sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Alexandre o Grande, eu e as besteiras



Alexandre o Grande fez por merecer a fama que tem. Veni, vidi, vici bem antes de Cesar. O homem viveu pouco, mas aproveitou muito bem o tempo que teve, marchando, ceifando, conquistando. Mas ele não foi só beligerante, sua importância vai muito além da conquista física, de terras, de espaço. Porque conquistar é fácil, manter e administrar a conquista é que é o complicado. Mas ele além de grande era inteligente, espalhou a cultura (grega) pelo mundo muito antes do outro império que o copiou ter a mesma ideia (grega disfarçada de romana).

No entanto, o que é ainda mais interessante nessa breve vida, na minha opinião, é que apesar de ter conquistado meio mundo (ou mais de meio na época), são os casamentos de Susa, uma grande jogada de marketing. Susa era uma cidade persa onde foram celebrados casamentos por atacado dos nobres guerreiros de Alexandre e dele mesmo com as princesas persas. Dias de celebração à maneira dos donos das mulheres. O problema foi Alexandre morrer logo, porque os nobres guerreiros não queriam nada com as persas e deram no pé.

Onde quero chegar é: o sanguinário conquistador era bem mais esperto e "humano" que os militantes da atualidade. O que ele queria era estabelecer-se como dono da p**** toda, herdeiro de tudo que pudesse ser reclamado, mulheres, impérios, terras, palácios, enfim, tudinho. E para isso casou todo mundo, misturou todo mundo, gostassem ou não (não gostaram, vide o resultado quando ele não estava mais presente para impor).

O que vemos hoje são milhares de defensores de minorias que adoram separar as coisas, pessoas, opiniões, etc. em castas, pôr em caixinhas - branco, preto, vermelho, amarelo, magro, gordo, bonito, feio, esquerda, direita, cristão, ateu, e não importa o que se diga, a única certeza é que quando se abre a boca, alguém vai se ofender.

É o tempo todo um andar pisando em ovos, ou simplesmente deixar de falar com as pessoas porque os olhos reviram tanto que poderiam ir parar dentro do cérebro. Nunca se disse tanta besteira, nunca se contestou tanto as besteiras ditas com outras besteiras, nunca tantos faladores de besteira tiveram tanto espaço e divulgação. É muito bom o just-in-time para falar com as pessoas, saber as notícias em primeira mão, mas às vezes dá saudade do tempo em que a gente esperava o jornal de hoje para saber as notícias de ontem e escrevia cartas ou ligava para alguém do telefone fixo.

Eu não sou dona da verdade, aliás, me incluo nessa crítica, já me perguntei muitas vezes e conversei a respeito com as pouquíssimas almas que pensam como eu, por que eu continuo lendo e me indignando com as besteiras? É só não ler, desligar a TV, fechar ou sair da rede social, ignorar. Acabei concluindo que preciso do referencial para sentir um pouco de "normalidade". Se tem tanta gente mais doida, eu ainda não sou um caso perdido. Saudável foi tirar da frente 90% dos produtores de besteira, mas não basta, todo mundo produz besteira, e eu preciso vê-las para as minhas ficarem mais aceitáveis. Enfim, fazer os casamentos com as princesas persas. Eu não posso vencê-los nem vou me juntar a eles, mas fico olhando de longe para manter a perspectiva.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

El dia que te quise





El día que me quieras
La rosa que engalana,
Se vestirá de fiesta
Con su mejor color.
Y al viento las campanas
Dirán que ya eres mía,
Y locas las fontanas
Se contarán su amor.

Já iam dois anos desde a última vez que estive em Buenos Aires e eu já tinha me esquecido do porquê eu havia prometido a mim mesma não voltar mais. Porém a memória é curta e eu, ingênua avessa ao calendário gregoriano, sugeri uma "passagem de ano novo tranquila".

De fato, missão dada, missão cumprida, não sei se pelo resfriado que me atacou sorrateiro depois de um primeiro dia de chuvas e as drogas (lícitas) que usei para ameniza-lo, consegui dormir bravamente pelo que chamam de "passagem".

Mas minha esperança era ainda sair do ambiente tupiniquim para algo remotamente melhorzinho. Tolinha. Tenho uma amnésia pós-porteña cada vez que volto daqui, espero ter aprendido desta vez.

O Brasil está de doer e não é de hoje. Nem vou entrar nesse mérito porque há tempos minha paciência esgotou, e não fosse por algumas poucas pessoas e ideais eu já teria aberto mão até da nacionalidade.

O que eu quero mesmo registrar para mim mesma é - haja paciência para o drama porteño. Cai uma chuva por meia hora, o jornal anuncia dilúvio, dia que virou noite, enchentes. Temperatura real, 25 graus centígrados. Sensação térmica: 65, depois da chuva torrencial de dez pingos, 15 graus. Não sei mesmo como é essa sensação, provavelmente igual à falta de notícia que obriga o jornal a repetir 30 vezes a mesma coisa, caso haja alguém distraído que não tenha ouvido as primeiras 29 vezes.

A cidade que um dia foi a Europa latina, coitada, ainda não entendeu que isso acabou há uns 50 anos. O que ainda sobrou de bonito, prédios com pretensão parisiense, só olhando para cima e de longe para gostar. No alcance do nariz não há como gostar de Buenos Aires, que cheira a lixo e glórias passadas.

O chão, coitado, cheio de buracos, buracos que vão até a alma porteña que, coitadinha, diz que o Brasil é hipócrita e fascista. E tem a Fundação Kirchner, cultural. E a militância- pasmem - peronista. Isso me faz pensar o que leva um povo a ser refém de quem o oprimiu? Tenho teorias, mas minha boca fica mais bonita fechada.

Uma coisa de mulher agora - as porteñas são feias, mal tratadas, quando tentam uma maquiagem parecem um arremedo de máscara (e eu sei ZERO de maquiagem, vivo de cara lavada, amém). E as lojas de calçados - venho aqui há anos e isso não muda, é o gosto local - se não fornecem, deveriam fornecer porte de arma condicionado à compra. Que medo das mulheres que pisam duro com seus calçados perigosos.

A falta de educação com o turista é surpeendente. Do que vive uma cidade turística? Buenos Aires, aparentemente, de latidos. Que língua é essa? Ninguém se esforça para entender o portunhol dos turistas, se virem. Mais um motivo para eu me cansar em dois dias desse sotaque horrível que um bom espanhol deve abominar.

Há exceções? Raríssimas, que não bastam para definir uma cidade que em grande parte depende do turismo, como acolhedora. O povo é mal educado, azedo, a mídia é tendenciosa, são todos dramáticos.

Eu abriria uma exceção muito honrosa para o Parque de Palermo, justiça seja feita.


E digna de menção é a estação ferroviária - é entrar e pôr o pé na Itália. Lindíssima e bem conservada.


Uma pena as coisas boas serem exceções. Pelo menos tem vinho decente. Alfajor não, obrigada.