sábado, 21 de dezembro de 2013

Que surpresa...



Eu andei foragida daqui, o que equivale a dizer que andei em círculos fugindo de tomar alguma decisão. Ao ler a última postagem, e lá se vai mais de um mês, não me surpreendi nada com o assunto, mas muito com a minha ingenuidade. Nesse meio tempo fiz uma viagem cheia de riquezas adquiridas para contar, falar sobre, discorrer, debater comigo mesma e aprender. Mas evitei até o ponto onde agora não faz mais sentido. Passou. Mas não devia. Quando li no post abaixo "definitivas"quase morri de rir se não tivesse me corrigido a tempo lá mesmo.

Não há: definitivo, nunca, para sempre, garantias. E quem quer sossegar é porque morreu. Pode ainda respirar, mas morreu.

Coisas acontecem supostamente para que os um pouco espertos aprendam a lição. Descobri que atingi minha meta de ser um pouco mais burra, mas errei na medida e estou a um passo de cometer uma burrada pela segunda vez - a mesma. Ou estava.

Eu já disse mil vezes que agradeço todos os dias pelas pessoas com quem compartilho a vida. Tenho a sorte de que 90 por cento são aquelas que me acrescentam todo dia alguma coisa, e os outros dez são aqueles que todos precisamos para ensinar aquilo que teimamos em não aprender. E todos me ajudam a não cometer atrocidades.

Há anos eu venho sendo teimosa, não sei mais a quem eu quero provar alguma coisa e acabei esquecendo de verificar ao longo do caminho se ainda fazia sentido. Já tive a fase de me achar a última alma da terra, a mais ignóbil e desprezada, depois surgiram todas as pessoas importantes que passaram e que ficaram, ou que passaram e passaram mesmo, mas deixaram sua marca, sua lição. Uma em especial dura já mais tempo do que deveria, o prazo de validade venceu, deu defeito inúmeras vezes - sempre o mesmo - e a peça original já não está mais disponível, ou seja, não tem conserto. Cheira a estragado, tem aparência de passado, gosto rançoso, e aquela sensação - sabe aquela? Então. Essa mesma.

A gente se apaixona ao longo da vida. Mas segundo minha consultora de assuntos biológicos, paixão tem duração máxima de dois anos, senão a gente explodiria, o corpo não acompanha. Daí pra frente, evolui, involui ou simplesmente desintegra. A minha passou do prazo e eu não me dei conta.

Então um dia você olha pro lado e pensa - mas o que é que eu estou fazendo aqui? O que eu estou pensando que vou fazer com a minha vida? Em que momento eu deixei o controle na mão de outra pessoa? Por que eu estou simplesmente indo por aqui se tem tanto caminho mais florido disponível???

E daí eu me decepciono, porque é sempre assim. Todo mundo fala de amor verdadeiro, para sempre, ou aquele mais ou menos mas aceitável, ou aquele mais creme de la creme que é o que podia ter sido mas não foi e ficou no passado mas pode saltar da caixa de Pandora a qualquer momento. Me sinto lesada. Não tenho nenhum desses. Não voltaria pra trás de nenhum. E menos ainda quero ir pra frente.

Então WTF estou fazendo???

A gente se acostuma com presenças e se acomoda a situações. Cria desculpas e justificativas dizendo o que queremos sem ter a menor noção do que estamos falando. Vamos emendando um dia no outro, remendando o que não tem conserto, fingindo não ver o que é gritante, achando graça na ausência total de qualquer motivo risível. Deixar de amar é uma tragédia. Continuar na inércia é o apocalipse.

A burrice tem limites.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Nostalgia



Eu não sangro mais. Mas é por opção. Meus hormônios ainda têm níveis que poderiam me causar surpresas se eu deixasse. No entanto, tenho todos os sintomas de quem sangra. Eu menstruo em branco, mas em ciclos sou lembrada da condição feminina. E cada ciclo me surpreende de um jeito, Já cheguei a ter zero de testosterona, e meus médicos estupefatos com a minha ausência de sintomas. Este ciclo atual me jogou na cara a nostalgia, E então eu choro pelo que não foi,

Eu tomei decisões importantes nos últimos tempos, e elas são definitivas até onde o conceito de "definitivo" se aplica. Em geral são os cheiros que despertam nossas lembranças mas meu gatilho hoje foi um som, que me lembrou de outros tempos, não muito distantes, em que eu estava tentando saber o que queria antes de querer alguma coisa.

E foi só isso mesmo - nostalgia, o momento passou pela janela uma, duas, várias vezes, e por mais que eu tentasse voltar ao trabalho, as lágrimas já tinham começado a jorrar (hormônios em polvorosa = lágrimas). E não foi nada não, nenhum fator alterador de decisões, nenhum sinal dos céus ou dos infernos, nada a lamentar, apenas a nostalgia do momento passado. E a emoção de viver novamente.

O melhor de tudo foi poder compartilhar o momento. E lá do outro lado do mundo onde faz frio e onde está escuro e solitário, uma outra alma sorriu ao mesmo tempo ao lembrar do mesmo exato ponto no tempo passado. E não doeu para ninguém, não mudou a taxa do dólar nem decisão nenhuma, não contribuiu para o aquecimento global e nem trouxe a paz ao mundo. Foi só um momento compartilhado. E foi, como disse a outra parte, "sweet".

Decididamente as mulheres são seres hormonais que pensam e registram coisas que deveriam ficar no limbo. Mas é cor de rosa choque, não provoque não.

