terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Considerações inúteis sobre as perniciosas falhas humanas


"There" is not better than "Here". When your "there" has become "here", you will simply obtain another "there", that will, again, look better than here.

Quando temos olhos de ver e ouvidos de ouvir e conseguimos aquietar por um tempo as tempestades dentro do coração, a vida ensina coisas que já ouvimos dizer e com certeza ignoramos porque quem tem raios e trovões no coração ignora lições não vividas, se elas não vierem com sangue suor e lágrimas.

Recentemente aprendi duas coisas que já sabia, mas conforme o tempo passa até aquilo que já sabíamos vira novidade porque obviamente somos outras pessoas diferentes daquelas que éramos há um, cinco ou dez anos (ou minutos) atrás.

Uma delas é que infelizmente nao se conquista respeito sendo bonzinho. Isso é fato e não é lá muito politicamente correto nem pio, porém respeito, seja de quem for, se ganha na porrada. Para não citar obviedades vou disfarçar - isso vale para pessoas mais velhas, pessoas mais jovens, mais experientes, mais ou menos amadas por nós, profissionalmente, pessoalmente, dentro da família, na rua com desconhecidos (salvo violências literais), e acima de tudo por quem mais nos ama. Estas últimas, por nos amar, acham que têm o direito adquirido de ficarem folgadas. Em geral obviamente quem mais nos atinge são aqueles que mais amamos, senão não daríamos a mínima. Uma ofensa capital de um desconhecido nos afeta tanto quanto uma simples palavra mal digerida que tenha saído dos alvos de nossos afetos. E isso nos deixa ä mercê do que sentimos, somos escravos de pais, filhos, amigos queridos, amantes em todos os sentidos e níveis de comprometimento, pessoas que admiramos. Até o momento em que damos o basta, socamos a mesa, berramos, esperneamos e resgatamos a vida que nos pertence na base do grito. Aí depois das caras de espanto raros são os que não pensam duas vezes antes de ficarem folgados de novo. E o pior é que a fama de mau requer manutenção.

Por que somos assim? Eu me incluo obviamente porque já desrespeitei muito também e só quando ouvi o basta é que parei. Mas por que todo aprendizado tem que incluir subir montanhas de gelo, enfrentar o minuano, ficar sob o sol escaldante do deserto? Não sei. O que sei é que só ganhei respeito quando abri a porta para os meus monstros do porão saírem para fora da casa.

Outra coisa está bem clara na citação aí em cima. Nós somos seres querentes. Eu quero isso, aquilo, aquele, essa ou aquela situação. Daí fazemos tudo possível e impossível para conseguir, o que é louvável e humano, mas muitas vezes o custo é tão, mas tão alto que perdemos até de vista o objetivo, Muitos desistem no meio do caminho, outros nunca sabem quando o fim já passou faz tempo, mas independentemente disso, quando conseguimos o tão almejado objeto de desejo, seja ele o que for, já estamos 1) dizendo ah, era isso? 2) mas agora eu quero... (preencha com qualquer outra coisa), ou 2) mas será que não era ..... (preencha com qualquer outra coisa) que eu queria?

As sombras estão sempre lá. As dúvidas nos assaltam no meio do dia, na calada da noite, no meio da frase, no gesto contido, na palavra errada dita sem querer, no olhar para o outro lado, de lágrimas ou sorrisos que escapam e correm e cintilam nas horas erradas. Quando ao nos vermos ä frente de dois caminhos conseguimos finalmente fazer a escolha, o outro caminho vai ficar sempre paralelo, sempre lá nos assombrando, o e se, o mas como, a possibilidade é muitas vezes cheia de tentáculos. Parece sempre que estamos perdendo uma festa em algum lugar, aquela mesma cujo convite recusamos.


 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Longing...



Momentos de grandes decisões e mudanças sempre me trazem aquela velha sensação que eu conheço muito bem - a nostalgia de coisas que não vivi.

Poucas coisas fazem menos sentido - se não vivi como posso estar nostálgica a respeito? Mas ultimamente nada faz sentido.

Aliás que sentido é esse? Como deveriam ser as coisas certas, aquelas que fazem sentido? E para quem?

O fato é que quando me deparo com uma estrada com dois caminhos começa o meu drama. Pensar demais me atrapalha, uma vez que quem pensa demais decide de menos, e arrastar conflitos, ações, pensar até doer a cabeça, não tem graça nenhuma.

Mas as coisas acontecem, o mundo não vai acabar não, e as decisões acabam nascendo de geração espontânea, em geral com surpresas.

A gente estende as mãos pedindo, e quando o desejo atendido cai em nossos braços abertos é difícil segurar. E mais difícil ainda saber o que fazer com ele. Vou repetir pela enésima vez - cuidado com o que deseja.

Eu queria a bênção de ser humilde o suficiente para simplesmente agradecer e parar de discutir com o Universo a decoração do cenário.

domingo, 2 de dezembro de 2012

still.



... and then when everything is set, agreed, decided, settled, notified, that voice from the other side of the ocean or maybe from the bottom of your heart still whispers. And wide awake you just don`t know which way to go.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Você merece o melhor

Eu sei, mas parece que a publicidade não.
Despejei minha indignação lá no Primeira Fonte.
E que alguém nos salve dos príncipes encantados, pelamor.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012



Ganhei de presente.
Ego is a bitch.
Yes, I'm so vain and I think this song is about me.

sábado, 17 de novembro de 2012


Os últimos tempos foram tão, tão intensos que não sobrou fôlego para escrever. E tudo que tenho sentido não encontra expressão em palavras, o que me frustra, porque eu queria um registro escrito da felicidade, da dúvida, dos conflitos, dos arrependimentos e consertos deles, da selva de ideias e do dilúvio de lágrimas, de alegria e de tristeza, andei descompensada até fisicamente, meus hormônios todos enlouqueceram, literalmente, eu sou um case report médico, e no entanto não tenho sintoma algum do que deveria virar meu mundo do avesso. Eu sinto tão fundo que desordeno até as minhas moléculas mas ainda assim vale tanto a pena que sigo andando, keep walking, agora acho que sei para onde, eu pulei em muito avião, barco, ônibus, metrô e táxi, dormi em muitas camas diferentes de hotéis, andei a pé até não poder mais, vi, senti, respirei o mundo, deixei um pouco de mim em várias paragens, paisagens, quebrei paradigmas, experimentei, tirei a prova, a única coisa que não me abandonou ainda foi a nostalgia.

Hoje eu sei que ela aí está porque tudo que vivi deixou tantas marcas tão profundas de tão intenso que de vez em quando elas se manifestam. E tem a nostalgia do que eu não vivi, essa ainda mais incompreensível, mas quando me entrego a ela é fascinante. Aliás soltei as amarras, cortei o cordão umbilical, pus para fora os monstros do meu porão para arejar, tossi durante semanas expulsando tudo que me fez mal por anos.

Mas obviamente para tudo há um preço. O preço que eu pago por sentir tanto é a minha frustração de não ser mais de uma, porque dentro de mim existem múltiplas, cada uma querendo viver uma vida diferente. Mas só dá para viver uma de cada vez. Misturar dá muito trabalho, é muito arriscado e posso acabar nem sabendo mais qual sou eu de verdade. Então fiz minha opção, mas ainda tenho dentro de mim todas as outras, as que vivem suas vidas lá nesse outro lugar para onde eu vou às vezes sem sair daqui. Foi o meio que achei de açambarcar a vida que veio em enxurrada, eu que já tinha vivido tanto aos goles.

Eu cultivo tudo que me faz bem, sem nenhuma restrição. No momento em que paramos de viver para os "outros" tudo parece acontecer como que por mágica. É só isso mesmo, ir vivendo o que quero, fazendo o que eu quero na hora que me dá na telha, falando o que eu quiser para quem eu bem entender, e sabendo que tudo tem suas consequências, mas estou preparada para elas.

Acho que cresci uns cem anos.

sábado, 3 de novembro de 2012

Intraduzível


Que eu sou alienada acho que já deu para notar, não falo de atualidades, só de banalidades. E aqui vão mais algumas, mas antes tenho a declarar a meu favor que falei dos índios, já que está todo mundo com comichão por esse assunto, mas foi lá no Primeira Fonte e já faz um tempo.

