segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

The king is dead. Long live the king.



Às oportunidades perdidas. Aos momentos passados, repassados, requentados e extraviados. Aos que se foram sem terem sido vividos, mas especialmente aqueles que essencial e insanamente o foram. Às provas que precisamos analisar, à comprovação do que já sabíamos, mas era triste demais, pesado demais, dolorido demais para reconhecer. Às cicatrizes dos ressentimentos, ao ir, vir, ficar e aos pontos finais que se tornaram vírgulas e aos que se apagaram de tanto desgaste, mas sabemos que estão lá, indeléveis. Ao grande, enorme mundo que encolhe e se expande, ao relativo, ao absoluto, ao que parece mas não é e ao que é apesar de oculto. Ao que é, foi, mas acima de tudo ao que poderia ter sido. O que pareceu ter sido. O que não foi. Às mentiras, meias-verdades, meias-mentiras, verdades absolutas, falácias, ao blablabla infinito e vazio, que esconde, disfarça, engana, destrói sem volta a confiança, a expectativa, deixando os olhos escancarados no escuro solitário da noite do impessoal quarto de hotel de hoje, ontem, da semana que vem, de sempre. À tentativa falha de finalmente levantar da cadeira desconfortável do aeroporto e ir para casa, a que nunca chegou a ser. Ao lar construído na nuvem, no virtual, na mensagem, no telefone, na imagem, na voz, nas palavras certas, nas palavras erradas, no dito e no calado, no gritado, no entrecortado em lágrimas, em risos, em júbilo e na alma em pedaços. Aos pedaços de alma que se perderam no caminho, aos que se ganharam, à experiência vivida, revivida, rediviva, reincidente, recorrente, reiterada, repisada e remoída, e por fim, incorporada como uma possessão. Ao desespero e ao desterro, ao despatriado e a quem é do mundo, a quem tem raízes mas queria voar, sem ser capaz de tirar os pés do chão. Aos momentos em que foi possível pular e encontrar as asas no meio do salto, aos momentos em que elas não vieram, aos tombos, feridas, ossos e corações partidos, vidas partidas. Às frases que não terminaram, cortadas pela má conexão, pela falta de sinal, pela ligação ruim, pela falta de comunicação pura e simples, pelos erros de expressão, pela não existência da palavra saudade em outra língua, pelo indizível, imponderável, impenetrável, imensurável, impossível. À disposição de, apesar de línguas diferentes, planetas diferentes, vidas diferentes, objetivos diferentes, fusos horários em absoluta dissonância, confusões culturais, choques de vontades, arriscar que os universos entrassem em colisão. Às colisões de timing, de lugar, de voos perdidos, reservas canceladas ou que apenas ficaram lá à espera de quem não apareceu. Ao suspiro, olhar, brilho nos olhos, sorriso, gargalhada. Às lágrimas que regaram, contorceram, ensinaram, aprenderam, registraram no éter a história que se perdeu em palavra escrita, dita, ouvida, presa no peito e com alívio, às vezes enfeitada, às vezes crua, saltou. Às palavras que foram todas ditas - pelo menos nada ficou a ser dito. Ao não - não posso, não consigo, não quero, não vou, não fico, não sei, não deixo, não saio, não entro, Ao não, não aguento mais. E ao sim, o que não vingou. Aos planos desfeitos, aos pores de sol não vistos, às temperaturas não sentidas, as paisagens não admiradas, os perigos não corridos, as certezas não alcançadas. Ao que não arriscamos, à zona de conforto, ao desconforto do risco calculado, ao quase, o maldito e famigerado quase, o triste, doloroso, indizível, paradoxalmente definitivo, e implacável quase, o que grita nossa incapacidade. À incapacidade de ir, simplesmente ir - ou de deixar ficar. Ao que ficou do que não foi e do que não deveria ter sido mas teimou em ser. Às horas mortas, à mesma lua vista de hemisférios diferentes, aos momentos de olhar para ontem, os de ficar simplesmente sendo, os de olhar de cima da colina para a cidade que dorme embaixo ou para o mar que não para de teimar em viver mesmo à noite. Ao que foi trazido e ao que foi levado, ao que ficou, foi deixado, e ao que foi perdido no meio do caminho, e muito, muito fortemente ao que ficou mesmo sem que a gente quisesse. À essência do descobrir que distância, palavra, meio de comunicação, tempo, espaço, dimensão são todos conceitos relativos, vontade-dependentes. À vontade que imperou e à que perdeu o reino. Ao rei, à rainha, à princesa, ao príncipe que tinha medo de cavalos e acabou se perdendo na poeira do dia a dia da distância, das alternativas mais fáceis, da falta de coragem, da mentira. Ao acolhimento da dor, do mal-estar, do desconforto da perda, à aceitação do que acabou, e acabou sem adeus. Que venha. A tudo que ganhei at the end of the day, Cheers.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Feminismo radical