A outra música, a que está aí em cima, não foi o trigger da nostalgia, mas não poderia ser mais perfeita para a ocasião.

domingo, 6 de outubro de 2013

Democracia


Eu sempre fui "se hay govierno yo soy contra", mas passo longe do Che, e há controvérsias se foi ele que disse ou não. O que absolutamente não é relevante, porque na minha opinião ele não passou de bandido endeusado, assim como todo o cangaço e tantos outros que viraram heróis apesar de tudo que fizeram. Já deu pra sentir que soy contra mesmo, e agora, alguns dias depois de acrescentar um ano à minha coleção, finalmente elaborei minha versão de democracia.

O mundo está caindo, o país desmoronando, a corrupção campeia, mata-se e morre-se, rouba-se, etc, etc. Onde está a novidade? Desde que o mundo é mundo tudo acontece exatamente como hoje, obviamente cada época teve seus requintes de crueldade, seus níveis mais ou menos elevados de cara de pau, mas por que se supervaloriza tudo o que acontece de péssimo? Por que só má notícia tem audiência? O circo da mídia hoje conta com tanta modernidade que até eu que faço questão absoluta de permanecer alheia, alienada mesmo, fico sabendo do que não quero, tamanho o bombardeio. Não quero mesmo saber, porque hoje é um partido que é corrupto, ontem foi outro, o que era oposição repete com mais bandalheira exatamente o que criticava no anterior, e se mudar de novo, vai acontecer tudo outra vez.

O povo "foi para a rua". Rá. "Não é pelos 20 centavos"virou - nós vamos pagar a conta no IPTU. "Queremos educação". Agora que os professores estão protestando as pessoas estão ocupadas fazendo outras coisas - os jovens, os tão animados revolucionários de condomínio, estão mais é aproveitando a greve para fazer qualquer outra coisa. Os bancos e o correio em greve. Atrapalha quem? Nós os imbecis que pagamos impostos. O povo fecha a rua para manifestar e depredar. Atrapalha quem? Quem quer trabalhar ou resolver assuntos que podem ou não ser urgentes na rua que está impedida por quem não tem algo muito relevante pra fazer. Ideal? Pffffffff. Eu adoraria ver o ideal se essas pessoas fossem alçadas ao poder hoje. Se oferecessem a elas um cargo com excelente salário e benefícios, vitalício, para ir fingir que trabalham uma vez por semana. O ideal todo vai por água abaixo imediatamente.

Estou acrescentando anos à minha vida, e algumas batalhas já notei que não valem a pena serem lutadas, em todas as áreas da vida. Eu sempre fiquei quieta ouvindo os defensores das manifestações no calor do momento de ufanismo. Quando falei - isso não vai dar em nada, choveram pedras. Não é preciso ser vidente nem dono da verdade pra saber que não ia dar em nada. O povo esperneia, depois recebe uma cesta básica e põe de novo o mesmo governante no poder. Ou outro, não importa. Vai dar no mesmo. Eu resisto à tentação do "eu não disse" porque é gastar vela com mau defunto. Quem fica no facebook de longe "apoiando" as manifestações e dizendo "fulano não me representa" vai jogar pedras virtuais e achar que fez sua parte. Eu não fiz parte nenhuma porque não me cabe, eu já pago impostos para isso, e honestamente prefiro ler um livro a dar murro em ponta de faca.

Desde priscas eras em que eu fazia faculdade era do contra. Mas não de propósito, pra ser do contra. Era porque eu era mesmo, me dava preguiça o discurso de aluno de Humanas da USP. Já se passaram 25 anos desde que eu me formei. Só mudaram os nomes.

Eu votei no Collor, eu acho que os motivos para o impeachment dele, comparados ao que acontece hoje debaixo dos nossos narizes e ao que somos obrigados a engolir com conivência da justiça, foram brincadeira. Eu assino a revista Veja e leio o Estadão, ambos espinafrados pelos defensores da verdade e dos bons costumes e que não são enganados. Só não assisto a Rede Globo porque não tem nada na TV aberta que me interesse, e não porque ela faz parte da conspiração para desinformar. Amo o Lobão, que recebeu pedradas porquê mesmo? Ah, sim, alguém leu o que ele escreveu sobre o PT nos livros dele? Alguém está preocupado com o que ele faz bem, que é música? FHC é meu ídolo. Ele não é semianalfabeto, e eu achei que para ser presidente da República precisaria pelo menos saber falar o idioma local. Gosto do Diogo Maynard. Ah, é - Veja, críticas ao PT. Alguém sabe que ele tem um filho deficiente e como lida com isso? Mas a democracia parece ser válida somente quando ela defende nossos interesses.

Aliás era aí que eu queria chegar. Nunca falei tanto de assuntos "relevantes"porque "I couldn`t care less", mas a democracia para mim agora no alto dos meus recém completados 4.7, significa que falo o que quero, independentemente de quem vai gostar ou não. Eu já era assim, mas antes tinha medo de perder amigos queridos. Então fico quieta a respeito de determinados assuntos para não arriscar perder pessoas tão queridas. Por exemplo, adoro gatos e não tenho nada contra cachorros (prefiro os gatos por serem mais metidos a besta). No entanto, humanos dão à luz humanos. E animais parem animais. Há alguns casos onde eu encaixaria a música que vai entregar minha idade - "troque seu cachorro por uma crianá pobre" do nunca-mais-ouvi-falar-dele Eduardo Dusek. Portanto, na minha opinião há exageros. No entanto, cada um vive como quer e assim como todos têm o direito de tratar seus bichos como gente, eu tenho o direito de achar isso ridículo. Não, seu cachorro não é racional. Nem seu gato "sabe" - sei lá - ver as horas. Eles são fofos, só não tenho um gato porque não quero ninguém mais dependendo de mim, eu já pari e já encaminhei. Mas o que me foi epifânico nestes últimos dias é que eu posso achar o que eu quiser e se perder algum amigo por isso, não valia a pena.

