terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A dança, o drama e el toro


Ontem assisti a um espetáculo de dança que foi, literalmente, um espetáculo. A grande maioria dos bailarinos não era profissional, mas vejam só, não fez muita diferença. O moço da foto ao lado foi quem me convidou e quem muito me impressionou. Eu conhecia o outro lado dele, ele é professor de muitas coisas e já aprendi muita coisa do vasto, vastíssimo conhecimento transcendente dele. Mas a dança. Primeiro quero tentar descrever o impacto, o que é de cara infrutífero, porque descrever impacto soa ridículo, impacto se sente, não dá pra ser impactado por descrição. E eu já estou digressionando antes de começar. O espetáculo baseava-se em Frida Kahlo, foi uma abordagem muito interessante, mas o que interessa é o flamenco. O flamenco é visceral, esta deve ser a melhor definição. É daquelas coisas que quando se ouve muda o ritmo cardíaco. O coração parece que tenta acertar o ritmo com as batidas do sapateado. Mas não é só isso. O flamenco é também atuação, os pés dão o tom, as mãos e o rosto fazem o resto. E não posso então deixar de pensar em Almodóvar. O drama. O drama da dança até dói. Eu por acaso sabia que o bailarino passa por um drama pessoal, mas mesmo que não soubesse, bastava prestar um pouco de atenção. Ou mesmo que não passasse, expressaria o drama coletivo, aquele do qual todos nós bebemos na fonte, o drama que está disponível para o deleite de todos. O rosto dele se transfigura, de tal modo que uma amiga foi e me perguntou por que ele não dançou, mas como assim, então não fomos ao mesmo lugar? Fomos, mas ele estava irreconhecível. Algo se apossa e muda a expressão, os traços, a identidade. Quem se apossa de nós quando não estamos dançando? Por que precisamos do drama, do coração dilacerado, da sensação de traição, do peito rasgado de dor? E de preferência, que seja dor de amor. Talvez seja a busca eterna do que não vamos encontrar nunca, o drama é o pranto do impossível. Mas ele nos alimenta, e é importante que seja ele que nos alimente, e que nunca nos devore. Assim é permitido, assim faz parte da tessitura da vida, que se for vivida sem drama nenhum também não tem a mínima graça. E que venga el toro.

2 comentários:

Isa disse...

:) Venga! bjos

Luci disse...

eu A-M-O Joaquin Cortez desde q o vi pela primeira vez, lá no seculo passado.
o moço ai pode ser um candidato, já que eu me encontro em fase espanhola...rs!!!

bj