sexta-feira, 10 de dezembro de 2010



Ao longo de toda minha vida, obviamente como acontece com todo mundo, sofri as mais diversas decepções. Todas são dolorosas, mas a muitas nos acostumamos e vamos desenvolvendo maneiras de superar. Mas as decepções com as amizades, com estas ainda não consegui aprender a lidar.

Eu cultivo. Todos temos nossas vidas para cuidar, somos ocupados, e além disso, muita gente passa pela nossa existência, mas pouquíssimas pessoas para ficar. Mas muitas vezes elas não ficam porque não regamos todos os dias. Ou uma vez por semana. Ou que seja uma vez por mês, por ano, a cada dez anos, algumas depois de mais de dez anos conseguimos retomar exatamente do ponto de onde paramos. É inacreditável como a familiaridade se restabelece em segundos.

Eu tive muitas perdas. Reais e metafóricas. A uma altura dessas todos tivemos, mas nem todos se importam. Eu me importo. Inimigos a quem eu tenha declarado guerra não tive, não tenho e não quero. Mas fui chamada a muitas batalhas. Quando era mais jovem adorei travá-las. Hoje já me cansei disso, descobri que existem tantas, tantas outras coisas melhores para ocupar meu tempo.

É por isso que não entendo. Há alguns dias, lendo algumas coisas, descobri que existe uma patologia chamada Síndrome de Cotard "também chamada de "delírio de negação", "delírio de negação de órgãos", é uma condição médica na qual a pessoa apresenta a crença delirante de estar morta ou de que seus órgãos estejam paralisados ou podres, ou ainda de que amigos, familiares, o mundo à sua volta não mais existem ou estão em via de não mais existir, independentemente do diagnóstico do paciente." [in Dicionário de Síndromes]. Daí que achei que algumas pessoas foram acometidas desse mal e nem perceberam.

A vida para elas acaba. Pode ser algum fato que tenha desencadeado, alguma perda, alguma falta, algum trauma de infência não resolvido, enfim, cada um tem suas razões, cada um tem suas dores, eu não julgo, eu só lamento. E uma vez que não têm mais vida, preocupam-se em demasia com a vida alheia. Quem fala com quem, quem convive com quem, quem disse o que e quando, porquê, quem foi convidado, etc. E pautam suas vidas com base nisso - se ela for não vou, não gosto de quem consta na agenda dela, se você quiser conviver com "x" ou "y" vou medir seu caráter por isso e vou sair distribuindo alfinetadas veladas, porque de tão medíocre que é minha vida, não cabe nada de excepcional, então vivo em meu mundo plano, superficial, fingindo que sou profundo, soltando frases inteligentes e espirituosas, mas não falo abertamente, porque o confronto me torna humano, e não quero mergulhar na vida. Afinal, morri.

Mas isso não é crítica. Não é julgamento. Eu não posso dizer que entendo porque não vivo isso, não escolhi morrer assim em vida. Mas naturalmente não tenho nada que palpitar, cada um faz suas escolhas e convive com elas.

Eu só lamento. Não sou boazinha nem nada, mas lamento tanto cultivar e depois a flor murchar sozinha, por vontade própria, não por negligência minha, que me dou, mas por teimosia de ser um girassol às avessas - virar sempre para o lado escuro. Eu sinto tanto, tanto, perder as pessoas que significam muito para mim. Mas não vou me virar para o lado escuro.

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