. Só poucos trouxas como eu.</p><p>12. Não adianta jogar pérolas aos porcos. Melhor deixar que chafurdem na lama que adoram. O problema é quando a lama espirra para todo lado. </p><p>13. Sentimos falta de convívio porque não podemos conviver. Aguentar os outros é absolutamente insuportável. Pior ainda é aguentar a mim mesma, porque não posso sair de dentro de mim.</p><p>14. Não existe atendimento médico de graça, escola de graça, dinheiro público. Alguém está pagando e somos nós, os meros mortais.</p><p>15. Todos os tempos foram tenebrosos, cada um à sua maneira. O mais tenebroso de todos é o atual, porque é o que está me afetando agora.</p><p>16. Todo mundo é maluco, uns mais, outros menos perigosos.</p><p>17. Mimimi só pode ter sido destacado de "litância". Acredite no que quiser e não me torre a paciência que eu não tenho.</p><p>18. Ninguém conhece ninguém. Se eu conseguisse saber o que se passa no MEU cérebro já estaria bem satisfeita.</p><p>19. A inveja é uma merda. Para os dois lados.</p><p>20. Todo mundo tem um (ou vários) esqueleto no armário. O truque é ter um cabide que fique bem no canto.</p><p>21. Observando o noticiário e o comportamento geral, só há três idades mentais no mundo, independentemente da idade biológica - 3, 8 e 12 anos. A maior parte do mundo é a quinta série C.</p><p>22. Os cães ladram e a caravana passa. Mas às vezes os cães são apedrejados.</p><p>23. Sorrir e acenar ainda é a melhor política. E a mais difícil de todas.</p><p>24. O amor é lindo mas a paciência é curta.</p><p>25. Quanto mais velha eu fico, mais barulhos me incomodam.</p><p>26. A vida adulta é um fazer coisas chatas sem fim.</p><p>27. Depressão é uma doença que não sangra, então quase ninguém leva a sério.</p><p>28. Existem universos paralelos, não em outras dimensões, nesta mesmo, é só olhar para como vivem as outras pessoas.</p><p>29. O fato de eu não olhar para alguma coisa não resulta nela desaparecer. Aplicável desde à louça na pia até à falência da humanidade.</p><p>30. Exu te ama.</p><p>31. Não sou obrigada.</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-24939061813826744072020-03-07T11:51:00.001-03:002020-03-07T12:13:19.368-03:00Meditações online<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-ydJuP3Y9nuc/XmOzeZVsV8I/AAAAAAAAhq4/jutXKURxliUhD5MTOOh-URDZFtSAhPaigCNcBGAsYHQ/s1600/marcusaurelius.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="432" data-original-width="648" height="213" src="https://1.bp.blogspot.com/-ydJuP3Y9nuc/XmOzeZVsV8I/AAAAAAAAhq4/jutXKURxliUhD5MTOOh-URDZFtSAhPaigCNcBGAsYHQ/s320/marcusaurelius.jpg" width="320" /></a></div>
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<div style="text-align: center;">
<b>Ele está dizendo: Parem de falar besteira. </b></div>
<blockquote class="tr_bq">
"Do meu preceptor: o não ter pertencido à facção nem dos Verdes, nem dos Azuis, nem partidário dos Grandes-Escudos, nem dos Pequenos-Escudos, o suportar as fatigas e ter poucas necessidades; o trabalho com esforço pessoal e a abstenção de excessivas tarefas, e a desfavorável acolhida à calúnia"<br />
Marcus Aurelius, Meditações, Livro 1, 5.</blockquote>
<br />
Marco Aurélio, apesar de ter sido imperador da grande potência da época, consegiu, estoica e literalmente, manter a sanidade. Talvez porque não havia redes sociais no Império Romano.<br />
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Hoje essas sábias palavras soam simplesmente como ficção, utopia, ou "só rindo mesmo".<br />
<br />
Não tomar um partido e ser "isentão" hoje "é pecado". Ou ame o que eu amo ou vou te atacar com pedras e paus verbais, porque uma coisa que ficou fácil foi a valentia à distância. De onde se espera o óbvio, não há o que reclamar, é como o programa de televisão ofensivo, chato ou imbecil - desligue a TV, aperte o botão "unfollow" ou similar e siga a vida. Mas há aqueles que, no nosso histórico offline, foram amigos, parceiros, pareciam nos amar, querer estar conosco, independente de lados escolhidos (ou nem escolhidos). Esses são os difíceis de apagar virtualmente. Naturalmente é muito fácil sair de todas as redes sociais, mas o custo-benefício ainda está pendendo para ficar.<br />
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Para quem nasceu e viveu grande parte da vida sem elas, seria até mais fácil simplesmente ignorar tudo, mas quem quer usa para aprendizado e para contatos que não teria se não fossem as famigeradas. Difícil é lidar com as personas online que diferem tanto das pessoas em carne e osso.<br />
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E a "desfavorável acolhida à calúnia"? Essa se encaixa no "só rindo mesmo". Não é o bullying online que dói, são as observações pontudas e ctucantes de quem amamos um dia. A amiga de anos, o primo com quem brincamos na infância, a tia, o amigo que segurou nossa mão no mundo real, de repente viram tiranossauros rex, avançam, dentuços, na nossa liberdade de pensamento.<br />
<br />
Sempre houve quem pensasse diferente, obviamente, mas hoje ficou possível usar isso como holofote. O "suportar fadigas e ter poucas necessidades" é impraticável. Somos bombardeados com anúncios de coisas que não sabíamos que precisávamos, com notícias que não sabemos se são reais, com um eterno sou lindo(a), tenho 14652536435 seguidores que me assistem tomar café (ou coisas inenarráveis em um blogue de respeito), sou rico(a), viajo pelo mundo, meu trabalho é maravilhoso, enfim, essas coisas.<br />
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Abstenção de excessivas tarefas? De que jeito? Especialmente as mulheres que já por natureza são multitarefa, se não forem boas mães, profissionais, companheiras, lindas, malhadas, ah que fracasso. E ouse criticar os exageros do dito "feminismo". Ai, minha paciência.<br />
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Só sobrou o "trabalho com esforço pessoal". Esse é insubstituível, a gente se arrasta para ir vivendo - quando consegue, porque às vezes é difícil até arrastar. Resta o esforço pessoal para estar no mundo, cercado de pessoas, reais ou virtuais, a maior batalha desde a conquista dos partos, e ainda com o ônus de ter levado a peste (hoje, por ironia, quase literal).flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-44663154168789571562019-11-15T11:27:00.000-03:002019-11-15T11:27:09.363-03:00Barbaridades<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-X_IYcYJ2l-k/Xc6056sVRrI/AAAAAAAAgnY/4ya8RY6o18kfxV63KWLUAujevzZ3a0ILgCNcBGAsYHQ/s1600/Iliad%2Bbattle.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="600" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-X_IYcYJ2l-k/Xc6056sVRrI/AAAAAAAAgnY/4ya8RY6o18kfxV63KWLUAujevzZ3a0ILgCNcBGAsYHQ/s400/Iliad%2Bbattle.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O silêncio em meio à batalha</td></tr>
</tbody></table>
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No princípio era o Verbo. Fiat Lux! E fez-se a luz. Hoje o Verbo está mais obscuro do que nunca esteve.<br />
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Umberto Eco já dizia em 2015, que <span style="color: #58595b; font-family: NoticiaText-Regular; font-size: 17px; text-align: justify;"><i>“O problema da internet é que produz muito ruído, pois há muita gente a falar ao mesmo tempo. Faz-me lembrar quando na ópera italiana é necessário imitar o ruído da multidão e o que todos pronunciam é a palavra ‘rabarbaro’. Porque imita esse som quando todos repetem ‘rabarbaro rabarbaro rabarbaro’, e o ruído crescente da informação faz correr o risco de se fazer ‘rabarbaro’ sobre os acontecimentos no mundo.” </i></span><br />
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Ou seja, o ruído da Internet é a antítese da civilização, visto que para os gregos que são os pilares da civilização ocidental, bar bar bar era como soavam aqueles que não falavam grego. De fato o ruído anda alto, muito barulho, pouca música. Todo mundo pode gritar, espernear, xingar, é a "polaridade".<br />
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Para quem cresceu sem Internet na escola, foi um refresco poder acessar tanto conhecimento just in time, as Barsas da vida foram aposentadas, a qualquer momento se pode saber sobre qualquer coisa, procurando direito. Mas o que virou isso? Bar, bar, bar. Fotos com boca de pato, exposição de tudo que já foi escondido um dia, o que comi, o que bebi, onde estive, com quem, que horas, mas precisa ter muitas visualizações, senão não tem graça. E o mais bonitinho é que em geral são os famosos independentes que "não se importam com o que os outros pensam" que mais querem exposição. E as mentiras. As inverdades. As manipulações.<br />
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Isso tudo é chover no molhado, todo mundo sabe que a humanidade está perdida e que não tem como escapar das redes sociais ou do uso da Internet, ninguém quer ser os Amish da modernidade. Mas seria muito pedir um pouco de bom senso? Aparentemente sim.<br />
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Uma das coisas mais impressionantes hoje, talvez porque saiu de moda há tempos, é o silêncio. Ninguém cala a boca. Ninguém deixa os imbecis falando sozinhos, por isso eles têm tanta projeção.<br />
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O silêncio tem duas faces: aquele que queremos ao final do dia, depois de matar o leão, que na verdade é um silêncio ruidoso, porque o vizinho ainda está ativo, a TV está ligada, os apitos sociais-virtuais estão apitando, o helicóptero está passando para noticiar a desgraça do dia, enfim, especialmente quem mora em grandes cidades não sabe muito bem o que é silêncio.<br />
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A outra face do silêncio é aquela que faria tão bem viver. Quando nos vemos defronte a uma coisa grandiosa, que já vimos em fotografias, que já ouvimos falar, mas quando ela está ali à nossa frente, podemos tocar se for física ou sentir se não for, então é quase indescritível. Não se ouve nem nossa respiração, mesmo se estivermos cercados de gente de cabeça pra baixo e boca de pato fotografando para contar que está lá, tipo quem vai ao museu no Brasil. Ou ainda, o silêncio em meio ao clamor da batalha na Ilíada.<br />
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O apocalipse está aí, caso alguém não tenha notado. Os desastres naturais e os da autoria humana. Veneza se afogando, as republiquetas de banana revoltadas com o que armaram para elas mesmas, Hong Kong chutando as portas da China, a corrupção reinando sem rival no Brasil. Fome, guerra, como sempre existiu, variantes de um mesmo tema. Coisas inconcebíveis que um ser humano faz com outro.<br />
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Diante disso, só o silêncio. O que dizer? Onde estão as palavras? Ouvi as sirenes de aviso de alagamento em Veneza, aí estão as trombetas dos anjos. E nós, rabarbaro.<br />
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<a href="https://2.bp.blogspot.com/-2_ytBdOqmNs/XDiTx-_UWXI/AAAAAAAAZFs/IK6vvO3yR7E2xvlv28UKbUTiZLr_5dkOACLcBGAs/s1600/the-marriage-at-susa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1161" data-original-width="1600" height="290" src="https://2.bp.blogspot.com/-2_ytBdOqmNs/XDiTx-_UWXI/AAAAAAAAZFs/IK6vvO3yR7E2xvlv28UKbUTiZLr_5dkOACLcBGAs/s400/the-marriage-at-susa.jpg" width="400" /></a></div>