Não importa minha posição política (ou a total ausência dela), religiosa, futebolística (nula), minha opinião sobre animais e crianças (adoro bebês - alheios). Se você é meu amigo/amiga o que vai pesar na minha opinião é meu caráter, é o que temos em comum, o que acrescentamos um na vida do outro, as sororidades de amigas, os amigos homens tão valorosos e menos complicados, os amigos gays imprescindíveis, os antigos, os novos, os reatados, os que passaram e não voltaram mais, os que deixaram saudades por não voltarem mais, os diários e os raros, os virtuais. E eu fui tão abençoada com tantos irmãos e irmãs que quero crer que se ficar desbocada demais com assuntos polêmicos nenhum me abandonará.

Porque verdadeira democracia é isso - vou citar outro clichê - "I disapprove of what you say but I will defend to the death your right to say it", que aliás não é do Voltaire himself, mas sim de uma biógrafa dele. Ou seja, daqui de onde vejo, acho que vai ser bem fácil filtrar as verdadeiras amizades e os verdadeiros valores que compartilho com quem. Porque eu já passei da idade de contemporizar.

domingo, 8 de setembro de 2013

The last cut is the deepest


Quando a gente vê as coisas encaixotadas e não atende o telefone porque sabe que é o que tem que ser feito, é o corte final, é a materialização do que vínhamos adiando até que não deu mais. É triste. Mas é o que é. And this too shall pass.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Veritate et Virtute


"A gente tem que mirar no alvo e atirar, pronto, foi. A flecha não volta. Se acertamos ou erramos, não tem volta." CFA 

As coisas findas antes de serem mortas e enterradas passam pelo processo da agonia. Ninguém agoniza de felicidade, portanto obviamente o processo é de matar, metafórica e literalmente.

Uma decisão tomada não significa um fato concretizado e a distância entre os dois pode atingir anos-luz de tortura auto-infligida. Não é mais dúvida, essa já foi. Talvez seja exatamente a certeza do que precisa ser feito que atrasa o golpe final. Porque sabemos que é o fim do ciclo, pelo menos como era. As coisas tomam outras formas ao longo da vida, mas nada volta a ser como já foi um dia. Passar adiante já é como nascer - um parto - ficar adiante é o pior de tudo. Mas encarar a verdade é preciso. E fazer alguma coisa a respeito é obrigatório.

O processo é doloroso. O pós-processo pior ainda. Mas há que se ter coragem, em algum momento a mente tem que assumir o controle, quando o que o coração só faz é perder tempo, dignidade, horas que poderiam - e devem - ser empregadas no que para de nos fazer sentir a sensação de esfaqueamento o tempo todo. O que dá essa sensação não pode ser bom. E se não é bom, deveria ser óbvio e fácil que a solução é pegar a espada e cortar pela raiz.

Deveria.

sábado, 31 de agosto de 2013

Porta


Estou a um dia de viver há exatas X voltas do sol ao redor da Terra com uma porta semi-aberta.

Essa porta, uma vez aberta, andou com o vento, quase fechou, bateu, rangeu, emperrou, empenou, descascou a pintura, escancarou, deixou passar fantasmas, dor, alegria, mas acima de tudo foi a porta que me abriu para dentro de mim mesma.

A única coisa que eu não consegui fazer foi fechar e passar a chave.

Hoje eu tenho a sensação que a chave está na minha mão e vejo que a frestinha aberta diminui cada vez mais. Todo mundo sabe que eu odeio o Gregório e o calendário dele, mas só para calar a minha boca provavelmente vai ser o famigerado marcador aleatório de tempo que vai determinar o dia em que eu finalmente vou trancar essa porta para sempre.

Haverá janelas que se abrirão, com certeza. Mas essa porta me parece que vai ficar selada eternidade afora. É estranho. Mas por incrível que pareça, uma porta fechada pode ser o caminho mais aberto a que se chega por toda uma vida.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Soco na cara


O bom de escrever é que quando a gente na verdade quer dar um murro na cara de alguém - bastante merecido, por sinal - mas tem medo até da própria força quando sente que o limite máximo foi ultrapassado faz tempo, podemos ir ao blog e despejar o murro em forma de verborragia, que por sinal é uma palavra horrorosa como tudo o que se relaciona a esses assuntos de socar a cara dos outros.

Primeiro adoraria informar que mesmo sangue não significa afinidade, melhor que eu dizer estão aí todas as provas de filhos que matam pais, pais que jogam filhos das janelas, etc. etc. No meu caso com meus pais e minha filha os problemas são os normais ninguém ainda chegou ao ponto de pegar nas armas, e espero que não cheguemos nunca. Isto posto, vou me abster de mais comentários relacionados a parentescos ou armamentos.

Independentemente do tipo de relacionamento, algumas pessoas se arvoram em imbecilidades das quais são portadoras desde o dia que nasceram, foram refinando ao longo dos anos, através de frustrações, inveja, incompetência e outras qualidades mais que por fim acabam, um dia, coroando uma existência vazia através do cuidado com a vida alheia.

