domingo, 27 de fevereiro de 2011


"Agora não da mesmo pra ser feliz, é impossível. Mas quem disse que a gente precisa ser sempre feliz ? Isso é bobagem. Como Vinícius cantou 'é melhor viver do que ser feliz´. Porque, pra viver de verdade, a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, dói demais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Vai passar."
Caio Fernando Abreu

Eu sei. A gente sabe que no fim passa mesmo, nós já vivemos isso. Mas esse é um dos problemas. Eu já vivi tanto isso que vai ficando cada vez mais difícil entrar nisso de novo. Mas não resisto. Eu vou lá e me jogo de novo. E caio de novo, e demoro um tempo cada vez mais doloroso para sair de lá onde caí. Com o tempo a dor vai ficando mais aguda, ela vai criando nuances, pensamos que já tínhamos sentido de tudo, mas não, a dor surpreende, ela é cheia de truques e arruma maneira de ser ainda mais cruel, mais cheia de garras.

Eu sei que passa. Mas as marcas que vão ficando vão sendo cada vez mais fundas, a pele vai ficando fininha, quando a gente vê, estamos em carne viva. Eu ando em carne viva. Dois dias atrás fui à dentista extrair um dente. Ela não pode fazer o trabalho, porque simplesmente quatro pontos de anestesia com duas aplicações cada um não conseguiram me dessensibilizar. Eu me perguntei porquê tenho que viver com tanta intensidade que não quero ser anestesiada nem literalmente.

O mal de viver a vida incontornável é vivê-la sem fazer a menor questão nem de tentar contornar, é chafurdar mesmo no que é bom sabendo que a dor pode acabar vindo depois. Porque ela pode mesmo vir. Ou não. Porque é só hoje. Às vezes é bom. Hoje, particularmente, não.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os gatos de novo



Os gatos são muito folgados. Chamam, fazem com que a gente corra uma maratona com eles, e ao final, se jogam e pedem carinho ronronando.
Miau (de novo).

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


Não importa o que você fez
Há sempre uma próxima vez
Não se perca, não pare
Escolha o menor dos males
Faça o que quer fazer
Aconteça o que acontecer
Tanto faz como se chama
Entregue-se ao que você ama
O fácil é o certo, o certo é o fácil
O fácil é o certo
Titãs

Os pensamentos correm dentro da cabeça em uma confusão feita de um misto de sono, cansaço, aquelas dores boas que a gente sente depois de exercitar músculos que nem lembrava mais que tinha. Três dias de rollercoaster físico, mas desta vez sem as garras inúteis das perguntas descabidas, das cobranças sutis, só tateando no escuro, só aprendendo em braile que sol, mar, álcool, aquilo que vai dentro da gente - que é inominado e inominável - e atos-selvagens-como-se-não-houvesse-amanhã são na verdade PORQUE não há amanhã mesmo, é hoje, é agora, não tem nome, não tem lugar, é largar e sair, é atender o chamado, é viver tudo ao mesmo tempo agora.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Panegyricus



Todo mundo gosta de elogio. Parece óbvio, mas não é, porque muita gente economiza tanto na hora de elogiar que nem imagina. Naturalmente recebemos elogios por nosso desempenho profissional, nossa política de vida, caráter, etc., etc., mas quero tratar é dos elogios masculinos que são os mais prosaicos mesmo.

Existem os que dão tédio na gente, os tradicionais "linda" e "inteligente". Esses são tão batidos que assim que ouço reviro os olhos, um nojo. Em geral "linda" surge nos primeiros minutos de conversa, quando não deu mesmo tempo nem de saber se sou linda mesmo, mas parece que pula automaticamente. "Inteligente" é variável, e um bom termômetro, se vem logo depois dos três minutos melhor sair correndo porque me considerar inteligente porque provavelmente eu fiz um comentário que o estágio evolutivo seguinte ao da ameba faria, é sinal que a conversa não vai muito longe. Assim, quanto mais eu demorar para ouvir "inteligente" melhor.

Só que esses básicos absolutamente não impressionam. Eu cheguei a ter dificuldades em achar alguém com um vocabulário melhor, mas ao contrário do que muitas mulheres dizem, existem homens sim, e existem homens interessantes e eles absolutamente não são todos iguais (outra obviedade disfarçada).

