domingo, 15 de maio de 2011

Conto de fadas


Era uma vez um príncipe que vivia em um reino distante, muito distante, independente do ponto de referência. O príncipe era muito bonitinho e gostosinho, mas como todo nobre que se preza, ele tinha problemas existenciais. Ele já tinha tido princesas, algumas duraram muito, outras nem esquentaram a coroa, mas ele teve uma em especial que ele cismou que era a que devia usar a coroa. Acontece que essa princesa específica por um tempo até usou a coroa, mas por algum motivo não lhe caía bem, e ela um dia montou em um cavalo no meio da madrugada e caiu no mundo para nunca mais voltar. A única coisa que ela deixou foi um pé de um par de sapatos que ela derrubou acidentalmente ao arrumar a bagagem na calada da noite. Claro que isso deu um toque de Cinderela à história, mas já que estamos falando de realeza, que seja.

O príncipe obviamente ficou arrasado, tentou encontrar a princesa que fazia seu coração pular, mandou mensageiros, mercenários, uma pena não ter GPS naquela época. Mas nada dela aparecer, porque quando uma princesa não quer, não importa o que o príncipe faça, ela não vai ser achada. O príncipe chorava dia e noite inconsolável e mirando o sapato, já pensando em procurar a dona do pé que se encaixava nele.

E assim fez. Experimentou o sapato em várias donzelas do reino, em outras tantas não tão donzelas, e até nos reinos vizinhos, mas nada da princesa, que a uma altura dessas nem lembrava mais do príncipe e não sentia a menor falta da coroa que incomodava a cabeça dela.

Um dia em suas andanças o príncipe encontrou uma princesa que estava ela mesma se recuperando da fuga de um príncipe. Ele pediu a ela se poderia experimentar o sapato, ela consentiu, afinal não tinha nada a perder. E obviamente o sapato não serviu (mesmo porque o pé da princesa anterior era enorme e feio, e o desta não era). O problema é que o príncipe sabia que estava sendo um pouco imbecil em ir encaixando o sapato em pés alheios, porque não era cego e viu que aquela não era a princesa que ele buscava.

Mesmo assim, essa princesa nova andava cheia daquelas paragens que andavam monótonas, e ele convidou-a para morar no seu reino, mas dentro de algumas condições. Ela poderia viver lá, usufruir da companhia dele, privar de sua sala de jantar e outros aposentos reais, mas não poderia receber o título de princesa, porque esse título era da dona de seu coração, ou quem sabe de alguma outra cujo pé encaixasse no sapato.

A princesa gostou do acordo, o príncipe tinha bom papo, sabia cozinhar, gostava de passear pelo reino e sabia fazer outras coisas que ela pediu que não fossem reveladas. Porém, parte do acordo era que haveria um muro entre os aposentos reais e o aposento da princesa, e esse muro era intransponível, somente o príncipe podia passar para o lado da princesa, mas não o oposto.

Por um tempo então o acordo funcionou, mas o chato era que o príncipe vivia falando da princesa perdida ou de uma eventual outra princesa cujo pé coubesse no sapato. Ele gostava da compahia dela, ela não sabia cozinhar mas sabia outras coisas, e era uma boa companheira em suas andanças pelo reino e para assistir as justas de cavaleiros. Mas ela não era A princesa. E ele fazia questão de deixar isso muito claro para ela com mais frequência que o necessário.

A princesa que não era boba um dia acabou se cansando dessa história. Como os cavaleiros do reino e príncipes de reinos distantes andavam procurando um espaço no muro, ela um belo dia, ao tropeçar no famoso sapato da dita cuja, se encheu e jogou o referido na cabeça do príncipe, e partiu para outras paragens, porque ninguém merece alguém que vive agarrado a um sapato velho ou a um pé que não existe.

Fim da história. Aos bons entendedores que seja feita justiça.

2 comentários:

Cláudia disse...

Amei. Principalmente a parte do sapato justamente lançado na cabeça do príncipe.

Cláudia disse...

Amei. Principalmente a parte do sapato justamente lançado na cabeça do príncipe.