Cada um escolhe a vida que quer, e quem quer ter uma vida "certinha", dizer que fez e faz tudo como se deve, apregoar as qualidades que acredita ter de boa profissional, boa mãe, boa filha, tem o marido perfeito, é boa em tudo (rá!), e acreditar nisso, tem todo direito. O que me deixa com sangue nos olhos é toda essa experiência e bom senso terem necessidade de mexer com uma vida que não lhe pertence, e, sabendo do calcanhar de aquiles, é lá mesmo que vai mirar a flecha.

Eu já tinha riscado do meu cérebro essa coisa toda para sobrar espaço para coisas relevantes, boas e que me acrescentem - e não tentem me tirar - porém, eu tenho sangue nas veias (parece que ferve às vezes), sou humana e tenho blog é pra isso mesmo, o blog é meu, eu venho aqui e destilo o veneno que quiser.

Já chorei rios (literalmente), já soquei as paredes (não literalmente porque não vou correr o risco de machucar minhas mãos que são lindas e úteis para trabalhar), já destilei e pus para correr todo veneno que tinha guardado.

E quem pensou em catfight com agarrar os cabelos, etc., pode esquecer, porque se a luta se concretizasse, seria muito, muito feia de se ver.

E no final das contas eu me irrito mais é comigo mesma. Porque sendo o que sou, tudo isso deveria passar como brisa que não tira nem um fio do meu cabelo do lugar.

Mas eu me importo. E me odeio por isso.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mas outra vez?


Como é que se convive com o que não faz sentido? Como se administra não saber? Como se aprende o que não se ensina em nenhuma escola? Como se para de fugir de algo que é mais rápido e mais esperto que nós? Como se adaptar a não ter outra solução? Como se sai dos abismos infindáveis das incertezas que encobrem as certezas mais pétreas? Como se finge que não é com a gente? Como se olha para o outro lado? Onde se acha mais argumentos para provar o contrário? Em qual mundo é possível se esconder? Como se faz para sair de dentro da gente mesmo? Para quem e como se justifica o que não tem explicação? Ou se dá desculpas esfarrapadas, maltrapilhas, oblíquas, dissimuladas? Para onde mais se espalhar se por mais que se tente fragmentar o ponto de ser inteira é um só? Como fechar os olhos para o que não se pode, não se deve e não se permite ignorar? Por que não escolher os caminhos largos, ensolarados e floridos? Por que calar? Por que a vergonha de não ter mais justificativa? Por que querer ter justificativa? Por que negar? Por que aceitar? Por que afirmar, rotular, embalar e guardar? Por que se repetir tantas e tantas vezes, pisar o mesmo chão, seguir o mesmo caminho que vai de nada a lugar algum? O que dizer mais? Quando calar? Por quanto tempo? Por que motivo? Em que momento ocorreram os turning points? Onde foi que eu errei? Ou qual acerto me trouxe a isto? Como comunicar a todos os envolvidos? Para que envolver mais inocentes? Quais as palavras mais dolorosas ecolhidas a dedo serão usadas? Qual dos lugares do mundo foi o cenário perfeito? O dia perfeito? Qual pretérito imperfeito feriu a concordância? Em que planeta aterrissamos? Em que ano? É o carma? Juízo final? Pimenta nos olhos? Lágrimas, lágrimas, lágrimas. A hora errada, a palavra errada, a atitude errada, mas errada para quem? De onde surgiu? Como evoluiu? Existe tratamento?
O carro faz a curva e a saudade - que estava de plantão à porta - entra sorrateira e se instala. E as perguntas dançam no ar desafiadoras, desaforadas, desdenhosas.
Nem procuro as respostas, porque amanhã as perguntas serão outras.

sábado, 10 de agosto de 2013

Epifania



Quando se tem opção, decidir torna-se martírio.

Se um vestido só tivéssemos não haveria dúvida do que usar na festa. Se os menus tivessem uma só página não haveria elucubrações sobre saudável ou calórico.

Mas vivemos na era do milhão de opções, para todos os lados, em todos os sentidos, de toda maneira.

Isso pode tomar forma de tortura para as almas indecisas como a minha. Só faltou auto-flagelo em busca das respostas.

E um dia eu acordo, olho para os últimos dias e penso - mas eu já sei o que me faz feliz. Por que mesmo ainda estou estendendo as questões?

É hora de me deixar em paz e me encaixar no meu lugar. Definitivamente, até que ele me acomode. Se um dia não acomodar mais vemos o que fazemos. Mas hoje? É impressionante - o que mais eu quero? Procurei tanto e por tanto tempo o caminho que de tão confusa nem percebi que tinha chegado ao destino. Se não fosse o despertar de um dia qualquer como todos os outros de repente eu ia ter passado e nem ter notado.

Mas já que vi, que seja. Isso tudo é tão simples que eu fico muito, muito desconfiada.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Resquícios



A gente levanta da cama - diga-se, com sacrifício sobre-humano  - todas as manhãs e escolhe a máscara do I-don't-care-anymore. De tanto ser usada ela encaixa perfeitamente, sem folgas. Saímos com ela e quem vê até acredita - às vezes até o espelho.

E então durante o dia, uma imagem furtiva, uma palavra que escapa, um certo sei-lá-o-que no ar, e a máscara derrete em segundos, revelando a verdadeira cara patética que teima em olhar para trás.