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Alexandre o Grande fez por merecer a fama que tem. Veni, vidi, vici bem antes de Cesar. O homem viveu pouco, mas aproveitou muito bem o tempo que teve, marchando, ceifando, conquistando. Mas ele não foi só beligerante, sua importância vai muito além da conquista física, de terras, de espaço. Porque conquistar é fácil, manter e administrar a conquista é que é o complicado. Mas ele além de grande era inteligente, espalhou a cultura (grega) pelo mundo muito antes do outro império que o copiou ter a mesma ideia (grega disfarçada de romana).<br />
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No entanto, o que é ainda mais interessante nessa breve vida, na minha opinião, é que apesar de ter conquistado meio mundo (ou mais de meio na época), são os casamentos de Susa, uma grande jogada de marketing. Susa era uma cidade persa onde foram celebrados casamentos por atacado dos nobres guerreiros de Alexandre e dele mesmo com as princesas persas. Dias de celebração à maneira dos donos das mulheres. O problema foi Alexandre morrer logo, porque os nobres guerreiros não queriam nada com as persas e deram no pé.<br />
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Onde quero chegar é: o sanguinário conquistador era bem mais esperto e "humano" que os militantes da atualidade. O que ele queria era estabelecer-se como dono da p**** toda, herdeiro de tudo que pudesse ser reclamado, mulheres, impérios, terras, palácios, enfim, tudinho. E para isso casou todo mundo, misturou todo mundo, gostassem ou não (não gostaram, vide o resultado quando ele não estava mais presente para impor).<br />
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O que vemos hoje são milhares de defensores de minorias que adoram separar as coisas, pessoas, opiniões, etc. em castas, pôr em caixinhas - branco, preto, vermelho, amarelo, magro, gordo, bonito, feio, esquerda, direita, cristão, ateu, e não importa o que se diga, a única certeza é que quando se abre a boca, alguém vai se ofender.<br />
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É o tempo todo um andar pisando em ovos, ou simplesmente deixar de falar com as pessoas porque os olhos reviram tanto que poderiam ir parar dentro do cérebro. Nunca se disse tanta besteira, nunca se contestou tanto as besteiras ditas com outras besteiras, nunca tantos faladores de besteira tiveram tanto espaço e divulgação. É muito bom o just-in-time para falar com as pessoas, saber as notícias em primeira mão, mas às vezes dá saudade do tempo em que a gente esperava o jornal de hoje para saber as notícias de ontem e escrevia cartas ou ligava para alguém do telefone fixo.<br />
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Eu não sou dona da verdade, aliás, me incluo nessa crítica, já me perguntei muitas vezes e conversei a respeito com as pouquíssimas almas que pensam como eu, por que eu continuo lendo e me indignando com as besteiras? É só não ler, desligar a TV, fechar ou sair da rede social, ignorar. Acabei concluindo que preciso do referencial para sentir um pouco de "normalidade". Se tem tanta gente mais doida, eu ainda não sou um caso perdido. Saudável foi tirar da frente 90% dos produtores de besteira, mas não basta, todo mundo produz besteira, e eu preciso vê-las para as minhas ficarem mais aceitáveis. Enfim, fazer os casamentos com as princesas persas. Eu não posso vencê-los nem vou me juntar a eles, mas fico olhando de longe para manter a perspectiva.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-42715022651913514572019-01-04T18:36:00.001-02:002019-01-04T19:21:30.252-02:00El dia que te quise<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-OJq_BjXt47A/XC_CCNDDJdI/AAAAAAAAYzY/Yct4uLcoCWQCLLgAPiwV068uiiwKe2hSQCLcBGAs/s1600/20181229_161751.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://2.bp.blogspot.com/-OJq_BjXt47A/XC_CCNDDJdI/AAAAAAAAYzY/Yct4uLcoCWQCLLgAPiwV068uiiwKe2hSQCLcBGAs/s640/20181229_161751.jpg" width="480" /></a></div>
<div class="UH8R2" jsname="U8S5sf" style="background-color: white; color: #3c4043; font-family: Roboto, HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-top: 16px; max-height: 999999px;">
<div style="text-align: center;">
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<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">
</span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<i>El día que me quieras</i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">La rosa que engalana,</span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">Se vestirá de fiesta</span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">Con su mejor color.</span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">Y al viento las campanas</span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">Dirán que ya eres mía,</span></i><i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span></i><br />
<div style="display: inline;">
<div style="display: inline !important;">
<i>Y locas las fontanas</i></div>
</div>
</div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"></span></i></div>
<div style="color: #3c4043; font-family: roboto, helveticaneue, arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">
<div style="display: inline;">
<div style="display: inline;">
<div style="display: inline !important;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;">Se contarán su amor.</span></i><br />
<i><span jsname="YS01Ge" style="max-height: 999999px;"><br /></span></i></div>
</div>
</div>
</div>
Já iam dois anos desde a última vez que estive em Buenos Aires e eu já tinha me esquecido do porquê eu havia prometido a mim mesma não voltar mais. Porém a memória é curta e eu, ingênua avessa ao calendário gregoriano, sugeri uma "passagem de ano novo tranquila".<br />
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De fato, missão dada, missão cumprida, não sei se pelo resfriado que me atacou sorrateiro depois de um primeiro dia de chuvas e as drogas (lícitas) que usei para ameniza-lo, consegui dormir bravamente pelo que chamam de "passagem".<br />
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Mas minha esperança era ainda sair do ambiente tupiniquim para algo remotamente melhorzinho. Tolinha. Tenho uma amnésia pós-porteña cada vez que volto daqui, espero ter aprendido desta vez.<br />
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O Brasil está de doer e não é de hoje. Nem vou entrar nesse mérito porque há tempos minha paciência esgotou, e não fosse por algumas poucas pessoas e ideais eu já teria aberto mão até da nacionalidade.<br />
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O que eu quero mesmo registrar para mim mesma é - haja paciência para o drama porteño. Cai uma chuva por meia hora, o jornal anuncia dilúvio, dia que virou noite, enchentes. Temperatura real, 25 graus centígrados. Sensação térmica: 65, depois da chuva torrencial de dez pingos, 15 graus. Não sei mesmo como é essa sensação, provavelmente igual à falta de notícia que obriga o jornal a repetir 30 vezes a mesma coisa, caso haja alguém distraído que não tenha ouvido as primeiras 29 vezes.<br />
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A cidade que um dia foi a Europa latina, coitada, ainda não entendeu que isso acabou há uns 50 anos. O que ainda sobrou de bonito, prédios com pretensão parisiense, só olhando para cima e de longe para gostar. No alcance do nariz não há como gostar de Buenos Aires, que cheira a lixo e glórias passadas.<br />
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O chão, coitado, cheio de buracos, buracos que vão até a alma porteña que, coitadinha, diz que o Brasil é hipócrita e fascista. E tem a Fundação Kirchner, cultural. E a militância- pasmem - peronista. Isso me faz pensar o que leva um povo a ser refém de quem o oprimiu? Tenho teorias, mas minha boca fica mais bonita fechada.<br />
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Uma coisa de mulher agora - as porteñas são feias, mal tratadas, quando tentam uma maquiagem parecem um arremedo de máscara (e eu sei ZERO de maquiagem, vivo de cara lavada, amém). E as lojas de calçados - venho aqui há anos e isso não muda, é o gosto local - se não fornecem, deveriam fornecer porte de arma condicionado à compra. Que medo das mulheres que pisam duro com seus calçados perigosos.<br />
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A falta de educação com o turista é surpeendente. Do que vive uma cidade turística? Buenos Aires, aparentemente, de latidos. Que língua é essa? Ninguém se esforça para entender o portunhol dos turistas, se virem. Mais um motivo para eu me cansar em dois dias desse sotaque horrível que um bom espanhol deve abominar.<br />
<br />
Há exceções? Raríssimas, que não bastam para definir uma cidade que em grande parte depende do turismo, como acolhedora. O povo é mal educado, azedo, a mídia é tendenciosa, são todos dramáticos.<br />
<br />
Eu abriria uma exceção muito honrosa para o Parque de Palermo, justiça seja feita.<br />
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<a href="https://4.bp.blogspot.com/-DyK-gkOt2eo/XC--_MnPnmI/AAAAAAAAYy8/7i_cp6YEfHIrtcLgNBs2MHNjkxr1H-23gCLcBGAs/s1600/20190104_171048.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="300" src="https://4.bp.blogspot.com/-DyK-gkOt2eo/XC--_MnPnmI/AAAAAAAAYy8/7i_cp6YEfHIrtcLgNBs2MHNjkxr1H-23gCLcBGAs/s400/20190104_171048.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
E digna de menção é a estação ferroviária - é entrar e pôr o pé na Itália. Lindíssima e bem conservada.<br />
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<a href="https://1.bp.blogspot.com/-S8dIxEPgu2U/XC_AM6Ro65I/AAAAAAAAYzE/h9qFVMaT11EXrvDmigvyad-7aeNsCCSXQCLcBGAs/s1600/20190103_121930.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="400" src="https://1.bp.blogspot.com/-S8dIxEPgu2U/XC_AM6Ro65I/AAAAAAAAYzE/h9qFVMaT11EXrvDmigvyad-7aeNsCCSXQCLcBGAs/s400/20190103_121930.jpg" width="300" /></a></div>
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Uma pena as coisas boas serem exceções. Pelo menos tem vinho decente. Alfajor não, obrigada.<br />
<br />flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-23772619517710237042018-12-28T19:42:00.001-02:002018-12-28T19:42:44.561-02:00O que eu faria se eu pudesse (?)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-wD-GlQEGGoE/XCaXyJxDW4I/AAAAAAAAYxo/1UtkuN5urDMPSfI9BudSHJdHI87tLqZvACLcBGAs/s1600/apollo_8_earthrise.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="477" data-original-width="631" height="241" src="https://3.bp.blogspot.com/-wD-GlQEGGoE/XCaXyJxDW4I/AAAAAAAAYxo/1UtkuN5urDMPSfI9BudSHJdHI87tLqZvACLcBGAs/s320/apollo_8_earthrise.jpeg" width="320" /></a></div>
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<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Cabin, sans-serif; font-size: 13.056px;">Terra vista da Lua via Apollo 8 em 1968.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Cabin, sans-serif; font-size: 13.056px;">Imagem da NASA.</span><br />
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Assisti um documentário sobre os "desastres espaciais". Antes de mais nada, observo que foi por pura curiosidade mórbida, igual àquela que dá origem aos congestionamentos de trânsito. Mas para que mais seria feito um programa desses senão para o nosso voyer macabro?<br />
