domingo, 24 de outubro de 2010



O vórtice, aquele meu velho conhecido, me puxa de novo. São os resultados da explosão atômica se manifestando. Primeiro a gente não percebe o que aconteceu, depois os tentáculos insidiosos e radioativos vão nos envolvendo, hoje um pouco, amanhã mais ainda, em alguns momentos nos afastam, e quando vemos que longe dos tentáculos existe dor, então pronto, está feita a contaminação.

É o pé escorregando na beira da espiral que gira, gira, gira, hipnotizando, chamando, e mesmo sabendo e ao mesmo tempo não sabendo o que tem lá, o chamado é irresistível. Já escorreguei em outros vórtices antes, o que encontrei lá dentro foi bom e quando ficou ruim, sair de lá foi muito penoso. Mas cada vórtice é diferente dos outros. Nesse já sei que existem turbulências.

Mas. Qual é a outra opção? Ficar na beirada olhando e resistindo? E so what? Não, decididamente a beirada não é para mim. Here we go again.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010



Pois é. Eu que pensava que explosão atômica acontecia só uma vez, acabei me envolvendo em outra. Aliás eu já deveria ter aprendido que isso de único, exclusivo e eterno não existe mesmo. Que seja explosivo enquanto durar. E único sempre, mesmo depois da explosão que vier depois.


Vou repetir um dos clichês mais velhos que já ouvi - o Rio de Janeiro continua lindo. As vistas dos mais diferentes pontos, como essa aí que foi a minha, ainda tiram o fôlego. Não fui lá para ter fôlego mesmo, só saio de casa se for para alguma coisa breathtaking, mas me surpreendi como a beleza subsiste, teima em estar lá, apesar de. E é triste que só temos visto publicamente o Rio triste, de morte e miséria, enquanto tudo aquilo ainda está lá para ser visto, sentido, digerido e incorporado.

Consolidar amizades foi uma das melhores partes, a identificação que temos com algumas pessoas não conhece distância nem tempo, a conversa flui, é tudo fácil.

Alguns outros motivos me chamaram, a aventura tem sido meu prato diário, quando a oportunidade passa pulo em cima dela, e até agora ela só tem me levado a grandes viagens. O que vem depois? Sei lá, mais fins de semana no Rio? Talvez. Fins de semana em São Paulo? Talvez. Só a âncora por enquanto sei que não vai ser jogada em lugar nenhum. As vistas múltiplas estão por demais atrativas.


Então que faz tanto tempo que quero e não consigo vir aqui escrever. Não consigo porque o turbilhão de party-every-day me engoliu, amém.

Semana passada teve Bon Jovi. Tudo foi perfeito, primeiro voltar no tempo e perceber que na verdade não se vem nem vai para lugar nenhum, basta ouvir uma música, sentir um cheiro, ver uma imagem antiga - e voilá - as sensações voltam todas, lá de onde elas nunca saíram, a conversa é retomada exatamente no ponto onde parou vinte anos atrás, os anos e as novidades seguintes perdem-se em um mundo paralelo imaginário-real que sabe-se lá para onde ou para quando foi.

Mas o Bon Jovi. Ele declarou que gosta do assédio feminino, e não é bobo nem nada, faz parte do marketing, mas ele pode. Vamos combinar que em três horas de show o homem parou bem poucos minutos, sacudiu os cabelos que já foram mais longos, arrasou no figurino, e o sorriso... Goooooooooooood o que é aquele sorriso? Sim, eu fui lá para tietar, pular e berrar, as moças educadas e mães de família foram deixadas em casa e foram lá parecer umas malucas, umas macacas saltitantes e gritadoras. Nós podemos fazer isso, porque todo dia vivemos uma vida bem normalzinha, então às vezes tiramos a máscara de "normais" (para quem?) e vamos lá pular e berrar.

O dia seguinte foi cruel, a garganta e alguns músculos que eu não lembrava que tinha se manifestaram, especialmente porque tinham sido usados alguns dias antes em outras atividades físicas tão saltitantes e gritantes quanto. Mas tudo isso se conserta sozinho, o próprio Bon Jovi no início já pediu - Let's enjoy the moment. E já há algum tempo eu já sabia que era só isso mesmo. A vida é uma coleção de momentos aproveitados. O tempo se comporta de acordo com o que nós estabelecemos para ele. Então estabeleçamos que hoje é dia de viver momentos de puro jumping and screaming.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nada não. É só isso mesmo. Já entendi.



Eu conheço um lugar que é uma twilight zone. Aparentemente é um lugar bem comum, com cara de habitação mundana, mas basta transpor a soleira da porta para dentro e me vejo no mais surreal dos mundos. Lá não se anda de sapatos e em geral tudo está muito escuro, no máximo, tem luz de velas. Já aprendi a reconhecer o caminho, mas a cada vez que apareço, novos recônditos se revelam, e me arrastam para espaços que mais parecem fora do espaço.

É uma dimensão paralela, e quando entro lá abre-se uma lacuna no tempo, na minha localização geográfica e no meu lado esquerdo do cérebro. Sou eu, mas não sou eu. Eu vou lá por livre e espontânea vontade e de muito bom grado, mas a partir do momento que entro não sei mais de mim. Ou pelo menos da eu com quem convivo todos os dias.

Tem bichos por todos os lados, mas é um lugar silencioso. Os peixes por si só obviamente vivem no silêncio. Os pássaros parecem respeitar calados o que presenciam, os cachorros parecem ausentes, o gato é o capítulo à parte. E o habitante humano dos domínios é o mais peculiar de tudo, é muito semelhante ao gato, mas ao mesmo tempo é etéreo como se vivesse nas nuvens, e tenho minhas dúvidas se a qualquer momento não possa tocar o ceu só estendendo a mão. E aliás, todos os toques nesse mundo parecem toques de anjo. O silêncio é primordial, as palavras pouco necessárias, e quando se fala, são sussurros.

Escuro, silêncio, presenças que mais parecem ausências. É o lugar onde se fala pouco e se sente muito, profundamente, e fora das demandas do mundo lá fora.

Depois eu volto para ele, o "outro" mundo. Mas é com fôlego renovado, e é bom saber que sempre existe para onde correr.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010



Isto é a pura verdade. Mais ainda quando se trata de comportamento humano. Nós não conhecemos ninguém. Ninguém mesmo, pais, filhos, amigos, namorados, maridos e afins, colegas de trabalho, enfim, nem a nós mesmos. Quase nada do que parece realmente é o que parece, palavras servem para muita coisa, mas não para nos definir ou revelar dos outros para nós.

Eu posso dizer o que quiser. Algumas pessoas se convencem, outras não. As que acham que me conhecem são as mais fáceis de se enganarem. E desisti totalmente de conhecer alguém, não conheço nem minha filha que saiu de dentro de mim, e nem uma estranha que ainda mora aqui dentro e eu de vez em quando encontro por acaso e não sei o que fazer com as manifestações dela.

Disso concluo que sim, tudo o que é sólido se desmancha no ar. Então pra que a preocupação? Não vamos saber mesmo no que vai dar, amanhã podemos ter partido para outro mundo, outro país, pro céu, pro inferno, sabe-se lá. Dizemos o que queremos, ouvimos o que nos é conveniente, acredita quem quer no que for mais convincente. Ou não.

Eu não pretendo convencer ninguém. Muito menos a mim mesma. Aprendi a ficar aqui só sendo. E desfrutando do que tem me levado vida adentro.