domingo, 17 de julho de 2016

As horas e as horas

Prestes a mudar de fuso horário de novo, quarta vez em 40 dias, cinco hora a mais, cinco a menos, uma a menos, uma a mais, ainda me espanto com o tempo e como inventamos de o medir e com o tamanho do desfavor que fizemos a nós mesmos com isso. Mas já que as horas passam desse jeito mesmo e sem dar a mínima para o que eu penso, melhor guardar o espanto para desastres maiores da humanidade, os quais, por sinal, não são poucos.
Ainda assim, é extraordinário observar o valor do tempo para cada pessoa, para cada cultura, para cada ponto de vista na relatividade.
Sem querer generalizar e sem nenhum juízo de valor, o hemisfério norte é mais amigo - ou escravo - do tempo. Ou eu, que sou a louca do relógio - saio de casa duas horas antes do compromisso para não deixar ninguém esperando, três horas antes no aeroporto, estação de trem e afins, meia hora antes de aula se eu for aluna, duas se for professora, e por aí vai - diria que há mais respeito.
Já que Gregório, aquele que quem me conhece sabe que eu odeio, inventou esse calendário estapafúrdio, e a eletricidade acabou com nosso ciclo biológico natural, por que cargas d'água os horários marcados não são respeitados? Ou se fosse para ser uma anarquia, marcar horário para que, então? 
Eu prezo tanto o meu tempo, já que é o não renovável por excelência - passou, acabou, extinguiu, não recicla, não se descobre nova fonte, não dá nem para importar, exportar nem ir buscar em outro planeta. Mas todos agimos como se ele não acabasse nunca.
Já é clichê dizer que esperamos o fim de alguma coisa para começar a viver, e só percebemos que não dá mais tempo no leito de morte,  ou nem notamos, quando o Reaper nos surpreende no meio de uma atividade corriqueira.
Na Europa, 4h16 é 4h16. No Brasil, em uma festa marcada para as 20 horas, corre-se o risco de encontrar o anfitrião enrolado na toalha a uma hora dessas. Sair à noite em São Paulo antes das 23h só se for com crianças. “Mais ou menos às 15h” é uma vasta gama que vai de “putz cheguei muito cedo (meu caso sempre, por isso o livro não sai da bolsa)” a “meu, isso é hora?” (esses são em geral os sem noção total). Mas tudo no meio dos dois extremos é aceitável, coisa que um amigo inglês que eu tenho simplesmente não consegue entender, não dá, o repertório deles não tem disso. 
Os países latino-americanos tendem a seguir a mesma linha frouxa, e me espanta deveras que o mundo de business siga a mesma cartilha. Clima, latitude? Sei lá, para mim pessoalmente mais um motivo para me sentir fora do “normal”.
Este ano chego a meio século de vida. A diferença vem se apresentando aos poucos. Mas a essência chega sempre na hora.

Publicado no Primeira Fonte em 15/07

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