sábado, 30 de janeiro de 2010
Back again
E eu achava que era possível não jogar. E me enganei de novo. Pura ingenuidade acreditar, por um momento que seja, que é possível viver plain, straight and clear. Eu penso isso, eu digo isso, você entende isso. No mundo real é eu penso isso, digo aquilo e você entende uma coisa que nem passou pela minha cabeça. E no meio desse caminho, pensamos, elucubramos, devaneamos, especulamos, meditamos, refletimos, consideramos, enfim, damos trabalho à cabeça. Pena que a telepatia não é fato, mas mesmo se fosse arrumaríamos uma maneira de distorcer pensamento também. O que é bom é que, se soubermos as regras e concordarmos em cumpri-las, jogar pode ser divertido. E não cumprir as regras pode ser mais divertido ainda. O fato é, tem jogo sim. Sempre. Eu me rendo. I’m back in the game.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
O Silêncio e a Tempestade
O temporal acabou. É a hora de ouvir as últimas gotas que vão encerrando o que há alguns minutos causou enxurrada, barulho, fechamento de janelas. Tudo fica estranhamente quieto. E é tão semelhante à quietude de antes do temporal. Quando a chuva se anuncia, relâmpagos e trovões, que são manifestos, são precedidos de um silêncio que parece trama do que vem. E estes dois silêncios, assim como tantos outros silêncios, não são iguais, mas ao mesmo tempo têm tanto em comum, feitos de ausências, de ruídos abafados ao longe, de ampliações de ruídos próximos, que mesmo pequenos, marcam a presença em proporção disforme. Durante a chuva é a corrida para lugar nenhum, como se correr na chuva nos tornasse impermeáveis. E afinal, qual o mal de molhar? Por que mesmo nos abrigamos, nos escondemos, esperamos passar ou corremos na chuva? Alguns minutos antes e a vida conspirava em ciclo, chover, evaporar, condensar, chover. On, and on and on. Aí o mundo vem abaixo. E depois o silêncio de novo. E eu devaneio e chovo em feridas antigas e novas. E no meio, a tempestade.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Enterro dos ossos
Enterrar sentimento moribundo é sempre uma experiência no mínimo inquietante. Pisar na cabeça, estrangular, tentar afogar, sufocar, todas essas providências acabam se revelando infrutíferas. O bom é que um dia a gente acaba cansando mesmo, então mesmo não querendo, pára de se esforçar e deixa as coisas andarem sozinhas. Em algum lugar disso estão os não-sei-quantos passos do luto, eu sei, mas não queria entrar nos aspectos técnicos. A coisa toda vem de uma vez, e oh, meu deus, por que? Por que? E agora, como vai ser, oh, mas tinha tudo isso de bom, e blábláblá, todo mundo sabe como é. Mas a vida urge e ruge, eu já falei aqui que continuamos funcionais, alguns mais outros menos, mas eventually, ou continuamos ou a vida se encarrega de nos empurrar ladeira abaixo, aí além do coração partimos também um braço, uma perna ou a cabeça, então uma sábia decisão é deixar que as coisas andem mesmo contra a nossa vontade de morrer, preferencialmente de tuberculose, para ficar o mais semelhante possível aos heróis e heroínas do Romantismo. Mas ainda que nos rendamos ao andar da carruagem, às águas que passam por baixo da ponte, ao sentar-se à beira do rio esperando os cadáveres passarem, e outras figuras menos esquisitas relacionadas ao passar do tempo, não alivia nada. A dor é a mesma, o fato de saber que vai passar (porque vai, nós sabemos porque não nascemos ontem e não passamos os últimos anos em outro planeta) não muda em nada o processo. Mas o dia chega. E quando ele chega nem percebemos. A percepção vem aos poucos, quando enxergamos o ridículo de pensamentos, atos e convicções, e se dermos sorte, e não tiver escândalo, ação judicial, vandalismo em propriedade alheia, restraining orders pra administrar, só vamos nos dar conta realmente da superação quando aquilo que doía tanto abre um espaço tão grande que parece que falta alguma coisa. Mas é uma falta boa, é um alívio da não-dor, ter sido patético chega até a ser engraçado, e nós nos perdoamos pelas imbecilidades, mesmo porque sabemos que vamos cometê-las de novo um dia, senão as mesmas, outras mais bizarras. O bom mesmo é o espaço que se abre. Porque espaços abertos são convites a serem preenchidos, e a tendência da matéria é ocupar espaços vazios (é? não sei, não entendo muito de física – mas aqui está funcionando assim).
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Surprise, surprise
Novidades são sempre boas. Novidades que esperávamos ter há algum tempo podem ser definidas como novidades? Ou seriam precipitações no real do que já estava lá de outra maneira? De um jeito ou de outro, as surpresas que as coisas novas guardam - e revelam - são das melhores coisas a se viver. E para surpresa, não há preparação, senão sai da definição da palavra. O que se há de fazer é acordar com a perspectiva de que outras podem vir. E deixar a porta aberta. Você que me surpeendeu ontem, só para constar, a surpresa foi muito boa.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
domingo, 3 de janeiro de 2010
Another Day in Paradise
É interessante como muitos de nós sobrevivemos a nós mesmos. Insistimos em viver na intensidade, nos jogamos de cabeça em tudo o que fazemos, sabendo do risco. E muitas e muitas cicatrizes que carregamos provam que o risco era grande. No entanto, nós continuamos vivendo. Estamos plenamente funcionais e de posse de nossas faculdades mentais. Trabalhamos, vamos ao mercado, dizemos bom dia ao vizinho, estabelecemos rituais sociais aceitáveis (e outros nem tanto) com familiares e amigos, discutimos os assuntos do jornal, criticamos o governo, falamos do clima, temos uma vida cultural razoável, levamos as crianças à escola, alimentamos as crianças, os animais e a nós mesmos, pagamos as contas, vamos ao médico, apagamos a luz e dormimos. E no dia seguinte e nos outros que vêm depois, começa tudo de novo, a rotina, alheia ao que vai dentro de cada um de nós. O que vai dentro do passante que cruzamos na rua? Ele está a um passo de encontrar o amor da sua vida? Ela vai perder alguém importante hoje? Run, Lola, Run. Mas para onde? Todas as possibilidades que não se concretizaram roubam de nós a certeza de que a que se concretizou foi a que deveria ter sido. Mas essa que foi, o que fazer com ela? Como conseguimos funcionar, com o que se passa dentro de nós? Como o coração partido continua batendo? "I've seen things..." diria o replicante. Pelo menos ele teve a sorte de desligar. Mas e nós que não desligamos, fazer o quê com isso que vimos, vivemos, sentimos e agora fica ali, subjacente ao semáforo, ao dia de chuva, à chegada em casa depois de um dia de trabalho, ao cheiro de café, ao livro que estamos lendo, às lembranças que reacendem nas horas indevidas, à vida que estamos vivendo, apesar de.
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