<br />
Isso posto, e várias faces de horror e de enfado por mostrarem senhores de cãs com camisas floridas horrorosas e quepes (é esse o nome?) militares dando seus depoimentos de como foi horrível ver o fellow astronaut pifar ao seu lado ou ter que abortar a missão porque pifou um fio no número 6 da contagem regressiva, comecei a tecer algumas considerações.<br />
<br />
Se não fosse suscitar olhares de pena, eu ainda mencionaria que não tenho certeza absoluta que o homem chegou à Lua. Mas o que é uma certeza absoluta, não é mesmo? É, por exemplo, que pouquíssimas pessoas chegarão ao espaço. Ou serão astronautas. Ou orbitarão sei lá onde, enfim, poucos farão coisas de astronauta fora da Terra.<br />
<br />
Então lancei a pergunta - se você pudesse, tivesse todas as condições e preenchesse todos os requisitos, faria isso? A única resposta externa foi um lacônico não,não gosto nem de avião quanto mais essas bombas voadoras. As minhas foram mais ou menos iguais, não iria não, considerando-se as estatísticas do que já deu errado e que não tem museu pra visitar em órbita, eu declinaria.<br />
<br />
Resposta fácil. Mas então pensei - que interessante fazer coisas que poucas pessoas no mundo podem fazer - entrar ou sair de órbita, governar um país, descobrir alguma coisa nova e relevante, ou seja, para poucos. Mas ainda dentro do "poucos". A todas essas minha resposta seria não, obrigada, governar dá trabalho e de gênio passei longe. Porém para poucos é possível - muito trabalho (não vamos falar de governantes e trabalho), dedicação, abdicar de tantas coisas... mas, ainda assim, possível.<br />
<br />
A pergunta, porém, criou pernas. Ou asas. O que eu faria se eu pudesse? E como o reino do difícil mas possível não é bom o suficiente...<br />
<br />
Você voltaria no tempo?<br />
<br />
Você aceitaria a vida eterna?<br />
<br />
Agora ficou difícil. Sabemos (ou achamos que sabemos) que ninguém voltou no tempo fora da ficção e ao que consta ninguém está vivo desde sempre. Eu adoraria voltar no tempo. Mas e o paradoxo se mudar alguma coisa? Imaginem todo mundo voltando e mudando alguma coisa ao mesmo tempo! Um looping eterno de confusão. Mas eu queria mesmo era ver de perto coisas surreais que a humanidade cada vez mais louca já fez.<br />
<br />
A vida eterna também dispenso. Ainda mais se fosse para poucos, no estilo Highlander. Ver todo mundo ir embora século após século e ficar sentada sozinha na eternidade, esgotando a boa leitura e com tédio milenar? Não, obrigada.<br />
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Mas permanece a pergunta, o que eu faria se pudesse?flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-45666818773753155142018-12-21T19:04:00.000-02:002018-12-21T19:07:44.133-02:00O herói chora, mas e daí?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/RRk1efVNn6k/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/RRk1efVNn6k?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
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<i>Canto VIII</i><br />
<i>"Era esse o canto do ínclito cantor. O herói se aferra ao manto púrpura com mãos enérgicas e o traz à testa, encobre a expressão do rosto: o pranto defluir dos cílios frente aos feácios o envergonhava. Quando o aedo para, rosto enxuto, recolheu o manto da cabeça, soerguendo a copa de ansas dúplices aos numes. Assim que o aedo retorna ao poema, sob aplausos de altivos feácios, extasiados com racontos, o herói volta a chorar e reencobre a testa."</i><br />
<br />
Odisseia, Homero; São Paulo: Editora 34, 2012, p. 221<br />
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<br />
Ulisses venceu a guerra, arrasou Troia, é o herói cantado até por um povo que ele nem sabia que existia, em cujas terras foi parar por ter estado perdido, surrado, castigado por Poseidon. Mas e daí? O bardo o canta, todos se entusiasmam com seus feitos, ele já vinha do idílio com Calypso, mas... e daí?<br />
<br />
Acordamos todos os dias, nos arrastamos da cama, nos arrastamos para o trabalho, nos arrastamos pela internet, pelos bares, pelas ruas, pelos copos, pelos altares, e depois voltamos para começar tudo de novo, indo para não temos a menor ideia onde.<br />
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Por que essa azáfama diária? Para que? Por que nascemos e vivemos? Porque morremos é fácil - todo mundo morre mesmo, é a única coisa certa e talvez seja essa a razão de nascer. Se acaba depois da morte ou continua é demais para um mesmo parágrafo.<br />
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Se o herói chora porque sabe o custo da vitória, o que podemos fazer nessa vida comezinha, em que, a qualquer tempo, parece que só se está andando para lugar nenhum? A nostalgia de tempos não vividos e a ânsia por outros que viriam não resolve nada. A humanidade sempre sofreu, sempre trabalhou, sempre foi uma batalha não épica estar no planeta. Quando foi fácil? Quando vai ser? Respostas fáceis e idênticas.<br />
<br />
É um consolo ser difícil para todo mundo? Não. Cada um tem que arrastar sua carga, e a do outro ser mais leve ou pesada para mim - na prática mesmo, sem laivos altruístas - não muda nada. E outro lado desta mesma moeda - o canto que tanto divertia e alegrava os faécios só causou dor ao convidado, o que havia de fato vivido o que estava sendo cantado. Dá o que pensar. Será que o que vemos todos os dias da vida alheia que sorri, posa, alardeia, é de fato a alegria da vitória de Ulisses? Que alegria, cara pálida? Parem de cantar isso, o convidado só chora! E que raiva dos ciclopes que não fazem absolutamente nada e recebem tudo de graça dos deuses. Será que tem disso hoje? Muitas vezes parece que sim, mas nem o ciclope escapou de ser enganado... e nem era tudo assim tão maravilhoso para Polifemo - ele tinha que cuidar das ovelhas, fazer o queijo... Nem tudo são checkins em aeroporto (ou nos portos do Mediterrâneo). E tem muita ilhota querendo ser a ilha de Calypso e buraco dizendo ser a caverna de Polifemo.<br />
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Ulisses fez uma viagem penosa de volta para casa. Perdeu-se, virou brinquedo nas mãos de Poseidon, pranteou suas perdas, mas sua viagem foi também de maravilhas, sobrenatural, povoada com criaturas fantásticas, lindas, monstros, amantes. Esperto, conseguiu ouvir o canto das sereias sem que elas o arrastassem, porque sabia que sozinho, humano (Andra) apesar de herói, não conseguiria resistir, e tomou as devidas providências. E com suas artimanhas acabou conseguindo chegar. A dor de viver tem seu preço. Mas... e daí? Há que se continuar, arrastando os dias, e com sorte, gostar deles de vez em quando, e sem sorte, inserindo uns símiles homéricos para aliviar.<br />
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<br />flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-62980491677737026272016-10-10T15:19:00.000-03:002016-10-10T20:36:54.208-03:00Stopover<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-AQ16H6peonY/V_ucwrlFoKI/AAAAAAAAH8I/rQKqa5G6NrQA1aLMr3DGIx8V0x5xMVftgCLcB/s1600/Suzi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-AQ16H6peonY/V_ucwrlFoKI/AAAAAAAAH8I/rQKqa5G6NrQA1aLMr3DGIx8V0x5xMVftgCLcB/s320/Suzi.jpg" width="320" /></a></div>
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<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">Demorei a entender que sou passagem.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">Abrigo viajantes, facilito caminhos e descanso junto naquela pausa necessária entre um trecho e outro.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">Não sou destino.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">O meu nome não está impresso no bilhete.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">Alguns seguem com muito de meu, outros nem tanto, muitos nada.</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br />Mas eu mantenho a porta florida e o café fresco.<br />Pois o viajante se vai, sempre.<br />Mas eu terei algo belo a descansar os olhos, lembrando dos risos em torno da mesa enquanto sorvo o meu café.</span></blockquote>
Esse texto foi escrito pela pessoa de quem vou falar. Só pelo texto se nota que trata-se de alguém de quem vale a pena falar. Mas ninguém a descreve melhor que ela mesma, no texto aí em cima.<br />
<br />
Ela está de casa relativamente nova, porque lá se vão já dois anos de mudança, mas para mim é nova, porque na última visita fui à antiga. O que é flagrante - e para mim não foi surpresa - é que o que se muda em primeiro lugar é o capricho. Não conheci todas as casas dela, mas seja lá onde for que more, não é difícil saber onde são seus domínios.<br />
<br />
Eu tive a sorte de seguir com muito do que é dela. Em um momento decisivo, um turning point da minha vida, ela foi a primeira a segurar a minha mão em um mundo que, na época assustador, revelou-se depois de vários processos, aquele pelo qual eu esperava. E esteve presente ao longo de vários anos, algumas vezes fisicamente presente, outras virtualmente, outras tantas ausente sem nunca, nunca sumir do pensamento.<br />
<br />
A porta florida e o café fresco são só metonímias de tudo que ela tem para oferecer. Seus viajantes mais frequentes foram ensinados por ela mesma a viajar, forjados a ferro, fogo e amor, paridos de dentro do ninho para o mundo, que hoje já conquistaram com louvor.<br />
<br />
Passam-se os anos, eu vou acumulando pedaços de sentimentos que ela faz com as mãos, guardados com primor, conservados em fixador etéreo. Só confio meus santos às mãos dela. Os santos, os sonhos, as vontades, que ela atende por puro amor, porque tem mais o que fazer, sonhos mais imediatos e pomposos a atender, a fada dos sonhos de quem ainda tem coragem suficiente para arriscar viver um amor na prática.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-jGxpolI8INM/V_udCIol7oI/AAAAAAAAH8M/P4X4V-d0rZAj174iSwOukaypQFkrJnv1gCLcB/s1600/Suzi2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="https://2.bp.blogspot.com/-jGxpolI8INM/V_udCIol7oI/AAAAAAAAH8M/P4X4V-d0rZAj174iSwOukaypQFkrJnv1gCLcB/s320/Suzi2.jpg" width="320" /></a></div>
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<br />
Fiquei tempo demais sem me sentar em suas cadeiras. Mas ao final da noite, depois da refeição que tem gosto de amor, a doce sobremesa e o indefectível vinho, quando se leva apêndices que são aceitos como são, e os apêndices se recolhem, e nos sentamos e confidenciamos - é então que se nota que depois de tanto rir - porque além de tudo, ela tem um senso de humor raro - até eu que tenho duas mãos esquerdas consigo fiar junto com ela, falamos de dores, de nossos amores todos, especialmente os que deixamos voar, e descanso os olhos.<br />
<br />
Seu nome estará sempre no bilhete como parada obrigatória, <a href="https://www.facebook.com/AtelierBrigitebySuzi/?fref=ts" target="_blank">Suzi Márcia</a>.<br />
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Observação: As fotos também foram roubadas da Suzi.<br />
<br />flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-74381263707937747472016-10-01T10:55:00.001-03:002016-10-01T10:59:57.839-03:00Cinqüenta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-HtZ16EIXN9o/V--_1sYWPOI/AAAAAAAAH74/ED1G2XiBIhokR9k06oFubjHWpmJqgI_1gCLcB/s1600/50.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="224" src="https://4.bp.blogspot.com/-HtZ16EIXN9o/V--_1sYWPOI/AAAAAAAAH74/ED1G2XiBIhokR9k06oFubjHWpmJqgI_1gCLcB/s320/50.jpg" width="320" /></a></div>
