segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Stopover


Demorei a entender que sou passagem.
Abrigo viajantes, facilito caminhos e descanso junto naquela pausa necessária entre um trecho e outro.
Não sou destino.
O meu nome não está impresso no bilhete.
Alguns seguem com muito de meu, outros nem tanto, muitos nada.
Mas eu mantenho a porta florida e o café fresco.
Pois o viajante se vai, sempre.
Mas eu terei algo belo a descansar os olhos, lembrando dos risos em torno da mesa enquanto sorvo o meu café.
Esse texto foi escrito pela pessoa de quem vou falar. Só pelo texto se nota que trata-se de alguém de quem vale a pena falar. Mas ninguém a descreve melhor que ela mesma, no texto aí em cima.

Ela está de casa relativamente nova, porque lá se vão já dois anos de mudança, mas para mim é nova, porque na última visita fui à antiga. O que é flagrante - e para mim não foi surpresa - é que o que se muda em primeiro lugar é o capricho. Não conheci todas as casas dela, mas seja lá onde for que more, não é difícil saber onde são seus domínios.

Eu tive a sorte de seguir com muito do que é dela. Em um momento decisivo, um turning point da minha vida, ela foi a primeira a segurar a minha mão em um mundo que, na época assustador, revelou-se depois de vários processos, aquele pelo qual eu esperava. E esteve presente ao longo de vários anos, algumas vezes fisicamente presente, outras virtualmente, outras tantas ausente sem nunca, nunca sumir do pensamento.

A porta florida e o café fresco são só metonímias de tudo que ela tem para oferecer. Seus viajantes mais frequentes foram ensinados por ela mesma a viajar, forjados a ferro, fogo e amor, paridos de dentro do ninho para o mundo, que hoje já conquistaram com louvor.

Passam-se os anos, eu vou acumulando pedaços de sentimentos que ela faz com as mãos, guardados com primor, conservados em fixador etéreo. Só confio meus santos às mãos dela. Os santos, os sonhos, as vontades, que ela atende por puro amor, porque tem mais o que fazer, sonhos mais imediatos e pomposos a atender, a fada dos sonhos de quem ainda tem coragem suficiente para arriscar viver um amor na prática.



Fiquei tempo demais sem me sentar em suas cadeiras. Mas ao final da noite, depois da refeição que tem gosto de amor, a doce sobremesa e o indefectível vinho, quando se leva apêndices que são aceitos como são, e os apêndices se recolhem, e nos sentamos e confidenciamos - é então que se nota que depois de tanto rir - porque além de tudo, ela tem um senso de humor raro - até eu que tenho duas mãos esquerdas consigo fiar junto com ela, falamos de dores, de nossos amores todos, especialmente os que deixamos voar, e descanso os olhos.

Seu nome estará sempre no bilhete como parada obrigatória, Suzi Márcia.

Observação: As fotos também foram roubadas da Suzi.

Um comentário:

Suzi disse...

Que coisa linda, amore!
Obrigada!!!
beijoss