segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ridículo, muito ridículo



Eu venho observando isso já há algumas semanas, mas estava tentando amadurecer a ideia para falar sobre ela. Daí concluí por fim que mais madura que está não vai ficar, e essa é a ideia mesmo, a que eu quero despejar.

Nós todos temos no fundo quinze anos.

Por mais maduras que as pessoas pareçam, independentemente da idade, classe social, opções de todos os tipos: sexuais, políticas, culturais, etc., e com exceção feita aos casos óbvios de mulheres retardadas que mantêm uma coleção de bichos de pelúcia depois dos trinta anos e homens que berram se alguém imacular o carro que acabaram de lavar (em qualquer idade), em determinadas situações o/a adolescente de quinze anos em média pula pra fora.

Pessoas com crianças pequenas e bichos ficam mais sujeitas a revelarem essa faceta, mulheres que andam armadas de garfos para espetar no pescoço de amigas (vide A Solução de Clarice Lispector) por motivos os mais variados, peso, medidas, amizades, amores, cor das unhas, e outras coisas relevantes e homens de qualquer idade que entabulam conversações tão relevantes quanto - exemplo - ele estava impedido.

Mas o crème de la crème disso é a paixonite. Homens barbados, enormes e musculosos (ui) e os nem tanto, mulheres sérias e responsáveis, ou nem tanto também (argh) com mais ou menos primaveras computadas, antenados, plugados, atualizados, profissionais, confiáveis, com reputações a zelar, ficam igualmente ridículos.

O timbre de voz é o primeiro sinal, muda para o mesmo da pré-infância. As mulheres enrolam uma mecha de cabelo com os dedos, piscam muito, os homens inflam (em geral). Ouve-se muito "é mesmo?" e [insira algo bem ridículo aqui] seguido de "sabiaaaa???". Então. Alguns casos são mais graves porque a vestimenta acompanha a regressão mental, e aqueles cuja vestimenta acompanha a idade, em geral as proles, se assustam. O telefone vive ocupado. O msn vive fazendo o famigerado barulhinho, o coração acompanha aos pulos, arriscando em determinadas idades uma arritmia. A gente ri à toa, chora à toa, se descabela, fica com raivinha, arquiteta vingancinhas, compra coisas que até deus duvida para experimentar aquilo que deixou passar sabe-se lá quando no meio da monotonia anterior.

A gente dança, se precisar pula de pára-quedas, escala montanha, pega o carro, o avião, o ônibus, o que estiver à mão, a hora que for. Porque o bom da adolescência tardia são os acessórios disponíveis e a liberdade de fazer o que der na telha, enganando filhos e outros inocentes em geral com mentiras tão ridículas que se nos contassem morreríamos de rir.

E ainda coramos. Sim, os adolescentes tardios são do tempo em que se corava. E damos risadinhas. E fazemos dramas. Com conhecimento de causa podemos nos dar ao luxo de arriscar porque já sabemos que por mais que doa, tudo passa se precisar doer. E sabemos também que a viagem, enquanto está boa, é para ser aproveitada, muito, é pra se jogar no abismo de olhos fechados.

É uma delícia ser ridículo.

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