Essas são as horas de fechar a porta e ir embora, thousand miles away, ou mais, mais, mais, mas para que direção se vai quando arrastamos uma alma que teima em carregar âncoras, grilhões, memórias... Para onde?

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Let me go



Nem que eu viva cem anos não vou entender como funcionam determinadas mentes humanas.

Por que o que sai pela boca é o contrário do que mostram as atitudes, as contas telefônicas e as caras feias?

O que aconteceu com o "nunca mais", com o "não mais", com o "fim", com o "cansei"? Mudaram de significado na reforma ortográfica e não me avisaram?

Eu juro que ouvi tocar a música de adeus, eu juro que chorei as derradeiras lágrimas, eu juro que o ponto final foi colocado.

Então o que acontece cara pálida? Não viu o aviso de interditado na porta?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

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Por fim, enfim, finalmente. Até que enfim definitivamente. Que sejam brandos os amanhãs.

domingo, 14 de julho de 2013

Let go



Vamos vivendo nossas vidas com o coração cansado, nos acostumamos com as adagas sendo estocadas uma a uma, e vamos nos ajeitando na cadeira, olhando para o outro lado, recolhendo o sangue metafórico em um reservatório que parece não ter fim.

Mas tem.

Quando a última adaga é espetada o reservatório transborda e sangramos. E é uma sensação muito diferente, pois a cadeira parece não oferecer mais nenhuma posição confortável, não há mais nenhum lado para olhar que não seja o de dentro, e não há mais espaço para mais sangue. Há quem chegue ao transbordamento logo, o que é o melhor que pode acontecer, arrastar o que não se move mais é cansativo, inútil e doloroso. Carregar o peso morto por tanto tempo, no entanto, nos anestesia tanto que quando chega o momento final e de onde não há mais retorno, vem o susto. Na verdade é um susto bem pouco assustador, uma vez que já era previsível. Eu por exemplo tenho um talento nato para me recusar a enxergar o que é a própria definição de visão em si. Aliado a uma dose de teimosia e incapacidade de decisão rápida, isso me trouxe cicatrizes de adagas em excesso. Sim, porque agora tenho que tirá-las todas, e depois de inúmeras, infinitas e patéticas tentativas, sempre sobrava uma.



Não desta vez.

A rebeldia às vezes é muito sem graça quando acaba se voltando contra nós mesmos, e não parar quando já passou da hora é burrice inadmissível. Eu em geral me orgulho de ter cérebro, porém ele não funciona para determinados assuntos. Para esses temos que decretar morte cerebral e desligar os aparelhos. Eu venho me sabotando há tempo demais, deixando sempre uma luzinha acesa,"esquecendo" sempre de tirar um plugue da tomada. Desta vez estou provocando o curto-circuito total.

Eu nunca quis o mais ou menos. Passei anos para descobrir que era o mais ou menos que tinha e tratei logo de tomar as providências cabíveis, já fui mais esperta. No entanto a área obscura do cérebro acabou por se manifestar de novo, mas isso era de se esperar de quem tem um coração cheio de adagas - diga-se, por escolha própria, posso ser teimosa mas ainda assumo a responsabilidade do que me acontece.

Não posso apontar dedos, tudo que vivi foi por minha equivocada escolha e estúpida insistência. Tudo muda, sim, até as pessoas, o que não quer dizer que seja para melhor. Eu vi, assisti, vivi as mudanças que queria, e o resultado foi que elas não adiantaram nada, não mudaram nada, só perpetuaram a dor que me auto-infligi por medo, por teimosia, por orgulho, por alguma coisa que em algum momento eu pensei ser amor, mas hoje já não sei mais.

O mundo anda tão tenebroso que cheguei a considerar o mais ou menos de novo. O medo da solidão, o medo do arrependimento, o medo da perda, o medo, o medo, o medo. Mas não há o que justifique o mais ou menos. Tantas, tantas pessoas me disseram que o mais ou menos é a regra, não se vive de fogos de artifício e arrebatamento para sempre. Sossega. E eu quase sosseguei, fui lá mesmo pagar pra ver. E custou caro, daí tomei as proviências cabíveis de novo.

Então, por que, oh deuses e deusas, volto e volto atrás over and over again? É como diz meu cardiologista - você tem preguiça de se exercitar, está esperando o quê? Ter um infarto? Parece que estou esperando o transbordamento do meu coração cheio de adagas, porque elas não param de chegar. E tudo o que eu tenho a fazer é levantar da cadeira onde estou no alvo e sair andando, sem olhar para trás. Mas eu saio andando e olho para trás. E agora não dá mais para virar a cabeça, agora tenho um torcicolo metafórico de quem se deu conta de tanta bobagem acumulada.

É que eu sei que deixar ir é fácil, difícil é não deixar voltar. É a fórmula que preciso descobrir. Só que entendi que algumas coisas podem - e vão - continuar morando dentro de nós, o que não significa que têm que fazer parte do que está fora. Posso jogar no armário com todos os outros esqueletos e deixar lá. E me permitir às vezes abrir o armário, mas só quando não doer mais.