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Meio século. Cinco décadas. Jubileu. Qüinquagenária (aqui o trema não morreu, quem manda sou eu). Eufemismos ou sinônimos, eu cheguei aos cinquenta anos. Aniversário para mim há muito tempo já não passa de um dia como os outros tantos, primeiramente porque não gosto da maneira como o tempo é contado, e segundamente (aqui também pode esse advérbio) porque não faz mesmo a menor diferença. Com o advento das redes sociais, gostei do que houve, somos devidamente avisados e podemos parabenizar aquelas pessoas de quem gostamos sem a preocupação de quem já mal se lembra do próprio aniversário, quanto mais dos distantes. E adorei o carinho, e me fez pensar muito, em como (em que estado, não por qual meio) eu cheguei onde estou agora.<br />
<br />
Eu escolhi não acreditar em inferno astral, porque acho que já temos infernos suficientes, além de discutir muito o quanto essa palavra injustamente carrega a pecha de coisa que não é boa. Mas, provavelmente não pelo período do ano, mas pela minha própria resistência em teimar, passei pelo pior de todos até hoje. Dor aqui, dor ali, médicos, exames, fisioterapias. Mas agora decretei que chega, acabou, só apagando as últimas chamas dos incêndios, rescaldo já.<br />
<br />
É engraçado mudar a idade, nada muda, mas tudo mudou, dependendo da perspectiva. Coisas que aconteceram há vinte anos parecem que acabaram de acontecer, coisas da semana passada já esqueci e talvez me lembre daqui a dez anos. Os nossos conceitos de "velho" são extremamente móveis, há muito pouco eu achava quem tem cinquenta anos velho. E não me acho velha, ou sei lá, depende para quê.<br />
<br />
E aí é que está o ponto. O melhor de tudo isso é que - I don't care. Aqui é um ponto em que eu sorrio e aceno, tenho preguiça de discutir qualquer coisa, se eu tiver que concordar com algum absurdo para parar de ouvir besteira, concordo imediatamente. Outra coisa boa é não precisar mais provar nada para ninguém. Se for para facilitar a minha vida, me faço de frágil, de burra, de incompetente, de ignorante, qualquer coisa para não ter que alongar a conversa tediosa. Porque meu tempo tem sido empregado em conversas boas, com pessoas escolhidas a dedo. Alguns cortes foram difíceis de fazer, vampiros que sugavam minha pouca energia com lamentações e arrastar de correntes, verborragia vazia, ou egos inflados. Algumas doeram muito mesmo, e responder à pergunta "por que?" foi penoso, algumas ficaram sem resposta, não vai levar a nada, não me acrescenta, não me serve.<br />
<br />
A grata constatação foi de quanto conquistei em patrimônio humano. Depois de um fracasso de casamento que me roubou muitos anos, a vida realmente começa aos quarenta. Esta última década tem sido a melhor de todas. Gosto da minha caverna, mas hoje as cavernas têm janelas para o mundo, e a minha janela está sempre aberta, por ela saí ao encontro das melhores pessoas.<br />
<br />
Lindo é constatar que conheço pessoas há uma, duas, três e quatro décadas. E de um a dez anos, as mais recentes, e já peneiradas. As de quatro décadas, obviamente, se perduram, são dignas de nota. Pessoas da infância, da adolescência, da faculdade, dos anos de trabalho em várias profissões (que sorte a minha ser multitask), irmãos de várias fés - as fés se foram, as pessoas ficaram, e a atual trouxe as melhores energias. Colegas de profissão, tive a sorte de conhecer vários mundos através de várias línguas e depois parti para o mundo com ou sem conhecimento da língua, e isso foi, é e vai ser sempre o melhor de tudo - pôr o pé no desconhecido, com ou sem companhia, tocar o que está lá há séculos, respirar o mesmo ar de reis, mestres, artistas. E ganhei minha segunda pátria que já é a primeira na ordem do meu coração. Parentes que se foram e que chegaram, crianças, bebês, próximos, distantes mas grudados no coração, válido para os que chegaram e para os que foram. As perdas são imensas, os ganhos maiores.<br />
<br />
Tive a sorte de uma família equilibrada, de uma vida com cérebro que me permite saber mais e mais, e de companheiros de viagem (adoro clichê) que iluminam o caminho, este que eu vejo e especialmente o que eu não vejo.<br />
<br />
A maior das minhas criações foi criar outra pessoa, e ver hoje essa criatura tomar as rédeas e criar a própria história é uma das coisas mais gratificantes, a maior de todas, seguida das minhas criações com cérebro.<br />
<br />
É bom chegar aqui com esse patrimônio de pessoas, conhecimento, milhas viajadas, leituras, experiências - boas e más, e melhor ainda é ter aprendido que o tempo é precioso demais, e não tenho mais pressa, o segredo de resolver o que é urgente é fazer devagar.<br />
<br />
A gente devia era nascer com cinquenta anos.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-49019567307286510142016-09-09T12:04:00.000-03:002016-09-09T12:15:41.573-03:00Os monstros nossos de cada dia<div>
<iframe allowfullscreen="" class="giphy-embed" frameborder="0" height="357" src="//giphy.com/embed/mPpAEqsUtFrgI" width="480"></iframe><a href="http://giphy.com/gifs/computer-monster-mPpAEqsUtFrgI">via GIPHY</a></div>
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A tela do computador me olha vociferando.<br />
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Eu abro e de lá saem monstros, hidras de lerna, medusas, criaturas do mal em que, em um olhar mais atento, reconheço quem chamo de amigos.</div>
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É uma disputa de egos, poder, pseudo-conhecimento, que beira a quinta série B. Minha caixa de lápis de cor é maior que a sua. Ela usa laço no vestido e por isso se rendeu ao patriarcado. Ninguém manda em mim (nem eu mesma). Eu ganhei uma mochila de Minnie. Você está ultrapassada porque tem que saber coordenar as últimas tendências. E humanidade is so last season. A Minnie, inclusive, também é oprimida pelo machismo. Basta ver a casa dela. Mas puxa, eu queria tanto, lá no fundo, a casinha com cerquinha branca e a família do comercial de margarina. Mas não vou admitir isso nunca, estou ocupada com a militância. Fora, fora, fora, sai daí, eu mesmo te pus aí, mas agora não quero mais brincar, sai. Vamos brincar de desobediência civil? A gente sai quebrando a escola, berrando, jogando bombinha de são joão, esparramando o conteúdo das bolsas das professoras, e na confusão, ninguém vai saber quem foi, provavelmente vai sobrar pro Afonsinho, o nerd, que ficou paralisado ali no cantinho. </div>
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As hienas também correm da tela. Elas não raciocinam, tudo é piada, não importa se incomoda os leões. E então quando os leões rugem elas reclamam. Isso é ditadura, onde já se viu. </div>
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As polícias todas estão de plantão. A polícia da linguagem, não diga isso ou aquilo, religiosa, isso e aquilo é pecado, mas só se você fizer, se eu fizer, não é. A polícia das suas escolhas pessoais, que estão todas erradas, dependendo da sua localização, a qual, aliás, o seu checkin revela - com seu consentimento, lógico, porque não dá pra ficar perdido no mundo. Se você escolhe não escolher, ah, por favor, alienado, engula aqui esta escolha que eu fiz por você. A polícia do peso, fique magro, fique gordo, a ditadura da estética, a estética da gordura, difícil escolher o que é correto, ficar magro ou ficar gordo e sair impondo por aí que todos saiam das dietas!! Comamos! Bebamos! Nos matemos! </div>
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Eu poderia ir longe, umas vinte páginas, mas por hoje chega. Deu. Cansei. Vou fechar a caixa de Pandora.</div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/XHFuKE6Hdzg" width="560"></iframe></div>
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flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-16210362699855894142016-09-02T09:54:00.001-03:002016-09-02T09:57:50.748-03:00AGOSTO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-cedz5kUEQd4/V8l2M6tw2gI/AAAAAAAAH4s/5dlMXQQI5RESFTjsiLviJV2v9Ny515LMQCLcB/s1600/agosto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://4.bp.blogspot.com/-cedz5kUEQd4/V8l2M6tw2gI/AAAAAAAAH4s/5dlMXQQI5RESFTjsiLviJV2v9Ny515LMQCLcB/s320/agosto.jpg" width="320" /></a></div>
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O mês de agosto parece interminável, e é engraçado que não é o único que tem 31 dias, mas sabe-se lá porque, nossa percepção de tempo está tão distorcida, ou é o tempo mesmo, que, por não existir de fato como queremos concebê-lo, agosto parece estender-se ad infinitum.<br />
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Associar coisas ruins a um mês é uma bobagem tão grande quanto o fato de ele existir, eu que odeio o Gregório e o calendário dele, ou quanto o fato de outubro ser o oitavo mês, mas enfim, o ponto é que não são dias ou meses que determinam fatos. É o mundo mesmo que está oferecendo poucos fatos alegres em qualquer mês, até neste em que entramos, no qual todos esperam as flores esvoaçantes nos intervalos das reclamações usuais.<br />
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Entre tanta coisa que deu tempo de acontecer em agosto, eu fui abraçar um amigo na partida do pai dele. Eu vou dizer partida não por eufemismo, mas porque na minha concepção é partida. Preencha com o nome que lhe aprouver, é auto-explicativo. Primeiramente, era um amigo que eu não via há muito tempo, sabia de uma coisa aqui, outra ali pelas "redes sociais", mas pessoalmente há anos não encontrava. A primeira observação foi a de que o tempo - vou falar de novo - é um conceito ridículo, porque ao abraçar e conversar com ele, os anos, meses, fatos, desapareceram. Ao conhecer a mulher dele, de novo o tempo escafedeu-se, porque eu a estava vendo pela primeira vez e ela já era também praticamente minha amiga pelo mesmo tempo que ele, uns mais ou menos, quase ou por aí quarenta anos.<br />
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Meu pai foi comigo, e aquilo tudo de pai vivo, pai partindo, rever mãe de amigo, rever amigo, cemitério, cheiro de flor de cemitério, a conversa vazia que - apesar do elefante na sala - acontece. Nós somos tão desajeitados diante do inequívoco. Eu não sei o que dizer, nunca. Eu fui lá porque achei que tinha que estar presente nessa hora, eu que me acho tão ausente, tão egoísta, um mar de contradição.<br />
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Nossos pais são as únicas pessoas que realmente se importam conosco. Isso é mais velho que andar para a frente, mas é a pura verdade. Faça o que for, aconteça o que acontecer, pai e mãe é que vão estar lá, no matter what. Quando um se vai, mesmo que seja o de quem queremos bem, é uma lástima. Mas sabemos que todos irão. Não penso nisso porque me bastam as minhas minhocas diárias que cavam túneis infinitos no meu cérebro. Fico feliz que minha filha também sabe disso. Nem todos os pais e mães são assim, eu sei. Todos somos imperfeitos. Os seus são? Ou foram? Saia saltitando de alegria, é um privilégio. Não são ou não foram? Tente ser, se quiser, Se não quiser, tem sempre alguma mão para a gente segurar e substituir.<br />
