sexta-feira, 14 de maio de 2010



Os livros que eu não quero mais estão empilhados no chão esperando uma destinação. Existem caixas e sacolas com coisas dentro que eu não sei para onde vão. A poeira que acabou de ser tirada vai se depositando de novo, as coisas quebram, são corroídas, mofam, o frio começa a me encurralar cada vez mais para dentro. As pessoas vão passando pela casa, pela correspondência, por dentro de mim, e eu acabei me perdendo em algum lugar do caminho de tal maneira que já nem sei mais onde estou agora. As pedrinhas que fui tentando jogar para achar o caminho de volta se misturaram à paisagem, a fé que eu tinha nelas começa a se esvair. As coisas não andam como deveriam, por uma miríade de razões que vão da prosaica chuva que atrasa alguma coisa ao mais profundo desespero que desanda tudo, toda uma vida. E por nada. É uma epifania ao contrário, serendipity às avessas, e eu me sinto parada no meio do nada com alguma coisa na mão que nem é minha e sem saber o que fazer com ela, mesmo porque nem sei do que se trata. Minhas estimativas erradas de tudo me decepcionam, principalmente quando me revelam que eu não entendo nada de gente. E nem gosto de animais, então o que vai me restar? E o vazio do nada-me-resta que vem à tona no meio de pessoas, festas, trabalho, multidão, e eu continuo sozinha, assim como nasci assim como vou morrer, todos sabemos, assim como sabemos de muitas outras coisas. Mas saber é uma coisa, vivenciar é outra bem diferente, porque a dor passa de teoria para adagas no coração. E o inverno não ajuda nem um pouco, porque acabou de se instalar fora e dentro.

2 comentários:

Luci disse...

mas o papo não ajudou?

flordelis disse...

Você sabe, há dias e dias. O dia desse post foi especialmente ruim, o seguinte foi bom, hoje não sei, amanhã menos ainda. E assim vamos.