Que venha o luto, passamos por tantos em nossas vidas, eu já tive meu ensaio de luto incontáveis vezes, desta vez o morto parece não se mexer mais, ficou mais ou menos. E eu tenho que ir, ainda que seja em direção ao nada.



quinta-feira, 27 de junho de 2013

domingo, 19 de maio de 2013

Começo do fim



A caminho dos derradeiros dias. Que sejam memoráveis. Que doam o menos possível e que o que ficar não seja amargo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Maldição



Amaldiçoados são os brilhantes. Cérebros que vão além são centros de tortura que se espalha como dardos pelo corpo todo. Quem conhece sofre. Quem busca encontra e lamenta. Poetas malditos, artistas que cortam as orelhas, os pulsos, põem para dentro de si o veneno que esperam que alivie ou preencha as fendas, os precipícios, os buracos negros de quem sabe. A inteligência corre no sangue transportando dor, angústia, desespero. Para que saber mais? Para que pensar mais? Para que questionar o inquestionável, por que pegar a mala e sair para o mundo? Ver o que? Ler o que? Pôr o que dentro de nós, por que não aceitar que o que é, é, e não poderia ser, talvez fosse, deveria ser, precisa ser, um dia pode vir a ser. Os que nascem sob o signo do horizonte largo recebem a maldição de nunca ter sossego, vampiros, demônios, lobisomens, metáforas dos que não conseguem dominar nem fugir do que têm dentro de si. Os que são postos na fogueira, pregados na cruz, apedrejados em praça pública, submetidos à tortura, têm a reputação arruinada, são postos nos manicômios, à margem, os eremitas. Condenados a procurar, buscar, a saga do querer saber mais, se apropriar da História, da vida, do mundo. Anjos caídos.

Abençoadas as ovelhas. Os básicos, os que não lêem, não perseguem o complicado, os que assistem novela e dançam freneticamente músicas sem sentido, os que não buscam nada além das 24 horas do dia. Os que simplesmente são, assim, intransitivamente são. Não há perguntas, e as respostas entram e saem em fluxo dinâmico, pouco se retém, o suficiente. As refeições do dia. O dia de trabalho que finda no horário marcado. O trabalho como meio de sustento não de crescimento. Crescer para onde? Para que? Por que? Nascer, Reproduzir, Morrer. Existem, não duvidam da existência. A vida cabe em uma sacolinha pequena, não há bagagem pesada para arrastar pelas ruas amarguradas de quem carrega malas e malas de conhecimento acumulado. Comer é para ficar vivo, as alegrias simples são as mais genuínas, o sofrimento imenso às vezes não é nem compreendido, passa, não arranca pedaços. Amanhã é outro dia. Ou não, tanto faz. Donos do céu.

Vou arrastando minhas malas sem esperança de simplesmente observar a paisagem, é assim para quem entra nesse caminho sem volta.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

É chegada a hora



O momento não poderia ser mais difícil.

Mas eu tenho mãe, pai, amigas-irmãs, amigo-irmãos, família, um ombro que nunca me falta, e mil motivos para acordar amanhã.

E de bônus, o Universo veio e resolveu, assim do nada, um dilema que me consumia. O alívio chega a ser físico.

O momento não poderia ser mais oportuno. Para tantas coisas.

Vou ali transmutar em  alguma coisa que ainda não sei o que é, sou obra em andamento. Só que agora andando para o lado certo.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Decisus est



Eu não tenho a menor pretensão de desvendar os mecanismos operacionais do Universo. Passei a vida até agora saltando de teoria em teoria, compilei minhas favoritas, minha fome de saber mais é infinita, ainda tem muito pra ser descoberto.

Mas a uma altura dessas já consegui chegar a algumas conclusões extremamente úteis, não fosse minha imaturidade anterior já teria percebido há mais tempo, mas aaahhhh nada como ficar velha.

De um tempo pra cá comecei a perceber que tudo, tudo que se pede vem. O problema é que não sabemos pedir, ou pedimos sem nem perceber o que estamos pedindo, as palavras são poderosas e nós as subestimamos. O pensamento, então, é uma bomba atômica. Recebi coisas que havia pedido há anos-luz atrás, e outras na semana passada.

Uma coisa que sempre me deixou dúvida foi - livre arbítrio ou destino? Sempre pendi para o livre arbítrio, porque é fácil sentir que fazemos o que queremos e como queremos. É fato, porém, em alguns momentos, fica tão, mas tão difícil saber o que queremos, não vou nem mencionar racionalização do que é o melhor. Os desejos têm vida própria, nós queremos e pronto, não importa se é o melhor, isso o tempo dirá, e ao longo dele, podemos mudar tudo.

Sou péssima para tomar decisões. Primeiro penso um milhão de vezes, racionalmente faço o caminho de pesar os prós e os contras, o que nunca funciona, porque no final é sempre a emoção que prevalece. Mas no último ano me superei, venho arrastando uma decisão capital que simplesmente não consigo tomar. Mesmo porque tudo que pedi veio. Eu peguei, soltei, voltei a pegar, estou segurando com uma mão só, não sei pra que lado corro.

Então me rendi e entrei no barco sem condutor. Pedi à vida que decidisse por mim. Novamente o universo obedece aos nossos desejos. A decisão se tomou sozinha, acho que posso finalmente, depois de fazer a faxina do que sobrou, relaxar e partir para o próximo dilema.

domingo, 14 de abril de 2013

As duvidas de conciliacao ou preciso de um marca-passo cerebral

Este post sai de um computador cujas teclas nao me respondem como eu quero. Parece a historia da minha vida. Escrever em um teclado onde nao consigo acentuar e pontuar e o mesmo que tentar amar alguem que nao fala a minha lingua. No entanto, sempre pensei que se amava com o coracao, mas nos ultimos tempos depois de muito suor, sangue, lagrimas e arrastar de correntes, comecei a chegar a algumas conclusoes inusitadas sobre essa coisa toda que toma minha vida e, que nunca vou conseguir dominar e controlar como gosto de fazer com o resto todo.