Acho que o feminismo acabou levando a conquistas importantes, como o direito ao voto e mais liberdade sexual.

Isso posto, de resto, as feministas radicais em geral são: mal-amadas, (o outro mal-), exageradas, tem pouco a fazer, gostam de defender a liberdade disso e daquilo mas não respeitam a liberdade alheia de: vestir-se o que quiser (refiro-me ao que motivou este post: o cientista pousa o troço no cometa e tem que tomar cuidado com o que veste porque ofende as mulheres, ahn?), fazer-se o que quiser (não basta não ser contra o aborto, TEM que ser a favor e militar por isso), falar o que quiser (falar o que seja de mulher e comportamento feminino ofende alguma mulher no mundo), e não dar a mínima para o que não nos diz respeito (se cada um é dono de seu corpo porque querer determinar o que o outro faz com o seu? só porque vai contra os cânones feministas?).

Me deixem em paz com minhas ideias machistas, retrógradas, infelizes, estúpidas, isso é V. opinião e acordem-me quando houver algum argumento que seja a verdade absoluta homologada por deus. Ah, pera, deus também não pode. Ok, então não me acordem. V. opinião não me interessa mesmo.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

The other place the other time


Este post está entre aspas porque quem está escrevendo é um alter ego, um heterônimo, ou alguém que mora em algum lugar recôndito em mim. É alguém que intrepidamente vai, mesmo sabendo que ir pode trazer de volta coisas idas, mesmo assim, pula no meio de transporte disponível e simplesmente vai. E se a viagem for longa demais para o momento, embarca mesmo sem meio de transporte, pois mais que no espaço, a viagem é em outro tempo.

"There are several levels where we live. Routine is the one occupying most of time and space, the so-called "real life" couldn't be less real. But it consumes our time. Some people are not satisfied when they stay only there. We tend to wonder - and wander when moving - to stare at nothing, daydream. We search for something that is not there where we are, no matter where is that place "where we are". Don't misunderstand being somewhere and being somewhere. We long. Long for a day that is not today, a time that is not the present, someone who is not close, a place that is not a few steps away. But we are not unhappy. This life is good, too. But it is good because we know the other one exists, we are here and happy because part of us is always there, because we know there is "there" and usually only we do. But if you pay attention it's in our eyes, deep inside. It's not the afterlife, it is other than that, and sometimes it gets very real, attainable and feasible. Those are the golden moments that keep us going. And may we never give them up."

sábado, 8 de novembro de 2014

Doin`fine, tks.


E já que comecei a revolta contra o politicamente incorreto, vou adiante.

Muitos viram o vídeo em que uma atriz sai à rua e anda até receber 100 cantadas de homens. Bem, para começar a intenção de que isso fosse uma coisa séria já vai por água abaixo, uma vez que quanto mais ela andasse, mais cantadas ouviria, o que não necessariamente significa que isso aconteça todos os dias com todas as mulheres.

Que fique claro que não acho bonito ouvir absurdos na rua, já ouvi muitos e não gostei. Daí ao escândalo pseudofeminista a respeito vai um abismo. Digo pseudo porque acredito que as feministas têm causas válidas e não têm tempo para perder com uma asneira dessas. Qual a solução?Criminalizar a cantada? E o fenômeno é mundial. O vídeo em questão é americano, e as amigas europeias já andam também comentando a respeito, como por exemplo, aqui. Muitos comentários de homens que assistiram o vídeo acabam fazendo sentido. Eles dizem basicamente que então o que as mulheres querem - que não se dirijam mais a elas? Que fiquem no virtual? Ou calados? Daí começa o drama do "sou-rejeitada-porque-sou [insira aqui um dos seguintes: gorda/magra/negra/branca demais/alta/baixinha/pobre/rica/etc. etc.]".

