sexta-feira, 8 de abril de 2011



A vida tem sido cheia de arestas lancinantes, e eu me questiono se tem que ser assim, e se vai sempre ser assim. Eu passei tanto tempo anestesiada e sem viver e tudo era tão cinza por dentro que eu achei que sentimento pior que aquele não existia. Então ressuscitei e a volta à vida trouxe em alguns momentos dias mais coloridos, mas a vida é tão aguda que dói mais ainda que o campo árido que eu fui por tanto tempo. Ou seja, estou sempre querendo correr para fora de mim, para um outro lugar onde não seja nem o deserto e nem a profusão tão grande de flores que dói a vista e os insetos picam.

Mas onde fica esse paraíso do meio termo? Ele existe? Eu tenho que viver tudo tão intensamente até doer? Como eu faço para parar antes que chegue nesse ponto?

Aliás falando em pontos, eu tive momentos tão pontuais em minha trajetória que poderia até precisar o dia e a hora em que alguns sentimentos se manifestaram. E isso é muito esquisito. Hoje eu me apaixonei. Antes de ontem comecei a desistir de alguém. Amanhã vou acordar e não sentir mais o que me ceifa hoje. Já que é assim, eu deveria agonizar menos, eu poderia ter mais equilíbrio.

E voilà - o equilíbrio. Eu sou uma pessoa externamente muito equilibrada, eu sou uma cidadã exemplar, pago meus impostos, dirijo com cuidado, tenho uma profissão honesta, minhas dívidas são só as razoáveis, eu tenho uma aparência de respeitável. Mas agora vou confessar uma coisa que vai jogar a minha reputação pelo ralo, eu não sei quem é essa. Quando alguém me diz o quanto eu sou tranquila e responsável, eu gostaria de convidar para passar uns três dias dentro da minha cabeça. Esse lugar se parece com uma obra de Dali, lá é tudo surreal, eu produzo coisas dentro de mim que dariam um tratado de esquisitice. Eu sou a manjada imagem do lago plácido onde mora o monstro.

E eu estou cansada, muito cansada. Eu insisto no que não deveria, eu entro em situações que eu sei que não vão acabar bem, eu digo sim para aquilo que grita não lá no fundo, eu ignoro o que é anunciado em neon e efeitos sonoros, eu me machuco pondo a mão no fogo sabendo que queima. Mas eu insisto, eu acredito no papai noel, na cegonha e na paz mundial. E o pior de tudo - sou totalmente ciente da insanidade total que é viver como eu vivo. Só não sei onde está a porta de saída.

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