segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

The king is dead. Long live the king.



Às oportunidades perdidas. Aos momentos passados, repassados, requentados e extraviados. Aos que se foram sem terem sido vividos, mas especialmente aqueles que essencial e insanamente o foram. Às provas que precisamos analisar, à comprovação do que já sabíamos, mas era triste demais, pesado demais, dolorido demais para reconhecer. Às cicatrizes dos ressentimentos, ao ir, vir, ficar e aos pontos finais que se tornaram vírgulas e aos que se apagaram de tanto desgaste, mas sabemos que estão lá, indeléveis. Ao grande, enorme mundo que encolhe e se expande, ao relativo, ao absoluto, ao que parece mas não é e ao que é apesar de oculto. Ao que é, foi, mas acima de tudo ao que poderia ter sido. O que pareceu ter sido. O que não foi. Às mentiras, meias-verdades, meias-mentiras, verdades absolutas, falácias, ao blablabla infinito e vazio, que esconde, disfarça, engana, destrói sem volta a confiança, a expectativa, deixando os olhos escancarados no escuro solitário da noite do impessoal quarto de hotel de hoje, ontem, da semana que vem, de sempre. À tentativa falha de finalmente levantar da cadeira desconfortável do aeroporto e ir para casa, a que nunca chegou a ser. Ao lar construído na nuvem, no virtual, na mensagem, no telefone, na imagem, na voz, nas palavras certas, nas palavras erradas, no dito e no calado, no gritado, no entrecortado em lágrimas, em risos, em júbilo e na alma em pedaços. Aos pedaços de alma que se perderam no caminho, aos que se ganharam, à experiência vivida, revivida, rediviva, reincidente, recorrente, reiterada, repisada e remoída, e por fim, incorporada como uma possessão. Ao desespero e ao desterro, ao despatriado e a quem é do mundo, a quem tem raízes mas queria voar, sem ser capaz de tirar os pés do chão. Aos momentos em que foi possível pular e encontrar as asas no meio do salto, aos momentos em que elas não vieram, aos tombos, feridas, ossos e corações partidos, vidas partidas. Às frases que não terminaram, cortadas pela má conexão, pela falta de sinal, pela ligação ruim, pela falta de comunicação pura e simples, pelos erros de expressão, pela não existência da palavra saudade em outra língua, pelo indizível, imponderável, impenetrável, imensurável, impossível. À disposição de, apesar de línguas diferentes, planetas diferentes, vidas diferentes, objetivos diferentes, fusos horários em absoluta dissonância, confusões culturais, choques de vontades, arriscar que os universos entrassem em colisão. Às colisões de timing, de lugar, de voos perdidos, reservas canceladas ou que apenas ficaram lá à espera de quem não apareceu. Ao suspiro, olhar, brilho nos olhos, sorriso, gargalhada. Às lágrimas que regaram, contorceram, ensinaram, aprenderam, registraram no éter a história que se perdeu em palavra escrita, dita, ouvida, presa no peito e com alívio, às vezes enfeitada, às vezes crua, saltou. Às palavras que foram todas ditas - pelo menos nada ficou a ser dito. Ao não - não posso, não consigo, não quero, não vou, não fico, não sei, não deixo, não saio, não entro, Ao não, não aguento mais. E ao sim, o que não vingou. Aos planos desfeitos, aos pores de sol não vistos, às temperaturas não sentidas, as paisagens não admiradas, os perigos não corridos, as certezas não alcançadas. Ao que não arriscamos, à zona de conforto, ao desconforto do risco calculado, ao quase, o maldito e famigerado quase, o triste, doloroso, indizível, paradoxalmente definitivo, e implacável quase, o que grita nossa incapacidade. À incapacidade de ir, simplesmente ir - ou de deixar ficar. Ao que ficou do que não foi e do que não deveria ter sido mas teimou em ser. Às horas mortas, à mesma lua vista de hemisférios diferentes, aos momentos de olhar para ontem, os de ficar simplesmente sendo, os de olhar de cima da colina para a cidade que dorme embaixo ou para o mar que não para de teimar em viver mesmo à noite. Ao que foi trazido e ao que foi levado, ao que ficou, foi deixado, e ao que foi perdido no meio do caminho, e muito, muito fortemente ao que ficou mesmo sem que a gente quisesse. À essência do descobrir que distância, palavra, meio de comunicação, tempo, espaço, dimensão são todos conceitos relativos, vontade-dependentes. À vontade que imperou e à que perdeu o reino. Ao rei, à rainha, à princesa, ao príncipe que tinha medo de cavalos e acabou se perdendo na poeira do dia a dia da distância, das alternativas mais fáceis, da falta de coragem, da mentira. Ao acolhimento da dor, do mal-estar, do desconforto da perda, à aceitação do que acabou, e acabou sem adeus. Que venha. A tudo que ganhei at the end of the day, Cheers.

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