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É muita informação para eu processar. Me vê aí mais um mês de agosto, Chronos.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-723373148543309692016-08-26T10:47:00.000-03:002016-08-26T10:47:01.877-03:00Surprise, surprise<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/8GPz5KHagWE/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/8GPz5KHagWE?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
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Por essa eu não esperava, ou I didn't see that coming.<br />
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O passado às vezes chuta a porta sem cerimônia e vai entrando.<br />
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Uma de muitas luas-de-mel,<br />
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Esse cenário.<br />
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E não durou, quem diria.<br />
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E mais ainda, who would say, que o sentimento hoje seria esse.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-57715523340134367632016-08-26T10:16:00.001-03:002016-08-26T10:17:56.763-03:00Minha coleção de clichês<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-aicwcPHlmdk/V8BA61omU6I/AAAAAAAAH4c/sy-e5JqUIR0tmYs40DUtfgabaK_MKYVnwCLcB/s1600/blog.%2BPF2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-aicwcPHlmdk/V8BA61omU6I/AAAAAAAAH4c/sy-e5JqUIR0tmYs40DUtfgabaK_MKYVnwCLcB/s320/blog.%2BPF2.jpg" width="320" /></a></div>
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Quando a gente se dá conta de quanto já viveu cronologicamente, tudo assume novas dimensões, as perspectivas mudam, e a maneira de lidar com o mundo se adapta. Ou não, claro, porque há quem fique sempre na mesma toada, é o caminho fácil da porta larga, aquele que eu invejo.<br />
<br />
Há muitos anos tento receber o mínimo possível de informação não solicitada porque não acredito nas instituições humanas em geral, política e mídia em particular, entre outras. Quando achava que era minha obrigação estar informada, só me irritava com a impotência de ver tanto absurdo e não poder fazer nada. Considerando que a situação de lá até hoje só piorou, e sobretudo que eu fiquei mais velha, não saber não me causou nenhum prejuízo, só me poupou de irritação. Nos últimos anos ficou quase que impossível não saber do que ocorre, já não tenho a ilusão de privacidade, de desplugar, só tento conter o exagero, mas ainda assim, aprendi a ligar o filtro automático de besteira, e tudo tem botão de desligar.<br />
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O melhor de tudo foi escolher as batalhas. Nosso arsenal é limitadíssimo. A guerra é acirrada. Não dá para gastar vela com mau defunto. Isso é extremamente libertador, quando se consegue pôr em prática.<br />
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Quando olho para trás, para onde foram os anos que vivi? As memórias são muitas, mas se confundem, eu já preciso pensar muito para saber o que aconteceu há 10, 20, 30 ou 40 anos atrás. Mas na hora de dormir o cérebro lembra de todos os momentos de constrangimento da vida, da infância até o dia anterior. O bom é que quanto mais momentos estranhos temos para lembrar, menos eles nos incomodam.<br />
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Esta é uma conversa de velhinha. Mas eu me olho e não me vejo velhinha, Como é que aquela criança se tornou o que sou hoje? Como assim os anos oitenta se acabaram? Quem morreu? Mas ontem mesmo ele tinha vinte anos, já ia chegar aos cem?? Por dentro não envelhecemos, só vamos mudando como reflexo do que vivemos, e até agora só disse obviedades, chovi no molhado, clichê, clichê, clichê. A vida é isso, um clichê sem fim, todo mundo respira, come, fica doente, e a morte é a coisa mais democrática que existe. No entanto, nos debatemos sem parar, a inquietação, o desassossego, o querer saber, os golpes que recebemos e as alegrias que vivemos, tudo se soma e se confunde em datas, sentimentos, lembranças.<br />
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Olho em volta e vejo que acumulei tanta tralha, tenho tentado ao menos pôr ordem na bagunça, mas esse processo é por demais sofrido, Ao mexer fora, mexemos dentro. Pinçamos lá do fundo a memória que acorda com o papel, com o livro, com o cheiro, com o brinquedo, as fotos desbotadas de quem já se foi, e as dos que ainda não se foram mas estão tão longe de serem o que a foto mostra que talvez se pudesse dizer que se foram também,<br />
<br />
Tantas eus já se foram. Para onde? O que aconteceu com as coisas das quais desisti? Estariam acontecendo em uma realidade paralela? Será que temos um conjunto infinito de "e se" acontecendo simultaneamente a esta "realidade"? A ideia obviamente não é original, vide tantos filmes e livros a respeito. Por que o que não é nos fascina? Por que ao ver algo tão bonito que tira nosso fôlego, nosso fôlego é tirado? Por que amamos quem amamos e temos repulsa por outras pessoas tão aleatórias quanto o acaso que nos faz encontrá-las? Por que essa nostalgia do que nunca vivi?<br />
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Como foi que tudo passou tão depressa?<br />
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Minha única resposta para as perguntas óbvias é a resposta evidente: sei lá.<br />
<br />flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-67769945629082321252016-07-29T16:50:00.003-03:002016-07-29T16:53:01.204-03:007 X 1 DE NOVO<i>Publicado no <a href="http://primeirafonte.tumblr.com/post/preview" target="_blank">PRIMEIRA FONTE</a></i><br />
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<a href="https://4.bp.blogspot.com/-apk4aRkw5KU/V5uwDBRsPtI/AAAAAAAAH34/WrO6xPT2kn4HIsWBfn3pvEZo7HVnPVcaQCLcB/s1600/IMG_1070.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://4.bp.blogspot.com/-apk4aRkw5KU/V5uwDBRsPtI/AAAAAAAAH34/WrO6xPT2kn4HIsWBfn3pvEZo7HVnPVcaQCLcB/s320/IMG_1070.JPG" width="320" /></a></div>
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<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Minha amiga conterrânea na civilização, a <a href="http://www.ecaequeeessa.com/" target="_blank">Isa</a>, está se bandeando para os lados de Cabo Verde, mais especificamente em Boa Vista, a ilha chique de turistas. Há dois anos, eu estive em Praia, que é a capital, outra entre as 10 ilhas que formam o arquipélago que é um país. A ida da Isa para Cabo Verde me lembrou de um textãaaaaaaaao que escrevi na época, quem tiver tempo me acompanhe.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
“Cabo Verde era até hoje em meu arquivo mental uma referência vaga de África e meio caminho para os navegantes portugueses.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Eu não tinha nem certeza se a língua era o português ainda.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Ao chegar e ao longo da breve visita, o prazer de ver uma nação em nascimento.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Sim, fala-se português, e outra surpresa - um português mais semelhante ao som do brasileiro que ao da mãe de todas as colônias.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Do porto caminha-se até Praia, o óbvio ainda está na toponímia, os lugares principais são Praia e Cidade Velha, além de lugarejos com os previsíveis nomes de santos católicos, religião que também aqui além-mar vem perdendo fiéis para a evangélica.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
O povo já não é tão negro, aqui também já não se vê tanto a linda cor negra pura, como no Brasil, os colonizadores, saqueadores e visitantes também já deixaram sua marca genética.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Praia é onde se negocia e se vive, o “centro” da cidade-país-ilha. Há pouco a ver, e uma polícia vigilante, educada e preparada para receber turistas e agradá-los.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
De lado, dentro do táxi cujo proprietário aparentemente esfolou um gorila e usa sua pele de pelos longos como revestimento do painel do carro, a primeira parada é o Forte.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
No Forte, a bilheteria parece uma banca de pastel de feira de São Paulo, só um pouco menos sofisticada. E a segunda grata surpresa, o guia, que durante a visita ao Forte, do qual em pé efetivamente restam somente as muralhas e a cisterna, vai contando a história de seu país.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Cabo Verde é um arquipélago de dez ilhas, devidamente representadas por estrelas na bandeira que tem ainda o azul do mar, do céu, uma faixa vermelha representando liberdade, e branca representando paz. A bandeira tremula - um pouco trôpega ainda - no alto do Forte.</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-dV5ST9uF8SA/V5uwR4trNYI/AAAAAAAAH38/ARNWfX3VUiAQvoFiZPcu4jNLbQMM7sHUQCLcB/s1600/IMG_1090.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-dV5ST9uF8SA/V5uwR4trNYI/AAAAAAAAH38/ARNWfX3VUiAQvoFiZPcu4jNLbQMM7sHUQCLcB/s320/IMG_1090.JPG" width="320" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px;">
Do alto se vê as plantações que ainda não justificam o nome do país. No caminho todo e de lá de cima, só se vê uma paisagem desértica de terra seca. No entanto, de julho a setembro é que o nome do lugar se explica - é verde por ter verde mesmo, e onde hoje só se vê terra e pedras (ironia - a ilha não tem areia, a areia para construção tem de ser importada, estava sendo descarregada no porto), depois da chuva é verde a perder de vista. Animais só se vê os bodes, que vão atrás da pastagem montanha acima, porém, segundo informações, come-se também muito frango e porco, mas pouca carne de vaca.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Já houve um rio na ilha, que em meados dos anos 60 simplesmente foi-se - secou, desvaneceu-se no ar. Hoje toda a água que abastece a ilha passa pelo dessalinizador. E há moinhos de vento, providenciais, para um povo ainda quixotescamente ingênuo, preparando uma cidade nova que começa - nada ingenuamente neste caso - pela escola. Lá está ela no platô, e ao redor dela virá a cidade das próximas gerações, que começaram bem.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
A vista de dentro do forte que se debruça sobre o mar e já conteve piratas saqueadores, inclusive Drake, nos idos dos anos de “descoberta” do Brasil (descobrimento me parece inadequado), é de tirar o fôlego. A cidade velha logo abaixo até que resistiu bem às pilhagens.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Cabo Verde libertou-se apenas em 1975, é um país-bebê, e separou-se de Guiné-Bissau em 1980, motivo de orgulho dos nativos, que contam que em Cabo Verde todos trabalham, inclusive, as mulheres são as que têm a vida produtiva mais marcante. Que novidade, as mulheres arregaçam as mangas e fazem o que tem que ser feito. A versão caboverdiana é que Guiné Bissau atrasava a vida deles porque lá todo mundo tem preguiça de trabalhar. Eu pessoalmente adoraria exportar para lá um determinado governante que seria perfeito para eles caso isso seja verdade.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Ver a cidade velha, as ruínas do forte, um cabo que liga continentes e serviu de parada para os grandes navegantes, saqueada, pilhada, mercado de escravos - os navios vinham com pedra calcária de lastro, que era deixada na ilha para as construções (a local, só vulcânica), e levavam escravos como lastro, um povo sofrido, porém já nascendo com orgulho da terra, é assistir o parto de uma nação.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-YeGng4lv1sw/V5uwffuA4yI/AAAAAAAAH4E/o6BFE95Do2IFCVTVJnGze35ui_ch1wcyACLcB/s1600/IMG_1115.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-YeGng4lv1sw/V5uwffuA4yI/AAAAAAAAH4E/o6BFE95Do2IFCVTVJnGze35ui_ch1wcyACLcB/s320/IMG_1115.JPG" width="240" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px;">