Isso posto, agora quero falar as minhas banalidades em homenagem a uma pessoa nada banal, minha amiga Eva que está tendo the experience of a lifetime no país estranho que também teve índios polêmicos, porém não tão dramáticos. Ela, perfeccionista que é, todos os dias se degladia com a ausência das palavras para se comunicar como gostaria.

Eu já fui jovem como ela (faz tempo) e uma das vantagens da maturidade (não existe a palavra velhice) é entender como funcionam certas coisas. Eu estudo, trabalho, leio, respiro em outra língua todos os dias. É minha profissão e me agrada. Como já fui professora e estudante, sei exatamente como funciona o processo de aquisição de uma outra língua. Até chegar o momento do clique, que eu sabia identificar nos meus alunos, a gente sofre tentando pelo menos se fazer entender. Depois do clique (que a Eva já teve) pensamos na outra língua, daí o google translator que trazemos embutido no cérebro e é isso mesmo, um google translator que só atrapalha, para de funcionar. Pronto, a mágica está feita, e aí a gente estuda mais um pouco e faz aí uns testes para ter um papel que comprove que sim, oficialmente você fala aquela língua.

Lindo, mas falar uma língua, por mais perfeição, fluência e proeficiência que se tenha, não significa SENTIR nessa língua. Não estou falando aqui de cultura, que também se adquire, mesmo sem saber a língua, mas sim de uma coisa além disso.

Eu sempre achei um mistério casar com alguém que não tivesse a mesma língua materna. Quando digo casar, digo relacionamento a longo prazo, é só uma denominação, porque todo mundo sabe que a curto e curtíssimo prazo nem precisa de muita falação. Mas realmente ter um relacionamento romântico com alguém que não fala na mesma língua que a gente é, pra dizer o mínimo, cansativo. Obviamente existem inúmeros casamentos assim que dão certo, estou falando só da minha modesta opinião.

Quem pôs isso muito bem foi uma outra amiga sabida que eu tenho, a Gi, que teve experiência bem-sucedida no assunto mas disse: "Precisamos de alguém que entenda a meia-piada". E vamos combinar que meia-piada só na língua materna.

Namorar alguém em outra língua é mais fácil para quem fala menos e não é tão verborrágica como eu, porque na verdade o que fez toda difereça na minha escolha de vida acabou não sendo o príncipe encantado, o bonito, o inteligente, o isso ou aquilo, não que tudo isso não conte, com exceção do príncipe encantado que está mais extinto que dinossauro, o resto vale, mas o que me ganha mesmo é uma boa conversa. Em português. Primeiro, porque quem pode se comunicar em uma língua onde não existe o conceito de SAUDADE? Ahn? E ser e estar se comunica com o mesmo verbo? Ahn? Oceanos de diferença entre ser alguma coisa e estar alguma coisa. E como trocar referências com alguém que não sabe o que é Caetano, Gil, Chico, Titãs, Cazuza, Sidney Magal? E o que a gente diz quando só um sonoro PQP traduz o momento? Shit? Não chega nem perto. E as nuances de sotaque (eu sei, toda língua tem, mas a nossa é mais legal)? E como é que se explica que eu não sou a Pocahontas?

Difícil. Por mais boa vontade que os príncipes internacionais tenham - e têm - acabam sempre virando sapões. Ou talvez seja só eu, que não sou princesa nem nada, porque muitas amam seus faladores de outras línguas e vão muito bem, obrigada.

Até a Bíblia categorizou isso como maldição... Impediu a gente até de chegar ao céu... Pura falta de comunicação.

O amor pode ser universal, mas algumas formas de amor para algumas amadas e amadoras são muito, muito particulares. E monolíngues.

domingo, 7 de outubro de 2012

Fragmentos de auto-flagelo


Será que algum dia eu vou fazer as pazes comigo mesma e aceitar finalmente que só posso confiar mesmo é na única pessoa que é responsável pelo meu bem-estar, ou seja, eu, eu mesma, e só eu? Provavelmente não e me auto-flagelo pela minha estupidez certificada.

Quando tudo parece ter se encaixado nos devidos lugares, o óbvio acontece de novo. E agora esgotaram-se todos os recursos do meu cinto de utilidades. Lágrimas não tenho mais. Queria era apelar para a crueldade mesmo. Mas só consigo uma tristeza quieta.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Surpresas



E eu que achava que a música tinha passado despercebida, ignorada, que o efeito tinha sido nulo, apesar de tão perfeita, tão sob medida, tão familiar.

Eu que pensava que não ouviria nem sentiria o que tem se feito presente, eu que ainda amargo resquícios de um passado que não existe mais.

Eu que já tinha me acomodado ao mais ou menos, ao então é isso, ao eu não quero mas preciso.

Eu que já havia me resignado, ajuntado os cacos, tomado o outro caminho, guardado as lágrimas, posto os verbos no passado.

Eu que já tinha te colocado no capítulo anterior da minha vida, de repente percebo que ainda é tempo.

Jogo a mala, pego o atalho de volta, sim, sim, ainda é tempo.

O que eu não sabia é que me surpreenderia tanto com as delicadezas, as pistas, as reticências, a atenção, a mudança, mas a surpresa maior foi a música. Quando notei qual era a música que tocavas para mim, tive certeza. Agora eu sei.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Hoje foi dia de renascer. Eu finalmente fiz as pazes com esta data depois de tanto brigar com ela. É sempre bom um pretexto para começar tudo de novo, e desta vez tudo tem mesmo gosto de novo começo, os dias anteriores tiveram gosto de fim e as certezas se instalaram. A ilusão de certeza é boa, porque não passa disso, mas as verdades não absolutas me interessam.

"Cuidado com o que pede" é uma coisa que sempre ouvi e agora vou mesmo tomar cuidado porque com o tempo acho que vamos nos aprimorando na arte de fazer cair na nossa cabeça tudo o que pedimos quando às vezes alguma coisa deveria estar dentro dela antes de pedirmos, porque existem desejos atendidos que só podem ter sido feitos em momentos de cabeça vazia, de bebedeira, inconsciência total ou parcial, de pura bobeira mesmo, ou quando o Universo ou seja lá o que atende os pedidos estava de brincadeira com a gente.

A maturidade é reconfortante. Hoje já não peço a esmo, porque sei que pouquíssimas coisas são inalcançáveis. E poucos pedidos valem ser atendidos. E às vezes o melhor é não pedir, é receber o que vem, por que não? Tenho levantado muitas sobrancelhas ultimamente, o que é bem agradável, e quando não é, logo passa a ser, e essa é a lição definitiva, o "passa", o muda, o indefinitivo, mutável, envelhecível, mas renascível, os átomos de que somos feitos, grandes vazios com tudo mudando de lugar o tempo todo, somos um instantâneo da instabilidade, do caminhar, sempre, arrastando uma cauda de viver, experimentar, saborear cada momento seja doce ou amargo, é para isso que nossos anos passam.

Estar vivo palpita. Dói. Lateja. Por isso somos tantos e para isso sentimos tanto. São nossos laços que nos ajudam a tecer a trama. O cuidado deve ser usado para escolher os fios.

sábado, 15 de setembro de 2012


"É cedo ou tarde demais, pra dizer adeus, pra dizer jamais?" - Titãs 

E então, nas pequenas coisas, sem aviso, quando já se tinha dormido, quando o filme já estava no fim, o café já tinha esfriado, as flores murchas, o pó já se acumulara de novo e tudo estava pronto para ser removido, lavado, enxaguado, jogado no passado, então começam a aparecer sinais do que estava lá e nunca, nunca quis sair, nunca quis se mostrar, mas... que coincidência, é ... uma palavra nunca dita, um gesto nunca feito, uma expressão inédita, uma atitude totalmente surpreendente, é um deixar escapar uma fragilidade que há tanto tempo foi bem guardada, é o mea culpa, o estou pronto, é o agora vai, é a surpresa não do que é, mas do revelar-se. E tudo o que parecia oficial, resolvido, carimbado, notarizado, cai por terra de novo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa

É só por hoje.
Ao que parece pelo menos alguém amanheceu menos triste.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

sábado, 25 de agosto de 2012

As dores alheias



Porém, quase nunca se tem a medida da dor e da delícia do que é ser o outro. O exemplo mais flagrante é que não se entende as chatices dos pais até ser pai ou mãe, esse é clássico. Outro é ser a favor dos direitos humanos dos bandidos até ter alguém próximo asssassinado. E por aí afora.

