sábado, 10 de maio de 2014
É o que temos para o momento de dia das mães
Eu ando desaparecida daqui, o que significa que me afastei de mim mesma para ter uma perspectiva. Tenho posts para inserir aqui mas por estar peregrinando eles só vão sair do moleskine para o digital quando eu estiver de volta para um lugar que não sei se posso chamar de casa. Mas o assunto não é esse.
Eu não gosto de comemorações coletivas, dia disso ou daquilo, usando o clichê, "é tudo comércio". Porque é mesmo. Mas parece que como castigo, só por isso, vou ter que passar por três dias das mães. Daqui a algumas horas no Brasil é dia das mães. Semana passada passei pelo primeiro. E dia 25 vem outro. Esses são os que eu sei, quiçá tem algum outro no caminho.
Hoje na pausa das andanças, e na cobrança, na pressão e no drama da que é a razão de eu me encaixar na categoria de quem deveria celebrar dia das mães, vim aqui escrever só por rebeldia mesmo. Chove muito e eu já tomei minha cota diária de chuva e obras de arte hoje, posso vir aqui fazer mimimi.
Folguei em observar que muitas amigas (que são minhas amigas também por esse motivo) também odeiam ou odiavam (pelos filhos já terem passado da fase) as festinhas escolares de dia das mães. Outras, as estreantes, cujos presentes da escola ainda são mãozinhas na camiseta, panos de prato, enfim, essas preciosidades, ainda acham tudo lindo, com fotos dos rebentos estampadas pra todo lado e o pobre do pai quando presente tem que cuidar do verdadeiro presente que não seja um eletrodoméstico, para não alongar os dramas.
Eu não gosto de festinha escolar, não sou fã de almoços familiares, apesar de, agora que já há alguns anos que parecem muitos, demais, depois da minha vó ter partido e nos deixado todos órfãos, eles fazerem uma certa falta. Com a minha mãe tenho tudo resolvido, hoje posso estar do outro lado do oceano e falar com ela pelo skype (mãe moderna) que não vai ter drama, sangue, suor e lágrimas. Presente dou quando posso e quando tenho vontade, não preciso de data, e ela sabe que meu amor não se mede com presente.
Já na outra ponta da corda o drama é a palavra de ordem. Eu estou a muitos, muitos quilômetros de distância. E isso caracteriza abandono, na opinião da interessada. Aqui vai então um recado para todos e todas as interessadas: mãe quando pare não deixa de ser humana. Não deixa de ser um ser separado. O cordão umbilical é cortado no nascimento - os dois, o físico e o outro. Mãe ama o(s) filho(s) mais que qualquer coisa, e as únicas pessoas que nos amam incondicionalmente e para sempre são nossos pais. Isso não significa que as únicas mães que têm valor são as mater dolorosa. A igreja, a sociedade estabelecida e outras instituições mais nos convenceram que mãe tem que sofrer. Mas não tem não. A gente sofre quando sofre mesmo, de preocupação, de amor, de querer o melhor, de desejar que o mundo poupe os nossos filhos, mas ao mesmo tempo sabendo que somos meros instrumentos de entrega para o mundo, que faz com eles o que quer. Mas não é obrigatório ser a sofredora. Eu me recuso, assim como tantas outras mães.
Mãe tem vida. E nem por isso deixa de amar filho, isso não acontece nunca. Mãe tem direitos, necessidades e vontades - você tem fome de que? mãe também não quer só comida, ela quer comida, diversão e arte. E sai pra buscar. A menos que o filho seja totalmente dependente dela por qualquer motivo - idade, necessidades especiais, whatever - ela não tem que arrastar nada pelo cordão. Ele foi cortado, ponto. Nem toda mãe faz a mesma coisa. As que querem ser mães full time têm toda minha admiração e respeito. A minha foi, o resultado foi excelente. Eu não sou. O resultado vai ser aquele que a minha cria quiser criar.
Eu não tive dor para parir. Eu marquei um dia, fui lá e cortei a barriga e tirei de dentro. Quer sofrer vinte horas de dor? Acho digno. Respeito e acho que cada um tem a dor que quiser. Eu sou covarde. Nem por isso eu deixo de ser mãe. As mães se fazem, nascem junto com os filhos. Cada um tem a mãe que a ele foi reservada. Eu não atendo expectativas. Eu vou sendo.
Eu pari. E vou me parindo como mãe com o tempo. Dia das mães eu não mereço (nos dois sentidos). E a grande ironia do universo vai me fazer passar por ele três vezes. Acho que foi para eu pensar. Que bom, porque agora ficou claro.
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