terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Panegyricus



Todo mundo gosta de elogio. Parece óbvio, mas não é, porque muita gente economiza tanto na hora de elogiar que nem imagina. Naturalmente recebemos elogios por nosso desempenho profissional, nossa política de vida, caráter, etc., etc., mas quero tratar é dos elogios masculinos que são os mais prosaicos mesmo.

Existem os que dão tédio na gente, os tradicionais "linda" e "inteligente". Esses são tão batidos que assim que ouço reviro os olhos, um nojo. Em geral "linda" surge nos primeiros minutos de conversa, quando não deu mesmo tempo nem de saber se sou linda mesmo, mas parece que pula automaticamente. "Inteligente" é variável, e um bom termômetro, se vem logo depois dos três minutos melhor sair correndo porque me considerar inteligente porque provavelmente eu fiz um comentário que o estágio evolutivo seguinte ao da ameba faria, é sinal que a conversa não vai muito longe. Assim, quanto mais eu demorar para ouvir "inteligente" melhor.

Só que esses básicos absolutamente não impressionam. Eu cheguei a ter dificuldades em achar alguém com um vocabulário melhor, mas ao contrário do que muitas mulheres dizem, existem homens sim, e existem homens interessantes e eles absolutamente não são todos iguais (outra obviedade disfarçada).

Quanto mais eu me disponho a me revelar mais gosto do que ouço. Claro que vou automaticamente excluir os vazios, os deslumbrados, os traumatizados, os revoltadinhos, enfim, essas categorias marginais. Mas cada homem que vale a pena ouvir tem seu jeito de elogiar e todos os jeitos são agradáveis, mas os melhores são aqueles que surpreendem.

Na maior parte do tempo recebemos elogios com os quais concordamos, é bom, mas é só, por assim dizer - validação. Bons mesmos são os elogios que nos surpreendem, ou por serem inusitados ou por não esperarmos que eles venham de determinada fonte.

Quanto mais rica a fonte, mais surpresas agradáveis. Eu já falei do brilhantismo, agora vou falar de personalidade, caráter, modo de vida. Eu gosto disso, isso é bom, eu faço e falo. Eu gosto de você, isso é bom para mim, é bom para você, eu não acho que isso vá me comprometer ou me podar de alguma maneira, então eu conto pra você. Eu procuro fazer o que eu gosto e ajudar alguém a fazer isso também. Nesse contexto, "linda" soa totalmente diferente. Soa real. E ainda sobra espaço para "você ..... de um jeito lindo". Sem aviso, destemidamente, simples assim. E aí quem tem vontade de elogiar sou eu.

Em outros casos, não dá tempo de elogiar verbalmente. Esses prefiro não comentar porque ainda tenho feridas abertas que não quero ver escritas em palavras porque isso faz com que elas fiquem muito reais.

E tem ainda aquele que não consegue elogiar. Ou até consegue, mas formaliza, especifica, se isenta. Põe o "mas" para diminuir o impacto, porque é assustador demais. Pode suscitar reações duvidosas, más interpretações. Esse até para aceitar elogio tem dificuldade, apesar de jamais admitir isso, nem para ele mesmo. E no entanto, eles estão lá, no meio do pavor e das feridas abertas, da confusão, está o simples. Eu agradeço o elogio mesmo assim, da mesma forma, sem palavras. Ele chega a ser tão profundo que nem precisa delas.

[update:] xxxxx diz:
* e ai???
*linda e maravilhosa!!!!!!
Este ainda vai acabar ganhando mais que elogios.

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