Foi tão gratificante ver os primórdios, e saber que só as próximas gerações verão o desenvolvimento. Conflitos virão com certeza, governantes errarão, sangue ainda será derramado, sem isso não se constrói cidades, países.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Melhor de tudo foi ver que já há uma grande Universidade - Jean Piaget - um caminho interessante; e começar a cidade nova com uma escola, caldeirão de influências dos tantos que passaram, a língua local criolla talvez com o tempo se perca, mas é deliciosa de se ouvir. Para ela devem ter contribuído os de passagem - ingleses, franceses, espanhóis, e os óbvios portugueses. Outra descoberta interessante. As colônias de Portugal aparentemente dão a cor local ao português. A última flor do Lácio ainda espalha mudas que vão se aclimatando ao lugar onde se instalam, vão tomando ares locais, sem no entanto fugirem do tronco inicial. A unificação ortográfica é por enquanto ainda uma piada.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Não se doma uma língua por decreto.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Não se escraviza mentes.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
A completa submissão muitas vezes é a forma mais sublime de rebeldia.” (23/04/2014)</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-YmX8oMmicdU/V5uwy4PJsLI/AAAAAAAAH4I/XbFR5HZ8J9wEUXtYlVsW6QZcs3bK9gTeACLcB/s1600/IMG_1117.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-YmX8oMmicdU/V5uwy4PJsLI/AAAAAAAAH4I/XbFR5HZ8J9wEUXtYlVsW6QZcs3bK9gTeACLcB/s320/IMG_1117.JPG" width="320" /></a></div>
<div style="background-color: white; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
<span style="color: #444444; font-family: "helvetica neue" , "helveticaneue" , "arial" , sans-serif; font-size: 15px;">Emocionei tanto que hoje nem quero acrescentar mais nada. A próxima geração que conte o que viu.</span></div>
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<figure class="tmblr-full" data-orig-height="480" data-orig-width="640" style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin: 1em -20px; text-align: center;"></figure>flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-50158220020772078772016-07-22T10:10:00.003-03:002016-07-22T10:10:58.655-03:00O coração da minha cozinha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-S5BysSnJuDQ/V5IbIRZpkoI/AAAAAAAAH3g/sq6EwhI0_RYd805zXMqgLYZ1oPY_NVcygCLcB/s1600/blog%252C%2BPF.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="199" src="https://1.bp.blogspot.com/-S5BysSnJuDQ/V5IbIRZpkoI/AAAAAAAAH3g/sq6EwhI0_RYd805zXMqgLYZ1oPY_NVcygCLcB/s320/blog%252C%2BPF.jpg" width="320" /></a></div>
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Diz-se por aí que cozinhar é um ato de amor. Isso é lindo, mas pergunte a quem cozinha todos os dias para alimentar a si mesmo ou à família, o amor vai se dissipando, especialmente na pressa, na falta de opção, no comer em pé na cozinha, sair com uma banana na mão para não desmaiar de fome a caminho do trabalho. Eu admiro muito quem sabe e tem prazer nisso, acho bonito saber exatamente o que é "uma pitada", "um pouco mais", "___ a gosto". E os rituais na cozinha.<br />
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Eu não fui criada para saber cozinhar, Tenho a sorte de uma mãe que cozinhou para mim por muito mais tempo que o recomendado, a ponto de me acostumar mal para sempre. A isso junte-se a minha total incapacidade e falta de vontade de aprender, aí está o resultado: para mim, cozinhar não é só um ato de amor, é um ato de amor profundo, daqueles de total desapego, se me virem na cozinha, saibam que tem muito amor envolvido.<br />
<br />
Eu fui casada durante quase quinze anos, e só entrei na cozinha para cozinhar para minha filha. Como eu fazia? Quem cozinha em casa se surpreenderia com os infinitos modos existentes de driblar o fogão. Quando minha filha nasceu eu já tinha 31 anos, e aí é que fui aprender o básico da cozinha (não é fritar ovo, porque isso não sei até hoje). Aprendi a fazer as sopinhas (hoje já não sei mais), a comidinha, enfim, amor de mãe.<br />
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Quando depois dos 40 fiquei sozinha pela primeira vez, separada, filha morando longe para estudar, aí então foi ladeira abaixo. Quem mora sozinho sabe que só come se cozinhar, minha filha aprendeu isso rapidamente, a mãe continua enrolando, especialmente porque por sorte, atrai pessoas que cozinham.<br />
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No último domingo minha mãe ligou para mim e foi informada que eu estava na cozinha picando tomate, se poderia ligar depois. Quando liguei ela já estava preocupada se eu estava doente, mas já sabia que era de novo o amor. Nessa hora some a preguiça, a falta de vontade, porém, a inépcia, a mão desastrada, o nojinho, tudo isso está lá, mas não contam muito. Os olhos vão da faca para o copo e do fogo para os olhos, se eu fizer sozinha não é a mesma coisa (como aliás muitas outras coisas).<br />
<br />
Tenho muitas pessoas que já cozinharam para mim. Suzi é a mãe por excelência, que põe amor em tudo, a cozinha dela exala coraçõezinhos. Fal e Marli com seus patezinhos e café, cujo sabor não existe em nenhum outro lugar. Esther, que em dias inesquecíveis e com mãos amorosas extras, proporcionou um evento divisor de águas para várias de nós, Claudia e Marion, com gêmeos bebês e cozinhando para me receber. Fernanda, de apartamento novo e cozinha já com amor embutido, Luci, minha companheira de jornada, a 100 quilômetros, se bobear ela cozinha até na minha cozinha. A Moniquinha, cujos bolos eu só vi em foto, mas tenho certeza que têm sabor amor. Ira e Michelangelo, que me receberam com todo amor do mundo, ela que é como eu, só cozinha em casos graves de amor, e ele com o melhor café napolitano que eu já tomei e jamais tomarei outro igual. Alline e Alberto, que me ofereceram o sabor da Itália temperado com bambinas, o café do Antonio e da Dri, sempre rodeado de sabedoria, minhas tias, minha avó que faz tanta falta com o café e bolinho de chuva, a comidinha da minha bisavó quando eu tinha 8, 9 anos, e tantos, tantos outros, que não esqueço, e obviamente, hors concours, a comida da minha mãe, aquela pela qual eu anseio quando volto de viagem, a que tem gosto de casa.<br />
<br />
Eu não sou essa mãe, mas estou em paz com isso, reservo a cozinha para surtos de amor. E falando nisso, há pouco mais de dois anos, em uma viagem em que tomei um rumo diferente da minha companhia, eu estava sentada na Gare de lést em Paris, ele me deixou com as malas a caminho de Bruxelas, onde aliás Ira e Michelangelo já me esperavam com a mesa cheia de amor, e tomou o rumo do aeroporto. Eu fiquei lá, sentada, esperando o trem com as malas, uma sacolinha e um sentimento que vai me acompanhar para o resto da vida quando abri a sacolinha. Aí escrevi o seguinte:<br />
<br />
"Então eu abro a sacolinha. Lá dentro, maçã, banana, água. E um lanchinho. Quando vou abrir o lanchinho, ele vem preparado e embalado como se fosse coisa de mãe. Mas não foi minha mãe quem fez. No entanto, as provas de amor não escolhem hora nem vestimenta. Eu como pão com lágrimas."<br />
<br />
Demorei muito, depois disso, para internalizar essa descoberta. Mas, acabei na cozinha.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-12959160987288632842016-07-17T11:26:00.001-03:002016-07-17T11:26:23.916-03:00As horas e as horas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-OXrazJci7Gs/V4uUrcDPzyI/AAAAAAAAH28/i09YQbwnaFgxAe4IOs15LMLFZk_0VFoYgCLcB/s1600/Ashoras1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-OXrazJci7Gs/V4uUrcDPzyI/AAAAAAAAH28/i09YQbwnaFgxAe4IOs15LMLFZk_0VFoYgCLcB/s320/Ashoras1.jpg" width="180" /></a></div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Prestes a mudar de fuso horário de novo, quarta vez em 40 dias, cinco hora a mais, cinco a menos, uma a menos, uma a mais, ainda me espanto com o tempo e como inventamos de o medir e com o tamanho do desfavor que fizemos a nós mesmos com isso. Mas já que as horas passam desse jeito mesmo e sem dar a mínima para o que eu penso, melhor guardar o espanto para desastres maiores da humanidade, os quais, por sinal, não são poucos.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Ainda assim, é extraordinário observar o valor do tempo para cada pessoa, para cada cultura, para cada ponto de vista na relatividade.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Sem querer generalizar e sem nenhum juízo de valor, o hemisfério norte é mais amigo - ou escravo - do tempo. Ou eu, que sou a louca do relógio - saio de casa duas horas antes do compromisso para não deixar ninguém esperando, três horas antes no aeroporto, estação de trem e afins, meia hora antes de aula se eu for aluna, duas se for professora, e por aí vai - diria que há mais respeito.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Já que Gregório, aquele que quem me conhece sabe que eu odeio, inventou esse calendário estapafúrdio, e a eletricidade acabou com nosso ciclo biológico natural, por que cargas d'água os horários marcados não são respeitados? Ou se fosse para ser uma anarquia, marcar horário para que, então? </div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Eu prezo tanto o meu tempo, já que é o não renovável por excelência - passou, acabou, extinguiu, não recicla, não se descobre nova fonte, não dá nem para importar, exportar nem ir buscar em outro planeta. Mas todos agimos como se ele não acabasse nunca.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-K4A99WLTTCE/V4uU4EvmH8I/AAAAAAAAH3E/Tbn5rpibCQwYpFnPhSgnV5kXvnpl1MV4gCLcB/s1600/ashoras2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-K4A99WLTTCE/V4uU4EvmH8I/AAAAAAAAH3E/Tbn5rpibCQwYpFnPhSgnV5kXvnpl1MV4gCLcB/s320/ashoras2.jpg" width="180" /></a></div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Já é clichê dizer que esperamos o fim de alguma coisa para começar a viver, e só percebemos que não dá mais tempo no leito de morte, ou nem notamos, quando o Reaper nos surpreende no meio de uma atividade corriqueira.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Na Europa, 4h16 é 4h16. No Brasil, em uma festa marcada para as 20 horas, corre-se o risco de encontrar o anfitrião enrolado na toalha a uma hora dessas. Sair à noite em São Paulo antes das 23h só se for com crianças. “Mais ou menos às 15h” é uma vasta gama que vai de “putz cheguei muito cedo (meu caso sempre, por isso o livro não sai da bolsa)” a “meu, isso é hora?” (esses são em geral os sem noção total). Mas tudo no meio dos dois extremos é aceitável, coisa que um amigo inglês que eu tenho simplesmente não consegue entender, não dá, o repertório deles não tem disso. </div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Os países latino-americanos tendem a seguir a mesma linha frouxa, e me espanta deveras que o mundo de business siga a mesma cartilha. Clima, latitude? Sei lá, para mim pessoalmente mais um motivo para me sentir fora do “normal”.</div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Este ano chego a meio século de vida. A diferença vem se apresentando aos poucos. Mas a essência chega sempre na hora.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-Qp3TC5W5X3c/V4uVCpQTVTI/AAAAAAAAH3M/b5CS70Tach4Tvqk-RciYoEyZd51LjlLIgCLcB/s1600/ashoras3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-Qp3TC5W5X3c/V4uVCpQTVTI/AAAAAAAAH3M/b5CS70Tach4Tvqk-RciYoEyZd51LjlLIgCLcB/s320/ashoras3.jpg" width="180" /></a></div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div style="-webkit-font-smoothing: antialiased; -webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 15px; outline: none 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Publicado no <a href="http://primeirafonte.tumblr.com/post/147462039960/blade-runner" target="_blank">Primeira Fonte</a> em 15/07</div>
flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-4029875378743410262016-07-17T11:21:00.001-03:002016-07-17T11:21:28.010-03:00PátriasTexto publicado no <a href="http://primeirafonte.tumblr.com/post/147155979940/blade-runner" target="_blank">Primeira Fonte</a> em 09/07<br />
<br />
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Há muitos anos, quando eu ainda era inocente e cantar o Hino Nacional em fila na escola ainda não era motivo de execração pública por “fascismo”, apesar de não saber as dimensões que essa palavra pode ter, eu tinha uma espécie de alegria por ter nascido no Brasil. Depois as dimensões foram se revelando e houve tempos áureos em que era bom morar em um país sem guerras e sem grandes desastres naturais.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
O tempo vai acrescentando anos e tirando ilusões. De fora qualquer perspectiva muda anos de certezas. Se havia dúvidas, então, aí olhar o país de longe e fazer comparações põe à prova qualquer ufanismo quando se vem de onde eu venho.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Abri mão de discutir posições políticas pelo bem da minha saúde mental e para não ter que escolher se tiro da minha vida pessoas por razões dúbias. Então vou logo ao assunto que me tocou a ponto de arriscar abordar assunto tão delicado.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Há sempre o gatilho, a surpresa que parece pequena e dispara sentimentos e pensamentos galopantes. Estou em Assunción. No meio da tarde, no meio da cidade, no canto da praça, a singela apresentaçao de danças típicas protagonizada por crianças alunas de uma escola de danças. Note-se que não se trata de escola pública onde se faz fila para a bandeira. A bandeira, aliás, é presença marcante em toda a cidade - edifício públicos, privados, praças, escolas, comércios, hotéis, centro e periferiamuita gente tem sua bandeira e a exibe com orgulho. Mas aqui tratava-se de uma escola em que se paga para aprender a dançar.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-Z7itXO0-JzI/V4uT-q4PINI/AAAAAAAAH2w/XVucngk2xTgPH6vQpUKzap1TX5fv7NztgCLcB/s1600/patrias1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://2.bp.blogspot.com/-Z7itXO0-JzI/V4uT-q4PINI/AAAAAAAAH2w/XVucngk2xTgPH6vQpUKzap1TX5fv7NztgCLcB/s320/patrias1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
As meninas com suas saias com vários metros de roda, os meninos com chapéus galantes. Elas com flores nos cabelos e um treino de equilíbrio que mostra que as danças típicas são aprendidas desde cedo, os rostinhos maquiados sorrindo para a estrangeira aqui tirando foto, o orgulho que me deu inveja. Depois de dois pecados mortais na mesma frase, uma dor. Pensei nos trajes da Bavaria que vi há duas semanas em Munique, envergados com naturalidade por homens e mulheres em sua rotina, trajes e tradições que depois de tanto tempo e fatal influência local, os alemães ainda usam no Brasil com amor.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-vThjZPRSgi4/V4uUNvwPOnI/AAAAAAAAH20/pGNPEmU9Y9MASswYM6hMHyDqhrP9MeoGACLcB/s1600/patrias2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://2.bp.blogspot.com/-vThjZPRSgi4/V4uUNvwPOnI/AAAAAAAAH20/pGNPEmU9Y9MASswYM6hMHyDqhrP9MeoGACLcB/s320/patrias2.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px;">
E então, penso no que fiz para representar meu país na minha infância. Ou depois dela. Ou em algum momento da vida. Nesta última vez, trinta dias peregrinando por aí, torci para que ninguém me perguntasse de onde eu era, vergonha internacional que somos. Algumas vezes ainda disse, bem baixinho, que triste. E na semana em que retorno, recebo a notícia de que já sou cidadã portuguesa, é só ir buscar os documentos.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
Não temos danças típicas. O samba nada mais é que instrumento monetário. Não temos políticos decentes, independentemente de partido. Não temos nada decente a oferecer aos atletas olímpicos, só sujeira e insegurança. Onde estarão nossas crianças que não apresentam danças folclóricas na praça? Se não tiverem a sorte de estarem trancadas em casa mergulhadas em um telefone celular, estarão nas ruas. Nos morros. Nos faróis. Nos prostíbulos. Nas casas funerárias.</div>
<div style="background-color: white; color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", HelveticaNeue, Arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 24px; margin-top: 1em;">
E me lembro das danças de primavera na Ilha da Madeira. Nunca é tarde para mudar. Me dói um pouco, mas minha alma já é estrangeira onde mora.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-cL8GlGpYVyU/V4uUXJsyc7I/AAAAAAAAH24/mpsYuvaCiOUAMzCZFFWElxEFmwFHCS41ACLcB/s1600/patrias3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-cL8GlGpYVyU/V4uUXJsyc7I/AAAAAAAAH24/mpsYuvaCiOUAMzCZFFWElxEFmwFHCS41ACLcB/s1600/patrias3.jpg" /></a></div>
<div>
<br /></div>
flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-84996850807633737052016-07-01T09:11:00.000-03:002016-07-01T09:11:09.908-03:00Coisas que eu aprendiViajar é a melhor escola que se pode frequentar para a vida.<br />
Desta vez aprendi que muitas coisas são universais, entre elas:<br />
- Crianças fofas<br />
- Crianças chatas<br />
- Os olhares que as mulheres lançam às outras mulheres (concorrência)<br />
- Os olhares que os homens lançam às mulheres mudam de acordo com o país (alguns não lançam olhar nenhum)<br />
- A cara de infelicidade resignada dos homens que acompanham as mulheres às compras<br />
- As caras enfiadas nos celulares em absolutamente todos os momentos e lugares<br />
- Diferenças culturais que variam com o clima (velhinhos pelados no parque porque está sol, coisinhas balançando e se queimando, o horror, o horror)<br />
- Orientais que tiram tantas fotos que só devem realmente saber como é o lugar depois que chegam em casa e veem as fotos<br />
- Cansaço, físico ou da vida<br />
- Ninguém realmente liga para a vida alheia<br />
<br />
- Todo mundo dorme, come e vive com base no mesmo sistema e sujeito à mesma biologia, daí concluo:<br />
<br />
Preconceito é uma das maiores imbecilidades e atestado de burrice que existem.<br />
Não adianta fazer muxoxo, é tudo igual, e todo mundo vai morrer e virar um esqueleto.<br />
Enquanto isso não acontece, vamos deixar de perder tempo.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-be_mBoXEvPw/V3Zdhw8-2QI/AAAAAAAAH2Q/NmQhKsoCv8QjZgAo4BN3AAI0-1vYE9E9QCLcB/s1600/20160609_141419.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://4.bp.blogspot.com/-be_mBoXEvPw/V3Zdhw8-2QI/AAAAAAAAH2Q/NmQhKsoCv8QjZgAo4BN3AAI0-1vYE9E9QCLcB/s400/20160609_141419.jpg" width="225" /></a></div>
<br />
<br />flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-87264142900795700212015-07-10T16:03:00.000-03:002015-07-10T16:03:22.745-03:00na soleira<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-LbCNml9_zZY/VaAVjaIGRXI/AAAAAAAAH1Y/UiX_TdDfe8A/s1600/802a7f934a6b9b34dbd900e43b837468.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-LbCNml9_zZY/VaAVjaIGRXI/AAAAAAAAH1Y/UiX_TdDfe8A/s320/802a7f934a6b9b34dbd900e43b837468.jpg" width="191" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<br />
Saudade é inútil, inexorável às vezes, inconveniente sempre.<br />
<br />
Olhar para trás com esses olhos sem lágrimas ainda vai acabar te matando. Agora que elas minguaram até quase a extinção, é onde começa o perigo abissal, o perigo do superado. Superar é bem melhor definido em inglês - a gente passa por cima. O que não significa que tirou do caminho, apenas got over it e deixou "it" lá. Mas it tem pernas, tentáculos, emite ondas, é fosforescente, tem um apelo irresistível de canto de sereia, e a saudade é Pavlov, toca a campainha<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
.<br />
<br />
O armário esteve bagunçado por tanto tempo que mesmo depois da arrumação não se nota o que ficou lá no fundo. E em geral acabamos tirando o que um dia seria útil - as más lembranças. Querendo acabar com elas para diminuir a dor, você enfia todas no saco de lixo e manda embora. Ficam as boas, essa sina. São elas que vão se esvaindo, até revelarem os esqueletos que se abrigam lá dentro.<br />
<br />
E eles pulam na gente do nada. Você ouve uma música, sente um cheiro, dirige sem querer para um lugar, vê uma fotografia que estava perdida nos arquivos inúteis, ouve alguma coisa, ato falho, e puft - um esqueleto pendurado no pescoço. E aí você o arrasta por dias, leva passear, alimenta, dorme segurando a mão dele (quando ele te deixa dormir), conversa com ele, até ficar com ódio mortal dele e enfiar dentro do armário de novo, lá com os outros, que já estão bem confortáveis.<br />
<br />
Por isso não responda, não atenda nada que toque, não abra a porta. Você sabe que se abrir e tiver um esqueleto lá você vai encostar a cabeça na porta e ficar em pé na soleira, e quando encontrar as órbitas dos olhos dele todo universo vai saltar de lá, esse momento infernal do reconhecimento e da cumplicidade restabelecida. E aí, it's over. flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-62104824968608273102015-04-24T05:40:00.002-03:002015-04-24T05:41:00.262-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Hp2_zSe1z40/VToBDUZd_CI/AAAAAAAAH1E/5fmh8f5jgaU/s1600/unnamed.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Hp2_zSe1z40/VToBDUZd_CI/AAAAAAAAH1E/5fmh8f5jgaU/s1600/unnamed.jpg" height="192" width="320" /></a></div>
<br />
Eu sei que você esperou até o último minuto e olhou para trás antes de embarcar.<br />
Mas eu venci a mim mesma e me tornei a rainha.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-76577359100861676032015-04-07T18:23:00.001-03:002015-04-07T18:23:03.300-03:00<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Aguw1wZVn7M" width="420"></iframe><br />
<br />
My heart still skips a beat.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-36147300258929715682015-03-24T12:06:00.001-03:002015-03-24T12:06:36.790-03:00Thanks, but no thanks.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-kvq8C55OYDg/VRF9azZ-QoI/AAAAAAAAH00/wuREDA8CzZw/s1600/sad%2Brose.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-kvq8C55OYDg/VRF9azZ-QoI/AAAAAAAAH00/wuREDA8CzZw/s1600/sad%2Brose.jpg" height="226" width="320" /></a></div>
