terça-feira, 16 de novembro de 2010



Eu nao gosto dos rótulos. As etiquetas grudadas na testa, as identificações penduradas em algum lugar como se fôssemos cadáveres. E é essa exatamente a questão - nomear me limita, me mata. Se eu digo que sou isso ou estou aquilo ou tenho aquilo outro, pronto, tenho que me encaixar nas definições correntes para essas coisas, supostamente tenho que seguir os caminhos traçados ou até traçar o meu mesmo, mas que invariavelmente vai ser limitado.

O que é isso que eu sinto? Eu sei o que é, mas não quero batizar. A capacidade que eu tenho de sentir é infinita. Como é que eu vou limitar em palavras e denominações aquilo que se passa em mim? Qual é a língua mais apropriada para os bons sentimentos? E para os maus? De acordo com quem? Se a minha língua materna não me bastar, posso pedir palavras emprestadas? Qual é a língua dos anjos do ágape de Paulo?

Então eu vou tateando como se viver fosse um daqueles jardins para cegos, onde se pode sentir. Mas eu vejo tudo, porque quando não cerceio a criação ela se expande. Ilimitada. Quando abrimos a porta o mundo entra. E são tantas as flores, tantos os perfumes, que seria um pecado cercá-los com nomes e definições, prefiro que fiquem em seu estado suspenso, e que cheguem a mim por outros meios que não os verbais, semânticos, reverberantes.

Quanto menos eu trago para o mundo da palavra mais intenso fica o que eu sinto. E quanto mais intenso mais prazer eu extraio e menos vontade de podar eu tenho.

Eu sinto em estado bruto. Inominada e inominavelmente.

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