segunda-feira, 20 de agosto de 2012

...por um segundo



E de novo a sensação do acordar e a dor ter se esvaído, sumido ralo abaixo dos sonhos durante a noite, no redemoinho que leva os barquinhos no Triângulo das Bermudas. Na verdade ela esta lá sim, mas é uma dor que não dói como antes, é a dor viajando pelo tempo. E falando nele, "Você me dá um tempo? Eu preciso de um tempo."

Quem me dera eu poder distribuir tempo. Se eu fosse a senhora do tempo eu faria coisas impublicáveis com ele, enlouqueceria o mundo de vez. Mas definitivamente não saio mais dando uma coisa que nem existe. O que é tempo? Que horas são agora para os índios que moram no meio do Amazonas e nunca viram outras pessoas? Quantos anos eles têm? Quanto  dura uma dor de perda? E uma alegria? Quem disse que o Gregório podia simplesmente comer um dia e depois juntar ele de novo a cada quatro anos em um desrespeito flagrante à lua, ao sol, às estrelas, a quem orquestra o universo todo?

Quem sou eu pra dar tempo pra alguém? Meu caro amigo, falando em tempo, ele urge. E passou da hora de entender que as coisas são o que são e nós as queremos ou não. O tempo não tem tempo de resolver os problemas alheios. E ali adiante, bem perto mesmo, tem sempre alguém com tempo para mais uma palavra, mais uma taça de vinho, mais tempo só para jogar tempo fora.

 A música diz tudo, transformai, transformai, mas agora, porque tudo pode estar por um segundo. Eu já distribuí tempo demais, tempo que eu não tinha, tempo que não me pertencia, tempo que não existia, tempo que eu não queria dar nem emprestar nem alugar. Mas a ilusão de que ele passa continua. Passado, presente, futuro, a gente só usa isso para não enlouquecer porque o caos todo acontece ao mesmo tempo. Eu sou agora o que eu fui, e serei sempre, mas a ilusão do tempo que você mesmo desencadeou vai acabar me transformando em boas memórias.

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