Ok, então vamos esperar que todos sejam gentlemen e nos digam poemas na rua. Ou joguem flores à nossa passagem. Não, pera. Não pode também querer o príncipe encantado, não é digno da mulher moderna.

Mas vejam - não precisamos de homens. Isso é fato, Em breve talvez eles sejam extintos por pura desnecessidade. Não se depender de mim, gosto de companhia masculina, seja ela de amigos com visões de vida diferente ou de relacionamentos que trazem sempre algum acréscimo, seja ele alegria ou aprendizado. E já que estou mesmo com o pé na jaca, devo mencionar que é sempre necessário alguém para carregar o peso.

Pessoas, por favor, menos. A Nova Zelândia já fez até outro vídeo comprovando que não é bem assim. E a moça do vídeo original nem é lá essas coisas. Tantas questões importantes no mundo, deixem os homens falarem o que quiserem e pratiquem a audição seletiva - há dias em que tudo que precisamos é de um elogio, e muitas vezes ele vem de alguém que não tem a sutileza que queríamos, mas pode ser honesto. Ou não, mas é melhor que o azedume.

E além disso, mulheres, tentem responder à cantada. Uma grande porcentagem dos "inconvenientes" vai sair correndo.

Aqui quem manda sou eu, a ditadora.


Em tempos de obrigação de ser politicamente correta, tenho a declarar que a minha paciência anda cheia. Depois de uma batalha verbal nacional nas eleições para presidente onde heroicamente me mantive de boca fechada para não me irritar mais, saio por uns dias, ao voltar o impacto da realidade do país me atinge e escrevo 4 linhas de desabafo. É o suficiente para uma chuva de insultos. O outro lado em geral só tolera absurdos vindo de seus próprios adeptos. E cobram, dão aulas, donos da verdade que são. E são os que clamam por democracia, com o poder na mão de quem tem passado terrosista. O conceito de democracia muito me incomoda. A "maioria" quando fica tão perto de sua própria definição abre portas para questionamento. Mas o questionamento não é permitido, As pessoas automaticamente assumem a posição de proprietárias da verdade absoluta e ensurdecem e cegam. Ficam surdas aos argumentos e cegas aos fatos, E cobram, Cobram que concordemos com elas, demonstando com dicionário, citações e manipulações a fio. Tudo isso me enoja, e por isso fiquei fora o tempo todo. No entanto, me achei também no direito de abrir a boca quando me deu na telha. E fechar de novo depois, tamanha a saraivada de demonstração de intolerância, esses que sempre a pregaram, e hoje só a querem se for para suas bandalheiras. Bem, o desabafo foi esse, neste espaço que é só meu, aqui mando eu, se alguém fizer algum comentário ofensivo eu deleto, se alguém discordar vá discordar na sua casa, eu sou mesmo intolerante com isso, aquilo e o o que mais me der vontade, sou anti-estrela vermelha sim, e daí? Eu sou contra o que eu quiser. Isso não me impede de ter amigos com posições diferentes, ninguém tem 100% de coisas em comum, e é justamente isso que enriquece amizades e relacionamentos em geral - o aprendizado da convivência com o diferente. Mas isso não me tira o direito de também dizer o que eu quiser na hora que eu bem entender. Dois pesos, duas medidas, pensem o que quiserem falem o que quiserem, eu também me enchi e também vou falar e censurar o que eu achar que devo. Me chamem de mimada, elite branca, ignorante em história, reacionária (mas antes de dizer isso por favor, considerem a informação de que reacionário é quem quer manter o status quo, e o que eu menos quero é esse presente status quo imbecil), machista, acomodada, alienada (esse é elogio, agradecida), ou alguns nomes menos bonitos. Agradeço penhorada e nem vou dormir ä noite por isso. Só que não.

domingo, 28 de setembro de 2014

Cozinha



Cof, cof, cof, vou afastando a poeira que se acumulou aqui depois de meses de ausência, tempos difíceis, que como sempre resultaram em crescimento.

