segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ele disse, ela disse, eu deixei passar


Quando já temos uma idade em que lembramos muito bem dos anos oitenta, às vezes onde viemos parar hoje ainda assusta um pouco. No meu caso específico, por ter o computador como companheiro de trabalho em tempo integral, apesar de só saber fazer o que preciso com ele, aprendi a me comunicar com o mundo para amenizar a solidão que o meu trabalho me impõe.

Para os mais jovens é muito natural o ritmo dos relacionamentos e a maneira com que se descarta o que não serve mais, a linguagem nem sempre é delicada, tudo se sabe, o mundo virou uma cidadezinha do interior com uma rua principal e uma praça onde se faz o footing. Para a minha geração e as anteriores ainda restaram algumas coisas com mais valor, folgo em saber. Obviamente essa não é a regra, não existe idade para a delicadeza ou a falta dela, só estou generalizando.

Mesmo porquê, o que descobri nos últimos foi em mim mesma. Em geral, talvez pela maior facilidade de sabermos o que os outros estão pensando porque é publicado para o mundo em tempo real, acabamos conhecendo mais gente mais a fundo, o que é paradoxal com a impessoalidade do virtual, mas é fato. E o que eu observei é que a prosaica fofoca não só ganhou proporções homéricas como automaticamente se tornou mais aceitável pelo status de normalidade que acabou conquistando. Falar mal de alguém ficou tão banal que ninguém nem percebe. Criticar, desde o vizinho até o chefe da nação vizinha, é tão trivial como dizer bom dia a todos. Não vou discutir os merecimentos, só estou aqui me atendo aos procedimentos.

Mas nem é aí que eu queria chegar. O fato é que acabei descobrindo que, em particular como era antigamente ou em público como é hoje, criticar, xingar, fazer observações, fofocar, é muito simples. E me incluo aqui porque não fiz curso para buda, muitas vezes me achei venenosa mas continuei. Talvez seja da natureza humana e achamos sempre justificativas ou novos meios para apontar o dedo para o outro. Não sei se tem conserto.

Minha grande epifania foi na verdade perceber o quanto é difícil elogiar. Manifestações públicas de apreço são raras, noticiário de boas novas ainda não vi, homenagens a pessoas vivas são exceções. Isso no público, em particular, temos dificuldade de dizer o que é bom. Ter raiva é fácil, contar a todos os miseráveis maus-tratos a que somos submetidos pelo chefe tirano, pelo amigo mal-agradecido ou outros personagens é simples demais, mesmo porque todo mundo tem uma história dessas para contar.

O meu silêncio em reconhecer algo de bom me trouxe uma tristeza muito grande. A minha hesitação em demonstrar o que de bom se passava dentro de mim me privou de viver isso. Se ainda há tempo não sei. Mas aprendi, de novo com dor, que as más palavras saem rápido demais das nossas bocas. Estou tentando abrir as portas por onde saem as boas.

Um comentário:

Suzi disse...

E com que prazer destilamos o veneno mais puro,às vezes né? beijos nocê, Nega!