terça-feira, 31 de maio de 2011
Os últimos dias vêm sendo insanos, e então me ocorre, todos os meus dias são insanos, de uma maneira ou de outra, eu vou pulando de uma insanidade a outra sem trégua. As nuances é que vão mudando, e a atual vem me consumindo, como todas as outras, como é, como é para mim sempre, pela mania de querer extrair da experiência até a última gota, passando pela dor. Mas o momento agora é de desabrochar. É um momento esperado de superação, de um passo dado. Futuro não há. Para ninguém. Que venha o momento então. E que a intensidade renove meu sangue para as próximas insanidades.
sábado, 21 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
Turning points
Em determinadas vidas, a uma determinada altura, a mudança se faz fundamental, não só recomendável, mas assim, vital, mesmo. Eu já tive dois pontos em minha vida onde era mudar ou morrer, e sinto que se aproxima o terceiro.
Todo mundo sabe que todo pai e mãe faz o que considera o melhor para a prole, ainda que não tenha a menor ideia de como fazer isso. O que resulta em geral é que o melhor que foi feito em grande parte não é o melhor que a prole gostaria. E acabamos vivendo a vida não como escolhemos, mas como escolheram para nós. Obviamente há honrosas e numerosas exceções, e tanta gente cedo percebe que o que se disse que era o certo não o é, e melhor ainda, que o certo não existe.
Porém o que acontece com não menor frequência é que aquilo que engolimos como certo acaba sendo o mais fácil, o mais cômodo, o que dá menos trabalho, e estabelecemos a famosa zona de conforto, e para não sair dela colecionamos desculpas - devia ter feito isso quando era jovem, tenho minhas responsabilidades, meus filhos são pequenos ainda (e repetimos o erro), dá muito trabalho, é impossível - enfim, a lista vai longe. E vamos vivendo nossa vida entre almofadas, e elas vão ficando tão fofas que acabam um dia nos sufocando.
E esses são os turning points. Não que eles necessariamente acontecem, na maior parte dos casos eles não acontecem, por isso os hospícios andam lotados, a indústria farmacêutica fica cada vez mais poderosa e os psiquiatras cada vez mais ricos. Porém, em algumas vidas e nessas eu me incluo, não há opção. Repito, é mudar ou morrer - literalmente ou não, porque já estive zumbi - morta em vida. O que me assusta é que estou atingindo um ponto em que sabe-se lá até onde vai a literalidade.
Essas epifanias tomam um tempo para se desenvolverem em atitudes. Eu já sei que chegou outra encruzilhada. O que fazer com isso ainda preciso determinar. Engraçado é que são processos que podem ser os mais diversos. Na primeira vez decidi e pronto, é isso que tenho que fazer, talvez a ideia viesse amadurecendo há anos, mas fui lá e fiz. Na segunda precisei comer o famoso pão que o diabo amassou pra deixar de ser teimosa, e cheguei bem perto da literalidade. Como vai ser agora? Não sei. Já recebi uma sugestão de simplesmente fechar os olhos e pular. É uma boa sugestão. Só preciso achar o precipício do qual quero dar o salto, e tem que ser um bem diferente dos que eu frequentei até agora, porque até hoje só caminhei na beira, olhei para baixo e me afastei de volta para onde estavam as almofadas.
Porém, quanto mais eu vivo menos em me conformo com o suficiente, com o normal, o comum. A minha fome se multiplica. Os abismos vão ficando cada vez mais fundos. E quanto mais fundos maior a vertigem, e maior a vontade de finalmente sentir a sensação de ir caindo, caindo, caindo.
domingo, 15 de maio de 2011
Conto de fadas
Era uma vez um príncipe que vivia em um reino distante, muito distante, independente do ponto de referência. O príncipe era muito bonitinho e gostosinho, mas como todo nobre que se preza, ele tinha problemas existenciais. Ele já tinha tido princesas, algumas duraram muito, outras nem esquentaram a coroa, mas ele teve uma em especial que ele cismou que era a que devia usar a coroa. Acontece que essa princesa específica por um tempo até usou a coroa, mas por algum motivo não lhe caía bem, e ela um dia montou em um cavalo no meio da madrugada e caiu no mundo para nunca mais voltar. A única coisa que ela deixou foi um pé de um par de sapatos que ela derrubou acidentalmente ao arrumar a bagagem na calada da noite. Claro que isso deu um toque de Cinderela à história, mas já que estamos falando de realeza, que seja.
