sábado, 18 de janeiro de 2014

Tem mesmo "It had to be you"?


Há muito tempo ela não se aventurava mais por aquelas paragens. Era como entrar em um mundo paralelo onde de repente era agora, e só agora, não tinha ontem, amanhã ou o dia cheio de tarefas e as questões existenciais, só tinha mesmo agora.

Por motivos que não se sabe e nem nunca se saberá algo, alguém, o destino ou o acaso a atraiu de novo para o mesmo lugar, quem diria, depois de tanto tempo.

A casa semi-vazia, de mudanças, mas cheia de mágoas, tristezas e amargura, que não pertenciam a ela, mas a comoviam como se.

Ele cheio de músculos mas com cara de gatinho abandonado, primeiro a alegria genuína de rever, depois a familiaridade, depois o desabafo e a falta, a ausência total de perspectiva, o terror, a lágrima de pura solidariedade inútil, o desespero frente ao mundo, como é bom poder falar.

Mas então a casa que já teve tantas outras coisas de repente volta a ser o que foi da primeira vez, as velas se acendem, as luzes se apagam, o copo traz surpresas que só se encontram ali, o jazz enche o ar, as palavras rareiam.

E por puro agora, por puro sentimento puro, uma ligação tão forte que se continuasse explodiria a si mesma, silêncio e sussurro, quem diria, ainda pode ser melhor do que já foi um dia.

Ele assume o papel de gato que ronrona, tão só no mundo, tão desamparado, no meio daquela casa enorme, cheia de pedaços de si mesmo, ela estende a mão e só o toque muda tudo para o somente agora, somente agora, a luz das velas, o cheiro de maçã verde no prosecco, somente agora, a música - It had to be you. Somente agora. Não há injustiça, não há fim do mundo, não há mágoa, rancor, arrependimento, não há mundo lá fora, só a brisa que entra pela janela e abraça o abraço do somente agora.

Esse é o lugar onde acontece o milagre do somente agora. Ela foge, sob protestos, mas com a premência de quem ainda precisa descobrir se "o que é pra ser" será ou não. E a resposta não está no lugar onde só tem agora.

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