sexta-feira, 6 de agosto de 2010



Há tanto tempo eu caminho à beira do abismo que já me habituei, e nunca pensei que me acovardaria. Mas os últimos passos têm sido vacilantes, porque as curvas anteriores me fizeram escorregar. Deslizei muitas vezes, em algumas pensei que o vazio me engoliria, mas não - finquei o pé de volta.

Conforme vamos nos acostumando aos perigos do caminho, ou ganhamos mais confiança ou deixamos o medo se instalar de vez. Eu fui ficando mais confiante, mas uma coisa começou a me incomodar.

Podemos escolher caminhar sozinhos, e em boa parte do meu percurso desejei e cumpri isso de coração, eu amo minha própria companhia, é o que me dá força, é o aprendizado. Porém em determinados momentos me agrada que alguém caminhe ao meu lado. E o que me incomoda é não encontrar ninguém digno de tal feito.

Às vezes tem alguém lá, independente de quanto tempo me acompanha, os primeiros passos são sempre os mais fáceis. E observe-se - não quero ninguém atrás de mim, nem à minha frente. Só ao meu lado, e na confortável posição de eu estar entre ele e o abismo. E eu nem peço para segurar a minha mão. Basta não me empurrar.

Mas mesmo assim vão ficando todos pelo caminho. Uns se afastam depois de alguns passos e voltam para o lado mais seguro, onde vários tipos de montanha garantem seu suporte (cada um se apoia na montanha que merece); outros simplesmente sentam no chão e empacam, e se eu olhasse para trás veria inúmeras figuras lá onde ficaram ao longo do caminho, ainda no mesmo lugar. Mas eu não olho. E há ainda os que saem correndo na direção oposta, ou em qualquer direção, que seja longe do perigo.

E o caminho ainda é longo, e o receio que se insinua não pode se instalar, senão quem vai empacar sou eu. E não vai ser agora, depois de toda essa subida íngreme que eu já deixei para trás, que eu vou parar e sentar no chão. A menos que seja para apreciar a paisagem.

Nenhum comentário: