terça-feira, 5 de outubro de 2010



Eu conheço um lugar que é uma twilight zone. Aparentemente é um lugar bem comum, com cara de habitação mundana, mas basta transpor a soleira da porta para dentro e me vejo no mais surreal dos mundos. Lá não se anda de sapatos e em geral tudo está muito escuro, no máximo, tem luz de velas. Já aprendi a reconhecer o caminho, mas a cada vez que apareço, novos recônditos se revelam, e me arrastam para espaços que mais parecem fora do espaço.

É uma dimensão paralela, e quando entro lá abre-se uma lacuna no tempo, na minha localização geográfica e no meu lado esquerdo do cérebro. Sou eu, mas não sou eu. Eu vou lá por livre e espontânea vontade e de muito bom grado, mas a partir do momento que entro não sei mais de mim. Ou pelo menos da eu com quem convivo todos os dias.

Tem bichos por todos os lados, mas é um lugar silencioso. Os peixes por si só obviamente vivem no silêncio. Os pássaros parecem respeitar calados o que presenciam, os cachorros parecem ausentes, o gato é o capítulo à parte. E o habitante humano dos domínios é o mais peculiar de tudo, é muito semelhante ao gato, mas ao mesmo tempo é etéreo como se vivesse nas nuvens, e tenho minhas dúvidas se a qualquer momento não possa tocar o ceu só estendendo a mão. E aliás, todos os toques nesse mundo parecem toques de anjo. O silêncio é primordial, as palavras pouco necessárias, e quando se fala, são sussurros.

Escuro, silêncio, presenças que mais parecem ausências. É o lugar onde se fala pouco e se sente muito, profundamente, e fora das demandas do mundo lá fora.

Depois eu volto para ele, o "outro" mundo. Mas é com fôlego renovado, e é bom saber que sempre existe para onde correr.

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