O príncipe obviamente ficou arrasado, tentou encontrar a princesa que fazia seu coração pular, mandou mensageiros, mercenários, uma pena não ter GPS naquela época. Mas nada dela aparecer, porque quando uma princesa não quer, não importa o que o príncipe faça, ela não vai ser achada. O príncipe chorava dia e noite inconsolável e mirando o sapato, já pensando em procurar a dona do pé que se encaixava nele.
E assim fez. Experimentou o sapato em várias donzelas do reino, em outras tantas não tão donzelas, e até nos reinos vizinhos, mas nada da princesa, que a uma altura dessas nem lembrava mais do príncipe e não sentia a menor falta da coroa que incomodava a cabeça dela.
Um dia em suas andanças o príncipe encontrou uma princesa que estava ela mesma se recuperando da fuga de um príncipe. Ele pediu a ela se poderia experimentar o sapato, ela consentiu, afinal não tinha nada a perder. E obviamente o sapato não serviu (mesmo porque o pé da princesa anterior era enorme e feio, e o desta não era). O problema é que o príncipe sabia que estava sendo um pouco imbecil em ir encaixando o sapato em pés alheios, porque não era cego e viu que aquela não era a princesa que ele buscava.
Mesmo assim, essa princesa nova andava cheia daquelas paragens que andavam monótonas, e ele convidou-a para morar no seu reino, mas dentro de algumas condições. Ela poderia viver lá, usufruir da companhia dele, privar de sua sala de jantar e outros aposentos reais, mas não poderia receber o título de princesa, porque esse título era da dona de seu coração, ou quem sabe de alguma outra cujo pé encaixasse no sapato.
A princesa gostou do acordo, o príncipe tinha bom papo, sabia cozinhar, gostava de passear pelo reino e sabia fazer outras coisas que ela pediu que não fossem reveladas. Porém, parte do acordo era que haveria um muro entre os aposentos reais e o aposento da princesa, e esse muro era intransponível, somente o príncipe podia passar para o lado da princesa, mas não o oposto.
Por um tempo então o acordo funcionou, mas o chato era que o príncipe vivia falando da princesa perdida ou de uma eventual outra princesa cujo pé coubesse no sapato. Ele gostava da compahia dela, ela não sabia cozinhar mas sabia outras coisas, e era uma boa companheira em suas andanças pelo reino e para assistir as justas de cavaleiros. Mas ela não era A princesa. E ele fazia questão de deixar isso muito claro para ela com mais frequência que o necessário.
A princesa que não era boba um dia acabou se cansando dessa história. Como os cavaleiros do reino e príncipes de reinos distantes andavam procurando um espaço no muro, ela um belo dia, ao tropeçar no famoso sapato da dita cuja, se encheu e jogou o referido na cabeça do príncipe, e partiu para outras paragens, porque ninguém merece alguém que vive agarrado a um sapato velho ou a um pé que não existe.
Fim da história. Aos bons entendedores que seja feita justiça.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Eu honestamente tinha perdido o entusiasmo. É tanta consideração, preocupação, elucubração, problemas reais e imaginários, as asperezas em geral foram minando minha alegria, que já não era lá tão entusiasta porque eu sempre pensei demais nela e a dissequei, deixando poucos ossos no processo.
O que mais me doeu foi ter perdido o "rapture", aquilo que me deixava sem fôlego. Isso não recuperei, mas ganhei em troca outra coisa que me mantém respirando, apesar da respiração ser entrecortada, e por ora já está bastando. E eis que sinto nova infusão de oxigênio, um pouco menos de medo, um pouco mais de vontade, de ousadia, de disposição para continuar caminhando.
Talvez a maturidade traga serenidade, o que não significa que roube os olhos arregalados e o coração disparado de sempre. Acho que esta noite vai ter fogos de artifício.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Primaveras
Estes últimos tempos têm sido cheios de perguntas, as respostas realmente não sei, as denominações continuam pendentes, ou seja, eu não sabia nada e agora nada sei. Ainda assim, apesar de tudo, são bons tempos. Quem sabe um dia as respostas aparecem, ou mudamos as perguntas.
Parabéns. Que a vida sorria para você, que eu esteja por perto pra gargalhar junto.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Sleeping Beauty
O fato de que contos de fada vão muito além das versões que conhecemos e que há todo um aspecto psicológico em torno deles é bem conhecido. Eu adoraria discorrer sobre isso se soubesse pelo menos o suficiente para não falar bobagem, mas só sei mesmo o óbvio.