<br />
Eu sei. Acreditem, por favor. Eu sei. Eu tenho pavor de parecer ingrata, porque são tantas as mãos que se estendem quando preciso, que ao me recolher, parece que estou recusando a boa vontade que tanto agradeço e preciso.<br />
<br />
Eu sei que o inferno está pavimentado de boas intenções, mas não é o caso das boas intenções que caem no meu colo. Eu recebo boas intenções de verdade.<br />
<br />
Passamos por coisas que, apesar de sabermos como são, como se desenrolam, têm todo um processo que todo mundo sabe que existe e ninguém queria, mas tem que acontecer.<br />
<br />
Meu coração dói. Muito. Já aconteceu dezenas de vezes pelo mesmo motivo, e agora finalmente, chegou a hora de mudar isso. Sim, eu sei que passa. Eu sei que é difícil. Eu sei que eu não posso me isolar. Eu sei que não deveria dizer isso ou aquilo. Eu sei que não deveria fazer isso ou deveria fazer aquilo. Eu sei que não estava vendo. Mas agora eu estou.<br />
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Resolver a vida alheia é muito fácil. E aqui não está implícita nenhuma crítica. Qualquer um que olha de fora o problema de outro vê a solução porque não está enfronhado nele. Se tiver boa intenção, sugere a solução. Eu já ouvi centenas de vezes as mesmas soluções. E são as corretas. Todo mundo tem razão. Todo mundo fala com a melhor de todas as intenções porque não quer me ver sofrer.<br />
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Eu agradeço, de verdade e de todo coração, mas não adianta nada. Eu já sei. Tudinho. Eu já sei a solução, eu já sei as causas, eu já sei as consequências. E nada disso muda uma vírgula no que eu sinto. Eu não sou estúpida e não tenho mais 20 anos há muito tempo. Eu sei. Poderia estar cega em alguns momentos, mas garanto que não estou mais.<br />
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E ainda assim, a dor é a mesma. O coração não está nem aí para o que foi racionalizado, compreendido e decidido. Ele quer outra coisa. E quer agora. Como não é possível, ele devolve com a dor de cem facas cravadas por todos os lados no peito. É uma dor viscosa, pesada, intensa quanto pode ser, profunda, abissal. Nada que se diga a respeito a ameniza. pelo contrário, quanto mais eu ouço, mais facas são cravadas no peito.<br />
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Se eu não pedir seu conselho, sua opinião, seu veredito, sua sugestão, por favor não me dê. E não me chame de ingrata, não é ingratidão, eu garanto. Eu agradeço e me emociono com a preocupação com meu bem estar. Mas é pior. Me deixe com a minha dor. Eu preciso esgotar, drenar, moer o coração, deixar que se estilhace uma, duas, cem vezes. Nunca mais ele vai ser o mesmo. Nun-ca-ma-is. A escolha é minha, a dor é minha, respeite.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-34287293635033639422015-03-16T18:26:00.001-03:002015-03-16T18:26:32.327-03:00É assim.A vida é inexorável. Não dá bola pra nada, pra ninguém, não importa em que estado anda nossa alma, quantos mortos na explosão, quem nasceu morto ou morreu em vida, quantas obras-primas tenham sido escritas, pintadas, esculpidas; não interessa quem ganhou a eleição ou quem perdeu o jogo, seja ele qual for; quem conquistou o objetivo ou afundou proveniente dos píncaros; não interessa cor, renda, posição social, raça, religião, crença, cor preferida; quem ganhou o Nobel ou quem foi o maior de todos os vilões da História, conflitos locais ou incidentes internacionais. A vida não dá a mínima, ela não é territorial, preconceituosa, elitista, populista, ela não está nem aí, a gente se rasga e outro dia nasce, e a noite vem de novo e a única certeza que a vida dá é que um dia se vai, e ainda assim somos marionetes ignorantes de sua vontade, ainda assim ficamos na dúvida entre deixar ir e esperar voltar, mesmo assim afundamos ainda mais os dedos nas feridas até o sol se pôr.<br />
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<br /><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Dr2edr5twqI" width="420"></iframe></div>
<br />flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-68632135142987252482015-03-12T23:07:00.001-03:002015-03-12T23:07:25.091-03:00Memorabilia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-SnaIhlVtrZM/VQJGCO9rzfI/AAAAAAAAH0k/AuOgQa8FCA0/s1600/the%2Bcollector.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-SnaIhlVtrZM/VQJGCO9rzfI/AAAAAAAAH0k/AuOgQa8FCA0/s1600/the%2Bcollector.jpg" /></a></div>
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* pequena nota: esse filme da foto é de 1965 e conta a história de um homem que sequestra uma mulher e a mantém refém só pelo prazer de saber que ela está lá. A capa é uma mórbida semelhança com Hannibal, mas tudo faz sentido, é só procurar - canibais, vampiros, zumbis.</blockquote>
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Era uma vez um moço muito simpático, expansivo e gentil. Pelo menos assim parecia. Segundo ele mesmo, ele era muito inteligente, culto, abastado, conhecia as pessoas certas, havia tido sempre do melhor e tudo o que ele dizia era certo e verdadeiro. E como assim era, ninguém contestava. Ele tinha muitas, muitas coisas. Propriedades, era muito viajado e alguns itens possuía às centenas ou milhares. Por exemplo, cerca de dez mil filmes. Centenas de peças de roupas e calçados de todos os tipos. Cristais finíssimos em grande quantidade. Enxovais maravilhosos e todos os tipos de utensílios domésticos os mais modernos e as novidades todas em eletrônicos. Andou espalhando TVs por suas casas todas porque duas no mesmo cômodo não tinha graça. Livros, os clássicos, as novidades, tudo. Bebidas então nem se fala. E nesse quesito não economizava. Aliás, em nenhum.<br />
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Mas havia uma peculiaridade. Com tantas coisas maravilhosas e sem conseguir parar de comprar - quiçá porque sempre cabe mais alguma coisa no vazio - pouquíssimas coisas eram de fato usadas. Caixas se empilhavam guardando equipamentos novos. Quanto tempo seria necessário para assistir dez mil filmes? As taças empoeiravam nos armários, e formas e panelas antigas eram usadas enquanto as chiquérrimas (aliás nem mencionei que ele era ótimo cozinheiro também) ficavam guardadas lá em cima fora de alcance. Vestia-se quase sempre igual, com centenas de jeans no armário só um via a luz do dia. As bebidas - beber pra quê? Algumas comprara somente "para ter", assim, só para saber que tem, está lá à disposição. E além disso colecionava miudezas - isqueiros, posters, enfim, de tudo um pouco. E uma despensa sempre cheia, ainda que muitas coisas já começavam a embolorar.<br />
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De tanto saber tudo, ter tudo e ser o melhor em tudo, decidiu que poderia colecionar também pessoas. É, isso mesmo, pessoas, gente, seres humanos, especialmente mulheres. Chegava a gabar-se das quantidades semelhantes às dos outros itens que colecionava, tinha listas de números de telefone nas orelhas de livros, um pândego. Seu maior orgulho era essa coleção, porque, afinal, além de todo o mais, era lindo, interessante, gostoso, rico, enfim, tudo de bom. E tratava a coleção de gente de maneira um pouco inversa das outras: usava e não guardava, diferentemente dos itens que eram guardados sem serem usados.<br />
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Era uma vez uma moça que conviveu muito tempo com esse moço, fez parte da coleção dele mas ele extraordinariamente e sabe-se lá por qual motivo, porque vivia dizendo que ela não servia, entre outras amenidades, mas ele resolveu mantê-la e expô-la ao lado das outras coleções. A moça não concordou com algumas definições que ele tinha dele mesmo e perdeu-se dos outros itens. Como bom colecionador, o moço não gostava de perder itens de suas coleções, e por um longo tempo conseguiu usar a moça sem no entanto incorporá-la de volta ao pavilhão principal de exposição. A moça era muito tonta e foi-se deixando levar, com um pé dentro e outro fora do display.<br />
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Aí um dia essa história toda aí de coleção caiu na cabeça da moça como uma bigorna, e ela não foi beijada pelo príncipe mas acordou. Desejou boa sorte ao moço, juntou os colecionáveis dele que haviam insidiosamente sido instalados em sua casa, e botou o moço e suas malas na rua debaixo de um temporal.<br />
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Hoje ela está chorando muito e tem boas, maravilhosas lembranças do moço, porque ninguém é totalmente imbecil, só que acabou paciência. Um dia as lágrimas secam, as peças de coleção enferrujam, quebram, secam, ficam obsoletas, desbotam, murcham, mas os olhos que choraram as lágrimas acabam encontrando um artigo raro que não faz parte de nenhuna coleção, e aí... na curva do rio o cadáver passa.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2507716761499646054.post-61637046983147764072015-03-08T22:43:00.002-03:002015-03-08T22:43:51.096-03:00Basta.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/28/b8/ed/28b8ed6ae85333fd1e6e5ae21b41c0c7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/28/b8/ed/28b8ed6ae85333fd1e6e5ae21b41c0c7.jpg" /></a></div>
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Não foi por falta de aviso. Todos, todos que se importam comigo - e não são poucos - avisaram. Uns aberta e cruamente, outros com mais sutileza, mas todos com a melhor das intenções - fazer parar o sofrimento desnecessário. Desnecessário sim, porque apesar da obviedade das coisas, quando escolhemos amenizar as cores rudes do que vemos, vamos dando uma pincelada colorida aqui, outra ali, judstificamos uma barbaridade hoje, uma atrocidade amanhã, e assim vamos, todos os dias recebendo a verdade na cara e desviando o olhar.<br />
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Às vezes em nome do que foi, do que é bom, do que pode melhorar. Mas sabemos lá no fundo que não vai. Não vai melhorar nem nunca foi bom. E só traz lágrima, tristeza, desvia a vida do caminho mais fácil, insistimos em carregar pedra, escalar pelo lado íngreme e liso, debaixo da tempestade de granizo ou arrastar correntes. Gostamos muito de arrastar correntes, malas pesadas, elefantes que não nos pertencem, asas quebradas.<br />
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Algumas vezes paramos e olhamos o panorama - não quero mais, dizemos ingenuamente. Não aguento mais, chega, não preciso disto, não quero isso, vou-me embora pra qualquer outra coisa que doa menos. Isso tudo somente para voltar a chafurdar na mesma lama em dois tempos.<br />
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Esta é minha hora de dizer basta. Não digo com empáfia, com orgulho, com ares de vitória.Digo com toda tristeza do mundo e sem nenhuma vontade. Na verdade nem digo basta, tudo se basta sozinho, porque é muito simples - não tenho mais forças para suportar. Se tivesse continuaria, mas meu suspiro final fica registrado aqui. E que eu tenha forças para começar a ajuntar os cacos da minha vida que se espalharam pelo caminho todo.flordelishttp://www.blogger.com/profile/05220562751187091009noreply@blogger.com1