terça-feira, 28 de setembro de 2010
Mais um ano sobre o planeta. Nessas ocasiões prefiro o eufemismo, porque não entendo a importância disso. E daí que desde que eu nasci o planeta deu mais uma volta? Mas enfim, a rebeldia agora consciente tem muito mais appeal, escolher dá mais tempero ao que vivemos. Outro dia assisti Vicky Cristina Barcelona. Penelope Cruz é uma das minhas atrizes favoritas exatamente por isso - o drama é totalmente consciente. Não são só as personagens dela, ela tem o agravante de ser a atriz de Almodovar, mas em VCB com Woody Allen ela consegue ser tão irremediavelmente dramática, mas é uma coisa tão natural e ao mesmo tempo tão fake, é como olhar de fora, e fazer a opção de viver isso mesmo assim, ainda que.
E a maturidade trouxe o que eu busquei tanto, o resultado da coragem de ter tomado as rédeas, bem como as consequências e o que eu fiz com elas. Os aprendizados foram algumas vezes penosos, outras, fáceis, dependendo do meu nível de teimosia. Mas de novo aqui o tempero. Posso dizer que em quase tudo esgotei quase todas as possibilidades. Os quase não atrapalham, porque o não-definitivo de tudo foi o que mais me ensinou. Para sempre? Nunca? Garantias, quem tem? Então é hoje, é agora, não importa quantas voltas dê o planeta. Mas o tempo tem sua serventia, principalmente que agora aprendi que sou eu que mando nele e não ele em mim.
Eu declaro o meu tempo meu escravo, e com isso saio dele na hora que eu quiser, para viver aqueles momentos fora do tempo que compõem o mosaico que tem sido a minha vida até hoje. É por eles que eu meço os meus anos.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Me peguei saboreando um momento. Apesar de estar totalmente envolvida nele, por algum motivo consegui estar dentro e fora ao mesmo tempo, e aproveitar duas vezes. O momento e o fato de saber que o momento existiu. E suspenso no tempo, sem lastros, sem amarras, sem amanhã, sem ontem. Só o agora, a respiração arfante pelo fato de estar viva.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Os dias ficaram pequenos para tudo o que aparece para fazer e administrar esse excesso tem sido extremamente agradável. A alma anda transbordando. A cada momento uma gota de pura e simples comunicação humana, de todos os tipos. Eu que andei desiludida das companhias humanas e não gosto de bichos estava começando a me preocupar em como seria depois do Armagedon se restasse só eu. Mas agora já sosseguei, porque encontrei os elos perdidos da conexão com os outros. É só abrir a mão e esperar. Sempre tem alguém pra pegar na mão da gente, ouvir o que dizemos e mostrar outra visão do mesmo mundo que compartilhamos. Estou tendo muita, muita sorte com quem cruza o meu caminho, já era hora de encontrar os anjos há muito tempo caídos e que andaram escondidos.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
A vida tem sido generosa com quem coloca no meu caminho. Descobri que existem pessoas que dentro de suas imperfeições, seus medos e seus esqueletos no armário, ainda acreditam que compartilhar a vida com alguém não significa acorrentar sua vida em alguém.
Sentar e conversar, pegar o carro e passar o fim de semana em outro lugar, conhecer alguém que te conhece, contar o que se passou e o que queremos que venha não significa assinar um termo de compromisso, oferecer as mãos às algemas nem o cérebro à lavagem cerebral. É só sharing, mesmo. Porque tem muita coisa que a dois é melhor que a um. E não tem efeitos colaterais, só as alegrias de rir junto, descobrir o mundo do outro e dar um pouco do seu.
Por outro lado, entendi coisas que não entendia antes, alguns porquês, nada como viver o medo alheio para saber a medida de quão assustador ele pode ser. Mas mesmo assim continuo pulando primeiro para depois ver quando as asas vão se abrir.
But the rapture. The rapture is a once in a lifetime moment. And I think my moment is gone.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Os gatos são a representação viva da languidez.
Ontem encontrei um gato que apesar de só ter me visto uma vez já se considerou totalmente à vontade para enroscar nas minhas pernas e manifestar seu apreço com a língua. Ele me surpreendeu com a disponibilidade, coisa que pouco se vê, normalmente os gatos têm aquela atitude de I-don't-care. Esse gato tem um pelo tão macio que dá vontade de levar embora para casa por pelo menos uma semana, só para ouví-lo ronronar baixinho no meu ouvido, no escuro.
E eu adoro as palavras porque elas me deixam expressar várias coisas ao mesmo tempo que só quem cuida dos olhos consegue ler.
domingo, 5 de setembro de 2010
Quanto mais eu mudo mais interessante fica viver. De semi-clausura a party-every-day muitas águas rolaram. Continuo sem saber o que quero, mas já sei muito bem o que não quero. E estou experimentando aqui e ali para descobrir.
Hoje entendo pontos de vista que há alguns meses me pareciam coisa de outra raça que não a humana. Todos válidos, todos perfeitamente aceitáveis e muito interessantes, diga-se de passagem.
Mais que tudo hoje sei que a palavra "nunca" representa um tempo que não existe. Todos os meus nuncas viraram não-nuncas, e cada vez menos o conceito faz sentido. Como posso dizer nunca se não sei amanhã como vai ser?
A paciência vem sendo cultivada. Acordo antes do sol nascer e com o suor do meu rosto trabalho vinte e quatro horas por dia para fazê-la florescer. E já colhi os primeiros frutos.
Testei minhas perspectivas e todas elas se mostraram válidas, foi como ter o aval do universo para viver como, onde e quando quero tudo o que me der na telha. Algumas pessoas me acompanham, a outras isso não agrada nem um pouco, e ficou fácil escolher quem me importa. Aliás não agradar é muito divertido, quando não totalmente indiferente.
Aprendi também que determinadas coisas dificilmente mudarão, e são as coisas que não tive coragem de ir até o fim para tentar mudar. Mas faltaram-me as forças, e me permiti isso também, deixar de lado algumas batalhas.
A capacidade de expansão é infinita. A intensidade de vida ilimitada. Agora que fiz as pazes com a expectativa do outro, descobri o amplo horizonte da minha própria companhia, e o quanto ainda posso oferecer a mim mesma. E o que é engraçado, quanto mais me aprimoro comigo mesma menos preciso de aprovação, menos carência tenho, mais eu me basto. E quanto mais eu me basto mais eu brilho aos olhos dos outros que mais querem compartilhar disso - que talvez seja, enfim, a tranquilidade da maturidade.
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