Primeiro, apesar de todas as mulheres serem independentes, maravilhosas, poderosas e auto-suficientes, acene com um príncipe encantado para elas e vera o que acontece. Eu sempre fui anti-tudo, a vidinha de princesa nunca havia me chamado a atencao, ate o principe vir galopando (na verdade foi de aviao mesmo). Dai que todo blablabla de durona sucumbe bem rapido as tentacoes principescas, ao Moco Bom, aos castelos e galgos nas charnecas.

Para quem ja ha algum tempo convivia com um anti-principe - nao vou dizer ogro porque a historia do ogro e da princesa tambem acaba no cliche, ou seja, nao me convenceu - um sudito real viria a calhar e por um bom tempo os unicornios cor-de-rosa passearam pela minha mente que eu insistia em anestesiar para nao ver que o principe de tao ocupado em ser perfeito nao lia livros que nao fossem tecnicos. Mas quem precisa disso quando se tem "a ticket to ride" pra qualquer lugar e juras de amor ao luar em lugares com milhares de anos de historia (ínterrogacao).

So que dai a princesa pensa muito e toda sua ruina vem dai, uma vez dentro do caminho do pensar sair dele nao e uma opcao. Ela poderia ter sido prendada, continuar na vida onde se seguia o script das boas mocas. Mas naaaaaaaaaaao..... Ela resolve que nao quer mais a monotonia e se joga no mundo.

Se jogar no mundo e uma decisao com muitas implicacoes, mas de novo, uma vez jogada, pular de volta pro quadradinho fica impossivel, a uma altura dessas o quadradinho desformatou.

Dai que escolher entre o principe e o anti-principe devia ser facil, mesmo porque o anti-principe era bem meia-boca em alguns aspectos , por isso mesmo nunca chegaria a principe. Ocorre que os anti-principes em alguns casos sao apenas regular people, sem pretensao nenhuma a realeza mesmo, Alias ainda bem, porque se pretensoes houvessem seriam todas frustradas.

Mas as mocas de hoje (as boas e as nao tao boas) ja cansaram um pouco de piscar os olhinhos e vestirem vestidos estilo bolo. E princesas que acabaram virando rainhas e decapitaram, ceifaram vidas e conquistaram terras tambem nao tem lugar hoje em dia - que terras mais temos pra conquistar (interrogacao)  - e ja restaram poucos mocos bons vamos correr o risco de passar a foice na cabeca deles para que (interrogacao).

Os anti-principes em geral dao trabalho para lacar e manter. So que quando determinadas mulheres determinam uma determinada coisa, a coisa acontece. Dai elas nao querem mais. Ou querem. Ou querem a vida principesca. Ou querem alternar entre uma e outra, o que nao e possivel a menos que se tenha um clone. Ou querem ora uma coisa, ora outra, o que tambem nao e possivel, porque por mais que se diga que nao, os mocos querem casar.

O maximo que ouvi nos ultimos dias foi - se nao for pra ter futuro nao vai nem me ver. E do outro lado, se nao for voce, nao vai ser mais ninguem.

Ora bolas. Eles se rebelaram. E agora, queimadoras de sutia (interrogacao) O que a gente faz (interrogacao)

terça-feira, 19 de março de 2013

Qualquer maneira...


O amor tem infinitas formas. Tenho pulado de amores diferentes para diferentes formas de amar e enxergar como se é amado. Todos meus amores são complicados. Minha cria que saiu de dentro de mim não poderia ser mais igual, ela luta para ser diferente, mas seus amores já demonstraram a que vieram. E nosso amor é tempestuoso. Estou à beira de perder uma pessoa da família que me é muito cara. O meu preferido, aquele que deixou lembranças boas de infância, aquele cujo abraço eu ainda gosto de receber e quando vejo sinto o sorriso aflorar. Se ele se for, esse amor vai pra onde?

E tenho meu amor complicado que vem,que vai, e quando acho que vai ficar sou eu que me vou. E então quero voltar. E os amores que me dedicam, esses me emocionam e queria que tivesse um botão pra corresponder amor, seria tão menos caótico o mundo.

E os amigos, esses tesouros que consegui conservar ao longo do tempo, acumular, acrescentar, regar e reproduzir todos os dias. E pai, e mãe. E amor a mim mesma, esse o mais difícil de conquistar.

Todos os amores são complexos. E eu sou privilegiada de amar tanto.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Adeus


O que dizer? O que dizer depois que se vive a fúria dos elementos, a aurora boreal, os píncaros e as grutas, quando se atinge a capacidade máxima do sentir - e depois, eu já fiz essa pergunta por aqui algumas vezes - para onde foi tudo isso?

Aquele olhar para alguém como se um dia a gente olhasse no espelho e visse um rosto totalmente diferente - sou eu, sim, mas que rosto é esse? De quem são esses gestos? Por que meu coração agora bate em outro ritmo, para onde foi o descompasso?

Enquanto havia tempestades e maremotos eu sabia que ainda não era o fim. Com todos os fins de mundo que temos pendentes ultimamente, quem diria, o fim veio manso, aos poucos, se insinuou, insidioso, naquela poeira que foi caindo despercebida e quando eu vi - soterrou tudo em camadas ante-paleolíticas. Talvez todos tenhamos um limite, e depois que ele é atingido, tem um vácuo até que a gente perceba, tipo o alarme demora um tempo para soar.

