sexta-feira, 13 de junho de 2014

Considerações sobre a burrice.



Após as enchentes, águas derramadas, lágrimas, sangue, suor, dramas mexicanos, espanhóis e que tais, aporrinhação de todos os amigos e amigas que se confirmaram verdadeiros porque não foi fácil suportar não, que eu sei, desde ontem, graças ao que não é deste mundo mas é, a dor mitigou, e por fim dá para começar a racionalizar.

Não que isso já não viesse acontecendo, mas com o tempo desenvolvemos determinadas reações automáticas a alguns fatos que muito me impressiona não babar quando toca um sino.

Eu preciso de detalhes para enxergar, como a casa aqui é minha, quem não estiver interessado em mimimi particular obviamente não leia.

Eu me apaixonei há quase quatro anos. Foi uma paixão muito feia, dessas que a gente se descabela (de novo o drama), não me acrescentou nada de agradável, só me fez sofrer. No entanto o tempo se encarregou de dar cabo dela, como é o natural, mas em vez de terminar de vez o suplício entrei em outra coisa diferente, o que no caso de relacionamentos normais é saudável, mas não estamos aqui falando de coisas normais.

Eu me considero uma pessoa inteligente. Isso dito, vamos ver o meu comportamento. A pessoa em questão não é o que se possa definir como um gentleman, estaria mais para troglodita. Tem lá seus problemas edipianos, com os quais eu não tenho nada a ver, no entanto, a vida é pautada nisso. A profissão não é uma paixão, já que é muito simples quando a família tem um negócio e você finge que trabalha. Daí que sobra muito tempo, tempo esse empregado em coisas que não me agradavam e não me agradam.

A pessoa é desorganizada e eu não chego a ser a louca com TOC, mas o mínimo, o básico, não tem jeito, se não tiver me dá urticária. Daí que mesmo sabendo de todas as possibilidades de dar errado eu vou lá e aceito deixar minha filha (que é uma louca, ao contrário dos filhos dele que são maravilhosos); meus pais (que ao contrário dos dele ainda têm uma vida bem normal, sem entrar no mérito da definição de normalidade); meu amigos e amigas (que na opinião dele são idiotas, loucos, sem noção, não sabem criar filhos, recalcados, enfim, toda uma gama de adjetivos que ele não pode atribuir aos dele pelo simples fato de que eles não existem); minha casa (que é modesta mas não tem cupim, bagunça e tem faxineira, nem preciso dizer que lá é o contrário - devo mencionar "venha você dar um jeito nos cupins"), e minha cidade, que é um lixo, está impossível, mas é o melhor lugar no país inteiro para se ter uma vida cultural ao menos básica, que para mim é sinônimo de ar para respirar. Obviamente não podia dar certo, daí eu volto.

Daí em -perdi-a-conta-de-verdade- número de vezes, volte, não volto, quero voltar, não volte, viagem pra cá viagem pra lá, venha, vou. Daí uma última vez, o não venha mais. Daí todo o drama.

E de repente, além de todas as razões citadas acima, estamos falando de alguém desequilibrado, que anda na minha frente na rua, se eu bobear entra na minha frente no táxi, se acha a última bolacha do pacote em TODOS os quesitos e NÃO É, NEM NUNCA FOI, mas tem certeza que é e sempre será (sabe de nada, inocente), chega às raias da falta de educação, se acha no direito de criticar as pessoas que eu amo, é do tipo que, quando se menciona uma instituição, a pessoa diz "conheço os donos", "os donos são amigos dos meus pais", gosta de amealhar propriedades e comprar inutilidades, enfim ,estou tentando dizer que usa o dinheiro como diversão não saudável, só porque "eu posso e estava com vontade".

Ah, mas obviamente tem seus lados bons. Sabe cozinhar, sabe ir ao supermercado e lê e assiste filmes. Só que basicamente isso é tudo que a pessoa faz na vida. E intimamente se atribui ou título de rei (da cocada preta), mas uma amiga querida já definiu melhor por razões de piada interna, rei da tapioca. O fato é que a monarquia aqui já caiu faz tempo, a pessoa não notou e não vai notar nunca, mas quem acordou agora fui eu.

Daí que que diabos eu estava fazendo com isso? E a pergunta NÃO é irônica. Eu estou muito, muito preocupada, porque, mediante essas e outras razões que eu poderia passar o dia enumerando e contando se quisesse enumerar as inumeráveis situações em que eu fui uma palhaça, idiota ou as duas coisas, passaria aqui dias, o que posso pensar de mim mesma?

De tanto ouvir de todos os lados que eu preciso dar valor a mim mesma, uma hora finalmente entrou no cérebro, mas aí, a vergonha própria é de matar. Eu já tentei me consolar dizendo que na verdade era uma boa companhia. Mas não era. Que se preocupava comigo. Até se preocupava, mas eu vinha em quinto lugar depois de eu, eu, eu e eu (o eu-ele). Que estava à minha altura intelectualmente. Não, não estava, eu sou até modesta e quando vejo meus amigos me acho um zero à esquerda, mas ao se comparar comigo, a cultura lá está mais pra acidental. E a cara de "eu sei tudo" estraga muito o que poderia ser aproveitado. E a pessoa ainda joga em cima de MOI a culpa toda de todas as coisas que deram errado porque ele começõu a fazer dar errado.