Quanto mais eu me disponho a me revelar mais gosto do que ouço. Claro que vou automaticamente excluir os vazios, os deslumbrados, os traumatizados, os revoltadinhos, enfim, essas categorias marginais. Mas cada homem que vale a pena ouvir tem seu jeito de elogiar e todos os jeitos são agradáveis, mas os melhores são aqueles que surpreendem.

Na maior parte do tempo recebemos elogios com os quais concordamos, é bom, mas é só, por assim dizer - validação. Bons mesmos são os elogios que nos surpreendem, ou por serem inusitados ou por não esperarmos que eles venham de determinada fonte.

Quanto mais rica a fonte, mais surpresas agradáveis. Eu já falei do brilhantismo, agora vou falar de personalidade, caráter, modo de vida. Eu gosto disso, isso é bom, eu faço e falo. Eu gosto de você, isso é bom para mim, é bom para você, eu não acho que isso vá me comprometer ou me podar de alguma maneira, então eu conto pra você. Eu procuro fazer o que eu gosto e ajudar alguém a fazer isso também. Nesse contexto, "linda" soa totalmente diferente. Soa real. E ainda sobra espaço para "você ..... de um jeito lindo". Sem aviso, destemidamente, simples assim. E aí quem tem vontade de elogiar sou eu.

Em outros casos, não dá tempo de elogiar verbalmente. Esses prefiro não comentar porque ainda tenho feridas abertas que não quero ver escritas em palavras porque isso faz com que elas fiquem muito reais.

E tem ainda aquele que não consegue elogiar. Ou até consegue, mas formaliza, especifica, se isenta. Põe o "mas" para diminuir o impacto, porque é assustador demais. Pode suscitar reações duvidosas, más interpretações. Esse até para aceitar elogio tem dificuldade, apesar de jamais admitir isso, nem para ele mesmo. E no entanto, eles estão lá, no meio do pavor e das feridas abertas, da confusão, está o simples. Eu agradeço o elogio mesmo assim, da mesma forma, sem palavras. Ele chega a ser tão profundo que nem precisa delas.

[update:] xxxxx diz:
* e ai???
*linda e maravilhosa!!!!!!
Este ainda vai acabar ganhando mais que elogios.
But it hurts anyway.

domingo, 13 de fevereiro de 2011



Amanhã é Valentine's. Esse conceito muito me agrada. Diferente da exclusividade do dia dos namorados, "Be my Valentine" é muito mais divertido. Eu poderia acrescentar - To all my Valentines, past, present, future. :-)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Perdas e ganhos



Ontem eu perdi a minha avó para a vida. Não foi para a morte, não, foi para a vida mesmo. Todas as perdas são irreparáveis, porque cada pessoa é única. Perder uma avó dá a sensação de que vamos ficando com as costas descobertas, a vida vai impondo seu ciclo. Eu respeito muito aqueles que perdem pessoas ao contrário do ciclo, os que perdem filhos, especialmente, na minha opinião têm desculpa para tudo. As avós nós no fundo sabemos que vão antes de nós. A minha já andava mesmo cansada. Ninguém queria que ela se fosse, obviamente, mas a vida foi tão longa e sofrida, de todas as maneiras, que o coração literalmente se cansou de bater. O que a manteve esse tempo todo talvez tenha sido as alegrias que ela produziu nos outros.

Essas perdas nos acordam para a finitude. Eu acordei para algumas outras coisas. Como sempre tenho vivido no olho do furacão, lá onde eu mesma gosto de me pôr, e é uma escolha. Mas o drama, o arrastar de correntes, a tristeza, a raiva - esses não são boas escolhas.

Eu estou profundamente triste. Mas o sol nasceu logo cedo. A gente põe a tristeza na caixinha dela, levanta da cama e vai trabalhar, socializar, consolar quem precisa mais, amar quem amamos, deixar de lado o que é afinal de contas tão desimportante, conhecer aquilo que o mundo está nos oferecendo para ver. As caixinhas servem para alguma coisa, afinal. Elas só precisam ficar nos lugares certos enquanto vivemos. Temos sempre coleções de dores que talvez devessem ficar cada uma em sua caixinha, nas condições adequadas de conservação. Com o tempo, algumas caixinhas vão sendo esquecidas, outras abrimos às vezes, algumas ficam perdidas para sempre, sem que a gente saiba para onde podem ter ido.