Muita lágrima caiu. Mas há lágrimas e lágrimas. Essas mansas eu não conhecia. Não são catárticas, porque essas são as outras que as precedem, essas dizem - fim. Eu como sempre, fui lenta na decisão, vai, fica, volta, vem, fechei os olhos, mas em um determinado momento a vida toma as providências que têm que ser tomadas, e agradeço a gentileza - as providências tomadas vieram com suavidade. Então a gente faz o que tem que ser feito, chora, né, porque é pra isso que tem lágrima, e depois faz o mais difícil - continua fazendo o que foi feito - sem olhar para trás. Pode olhar para os lados, para trás nunca. 
Se não faz sentido, discorde comigoNão é nada demais, são águas passadasEscolha uma estradaE não olhe, não olhe prá trásCapital Inicial
E a pergunta original - para onde foi tudo aquilo? Acho que transmutamos o que sentimos, é o material de que somos feitos, sentimentos vividos, sofridos, espremidos até o fim, que vão tecendo o que vamos nos tornando, vão dando forma aos nossos rostos, rugas, marcas de tanto sorrir, de tanto chorar, de tanto viver.

Do que ainda me orgulho é de ter ido lá conferir - não tenho medinho, que venham mais insanidades, estou quase chegando à perfeição.

A você que me acompanhou nesse trecho tão intenso da minha vida, todo meu amor, aquele que foi sei lá pra onde, tem agora sei lá que cara, mas fizemos nossa parte de viver a epifania de sentir como se não houvesse amanhã. Só que o mundo sempre nos decepciona e nunca acaba.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Água. Vinho.




In water one sees one's own face;
But in wine one beholds the heart of another.  
~ French proverb


“Tão diferentes como água e vinho.” Em algumas ocasiões a expressão cai muito bem. Às vezes temos filhos que apesar de criados do mesmo modo ouvem isso o tempo todo. Ou amigos diferentes que complementam nossa vida atendendo nossas necessidades todas. Mas tenho refletido mais a fundo sobre água e vinho porque venho de uma escolha recente, e de tão díspares, as opções se encaixam perfeitamente.

Um começou como vinho. Forte, encorpado, inebriante. Tão inebriante que beber desse vinho trouxe todas as dores e as delícias do álcool. Da sensação agradável do comedimento até o horror da ressaca, passando por gargalhadas exageradas e lágrimas amargas. Poderia até dizer que virou vício, e que me causou uma cirrose de coração. Mas era o vinho na imaturidade, o vinho de quem não sabia ainda beber sem ter os efeitos indesejados, coisa que só se aprende com o tempo. O tempo foi longo, longo demais para não deixar seqüelas. Quando o vinho começou a diluir e ficar mais ameno ainda doía, porque a cirrose cardíaca foi forte demais. Tantas, tantas vezes estive no AA cuja sede é dentro da minha cabeça, mas como todo vício, ia e vinha.

Numa dessas idas, apareceu a água. Entrou como toda água, primeiro gotejando, depois um fio fino, depois uma corrente fraca, e assim foi indo até virar inundação. A água é a fonte de tudo, mas é tão sem graça, como pode se comparar ao vinho, com sabor, sensações, vício? Só que determinadas águas são nobres. E de sem graça a água começa a ter sabor, cor, e as águas nobres têm aquele quê de principesco, devem ser as águas que correm no Olimpo. A água não muda como o vinho, mas nem por isso o tempo deixa de influenciar – de gotejamento a inundação podem ser meses – ou minutos. O fato é que – se existe a brecha – a água penetra e toma conta de tudo, e muitas vezes só se nota quando vem a inundação e não há mais nada a fazer.

A água é fonte de tudo e sem ela não se vive. O vinho é o néctar dos deuses, tempero da vida. Cachoeira, fonte, rio, riacho, chuva forte, garoa, bica, catarata, córrego, mar. Uva, sol, terra, suor, garrafa, taça, o som da rolha saindo e do vinho derramando na taça, o sabor, a sensação, in vino veritas. O vinho necessita da água para nascer. A água acompanha o vinho. Um banho revigorante, uma taça relaxante, às vezes precisamos de um, às vezes de outro.

A água não para nunca, vem e volta do céu infinitamente. O vinho envelhece e melhora, mas se não for tomado o devido cuidado, perde o viço, o corpo, o sabor, vira vinagre. As coisas mudam.

Água não vira vinho e vinho não vira água. Ou pode acontecer.

Às vezes impõe-se a escolha. Obviamente sem água não se vive, não dá pra escolher ficar sem água. E dá para ficar sem vinho. Mas quem quer?

E o vinho que era tão arrebatador com o tempo foi perdendo o viço, de tanto embebedar acabou exacerbando e exaurindo. A água, calma mas decidida, foi tomando espaço e acabou alçada ao status de vinho, de tantas uvas que foram se imiscuindo no processo.

Vive-se de vinho? Não sei. Quase arrisquei. Mas a água pareceu mais segura, já foi vinho, quem sabe um dia volta a inebriar? E o vinho, de terras distantes, vai continuar sendo o néctar dos deuses, aquele, inalcançável. Só que acessível se a vontade imperar. É uma pena que água e vinho se misturem. Se ficassem separados seria possível desfrutar do melhor dos dois. Mas, de novo, tudo muda. A próxima mudança nem Baco sabe como e quando será.