Eu não sei cozinhar. Isso nunca foi uma questão até um certo tempo atrás quando descobri que só entrava na cozinha para o "básico" se fosse para a cria. E voilá - cozinhar é um ato de amor. Isso não basta ouvir, tem que ser vivenciado, dos dois lados. As pessoas que me amam também cozinham para mim, e demorei para receber o amor, porque não entendia a extensão do que é misturar ingredientes na medida certa e não dar certo, porque sempre me faltou o principal.

Eu não me interessei pela cozinha, nunca precisei cozinhar, fui muito mimada e quando faltava alguém para o mimo me deixava mimar por mim mesma sem dar atenção para o que entrava pela boca. O tempo vai passando e vamos notando que é preciso, por infinitos motivos, que isso seja feito. A saúde, a vibração, sentir-se bem, enfim, seja no âmbito que for. Mas a cozinha sempre foi um lugar de passeio.

Acho maravilhoso quem domina a arte, especialmente quem combina as duas artes, a de simplesmente cozinhar e a de adicionar o amor. Mas não tenho talento para as panelas. Para o amor, não sei. Ou achei outras maneiras de expressá-lo, Mas o ser humano tem fome. As crias choram e esperneiam e querem comida, e não são só elas.

Ontem me vi em uma situação em que acabei sentada em uma cozinha onde se cozinhava o sagrado. Uma cozinha maravilhosa, aconchegante, e as mulheres em volta da mesa como nos tempos em que se sentavam em volta da fogueira, com assuntos não "de mulher", mas de "sensibilidade de mulher", ou seja, caberiam homens, mas o homem da casa ainda é pequeno e estava mais interessado em jogar. Provavelmente ele vai ser dons bons, com a mãe que tem, vai ser dos que respeitam e seguem exemplos.

Eu tive medo porque achei que minhas mãos não estavam preparadas nem para o profano, quanto mais para o sagrado. No entanto, o sagrado é compassivo e me chamou, de várias maneiras, insistiu, não desistiu de mim. Atendi ao chamado relutante, mas com fé, saltei. Porque é assim que se entra na cozinha - aterrisando de um salto. E em silêncio as mãos vão sentindo outras mãos maiores e o que se sente no ar é quase palpável pelas mãos visíveis.

Quando saí, caí em mais um ano que se inaugura para mim. No caminho de volta, mãos pequenas me saudavam. Eu que às vezes sou tão avessa a elas e que me pergunto sempre - por que? A resposta ainda não tenho, mas cheguei em casa mais velha, não somente um ano, mas muitos degraus mais velha, porque há coisas que não se compreende com a mente, não se vê, mas estão lá com certeza.

A cozinha já não parece tão hostil.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Saudade



"Estou com saudade de você" é uma das frases mais cruéis da língua portuguesa. Primeiro porque saudades só nós falantes de português temos o privilégio (ou sina) de entender exatamente o que é. Depois, porque na hora em que aprendemos a conviver com ela pacificamente, o outro lado vem e pronuncia o impronunciável.

Viver dá saudade de apenas sobreviver.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Considerações sobre a burrice.



Após as enchentes, águas derramadas, lágrimas, sangue, suor, dramas mexicanos, espanhóis e que tais, aporrinhação de todos os amigos e amigas que se confirmaram verdadeiros porque não foi fácil suportar não, que eu sei, desde ontem, graças ao que não é deste mundo mas é, a dor mitigou, e por fim dá para começar a racionalizar.

Não que isso já não viesse acontecendo, mas com o tempo desenvolvemos determinadas reações automáticas a alguns fatos que muito me impressiona não babar quando toca um sino.

Eu preciso de detalhes para enxergar, como a casa aqui é minha, quem não estiver interessado em mimimi particular obviamente não leia.

Eu me apaixonei há quase quatro anos. Foi uma paixão muito feia, dessas que a gente se descabela (de novo o drama), não me acrescentou nada de agradável, só me fez sofrer. No entanto o tempo se encarregou de dar cabo dela, como é o natural, mas em vez de terminar de vez o suplício entrei em outra coisa diferente, o que no caso de relacionamentos normais é saudável, mas não estamos aqui falando de coisas normais.