Mas não quero ir tão longe nem tão pesado, tenho estado envolvida em avaliações do que é o melhor para mim, e isso infelizmente envolve julgamento. Não me sinto ninguém para julgar alguém, mas como é somente para uso pessoal, não será um julgamento humilhante em praça pública onde defeitos, falhas de caráter e pequenas implicâncias serão expostos a toda a aldeia para decidir quem vai para a forca e quem se mantém vivo, então me concedi o direito de segurar a balança. Mas não pus a venda, porque estive com ela por muito tempo e ela só atrapalhou a minha vida, a justiça não devia ter venda, devia era ter mais olhos, e bem abertos.

Olhar e dar o veredito é fácil, eu procuro opiniões, adoro que as pessoas se metam na minha vida, obviamente meu júri é escolhido a dedo, e ver  todos os lados que não estou vendo por estar dentro ajuda muito. Eu já dei meu veredito final umas oito vezes, a minha incapacidade de tomar decisões rápidas sempre me caracterizou, por isso arrasto as correntes por tanto tempo. Mas graças a isso tenho muito poucos "E se" na minha vida.

É que acontece comigoo um fenômeno interessante - quanto mais velha, mais intrigante fica minha vida, talvez porque eu tenha aprendido mais, talvez porque tenha amadurecido, tenha tido sorte com as amizades que me cercam e que não estavam presentes antes, ou sei lá porquê, mas quanto mais intrigante mais dá o que pensar.

O que parece óbvio obviamente não o é. O que aos olhos do mundo é indiscutível aqui dentro de mim se degladia alimentado por momentos vividos, mágoas, aprendizados, uma identificação profunda de alma que não salta aos olhos de ninguém, só mora dentro de mim. Mas o que salta aos olhos de todo mundo também é de verdade. Sobre o que parecia resolvido, assinado, carimbado e com firma reconhecida de repente derramo uma xícara de café.

É nisso que dá saber demais das dores e delícias alheias. Fica difícil decidir onde deixar doer.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

...por um segundo



E de novo a sensação do acordar e a dor ter se esvaído, sumido ralo abaixo dos sonhos durante a noite, no redemoinho que leva os barquinhos no Triângulo das Bermudas. Na verdade ela esta lá sim, mas é uma dor que não dói como antes, é a dor viajando pelo tempo. E falando nele, "Você me dá um tempo? Eu preciso de um tempo."

Quem me dera eu poder distribuir tempo. Se eu fosse a senhora do tempo eu faria coisas impublicáveis com ele, enlouqueceria o mundo de vez. Mas definitivamente não saio mais dando uma coisa que nem existe. O que é tempo? Que horas são agora para os índios que moram no meio do Amazonas e nunca viram outras pessoas? Quantos anos eles têm? Quanto  dura uma dor de perda? E uma alegria? Quem disse que o Gregório podia simplesmente comer um dia e depois juntar ele de novo a cada quatro anos em um desrespeito flagrante à lua, ao sol, às estrelas, a quem orquestra o universo todo?

Quem sou eu pra dar tempo pra alguém? Meu caro amigo, falando em tempo, ele urge. E passou da hora de entender que as coisas são o que são e nós as queremos ou não. O tempo não tem tempo de resolver os problemas alheios. E ali adiante, bem perto mesmo, tem sempre alguém com tempo para mais uma palavra, mais uma taça de vinho, mais tempo só para jogar tempo fora.

 A música diz tudo, transformai, transformai, mas agora, porque tudo pode estar por um segundo. Eu já distribuí tempo demais, tempo que eu não tinha, tempo que não me pertencia, tempo que não existia, tempo que eu não queria dar nem emprestar nem alugar. Mas a ilusão de que ele passa continua. Passado, presente, futuro, a gente só usa isso para não enlouquecer porque o caos todo acontece ao mesmo tempo. Eu sou agora o que eu fui, e serei sempre, mas a ilusão do tempo que você mesmo desencadeou vai acabar me transformando em boas memórias.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


A vida é muito engraçada. Quer dizer, quando a gente está chorando, se descabelando e se esgoelando como eu costumo fazer em tempos de coração partido, não tem graça nenhuma. Mas o que eu ainda não consegui incorporar - porque aprender já aprendi - é que tudo passa (lá vem o clichê), e isso é clichê porque é de verdade, passa e muda. Aquilo que hoje parece pétreo e definitivo, desesperador e sem solução, ou ao contrário, lindo, perfeito, amanhã pode ser totalmente o oposto.

Essa transitoriedade das coisas não dá estabilidade para ninguém, e eu que gosto sempre de saber onde estou pisando e sempre ter uma margem de fuga vivo sempre on the edge. Eu queria aprender a encarar os desastres com placidez, os revezes como mudanças e nada como perpétuo, nem o bom, nem o ruim.

Mas eu tenho monstros no meu porão que se manifestam ao menor sinal de aborrecimento, para eles tudo teria que ser cor-de-rosa com florzinhas e unicórnios pairando, mas quando é eles ficam desconfiados e quando não é saem chutando tudo, fazendo drama, choro, ranger de dentes, arrastar de correntes, suor e sangue.

Eu passo por esses processos o tempo todo, não sei como sobrevivo. Não passei na fila da calma, tranquilidade, placidez, paciência. Sou raios, trovões e catacombes. Achei que com a maturidade mudaria, mas como minha idade física (por motivos que não vale a pena discorrer) não corresponde à minha adolescência mental, não adiantou nada ficar velha, só me trouxe, ao invés da experiência, mais histeria. Até meu útero poderia não estar já mais funcionando, mas não, ele continua lá impávido, justificando o adjetivo de histérica.

A única coisa que finalmente consegui foi tentar deixar de resolver os problemas que eu mesma crio. A tendência é que eu pare de criá-los porque não estou dando a menor bola para eles, ah estão aí? ok. vou ali tomar um copo de água. E respirar fundo, porque vocês vão se resolver sozinhos. Cansei. Vida, ande. Quero tirar umas férias.

sábado, 11 de agosto de 2012

Irresistivel




Eu só queria que tu soubesse que eu não vou sair de você. Vou me grudar nas tuas músicas, colar nos teus filmes, dar as caras nos personagens dos teus livros, aparecer de surpresa nas suas conversas com outras pessoas, inevitavelmente você vai me comparar com todo mundo e, por fim, vai perceber que não tem melhor que eu.
Caio Fernando de Abreu.


Tudo roubado dos outros mas tudo tao perfeitamente encaixado, engracado como todos vivemos as mesmas vidas.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012



Falando em donos do mundo, estive em Roma, conto aqui no Primeira Fonte.

Muitas coisas são suportáveis, apesar de não agradáveis. Outras, por uma questão de caráter e bom senso, são totalmente inaceitáveis. Hipocrisia é uma delas. Agora chega. Definitivamente.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012


Estou na fase seguinte do luto, que é sei lá qual. Já me desesperei, já fiquei com raiva, já me conformei e me desconformei de novo. Lágrimas, que pensei que não tinha mais, no meio do dia, no meio do gesto de ir pegar o café, no caminho da garagem, brotam, de novo, e a dor volta a não dar trégua, quando parecia que tinha amenizado. Está branda, é verdade, é aquela dor de background, eu sei que ela está lá, mas vou no piloto automático tocando a vida.

Eu pagaria muito bem por uma fórmula de como simplesmente desligar. Extirpar do coração a dor, da cabeça a saudade e da vida queria uma opção mais fácil, como por exemplo não ser tão apaixonada para fazer as coisas, não entregar o coração, não pular, não deixar acontecer, não, não.

