segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Perguntas, perguntas, e algumas respostas



Eu não tenho nenhum jeito com crianças e/ou adolescentes. Eu não sou aquela pessoa que rola no chão com sobrinhos ou desconhecidos totais filhos de alguém. Choro de bebê me dá nos nervos, quando vejo criança mal-educada dando show em público tenho vontade de estapear. Os pais, obviamente, porque não estapeiam seus filhos. Eu só digo que a criança é linda e fofa se ela de fato for, sim, existe criança feia. Mais bruxa malvada que eu impossível.

No entanto eu tenho dois afilhados cujas mães desavisadas cometeram a loucura de escolher a madrinha malvada. E no entanto de novo, eles me amam. E eu os amo como se fossem meus, de verdade, só sem a parte da melação. Portanto não sou assim tão perigosa.

E eu sou mãe. E essa é a melhor coisa que eu fiz a minha vida toda, foi minha melhor produção. Não era o meu sonho desde que eu nasci, mas eu quis e fiz, e foi o trabalho mais perfeito que realizei. Ocorre que obviamente minha filha não nasceu adulta - e nem chegou lá ainda. Pela fase em que às vezes queremos jogar na parede ou sair andando e não voltar mais já passamos, e foi bem superada. Houve muitos outros agravantes, eu não passei no teste de aptidão para mãe, mas é uma profissão em que as desqualificadas acabam se virando. E ela resultou bastante equilibrada se for considerado o que a rodeia, e aqui já não estou falando mais de mim, e nem vou entrar no mérito para não ser mais apedrejada.

O fato é que ela é por demais questionadora e tem um repertório de questões existenciais de fazer inveja a quem tem o dobro da idade dela. O bom é que essa qualificação de respondedora eu tenho; e eis que ela me pergunta por quê se ama a pessoa que amamos. Como é isso? Por que esse e não aquele? O que esse tem de especial? Enumere pelo menos duas coisas que são as mais importantes. E como se não bastassem as minhocas que já moram na minha cabeça, ela instala mais essas. E me pôs para pensar.

Eu como sempre me saí bem na resposta porque sou pós-graduada em enrolação, mas de verdade mesmo, por que esse e não aquele? Qual é a qualidade principal? Como? Em que momento a gente sabe? Algumas coisas não quis responder apesar de saber que poderia, porque prezo demais a minha privacidade (diz a que escancara no blog). Disse verdades. E depois pensei nelas. Já notei que nossos primeiros amores, entre os quais em geral fica o casamento, são treinos. No casamento cometemos todos os erros possíveis por pura falta de prática. É o treino. Depois, os amores maduros são uma outra história completamente diferente. Para começar depois de uma determinada idade fazemos só o que queremos e as concessões só são feitas para grandes amores. Eu só me digno a me montar e sair em cima do salto se for por algo que realmente valha a pena, porque já não preciso provar nada para ninguém, então para sair de casa e ouvir bobagem, fico lendo um livro que é uma boa companhia garantida. Ou vejo bobagem na televisão mesmo - de pijama.

Então disse a ela que o fundamental, o básico, é alguém que saiba do que a gente está falando. Eu já estive em tanta conversa de surdo e mudo, parece que estou falando em outra língua, mas de outro planeta, nem terráquea. Ou egos do tamanho de elefantes, aquele elefante que fica na sala e eu tenho que fingir que não estou vendo. E no entanto, existem as pessoas com quem temos ligações diretas boca-cérebro. Aquelas com quem não precisamos completar algumas frases. Aquelas para quem lançamos aquele olhar em determinada situação e que significa "você sabe o que eu estou pensando". É para quem dizemos e de quem ouvimos "você sabe do que estou falando". É quem nos diverte. Rir junto é fundamental. É quem é complicado. Já ouvi "sou simples" como se isso fosse uma vantagem. Não é. Pessoas complexas são universos com quem compartilhar a vida. Acrescentam. Ouvem. E ela surpreendentemente lançou a palavra "atencioso" que eu jamais esperaria ouvir dentro das circunstâncias da conversa. Mas sim, cabe também.

Mas eu não sou totalmente desprendida não. A uma altura dessas da vida não dá não. Aparência? Sim. Mas o que me parece bonito a outros olhos pode não parecer. É o pacote, eu ouvi. Eu sou um pacote também, todos somos. Cabe a cada um saber o conteúdo fundamental. Ilusões já não temos mais, eu nem consigo alimentar as de uma adolescente, não sei fingir, minto mal demais. E o momento em que percebemos que estamos apaixonados? Como dá pra saber? Talvez seja o momento em que nos permitimos.

Um comentário:

Luci disse...

100sacional!
cada letra diz exatamente o que é, embora nem 100pre seja facil.
bj