Eu andei muito envolvida com Homero, o da Ilíada. Eu me envolvi na leitura e acabei depois para minha semi-decepção assistindo o filme que roubou tudo do livro e mandou para a zona das coisas perdidas. Só não foi tão ruim porque tinha o Brad Pitt de Achilles, mas só por ele mesmo, porque o Achilles da minha cabeça é muito maior, muito mais forte e muito mais cabeludo e teimoso. O pobre Pitt é só uma amostra de Achilles, mas é o Brad Pitt. Bobagens à parte, gostei tanto de ler porque as batalhas que eu venho lutando têm sido tão severas quanto aquele cenário que pula do livro, que me faz sentir o cheiro do bronze se chocando.
Eu não sei se eu preferiria lutar as batalhas que se luta paramentado, com escudos feitos pelo Hephestus ou não, eu seria mais modesta, mas uma armadura iria muito bem em certas situações.
É interessante a geografia da batalha, um lado encurralado pelo mar e impedido pelas muralhas de Tróia, o outro protegido pelas muralhas mas com um certo medinho de tanto grego herói. E o pior é que ninguém queria nada disso, nem vou entrar no mérito da infantilidade do Páris.
O que foi me dando uma certa familiaridade foi como foram ferrenhas as batalhas. Eu faço das minhas batalhas uma guerra de Tróia, em duração, carnificina e intensidade. Eu já me conformei em ser intensa, eu não sei viver de outro jeito, mas o que ocorre é que a linha entre a intensidade e a burrice é muito tênue. Vide a inocência dos próprios troianos de levarem o cavalo para dentro. Ou do grande Heitor que matou o homem errado só porque ele estava com a armadura certa.
Aliás, para mim os heróis parecem vir assim mesmo: com a armadura certa, e quando menos espero, vou ver lá dentro e é o Pátroclo e não o Achilles.
Os gregos, os troianos, todos os povos que lutaram, na ficção e fora dele, e todos os homens em geral amam a batalha. O heroísmo é tentador. O próprio Achilles escolheu a vida breve em troca da glória. Na maioria das culturas desertores são criminosos. Ou no mínimo covardes.
Mas existe nas batalhas pessoais um elemento diferente. A minha batalha é comigo mesma. Eu não sou burra, apesar de ter deixado entrar alguns cavalos. Só que o heroísmo da intensidade me exauriu. Há tempos eu me sinto Don Quixote, uma luta sem nexo. Eu precisava tentar de tudo, eu sabia que a guerra em que eu entrei era de sangue, suor, lágrimas, cabeças decepadas e corpos cremados e empalados. Eu estava corajosa.
Mas até os troianos, tolinhos, achando que haviam espantado os navios, festejaram e foram dormir deixando um cavalo enorme no meio da cidade, um monumento à burrice que parecia tão improvável. Quando os gregos entraram, eles souberam. Era chegada a hora.
A minha hora chegou. Estou recolhendo a minha espada, tirando a armadura, encostando o escudo, vou cuidar das feridas de guerra, porque cansei, cansei de verdade das espadas no meu coração. O inimigo é astuto como Ulisses e corajoso como Achilles. Eu estou mais para a Penelope que ficou lá esperando. A guerra acabou? Não. Só não sei se volto para ela.
There is a time for everything,
and a season for every activity under the heavens:
a time to be born and a time to die,
a time to plant and a time to uproot,
a time to kill and a time to heal,
a time to tear down and a time to build,
a time to weep and a time to laugh,
a time to mourn and a time to dance,
a time to scatter stones and a time to gather them,
a time to embrace and a time to refrain from embracing,
a time to search and a time to give up,
a time to keep and a time to throw away,
a time to tear and a time to mend,
a time to be silent and a time to speak,
a time to love and a time to hate,
a time for war and a time for peace.
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