Mas é só o não que continua sugando tudo, deixando um vazio triste, triste, triste.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012


Eu juro que não queria, porque sou a primeira a dizer que quem tem mágoa é o dono dela. Mas chegou essa  fase. Depois de muito pensar e descobrir o engodo, não consigo ser uma pessoa melhor. Só dor e mágoa. E a sensação horrível que as acompanha, de inutilidade, gratuidade, caminho que não leva a lugar nenhum. Atitudes sem nenhum senso, sem nenhum propósito, só o de magoar de volta. Mas há que se sentir isso também. Que dure somente o estritamente necessário e que os nãos parem de gritar tão alto dentro de mim.

terça-feira, 7 de agosto de 2012


E não é que o lusco-fusco da madrugada estava certo? Só que a queda não foi nem um pouco suave, agora é juntar os pedaços e entrar no conto-de-fadas onde tem príncipe, a vantagem é que doi menos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Eu preciso aprender a pôr a público somente o que eu penso quando já acordei. É embaraçoso o monte de bobagem que aparece por aqui de vez em quando. Ou quase sempre. Mas vou deixar aí para me lembrar de não fazer mais isso. Ou uma outra opção seria conhecer melhor a mim mesma e saber que não sou confiável, mudo de idéia a cada hora lunar, seja lá o que for isso. Pronto, mea culpa feita.

domingo, 5 de agosto de 2012

E chegada a hora



Vim aqui tirar a poeira saida diretamente de um sonho. Nao costumo lembrar sonhos ou quando me lembro sao tao nonsense que nem me importo em tentar interpretar. E que esse na verdade nao foi bem sonho, eu reconheci uma sensacao que ja tive algumas vezes ao longo da minha vida, mas que na ultima vez que falei dela, foi para outra pessoa.

Eu disse "Um dia a gente acorda e acabou. Nao esta mais la onde estava. Continua existindo, mas de outra maneira e em outro lugar dentro de nos, mas sabemos que ja nao e a mesma coisa". Nao convenci. Quando a dor e grande demais a gente se fecha a qualquer bobagem que ouve e isso deve ter soado como uma gigantesca estupidez. Mas eu sabia. E eu sabia que um dia poderia acontecer comigo e eu repetiria para quem ja ouviu.

Hoje eu acordei e todo um pacote de alegria, sofrimento, bons e maus momentos, os momentos mais intensos da minha vida, palavras, muitas, muitas palavras e a falta delas, a dor, a dor, a dor profunda, as adagas no coracao, a esperanca sempre presente, os olhares que hoje sei interpretar porque de repente nao estou mais cega, hoje eu abri os olhos, o dia nem tinha amanhecido, mas tudo isso ja tinha ido para o arquivo, para a twilight zone da alma, aquele dia que eu anunciei que chegaria para outra pessoa, com segundas intencoes, obviamente, chega agora para mim.

A gente pede, o Universo atende. So que sao necessarias algumas adaptacoes para acomodar os nossos pedidos realizados. Uma delas e a mais dolorida, e o deixar ir o velho para que entre o novo, deixar ir todo um pedaco de vida que eu so conseguiria definir sem palavras. Doi muito. Mas e totalmente obrigatorio. Por isso o cliche - tome cuidado com o que pede.

Mas quando chega neste estagio a dor ainda esta la mas e branda, e aquela dor com que convivemos como um objeto na casa,  a gente passa, algumas vezes ignora, outras so da uma rapida olhada, outras senta e chora na frente dele. Mas e uma dor necessaria, a dor do deixar ir.

E so abrir as maos. Eu ja tentei duas vezes mas trapaceei, deixei alguns dedos segurando um fiozinho de esperanca. Mas agora eu sei que chegou a hora de abrir totalmente todos os dedos. E a mesma coragem que foi necessaria para dar o pulo inicial. Mas uma hora a gente chega no chao, com tudo de bom e ruim, as feridas e a emocao da queda livre, mas o chao chega. E entao - surpresa - caimos suavemente sobre nossos pes e saimos andando na direcao do que nos espera. Os mais felizardos conseguem ir sem nem olhar para trás.


sexta-feira, 20 de julho de 2012



Amanhã pulo no avião de novo.

Grandes emoções no destino e na procedência.

Só para filosofar um pouquinho sobre viajar, escrevi lá no Primeira Fonte.

Aqui, gostaria de ter as palavras para definir o que é mudança, o que é a alegria de ver a hora certa das coisas chegando, o que é a responsabilidade de uma decisão que vai mudar vidas.

Mas não tenho. Fica registrado que eu sinto.

terça-feira, 10 de julho de 2012


Ainda que a razão tenha vencido e a certeza de se ter aceitado a única e correta opção sejam de certo modo um alívio, o fato consumado são mil adagas atravessando o coração. Só que pela última vez.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Depois



E sem mágoa, porque quem carrega a mágoa é o dono dela.

Gone.



E quando de repente tudo faz sentido é porque o coração finalmente alcançou a razão. Desistir de um grande amor acontece em fases, é como o luto. Primeiro existe uma luta interna onde a esperança levanta a cabecinha independentemente dos desastres óbvios e do mundo desmoronando. Tem o conformismo, a gente acha que não é tão ruim assim, dá para administrar uma dor aqui hoje, um desespero ali amanhã, a gente vai batendo nas arestas e ficando com hematomas, mas eles acabam sumindo, até as feridas mais graves acabam cicatrizando. Mas a cicatriz fica lá.

Tem também o momento de raiva, quando tudo vem à tona e nós tomamos a resolução e saímos desenbestados só para depois voltar atrás. Mas esse momento é crucial, porque quando finalmente percebemos que, apesar de ter voltado atrás, se não o tivéssemos feito o sol teria nascido de novo no mesmo lugar no dia seguinte, aí é que percebemos a ridicularidade das coisas e vem o auto-ódio mortal que contém o famoso onde-é-que-eu-estava-com-a-cabeça.

Todo esse processo dói demais, muitos preferem fechar os olhos, fingir que nada está acontecendo, para não ter que trocar uma dor pela outra. É a negação. Mas a dor permeia todos os passos, todos os pensamentos, toda nostalgia que ainda há de vir nos invade como maré que sobe e invade a casa.

A gente insiste mais um pouco, mas então vai vendo que nada muda, e como está não pode ficar. Então. Então chega aquela hora que a gente adia pro mês que vem, depois da viagem, depois da festa, antes do natal, fica esperando a nave mãe vir nos buscar pra não ter que tomar a atutude.

E então o fruto amadurece. E assim sendo, cai da árvore sozinho. Os acontecimentos - ou a ausência deles - caem no colo da gente, e finalmente o coração se rende e desiste de sofrer, porque ele cansa. Um dia ele finalmente cansa. O encanto simplesmente desaparece. Ainda que tenha havido arroubos, vórtices, breathlessness, paixão, loucura, isso tudo desce pelo ralo e eu me pergunto - para onde vão os amores que morrem? Para a twilight zone? Triângulo das Bermudas? Lado oculto da lua? Nárnia? Ou pro mesmo lugar que os pares das nossas meias e brincos desaparecidos vão? Não sei. O fato é que mesmo depois de lágrimas, ranger de dentes, suor e sangue, tudo perde o sentido e a gente se acha imbecil. Essa é a pior fase.

Eu já me perdoei. Porque escolho sempre me jogar, pular, e sei as consequências, então já entro sabendo o que pode acontecer. Quando acontece é resolver a logística, recolher os cacos, se recompor, aprender a lição, pegar um avião e ir para um lugar distante deixar a dor de cotovelo de lado.