Eu me considero uma pessoa inteligente. Isso dito, vamos ver o meu comportamento. A pessoa em questão não é o que se possa definir como um gentleman, estaria mais para troglodita. Tem lá seus problemas edipianos, com os quais eu não tenho nada a ver, no entanto, a vida é pautada nisso. A profissão não é uma paixão, já que é muito simples quando a família tem um negócio e você finge que trabalha. Daí que sobra muito tempo, tempo esse empregado em coisas que não me agradavam e não me agradam.

A pessoa é desorganizada e eu não chego a ser a louca com TOC, mas o mínimo, o básico, não tem jeito, se não tiver me dá urticária. Daí que mesmo sabendo de todas as possibilidades de dar errado eu vou lá e aceito deixar minha filha (que é uma louca, ao contrário dos filhos dele que são maravilhosos); meus pais (que ao contrário dos dele ainda têm uma vida bem normal, sem entrar no mérito da definição de normalidade); meu amigos e amigas (que na opinião dele são idiotas, loucos, sem noção, não sabem criar filhos, recalcados, enfim, toda uma gama de adjetivos que ele não pode atribuir aos dele pelo simples fato de que eles não existem); minha casa (que é modesta mas não tem cupim, bagunça e tem faxineira, nem preciso dizer que lá é o contrário - devo mencionar "venha você dar um jeito nos cupins"), e minha cidade, que é um lixo, está impossível, mas é o melhor lugar no país inteiro para se ter uma vida cultural ao menos básica, que para mim é sinônimo de ar para respirar. Obviamente não podia dar certo, daí eu volto.

Daí em -perdi-a-conta-de-verdade- número de vezes, volte, não volto, quero voltar, não volte, viagem pra cá viagem pra lá, venha, vou. Daí uma última vez, o não venha mais. Daí todo o drama.

E de repente, além de todas as razões citadas acima, estamos falando de alguém desequilibrado, que anda na minha frente na rua, se eu bobear entra na minha frente no táxi, se acha a última bolacha do pacote em TODOS os quesitos e NÃO É, NEM NUNCA FOI, mas tem certeza que é e sempre será (sabe de nada, inocente), chega às raias da falta de educação, se acha no direito de criticar as pessoas que eu amo, é do tipo que, quando se menciona uma instituição, a pessoa diz "conheço os donos", "os donos são amigos dos meus pais", gosta de amealhar propriedades e comprar inutilidades, enfim ,estou tentando dizer que usa o dinheiro como diversão não saudável, só porque "eu posso e estava com vontade".

Ah, mas obviamente tem seus lados bons. Sabe cozinhar, sabe ir ao supermercado e lê e assiste filmes. Só que basicamente isso é tudo que a pessoa faz na vida. E intimamente se atribui ou título de rei (da cocada preta), mas uma amiga querida já definiu melhor por razões de piada interna, rei da tapioca. O fato é que a monarquia aqui já caiu faz tempo, a pessoa não notou e não vai notar nunca, mas quem acordou agora fui eu.

Daí que que diabos eu estava fazendo com isso? E a pergunta NÃO é irônica. Eu estou muito, muito preocupada, porque, mediante essas e outras razões que eu poderia passar o dia enumerando e contando se quisesse enumerar as inumeráveis situações em que eu fui uma palhaça, idiota ou as duas coisas, passaria aqui dias, o que posso pensar de mim mesma?

De tanto ouvir de todos os lados que eu preciso dar valor a mim mesma, uma hora finalmente entrou no cérebro, mas aí, a vergonha própria é de matar. Eu já tentei me consolar dizendo que na verdade era uma boa companhia. Mas não era. Que se preocupava comigo. Até se preocupava, mas eu vinha em quinto lugar depois de eu, eu, eu e eu (o eu-ele). Que estava à minha altura intelectualmente. Não, não estava, eu sou até modesta e quando vejo meus amigos me acho um zero à esquerda, mas ao se comparar comigo, a cultura lá está mais pra acidental. E a cara de "eu sei tudo" estraga muito o que poderia ser aproveitado. E a pessoa ainda joga em cima de MOI a culpa toda de todas as coisas que deram errado porque ele começõu a fazer dar errado.