Eu me senti estranhamente calma e em paz. Essas ocasiões normalmente soltavam a maluca histérica que morava em mim. Não sei por onde ela anda, os últimos dias foram de uma tranquilidade ímpar, que eu já senti algumas vezes e depois caí de novo no redemoinho, aos poucos. São as epifanias. E as coisas tomam sua real dimensão - o que é importante marca presença, o que não é nem merece consideração, não por mágoa ou por fuga, naturalmente se esgota.

De tudo isso advém aquela vontade enorme de experimentar. Tudo. Porque a mesma vida que cumpre seu ciclo encaminhando para longe de nós aqueles que já têm um caminho diferente a seguir, nos oferece os nossos próprios caminhos, nossas possibilidades que são tantas, o chão para nos apoiar, as mãos que seguram as nossas, as palavras amigas que acrescentam e se fazem presentes - na alegria e na tristeza. A minha tristeza está na caixinha, a caixinha ainda está aberta. Mas à minha frente abre-se o mundo inteiro de possibilidades, e com o bônus do aprendizado bem aproveitado.

A vida apesar de tirar de nós coisas tão importantes, ainda nos oferece tanto que é impossível mesmo não continuar. E até que chegue a hora dela nos tirar de alguém, que possamos tirar dela o máximo daquilo que ela nos oferece. A minha escolha hoje é essa.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Still.
They seem to be fading.
But I know they are still there and maybe wil always be.
Yes, I know all the buts.
But I have my buts too.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


Eu tive fora uns dias
Eu te odiei uns dias
Eu quis te matar
Paralamas do Sucesso

Estar longe de casa cria uma outra realidade que acaba revelando outras pessoas dentro de nós, e conclusões às quais não chegaríamos se não estivéssemos fora de nosso habitat. As minhas foram:
  • eu tenho pavor de água mas o mar é fascinante;
  • eu não gosto de dizer nunca porque acho que é um tempo que não existe, mas hoje arriscaria dizer que viver junto com alguém de novo, cito o corvo - never more;
  • eu quero que a emancipação feminina f*, mas só quando tem alguém disponível para pôr o p* na mesa sempre que necessário;
  • os homens têm a fama de serem sexualmente insaciáveis, mas ainda não vi os que realmente dão conta quando a demanda é maior que a prevista;
  • todo homem - independente de idade, formação, origem, condição social, etc., tem um problema com a mãe que nunca vai ser resolvido;
  • quando acho que resolvi uma questão essencial na minha vida, pulam outras 45 não sei de onde;
  • o ciúme é um monstro verde totalmente irracional e devorador de insanidade, que pula dos recônditos do ser quando menos se espera;
  • este país não é nada parecido com o que se diz dele;
  • eu finjo que vivo fora da caixinha mas meus argumentos não duram três minutos de discussão;
  • fazer "a tolinha" é muito fácil, mantê-la é um porre;
  • é bom ter quem nos mostre as besteiras que fazemos, mas os limites existem e precisam ser gritados;
  • as coisas são o que são e o que vai mudar ninguém sabe, só não consigo resolver se dou vez à paciência ou se vou ali fazer outra coisa melhor;
  • a minha cabeça possui cenários trágicos inacreditáveis, ridículos e indescritíveis, principalmente na calada da noite, quando praticamente meio cérebro é destruído com tanta bobagem;
  • com muita frequência as coisas mais triviais que não conseguimos são aquelas cuja falta abre os maiores rombos no coração;
  • resolver uma montanha de carência acumulada com sexo parece uma solução bem fácil, mas a logística pode se revelar bastante complicada;
  • eu achava que a maturidade destruía as ilusões, mas percebi que só piora o tamanho do tombo quando - pela enésima vez - descobrimos que papai noel, dinossauro e príncipe encantado não existem mesmo;
  • eu cometo as mesmas sandices mil vezes e não me emendo;
  • eu vou continuar me espetando nos espinhos que estão na minha cara e pulando nos mesmos precipícios visíveis à luz do dia porque simplesmente não consigo viver só mais ou menos;
  • o drama ainda me arrasta, mesmo gritando e esperneando;
  • eu devia chorar mais;
  • nada é o que parece; aliás é tudo muito diferente;
  • e finalmente, eu não gosto da lentidão do Caetano, mas ele foi sábio - de perto ninguém é normal.

    E chegou a hora de ficar fora de outros lugares por vários dias.