segunda-feira, 9 de junho de 2014
[muito manjadas] Metáforas aquáticas
As civilizações formam-se ao redor dos rios. No mundo todo, nas grandes e pequenas cidades, se olharmos de perto, tudo começou ao redor e em função do rio. Hoje é menos óbvio, porque poluímos, crescemos, nos afastamos, mas ainda dependemos deles.
A vida forma-se ao redor das águas que correm por baixo das pontes. Ou à beira dos rios onde sentamos para esperar passar os cadáveres.
Em algum lugar hoje o rio transbordou. Eu fiquei do lado seco. A amargura, a mágoa e a dor me fizeram desejar coisas horríveis. Mas o que eu queria mesmo era que todo esse sentimento se afogasse ou fosse embora na correnteza. No entanto, a hora ainda não é chegada. Uma das coisas que não controlamos e nunca vamos controlar por mais tecnologia e ciência que se use é a chuva. Ela chove quando quer e se quer, e por vezes faz tanta falta, mas causa estragos quando vem para ficar.
As águas são incontroláveis, inclusive algumas que jorram de nossos olhos, que ironicamente são salgadas, nós que somos muito mais rio que mar. Não importa o que queremos, o que planejamos, o que organizamos. Se a chuva quiser chover ela chove. E o curso das águas de dentro também acha seu caminho pelos olhos.
O óbvio é o óbvio. Tudo o que tinha de ser dito foi, toda bem-vinda ajuda foi prestada, toda racionalização elaborada, e no entanto, a tristeza não se desinstala. O tempo, eu sei. Mas e enquanto isso? Decorar o meu jardim, eu sei. Mas tenho vontade que chova nele todo.
Lá no fundo eu sei que em muito breve a curva do rio trará alguma coisa ao meu campo de visão, eu que estou aqui cansada de ficar sentada. Mas só por hoje, contra todas as obviedades e boas intenções, inclusive as minhas próprias, eu vou soltar as águas internas. Que venham as inundações.
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