Porque por mais clichê que isso virou, até perdeu a graça - mas é verdade - a fila anda.

domingo, 8 de julho de 2012

Eu não gosto do que você é, do seu comportamento e da sua empáfia. Mas reconheco seu direito de ser como bem entender, e te desejo sorte para lidar com as consequências. Só não quero mais ser cúmplice, vítima, motivadora e viver com uma adaga no meu coracão. Mas respeito sua escolha, só escolho ficar fora dela.

sábado, 7 de julho de 2012

Queda proibido



Como ainda estou sem palavras que expressem o furacão que está passando, que me substitua Neruda:


Queda prohibido...
Queda prohibido llorar sin aprender,
levantarte un día sin saber qué hacer,
tener miedo a tus recuerdos.
Queda prohibido no sonreír a los problemas,
no luchar por lo que quieres,
abandonarlo todo por miedo,
no convertir en realidad tus sueños.
Queda prohibido no demostrar tu amor,
hacer que alguien pague tus deudas y el mal humor.
Queda prohibido dejar a tus amigos,
no intentar comprender lo que vivieron juntos,
llamarles solo cuando los necesitas.
Queda prohibido no ser tú ante la gente,
fingir ante las personas que no te importan,
hacerte el gracioso con tal de que te recuerden,
olvidar a toda la gente que te quiere.
Queda prohibido no hacer las cosas por ti mismo,
tener miedo a la vida y a sus compromisos,
no vivir cada día como si fuera un último suspiro.
Queda prohibido echar a alguien de menos sin
alegrarte; olvidar sus ojos, su risa,
todo porque sus caminos han dejado de abrazarse,
olvidar su pasado y pagarlo con su presente.
Queda prohibido no intentar comprender a las personas,
pensar que sus vidas valen mas que la tuya,
no saber que cada uno tiene su camino y su dicha.
Queda prohibido no crear tu historia,
no tener un momento para la gente que te necesita,
no comprender que lo que la vida te da, también te lo quita.
Queda prohibido no buscar tu felicidad,
no vivir tu vida con una actitud positiva,
no pensar en que podemos ser mejores,
no sentir que sin ti este mundo no sería igual.
Pablo Neruda.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Que venga el toro



Eu venho adiando há meses para falar sobre isso, mas como agora já comecei lá no Primeira Fonte, ganhei coragem.

Eu fui ä tourada. A princípio por curiosidade, acho que faria mais sentido dizer "ir à Espanha e não ver a tourada"que "ir a Roma e não ver o Papa". E eu tinha perguntado a respeito a uma pessoa que me ensinou muito e muito sabe sobre muita coisa. Ele me deu uma perspectiva totalmente diferente, matar o touro é matar o animal que existe em nós, é evoluir. Eu tive que ir lá ver.

Nestes tempos ecológicos eu tenho medo de abrir a boca, porque primeiramente não acho que o diabo seja tão feio como o pintam, segundo, porque acho uma chatice, e terceiro, não, não faz diferenca nenhuma reciclar o lixo (mas mesmo assim eu reciclo). Crucifiquem-me, mas não dou a mínima para os animais em extincão, me peocupo mais com a extincao da civilidade e gentileza humanas. A priori, matar o touro é obviamente uma covardia. O espetáculo todo é uma covardia. O touro não tem a menor chance, el matador não mata coisa nenhuma, só floreia, porque o pobre do touro já está lá para onde os touros vão quando morrem.

Mas. Panis et circenses. Atire a primeira pedra quem não desacelerou para ver o corpo estendido na estrada no acidente de carro, quem já não brigou por ninharia, especialmente nestes tempos de futebol todos os dias. Nós amamos o espetáculo. Filmes de terror, suspense, investigacao criminal em detalhes, sangue jorrando, tudo isso alimenta o bárbaro em nós.

Obviamente estou falando de mim, tenho certeza que existem milhares de santos que estariam boquiabertos se estivessem me lendo. O nós é só permissão gramatical que me dei.

Mas a minha barbárie a princípio me assustou. Primeiro entrei para ver só duas corridas, depois, olhos estatelados, não havia quem me tirasse de lá antes do último suspiro do último touro. De todos os toureiros só um deu um grande espetáculo, os outros touros ao menos morreram com dignidade. Mas me apavorei com o prazer de ver isso, de olhar lá de cima da arena, o povo gritando, o touro sangrando, sendo arrastado, picado, a espada atingindo aquele ponto exato que o bom toureiro conhece. Me senti em Roma vendo os leões pisoteando os gladiadores. É surreal a viagem aos nossos primórdios que fazemos ao vivenciar uma experiência dessas, a luta, a sede de matar, os vivas ao vencedor covarde.

A questão filosófica de vencer o animal que mora em mim? Rá. O animal foi é libertado. Pensando muito já fiquei satisfeita em ter pelo menos refletido a respeito dessa minha sombra, que vive em mim e eu conheco tão bem. Nós todos temos, é só procurar, ao invés de deixá-la amordacada no porão. Porque um dia ela se solta, e aí é que mora o perigo. A minha sombra passeia solta pela casa, às vezes se manifesta, mas como está acostumada com a liberdade não tem necessidade de grandes arroubos. Descobri que essa é a melhor maneira de lidar com ela, a mais segura. Eu não sou plácida, porque o meu dark side espia por trás dos meus olhos o tempo todo. E o touro sai, deixando um rastro de sangue.

E ainda, vou extrapolar para outro departamento. Existe toda uma sequência de golpes para neutralizar o touro. Os picadores são os que na verdade tiram a vida do animal, em seguida os banderilleros o deixam desnorteado, e depois, EL TERCIO DE MUERTE, onde vem o golpe final. Eu venho pensando nisso a respeito do final de um grande amor bem vivido. É muito mais difícil que matar um touro. A gente neutraliza de toda maneira o sentimento, passa horas se convencendo que acabou, que sabemos o que é o melhor, mas só chegamos na colocacão das bandeirinhas. Diferentemente da tourada, o amor agonizante demora muito mais para se render. Voltamos atrás, percebemos de novo o óbvio, e tomamos coragem de pegar na espada. Mas é preciso ser um bom toureiro para um tercio de muerte decente. Eu tenho dado os golpes nos lugares errados. Existe o ponto exato que atinge o coracão do touro. Aí sim, é o fim. Eu ando meio míope. E o touro é valente. Mas não pus a espada de lado. O golpe final virá. Melhor preparar os lencos brancos.


domingo, 24 de junho de 2012

Não sei pra onde


Eu finalmente consegui entrar no barco. Sem bagagem, sem bússola, sem saber navegar. Eu simplesmente entrei e não sei pra onde ele vai me levar. Acho que finalmente estou chegando ao fim da adolescência tardia.

sábado, 23 de junho de 2012

Mas como não?


Pena que pena que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar 
Qualquer maneira de amor vale aquela 
Qualquer maneira de amor valerá 
Milton Nascimento 

São tantas as formas de amor que a multitude de sentimentos pode ser distribuída sem que nada afete o que é sagrado - o amor exclusivo que sentimos por alguém. Impossível não é amar duas pessoas ao mesmo tempo, impossível não é amar um filho mais que o outro, impossível não é amar nossos inimigos, impossível não é não amar, impossível é ter dois amores iguais. Fico embasbacada com a posssibilidade e a capacidade de amar tanto, tantas pessoas e de tantas maneiras diferentes. Até nossos ódios mais profundos e nossas negacões mais enfáticas estão dentro da classificacão de amor. Sentar sozinha na noite simplesmente amando, enquanto o mundo pulsa, isso é viver.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Fiat lux


Nunca na minha vida inteira eu encarei um dilema como esse que estou vivendo agora. Estou pra lá da meia-idade, porque nos 90 não sei se chego, então eu diria que é o turning point. Ou não. Pode ser o ficar-onde-eu-estou-que-dá-mais-certo.

Dúvidas tenho todos os dias, aliás indecisão faz parte da minha rotina, mas uma dúvida existencial dessas de escolha de um ou outro caminho é inquietante demais para a minha pouca competência emocional.

Nos últimos dias já mudei de ideia com toda certeza pelo menos umas cinco vezes. Tenho tudo resolvido, e aí uma palavra, um conselho de quem se importa, uma imbecilidade que pode ser um sinal dos céus, e eu desmudo de ideia de novo.

Meu prazo é virtual, mas quanto mais adio a decisão mais difícil ela fica, mais dolorosa e mais me parece que estou fazendo alguma coisa de errado. Estou? Não sei isso também.

Para os leigos a escolha parece óbvia, mas ninguém mora dentro da minha mente insana. Eu queria que fosse fácil, mas tenho dúvida até na hora de escolher o sabor do sorvete. O que você escolheria? O céu ou o inferno? A resposta é óbvia? Eu poderia escrever por três horas só sobre o que é céu e o que é inferno, e para quem. Classifica-se na mesma categoria de "o que é normal". Com certeza não sou eu.