De maneira que, ladies and gentleman, eu sou é BURRA. Eu abomino a burrice, e bem feito pra mim, essa foi minha lição de humildade para toda vida, a burra sou eu. O bom é que a lição desta vez foi aprendida. Não trabalhamos mais com homens que não beijem o chão que pisamos. E aqui sim, estou sendo dramática de novo, mas os entendedores entenderão. Mesmo porque, eu tou podendo. Se eu abrir a porta, caem vários aqui dentro, sem mencionar os esqueletos doidos pra sair do armário. Sim, burra. Burra até não poder mais. Mas obrigada, ó entidade suprema de mil nomes, pela lição de humildade, e de possibilidades, e da história de portas fechadas e janelas abertas.

Me autorizo a continuar odiando a burrice. A começar pela minha própria. Não vou dizer vai ser burra lá no inferno porque simpatizo com o Lucifer e não estou querendo matar de tédio ele também.

update: vale a pena acrescentar o que o Fabricio Carpinejar sabiamente constatou.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

[muito manjadas] Metáforas aquáticas


As civilizações formam-se ao redor dos rios. No mundo todo, nas grandes e pequenas cidades, se olharmos de perto, tudo começou ao redor e em função do rio. Hoje é menos óbvio, porque poluímos, crescemos, nos afastamos, mas ainda dependemos deles.

A vida forma-se ao redor das águas que correm por baixo das pontes. Ou à beira dos rios onde sentamos para esperar passar os cadáveres.

Em algum lugar hoje o rio transbordou. Eu fiquei do lado seco. A amargura, a mágoa e a dor me fizeram desejar coisas horríveis. Mas o que eu queria mesmo era que todo esse sentimento se afogasse ou fosse embora na correnteza. No entanto, a hora ainda não é chegada. Uma das coisas que não controlamos e nunca vamos controlar por mais tecnologia e ciência que se use é a chuva. Ela chove quando quer e se quer, e por vezes faz tanta falta, mas causa estragos quando vem para ficar.

As águas são incontroláveis, inclusive algumas que jorram de nossos olhos, que ironicamente são salgadas, nós que somos muito mais rio que mar. Não importa o que queremos, o que planejamos, o que organizamos. Se a chuva quiser chover ela chove. E o curso das águas de dentro também acha seu caminho pelos olhos.

O óbvio é o óbvio. Tudo o que tinha de ser dito foi, toda bem-vinda ajuda foi prestada, toda racionalização elaborada, e no entanto, a tristeza não se desinstala. O tempo, eu sei. Mas e enquanto isso? Decorar o meu jardim, eu sei. Mas tenho vontade que chova nele todo.

Lá no fundo eu sei que em muito breve a curva do rio trará alguma coisa ao meu campo de visão, eu que estou aqui cansada de ficar sentada. Mas só por hoje, contra todas as obviedades e boas intenções, inclusive as minhas próprias, eu vou soltar as águas internas. Que venham as inundações.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Não era bem o que eu tinha pedido



Ele de novo. O velho sentimento conhecido de coração partido. E meus corações partidos são for real, causam dor física, de aperto no peito, depois das facadas. Eu mal respiro. Eu achava que não ia mais sentir isso, o que de uma certa maneira doentia me alegra ainda sentir, eu que andava bem adormecida. Mas eu queria os píncaros de outrora, não as profundezas.

Do meio das cavernas subterrâneas da dor eu ainda não entendi direito, devem ser as fases do luto, porque, sim, um coração partido é matar alguém, matar tudo que se viveu com alguém, arrancar à força e contra a vontade o amor de dentro, um parto com fórceps.

Em alguns lampejos de raciocínio eu bem sei que o cadáver já era defunto há muito tempo, só faltava enterrar. No entanto, jogar as pás de terra não é divertimento para ninguém, especialmente quando não somos quem cavou o buraco.

A pior parte é acordar pela manhã com a ausência. O silêncio do telefone. Os rastros foram escondidos, ocultos por uma alma que me ama mais, para quando eu puder de novo olhar para eles sem chegar aos prantos de novo, testemunhas de um tempo que chegou ao fim.

Enfim, é o de sempre, tenho sorte de ter as pessoas mais maravilhosas que me falam as coisas que vão mitigando o caminho árduo. Mas ele é só meu. E eu quero que acabe logo mas não acaba logo. E a falta de paciência é o meu pior defeito.

Estou começando a pensar de verdade que a emoção da descida não vale a subida da montanha-russa.

Bem gráfica a imagem né? O sentimento é mais ou menos assim.