sexta-feira, 29 de abril de 2011



Eu ando sobre o gelo fino. Entre o respeito e a quebra definitiva das cercas, entre a mão que se estende no ar e para antes de tocar e as pernas que agarram como tesouras. Eu faço e desfaço as malas, eu me obrigo a fazer o que não quero e quero o que não me obrigo a fazer. Eu fico entre o não e o por favor que grita, em silêncio, por trás do muro, da fachada, da casa que é a fortaleza. Eu procuro as asas perdidas, porque sei que elas estão lá, apenas recolhidas, eu tenho o remédio, mas o caldeirão ainda destila o passado, o presente assustador, o medo. Sim, eu estou aqui cansada, e não sei mais se espero, e não sei mais em que condições estão as minhas defesas. Fico entre o reino da covardia e a mansidão, e a invasão, a derrubada das paliçadas, os cavalos que saem em disparada, as espadas, gritos e clamor, o calor da batalha, o ardor do fogo que incendeia fora, dentro, casa, castelo, muros, cercas, cabeça, coração.

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