Já pedi sinais aos céus, anjos e universos, e os sinais chovem. Só que cada hora eles parecem apontar para um lado. Já decidi entrar no barco e ver para onde ele me leva, mas o meu barco não tem piloto automático e nem correnteza tem no rio da minha vida.

E não posso e nem estou reclamando. É uma escolha vital mas é um privilégio poder fazê-la. E nada me parece irreversível. Ou tudo pode ser irreversível, não posso contar com a compreensão alheia.

Em suma, o problema vai ter que se resolver sozinho. Acabaram-se de esgotar os neurônios dedicados a esse assunto.

Decisão, seja tomada.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Roteiro



Eu me debato, me torturo, crio monstruosos cenários de terror.

Choro rios, olhos inchados, causas perdidas, dores agudas.

E depois um olhar, uma palavra, um gesto.

E tudo se desvanece no ar.

domingo, 17 de junho de 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Impressions




This is for you I know are coming here trying to understand me better but the language doesn't help.
Well, I loved the song. You want my impressions. Not long ago I told you the same. Other impressions only in person. And don't bother knowing what the rest means. What is gone, is gone.
xoxo

Still...


E com tudo (separado mesmo), apesar de tudo, por causa de tudo, ainda com a coragem que me tomou, ainda com a consciência plena, com o coração aberto ao que vem e todas as mãos amigas estendidas, por tudo o que foi eu ainda sangro.

domingo, 10 de junho de 2012

Isso é pergunta que se faça?



Quando alguém faz a prosaica pergunta "Posso te magoar?" a resposta óbvia deveria ser não, mas já que é tão surreal a pergunta, eu dei autorização.

Assim como tudo que vivemos, é com autorização. Não ouvi nenhuma novidade, mas as palavras têm um poder de rasgar a gente por dentro que até as mesmas obviedades que a gente se permite ignorar pra depois sentir um vazio por dentro acabam repetindo o efeito.

Quem pergunta posso te magoar mereceria a resposta pode jogar suas migalhas para os passarinhos, eu não as quero mais. E quem autoriza merece o que ouve, mas não necessariamente precisa continuar ouvindo. E nem autorizando.

Só que para chegar a isso, milhares de adagas atravessam nosso coração, rios de lágrimas pendem dos nossos olhos, esgazeamos o olhar no escuro em incredulidade. E continuamos permitindo até reunir coragem suficiente para dizer não, não mais.

Eu estou chegando lá. E não é por falta de aviso que eu vou ter que ouvir alegações de desconhecimento de causa. A minha mesa está por demais cheia de pães para eu ter que me abaixar para pegar migalhas.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Caminhos



A minha amiga Luci postou por aí esse vídeo. Eu du-vi-do que ela não tenha pensado em mim (né Luci?) quando viu.

O fato é que além de ser lindo, algumas coisas caem no colo da gente na hora certa. Esse vídeo é o resumo dos meus últimos meses, e ultimamente de um zumbido passou a ser uma gritaria no meu cérebro - e agora? Porque não são só "coisas" que caem no colo da gente.

O que se faz quando se abrem dois caminhos e a gente não sabe qual deve seguir? Já tentei o método racional, empatou, porque tudo tem seu lado terror e tudo tem seu lado coraçõezinhos. Até agora só disse obviedades mas como estou falando comigo mesma vou continuar mais um pouco.

Eu que muito me gabei de querer viver fora do quadradinho já me flagrei e já morri de vergonha de mim mesma me agarrando às bordas do referido quadradinho, mas continuando a reunir coragem pra sair dele. Então vem a vida e me joga um quadrilátero mais que perfeito, eu diria assim, real, no sentido de realeza. E agora como se não bastasse as 8432 questões práticas (tudo ao mesmo tempo agora) que eu tenho pra resolver, agora não sei se vou, se fico, se pego o avião, o carro, o trem, o navio ou o ferryboat.

Se não fosse comigo eu estaria morrendo de rir, e se não fosse o tom dramático do moço do vídeo, eu riria dele também e diria: viu? quem mandou não enxergar o óbvio? a fila anda, etc. etc. Mas é comigo e eu não estou achando graça nenhuma e não quero que ninguém fique igual ao moço do vídeo.

Eu estou aqui sentada escrevendo e pasma de ainda não ter desintegrado com essas questões de decisão de vida. Isso deveria ser proibido por lei. Simplesmente não sei o que faço. É isso. Fim.
Você já matou o seu dragão de hoje? Eu tenho uma fila lá fora esperando a vez. Mas com a Alice é diferente, veja lá no Primeira Fonte.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sim, sim


Demorei 45 anos para aprender um segredo básico da vida. Escuto e concordo com tudo o que me dizem, me pedem, me mandam, me imploram, me exigem. E faço o que quero, o que acho que devo e o que me dá na telha. Eficiência maior não vi ainda.

terça-feira, 29 de maio de 2012

É chegada a hora


Quando a gente não sabe o que decidir e fica se martirizando, elucubrando nos prós e contras, pesando isso e aquilo, é exaustivo. Usar o racional é queimar neurônios. Querer racionalizar sentimento é perda de tempo.

Mas quando a gente já sabe o que tem que fazer e não tem coragem, por uma nostalgia boba que ainda vai vir do que ainda não acabou de acontecer, é pior ainda. Porque é burrice. O coração é burro.

Há que se desligar os aparelhos que mantém o amor desenganado respirando. Para que no quarto ao lado seja dado outro à luz.

domingo, 27 de maio de 2012


Eu nem sei dizer por quanto tempo tenho vivido com tanta intensidade que a médica diagnosticou que eu sou magra por auto-consumação. Eu já havia percebido que não conseguiria nunca mais viver como zumbi que fui durante tanto tempo, mas não pensei que sem artifícios discutíveis, como por exemplo, álcool, drogas, e coisas do tipo, eu conseguiria sentir tão intensamente. Ser capaz disso é ao mesmo tempo extraordinariamente excitante como profundamente desgastante. Eu estou exausta. Não de viver, mas de viver TANTO.

Mas existe a vida - não vou dizer real porque teria que entrar em uma discussão longa sobre qual é a vida real, então digamos, a civil. A gente vive em sociedade e por menos que goste e por mais que consiga driblar tem regras a cumprir. Trabalhamos, pomos as máscaras todas as manhãs, vamos vivendo com elas ao longo do dia e caímos no abençoado intervalo do sono sem o qual eu já teria explodido de tanta vida de olhos abertos.

Então eu vivo. Jamais me senti tão viva como nos últimos tempos, e a vida vai se acumulando e transbordando,   saindo pelos olhos, pelos poros, deixando a sensação de excesso de cafeína ou o barato do açúcar em criança. Esses são os picos. Os vales também são profundos, porque a minha capacidade de sofrer também é de matar, poderia explodir disso também.

Há alguns inconvenientes porque acabamos, com uma vida dessas, ficando mal-acostumados. E quando não há fogos de artifício - sim, porque eles não explodem o tempo todo - achamos que estamos perdendo algo. Eu ando me perguntando para onde foram algumas coisas que eu sentia com tanta intensidade que até doíam. E começo a perseguir novidades que provavelmente vão acabar no mesmo caminho.

Eu tenho muita coisa acontecendo ao mesmo tempo agora. Talvez quando as partes práticas se resolverem - porque elas se resolvem, por mais drama que eu tente fazer, acabou a graça, porque tudo passa, tudo se resolve, eu faça a minha escolha finalmente. Eu já não tenho idade para tanta intensidade, meu coração me pede encarecidamente pra sossegar. Obviamente não vou fazer isso, mas tenho que achar o equilíbrio, parar de tentar querer tudo porque a mãe dos clichês é que a vida é feita de escolhas. E é mesmo. E a avó dos clichês é que tudo passa. E passa mesmo. Mas a gente tem que trilhar o caminho para descobrir. Como trilhamos é que é a escolha. Vamos ver se meu coração aguenta mais muitos anos de insanity, porque a outra opção vai acabar me matando cedo demais.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Diálogo rápido


A música começa a tocar no piano em alto-mar.
Os primeiros acordes coincidem com as primeiras lágrimas.
Ele diz - o que foi?
Eu digo - nada.
 - você está chorando?
 - estou.
 - por que?
 - por causa da música.
 - mas por que? te lembra alguma coisa?
 - não, absolutamente nada aconteceu comigo ao som dessa música, nem bom nem ruim.
 - então por que está chorando?
 - porque ela toca na minha alma.
E o pior é que eu não me lembro que música é.
Mas nem por isso da próxima vez ela vai deixar de tocar na minha alma de novo. Que bom, porque vai ser uma surpresa.

