segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O meio da noite - ou - não tente fazer isso em casa


Como se já fosse fácil à luz do dia, acorda-se ainda no meio da madrugada. Tudo na calada da noite tem proporções deformadas, é a hora de entrar na twilight zone, a hora dos monstros saírem do sótão, a hora das mensagens, telefonemas e posts errados. Mas é a hora poderosa em que tudo tem vida própria, não queremos, sabemos que não deveríamos, mas fazemos. Ou as coisas se fazem sozinhas, é o que parece. É quando nossa sombra mais se sente à vontade para sair, afinal, está escuro, ela nem está lá, para todos os efeitos.

As coisas findas agonizam para encerrar de vez, e o processo de assassinato lento por vezes dói mais no assassino que na vítima. É nessas horas vazias que nos ocorrem as obviedades ridículas, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa; tudo passa; amanhã é outro dia (não podia ser o mesmo anyway); foi feito o que tinha que ser feito e a melhor: as coisas são o que são.

Rolar no travesseiro com esse monte de besteira na cabeça não pode ser saudável, então a tecnologia facilita para que fique pior - por que não um sms ou um e-mail no meio da noite? por que não engolir fogo? que tal enfiar uns palitos embaixo das unhas? E a pobre mente racional se debate, grita, reclama, e por fim põe a mão na cara e diz fuck, porque não adianta mesmo, já foi, o enter já foi apertado.

Eu vou me-auto-consolando-a-mim-mesma (licença poética das 3 da madrugada com olhos esbugalhados) me dizendo que isso é assim mesmo, e vou ignorando o silencioso brado que pode - como não - estar insinuando arrependimento. Mas como sou espetacular e bem-resolvida nem dou bola. Volto ao travesseiro e choro, só um pouco, mas muito amargo, esperando que à luz do dia tudo isso não passe de um amontoado de besteira, quem sabe nem aconteceu.

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