De maneira que, ladies and gentleman, eu sou é BURRA. Eu abomino a burrice, e bem feito pra mim, essa foi minha lição de humildade para toda vida, a burra sou eu. O bom é que a lição desta vez foi aprendida. Não trabalhamos mais com homens que não beijem o chão que pisamos. E aqui sim, estou sendo dramática de novo, mas os entendedores entenderão. Mesmo porque, eu tou podendo. Se eu abrir a porta, caem vários aqui dentro, sem mencionar os esqueletos doidos pra sair do armário. Sim, burra. Burra até não poder mais. Mas obrigada, ó entidade suprema de mil nomes, pela lição de humildade, e de possibilidades, e da história de portas fechadas e janelas abertas.

Me autorizo a continuar odiando a burrice. A começar pela minha própria. Não vou dizer vai ser burra lá no inferno porque simpatizo com o Lucifer e não estou querendo matar de tédio ele também.

update: vale a pena acrescentar o que o Fabricio Carpinejar sabiamente constatou.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

[muito manjadas] Metáforas aquáticas


As civilizações formam-se ao redor dos rios. No mundo todo, nas grandes e pequenas cidades, se olharmos de perto, tudo começou ao redor e em função do rio. Hoje é menos óbvio, porque poluímos, crescemos, nos afastamos, mas ainda dependemos deles.

A vida forma-se ao redor das águas que correm por baixo das pontes. Ou à beira dos rios onde sentamos para esperar passar os cadáveres.

Em algum lugar hoje o rio transbordou. Eu fiquei do lado seco. A amargura, a mágoa e a dor me fizeram desejar coisas horríveis. Mas o que eu queria mesmo era que todo esse sentimento se afogasse ou fosse embora na correnteza. No entanto, a hora ainda não é chegada. Uma das coisas que não controlamos e nunca vamos controlar por mais tecnologia e ciência que se use é a chuva. Ela chove quando quer e se quer, e por vezes faz tanta falta, mas causa estragos quando vem para ficar.

As águas são incontroláveis, inclusive algumas que jorram de nossos olhos, que ironicamente são salgadas, nós que somos muito mais rio que mar. Não importa o que queremos, o que planejamos, o que organizamos. Se a chuva quiser chover ela chove. E o curso das águas de dentro também acha seu caminho pelos olhos.

O óbvio é o óbvio. Tudo o que tinha de ser dito foi, toda bem-vinda ajuda foi prestada, toda racionalização elaborada, e no entanto, a tristeza não se desinstala. O tempo, eu sei. Mas e enquanto isso? Decorar o meu jardim, eu sei. Mas tenho vontade que chova nele todo.

Lá no fundo eu sei que em muito breve a curva do rio trará alguma coisa ao meu campo de visão, eu que estou aqui cansada de ficar sentada. Mas só por hoje, contra todas as obviedades e boas intenções, inclusive as minhas próprias, eu vou soltar as águas internas. Que venham as inundações.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Não era bem o que eu tinha pedido



Ele de novo. O velho sentimento conhecido de coração partido. E meus corações partidos são for real, causam dor física, de aperto no peito, depois das facadas. Eu mal respiro. Eu achava que não ia mais sentir isso, o que de uma certa maneira doentia me alegra ainda sentir, eu que andava bem adormecida. Mas eu queria os píncaros de outrora, não as profundezas.

Do meio das cavernas subterrâneas da dor eu ainda não entendi direito, devem ser as fases do luto, porque, sim, um coração partido é matar alguém, matar tudo que se viveu com alguém, arrancar à força e contra a vontade o amor de dentro, um parto com fórceps.

Em alguns lampejos de raciocínio eu bem sei que o cadáver já era defunto há muito tempo, só faltava enterrar. No entanto, jogar as pás de terra não é divertimento para ninguém, especialmente quando não somos quem cavou o buraco.

A pior parte é acordar pela manhã com a ausência. O silêncio do telefone. Os rastros foram escondidos, ocultos por uma alma que me ama mais, para quando eu puder de novo olhar para eles sem chegar aos prantos de novo, testemunhas de um tempo que chegou ao fim.

Enfim, é o de sempre, tenho sorte de ter as pessoas mais maravilhosas que me falam as coisas que vão mitigando o caminho árduo. Mas ele é só meu. E eu quero que acabe logo mas não acaba logo. E a falta de paciência é o meu pior defeito.

Estou começando a pensar de verdade que a emoção da descida não vale a subida da montanha-russa.