Outro fato é que meu sono sempre foi bom mas nunca muito fácil, e hoje em dia eu simplesmente caio dormindo sem nem me dar conta, no avião, no carro, no sofá (coisa de velha), à frente do computador me vejo segurando a cabeça, na cadeira do aeroporto, a televisão, então, virou um sonífero. Eu não durmo pouco durante a noite, acordo cedo mas raramente durmo tarde, não tenho nenhum distúrbio físico que pudesse me causar sono, a única ocasião em que isso me assaltou foi quando estive depressiva, e depressão é como alcoolismo - um dia de cada vez. Assim, tomo o devido cuidado, mas eu sei que o sono de depressão é aquele que a gente procura, e agora quem me persegue é ele, e não o contrário. E é implacável, porque não consigo fugir de modo algum.
Aí hoje me deparei com o desenho aí de cima, que achei lindo, e sem ter a menor pretensão de ser a beleza que dorme, me identifiquei de outra maneira. Sem entrar em detalhes do que não sei, é possível que o sono da bela seja na verdade aquilo de nós que ainda dorme. E eu sei o que dorme em mim. Mas não consigo soltá-la. E a porta nunca esteve mais escancarada, presa não está, só encolhida no canto.
Eu ouvi recentemente de alguém que me conhece melhor que eu mesma que eu não sei sonhar. Fiquei estupefata, mas tive que concordar. Até o meu sono é um sono sem sonhos. E não era desses sonhos que estávamos falando. Era o daydream, eu não faço isso. E até consegui identificar porquê. Eu disse que nao sonhava porque quando o que eu queria não se realizasse doeria muito. Meu medo me impede de querer. É o que doi menos. Então - eu ouvi - fique com sua pouca dor e também com a angústia de não sonhar.
Isso tudo ficou armazenado, e vendo através da janela a Aurora dormindo, veio tudo à tona e eu obviamente me debulhei em lágrimas, que é o que eu faço quando o meu copo transborda. Eu choro de tristeza, eu choro de frustração, eu choro porque sinto adagas no meu coração, mas acima de tudo choro por esse motivo mesmo - não consigo sonhar. Eu estou muito, muito perto. As coisas ainda me assustam tanto. Mas aquela voz lá no meio dos espinhos que cercam o castelo sussurra para mim que é assim, a maldição foi lançada, o dedo foi espetado no fuso, o sono é necessário, mas a maldição não é tão má como parece, a fada a transformou... Mas cadê a paciência pra esperar cem anos???
Então meu sono é agitado, entrecortado de sobressaltos, a expressão serena de Aurora é puro photoshop, passar cem anos na posição que ela ficou não vai ser possível. E eu fico me perguntando, como? como se sonha? Alguém sabe me dizer onde fica esse botão que aciona o modo "sonhar"? E onde se desliga o botão de "medo de sonhar"??? Parece que vai ficando mais claro porque eu ando caindo pelas tabelas, talvez quem sabe uma noite de sonhos dormindo inspire um dia de sonhos acordada. Ou uma noite de sonho, ponto. E então a mesma pessoa me diz quando eu peço a solução - é só fechar os olhos e pular.
domingo, 1 de maio de 2011
Ainda me falta tanto, meu Deus. Quando eu penso que estou entrando no caminho onde a dor é menor, eu olho em volta e vejo a mesma paisagem, o mesmo disco se repete na minha cabeça, as mesmas palavras saem da minha boca, a mesma tristeza invade o meu coração, a raiva ainda mora em um lugar tão familiar, o meio de mim sente os mesmos golpes, as mesmas punhaladas, on, and on and on, e vou ainda semeando lá fora o que me incomoda tanto aqui dentro, criando mais do mesmo, por que, por que é tão difícil sonhar, ignorar o medo de uma dor maior, que pode afinal nem vir, para que as garantias que em última análise sabemos que não valem nada, por que eu guardo a inteligência na gaveta quando mais preciso dela, por que ainda mantenho o barco ancorado quando o meu desejo é me fazer ao mar, por que eu calo quando há tanto a dizer...
Não tenho as respostas, mas sigo perguntando, eu sei que um dia vou acordar pela manhã e assim, out of nothing, elas vão cair em cima de mim.
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