domingo, 3 de janeiro de 2010
Another Day in Paradise
É interessante como muitos de nós sobrevivemos a nós mesmos. Insistimos em viver na intensidade, nos jogamos de cabeça em tudo o que fazemos, sabendo do risco. E muitas e muitas cicatrizes que carregamos provam que o risco era grande. No entanto, nós continuamos vivendo. Estamos plenamente funcionais e de posse de nossas faculdades mentais. Trabalhamos, vamos ao mercado, dizemos bom dia ao vizinho, estabelecemos rituais sociais aceitáveis (e outros nem tanto) com familiares e amigos, discutimos os assuntos do jornal, criticamos o governo, falamos do clima, temos uma vida cultural razoável, levamos as crianças à escola, alimentamos as crianças, os animais e a nós mesmos, pagamos as contas, vamos ao médico, apagamos a luz e dormimos. E no dia seguinte e nos outros que vêm depois, começa tudo de novo, a rotina, alheia ao que vai dentro de cada um de nós. O que vai dentro do passante que cruzamos na rua? Ele está a um passo de encontrar o amor da sua vida? Ela vai perder alguém importante hoje? Run, Lola, Run. Mas para onde? Todas as possibilidades que não se concretizaram roubam de nós a certeza de que a que se concretizou foi a que deveria ter sido. Mas essa que foi, o que fazer com ela? Como conseguimos funcionar, com o que se passa dentro de nós? Como o coração partido continua batendo? "I've seen things..." diria o replicante. Pelo menos ele teve a sorte de desligar. Mas e nós que não desligamos, fazer o quê com isso que vimos, vivemos, sentimos e agora fica ali, subjacente ao semáforo, ao dia de chuva, à chegada em casa depois de um dia de trabalho, ao cheiro de café, ao livro que estamos lendo, às lembranças que reacendem nas horas indevidas, à vida que estamos vivendo, apesar de.
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4 comentários:
Ah Flordelis, é um trabalho hérculo, um dia por vez, como os 12 passos do AA.
Fazer o quê?
Seguir né?
Beijos.
De verdade, queria um botão "liga/desliga" pra sentimento. Humpf...
Escreves muito, mas muito bem.
Ah e desculpa o roubo descarado do outro texto.
:)
Beijo
pois então.
eu diria que é a nossa sindrome de replicantes!
bj
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