Para não dizer que não falei de flores


Estou falando delas lá no Primeira Fonte hoje. Mas tenho mais a dizer, depois venho aqui contar os detalhes. Há tanto mais a dizer.

quinta-feira, 17 de maio de 2012


Todo mundo reclama do frio. Os meus comentários hoje estão no Primeira Fonte.
E você, já provou da romã? 
Até Hades convenceu Perséfone com ela...

sábado, 12 de maio de 2012

Para hoje não temos arrebatamentos



Essa é bem velha. E até um pouco breguinha. Mas tem coisa que encaixa tão perfeitamente que não interessam os detalhes. Há muito, muito tempo eu não vivia a aventura em um mar tão calmo. Os mares calmos também têm seu appeal. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Datas, Lugares, Sentimentos

Nota da Escrevinhadora: Eu tive a honra de ser convidada para escrever em um jornal virtual que é tudo de bom. Meus posts de lá a priori vão ficar só lá, mas hoje eu estou com ares familiares soprando muito de perto, por isso desta vez o que esta lá, no Primeira Fonte vai estar aqui também.




Eu sou mãe, tenho mãe, tive vó até um bom tempo. Mas não vou falar de Dia das Mães. Eu odeio todos os Dias de alguma coisa. Nem vou entrar no mérito do comércio, mas acho que é porque sou mesmo uma pessoa horrorosa. As homenagens me dão canseira e acho tudo muito chato. Eu cumpro a tabela, porque vivo em sociedade, portanto tenho que ao menos parecer normal.

Porém frequentemente sopram ares familiares ao meu redor. Eu sou primeira filha, primeira neta, sobrinha, etc., a mais estragada e no entanto a que tem um senso de amor familiar mais depurado, com toda modéstia.

Meu avô nasceu na Ilha da Madeira, em Portugal e muito pouco convivi com ele. Quando ele se foi eu tinha sete anos e ele foi longe de ser o avô que meu pai é para minha filha. Sisudo, eu nem me lembro da voz dele, só guardo com amor o anel de ônix que ele me trouxe quando foi ver pela última vez a terra mãe, já de avião, o que era o luxo dos luxos nos idos de 1970.

Na verdade eu tive mais contato com a minha tia Paulina, irmã dele, apesar de nunca tê-la visto. Nós nos correspondíamos. Sim. Carta. Papel. Caneta. Ir ao correio. Era uma emoção para mim, sabe-se lá para ela. Os primos que vinham de Portugal sempre traziam as recomendações de saber como eu estava.

Eu fui a Portugal com vinte e poucos anos e não a visitei. Com vinte e poucos anos a gente acha que tem coisas importantíssimas para fazer em uma viagem e acaba deixando de lado o que interessa, mas é assim. Pouco tempo depois ela se foi também, e meu primo disse, perdeste a oportunidade de vê-la, ela queria tanto.

Há um mês atrás, depois de muito viver, conviver com família, ganhar membros novos, perder insubstituíveis, fiz o caminho inverso ao do meu avô no começo do século. Fui de navio à Ilha da Madeira. Ao chegar, perdida, com um papelzinho com meio endereço, porque na época em que minha tia me escrevia a aldeia era tão pequena que todo mundo sabia quem ela era, nem sabia se queria ir procurar, com medo da decepção de não achar.

Mas os anjos me mandaram o seu Virgílio, o motorista de táxi. Ele não só me levou à Ponta do Sol como foi mostrando tudo o que tinha até lá. Bananeiras a perder de vista. Mas ao chegarmos a mini aldeia era um bairro inteiro e não se tinha como saber onde nascera meu avô e onde morara a Tia Paulina. E novamente os anjos me deram vontade de tomar café e eu fui tomar café no café do marido da afilhada da Tia Paulina. Como foi isso? Sei lá, começamos a falar de nomes, sobrenomes, ele teve um clique e disse – mas é a madrinha da minha mulher!



Lá fui eu para a casa da tia Paulina e de repente o bairro todo sabia quem ela era e onde era a casa, e eu fui lá, coração aos pulos, passando pelas ruelas, casinhas, casonas, bananeiras sem fim (a Ilha da Madeira produz bananas pacas) e chego em uma casa com uma senhorinha lavando o quintal. “A senhora sabe onde era a cada da D. Paulina”. “Ó, pá. Claro que sei. É esta aqui.” Depois das explicações de quem eu era, vi a casa toda da minha tia Paulina das cartas de 35 anos atrás, pus as mãos nas paredes e ainda vi uma foto que a Dona Amália, a nova proprietária guardava com carinho – uma foto igualzinha a uma que eu tenho comigo, do meu avô bem pequeno com os irmãos.



Eu realmente sou uma ovelha negra. Não compareço a aniversários, não comemoro datas, não visito bebês e doentes, sou péssima anfitriã. Mas voltar à casa onde meu avô nasceu foi uma coisa que não vou saber descrever. É um sentimento maior que família, é como se eu estivesse, por exemplo, em Marte, e visse um outro terráqueo. É a sensação que a gente tem quando ouve um brasileiro falando em outro país. Fazemos parte. Os genes fervilham dentro do corpo. O coração reconhece o lugar onde nunca estivemos fisicamente. Eu fiquei lá tocando, sentindo os cheiros, o sol, vendo o mar através das bananeiras e imaginando que parte de mim ficou lá sem eu nunca ter ido antes e que eu estava reencontrando.

As fotos e a história causaram furor na família aqui no Brasil, especialmente no meu pai. A mim foi acrescentado um sentimento que eu ainda não tinha catalogado e nem sei o nome. Mas preenche tudo, corpo, cabeça, coração.



domingo, 6 de maio de 2012



Hoje é um dia especial para alguém, o que o torna especial para quem o cerca.
Hoje não dirigi até você, mas foram muitas as noites.
E ainda que a presença não seja física, a sensação de paz, de tranquilidade, enfim, acalenta.
E ainda assim o furacão não deixa de rodar dentro de mim.
Ainda haverá muitas noites driving to you.
Feliz Aniversário.

sábado, 5 de maio de 2012

O que é, é.


Eu finalmente consegui saborear o momento sem a dor.
Algumas coisas simplesmente ficam, não como queremos, na verdade nem queríamos que ficassem.
Mas é inexorável. Elas são o que são e sempre vão ser.
Deixemos os esqueletos no armário.
Eles às vezes pulam, mas o ataque com o tempo não dói mais.
E chega a ser revigorante, uma tomada de fôlego para continuar.

Sonhamos com a neve


Tive a honra de escrever sobre o lançamento de Sonhei que a Neve Fervia, aqui.
Eu ainda preciso de mais uns dias para digerir tudo o que pensei sobre os laços que nos unem e nos separam e depois unem de novo, o que a dor produz que pode ser bonito, e como ver a maturidade aportando é recompensador.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mentiras?


Isso ate pouquissimos dias fazia todo o sentido. E de repente esmaece, vai desbotando, fading away, meu deus, o que eu estou comecando a perder? Para onde esta indo o vortice, a respiracao entrecortada, o coracao que saia pela boca. Eu quria era que eu voltasse para mim mesma. Mas ja nao sei se e tarde demais. Eu lamento tanto se for.

sábado, 28 de abril de 2012

Early or remaining?


Quem diria que com tão pouco frio uma atrevida floresceria?
Ou será que ela sobrou aí e eu fingi que não vi?
E note-se que todas as outras estão para explodir.
A vida é mesmo cheia, cheia de surpresas.

segunda-feira, 23 de abril de 2012



A vantagem de não se ter mais nada a perder é que perdemos o medo de perder. O melhor é se dar conta disso. E então, apesar da dor ainda continuar lá, pode haver a surpresa de ganhar.

domingo, 22 de abril de 2012

Quando...


Quando, deuses, é chegada a hora de parar? Eu dei a volta no tempo e no espaço e caí no mesmo lugar. Como saber onde é o limite e quem escolher para determiná-lo, coração ou razão? Quando é hora de parar de ignorar o óbvio, ululante e gritante? Quando preciso parar de ouvir o que não está sendo dito e assimilar o que está sendo repetido ad nauseam e eu insisto em fingir que não entendi? Quando e onde foi que a esperança virou obsessão? Quando foi que eu fiquei cega ou decidi me deixar iludir porque a outra alternativa dói demais? Mas e se. Mas e quando. Só que não é não. Algumas coisas simplesmente não acontecem por mais que insistamos nelas. E a paralisia que se instala é assustadora. Mas a consciência da inutilidade de tanto investimento emocional é o mais pungente. E a dor mais aguda. E nao ha culpados. Simplesmente há coisas que não são. Essencial agora é fazer a escolha de continuar fingindo que pode ser ou simplesmente abrir a mão e deixar ir.

domingo, 11 de março de 2012



I have just received this as a gift. I couldn't be more moved. Thank you.



So here we stand
In our secret place
With a sound of the crowd so far away
And you take my hand
And it feels like home
We both understand it's where we belong
So how do I say, do I say goodbye?
We both have our dreams
We both wanna fly
So lets take tonight
To carry us through
The lonely times
I'll always look back
As I walk away
This memory will last for eternity
And all of our tears
Will be lost in the rain
When I've found my way back to your arms again
But until that day
You know you are
The queen of my heart
Queen of my heart
So lets take tonight
And never let go
While dancing we'll kiss
Like there's no tomorrow
As the stars sparkle down
Like a diamond ring
I'll treasure this moment till we meet again
But no matter how far (matter how far)
Or where you may be (where you may be)
I just close my eyes and you're in my dreams
And there you will be
Untill we meet
Oh yeah...
You're the queen of my heart... (queen of my heart...)
No matter how many years it takes... (queen of my heart...)
I'll give it all to you...
Oh yeah... (queen of my heart...) oh yes you are...
The queen of my heart

sábado, 10 de março de 2012

40


As coisas têm o significado que atribuímos a elas, não há verdades absolutas e definições definitivas. Por isso cada um tem o direito (nem sempre e nem em todo lugar) de acreditar naquilo que quer. Eu sou uma pessoa de ciências humanas, mas os números sempre me chamaram a atenção, me aprofundei um pouco em Pitágoras e achei fascinante, porém minha mente não foi construída para isso e meu entendimento é bem limitado, e acho que estou perdendo muita coisa, mas não se pode ter tudo.

Longe da ciência muito se fala de numerologia, do que eu entendo menos ainda, tenho umas vagas noções vindas de leituras por mera curiosidade (eu quero saber tudo, quase tudo me interessa).

E um número especificamente tem um significado muito ligado à religião, e em plena quaresma, venho aqui falar do número 40. Moisés ficou 40 dias e noites no Monte Sinai para receber a Torah. O povo escolhido (não vou discutir quem escolheu ou quem se achou preterido) passou 40 anos no deserto a caminho da Terra Prometida. O dilúvio durou 40 dias. Jesus por sua vez passou 40 dias no deserto sendo tentado por ___ (preencha aqui o nome que você gosta de dar a ele, minhas opiniões a respeito dele são controversas) e depois da ressurreição esteve na Terra por 40 dias. Essas são as familiares para mim, tenho certeza que outras crenças devem ter seus números 40, que por sinal creio que está presente em medidas templárias da maçonaria, maçons me corrijam se eu estiver falando bobagem, afinal sou mulher não posso ser maçom [:-)].

E os bebês né? 40 dias para se transformarem em feto e quarenta semanas para nascerem. No caso do sexo masculino, 40 anos para amadurecerem (na melhor das hipóteses), mas isso é só uma gracinha.

Enfim, quis discutir comigo mesma todos esses 40 (e eles estão fervilhando no meu cérebro que está em overcapacity por sinal, porque tudo resolveu acontecer ao mesmo tempo) porque vou ter eu mesma um período de 40 dias. De que? Sei lá, ainda não consegui entender muito bem. Vai ser um período longe de casa, de filha, de família, de trabalho, de rotina. Sozinha? Não, o que adiciona todos os complicadores possíveis. Mas serão 40 dias tão marcantes quanto todos os outros aí de cima. Como sempre não estou preparada mas me jogo mesmo assim.

Vou ali fazer as malas. Que minha quarentena seja minha purificação, porque com certeza alguma coisa me contaminou.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Observações óbvias que poderiam ter poupado muito drama


Ontem eu tive um dia de felicidade tão intensa que nem consegui ter fôlego para descrever. Ao meu modo, claro, porque a minha felicidade não é contemplativa, ela é escandalosa, exagerada, pula por todos os poros e faisca nos olhos. Não aconteceu nada  espantoso, arrebatador, extraordinário, fascinante (chega de adjetivos). Não, foi só a vida tomando seu rumo mesmo. O que foi espantoso, arrebatador, extraordinário e fascinante foi finalmente notar que ao seu tempo a vida toma seu rumo. Isso existe, apesar de em alguns momentos a gente ter a sensação que os trilhos foram tirados do caminho. E dia a dia vou descobrindo a fórmula. E em alguns momentos eu não descubro, ela se revela, e as sementes plantadas lá atrás despertam.

Talvez a arrebatadora lua cheia de ontem tenha tido participação.

Mesmo que às vezes não pareça, temos momentos em que finalmente aceitamos que Viver é Possível.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Aliquando et insanire iucundum est - Seneca


Restlessness is discontent and discontent is the first necessity of progress.
Show me a thoroughly satisfied man and I will show you a failure.
Thomas Edison



Eu venho querendo escrever há muito tempo. Mas os acontecimentos estão me atropelando. Quando eu penso em refletir sobre alguma coisa, mais oito fichas caíram na minha cabeça. Vai ver o mundo vai mesmo acabar em 2012, ou vou ser abduzida, e já cheguei dramaticamente a pensar que devo estar à beira da morte, porque tudo está acontecendo ao mesmo tempo agora.

As partes práticas, materiais da vida começaram a tomar rumos que se apresentam para mim como encruzilhadas com 10 opções de caminho, todas boas. Isso obviamente não é uma reclamação mas a minha mente de ciências humanas demora a se acostumar com isso e tende a querer filosofar o que é pura matemática. Ainda bem que tenho boa assessoria de todos os lados, até para isso.

E os esqueletos do armário? Meu Deus, em dois meses surgiram todos os que estavam lá e que eu sabia, os que eu não lembrava, os que eu não sabia e alguns que devem ter se esgueirado recentemente porque eu nunca imaginaria.

A minha vida sentimental é o caos total, sempre foi, e quando não foi quase morri de inanição por falta de emoção. O que não está faltando agora é emoção, que até está precisando ser devidamente domada com um remediozinho inocente para eu não despirocar de vez. Mas o fato é que amadureci. E o outro fato é que a gente pede as coisas e não tem idéia de que elas vem mesmo, e quando caem no colo da gente é aquela expressão de abobalhada.

A rotina é difícil, filha adolescente é um maravilhamento que às vezes irrita (na maior parte do tempo), a minha cabeça não colabora e produz problemas e dramas onde eles não existem (para tudo), e eu absolutamente sei mas mesmo assim mato um leão por dia tentando domar os cavalos desgovernados que correm dentro do meu cérebro derrubando a pouca sanidade que me resta.

Há alguns anos eu nem imaginava que teria a vida que tenho hoje. Como a de todo mundo, é louca, complicada, difícil de administrar, quem tem uma vida diferente, perfeita? Mas eu achava que tinha, e não entendia porque era tão infeliz. A vida perfeita e sem problemas é a vida infeliz. Porque nós fomos feitos para procurar, fuçar, fomos feitos para viver. Mas eu tive coragem e pulei. Já quebrei todos os ossos emocionais possíveis, mas sobrevivi. E agora parece que vem a calmaria. Mas a minha calmaria não é calma. Calmaria para mim é quando estou vivendo tão intensamente que sinto fisicamente a palpitação do universo.

Viver de verdade é não ter sossego. Demorei tanto a descobrir isso, que me seja permitido nunca querer sossegar.