Bem gráfica a imagem né? O sentimento é mais ou menos assim.

sábado, 10 de maio de 2014

É o que temos para o momento de dia das mães



Eu ando desaparecida daqui, o que significa que me afastei de mim mesma para ter uma perspectiva. Tenho posts para inserir aqui mas por estar peregrinando eles só vão sair do moleskine para o digital quando eu estiver de volta para um lugar que não sei se posso chamar de casa. Mas o assunto não é esse.

Eu não gosto de comemorações coletivas, dia disso ou daquilo, usando o clichê, "é tudo comércio". Porque é mesmo. Mas parece que como castigo, só por isso, vou ter que passar por três dias das mães. Daqui a algumas horas no Brasil é dia das mães. Semana passada passei pelo primeiro. E dia 25 vem outro. Esses são os que eu sei, quiçá tem algum outro no caminho.

Hoje na pausa das andanças, e na cobrança, na pressão e no drama da que é a razão de eu me encaixar na categoria de quem deveria celebrar dia das mães, vim aqui escrever só por rebeldia mesmo. Chove muito e eu já tomei minha cota diária de chuva e obras de arte hoje, posso vir aqui fazer mimimi.

Folguei em observar que muitas amigas (que são minhas amigas também por esse motivo) também odeiam ou odiavam (pelos filhos já terem passado da fase) as festinhas escolares de dia das mães. Outras, as estreantes, cujos presentes da escola ainda são mãozinhas na camiseta, panos de prato, enfim, essas preciosidades, ainda acham tudo lindo, com fotos dos rebentos estampadas pra todo lado e o pobre do pai quando presente tem que cuidar do verdadeiro presente que não seja um eletrodoméstico, para não alongar os dramas.

Eu não gosto de festinha escolar, não sou fã de almoços familiares, apesar de, agora que já há alguns anos que parecem muitos, demais, depois da minha vó ter partido e nos deixado todos órfãos, eles fazerem uma certa falta. Com a minha mãe tenho tudo resolvido, hoje posso estar do outro lado do oceano e falar com ela pelo skype (mãe moderna) que não vai ter drama, sangue, suor e lágrimas. Presente dou quando posso e quando tenho vontade, não preciso de data, e ela sabe que meu amor não se mede com presente.

Já na outra ponta da corda o drama é a palavra de ordem. Eu estou a muitos, muitos quilômetros de distância. E isso caracteriza abandono, na opinião da interessada. Aqui vai então um recado para todos e todas as interessadas: mãe quando pare não deixa de ser humana. Não deixa de ser um ser separado. O cordão umbilical é cortado no nascimento - os dois, o físico e o outro. Mãe ama o(s) filho(s) mais que qualquer coisa, e as únicas pessoas que nos amam incondicionalmente e para sempre são nossos pais. Isso não significa que as únicas mães que têm valor são as mater dolorosa. A igreja, a sociedade estabelecida e outras instituições mais nos convenceram que mãe tem que sofrer. Mas não tem não. A gente sofre quando sofre mesmo, de preocupação, de amor, de querer o melhor, de desejar que o mundo poupe os nossos filhos, mas ao mesmo tempo sabendo que somos meros instrumentos de entrega para o mundo, que faz com eles o que quer. Mas não é obrigatório ser a sofredora. Eu me recuso, assim como tantas outras mães.

Mãe tem vida. E nem por isso deixa de amar filho, isso não acontece nunca. Mãe tem direitos, necessidades e vontades - você tem fome de que? mãe também não quer só comida, ela quer comida, diversão e arte. E sai pra buscar. A menos que o filho seja totalmente dependente dela por qualquer motivo - idade, necessidades especiais, whatever - ela não tem que arrastar nada pelo cordão. Ele foi cortado, ponto. Nem toda mãe faz a mesma coisa. As que querem ser mães full time têm toda minha admiração e respeito. A minha foi, o resultado foi excelente. Eu não sou. O resultado vai ser aquele que a minha cria quiser criar.

Eu não tive dor para parir. Eu marquei um dia, fui lá e cortei a barriga e tirei de dentro. Quer sofrer vinte horas de dor? Acho digno. Respeito e acho que cada um tem a dor que quiser. Eu sou covarde. Nem por isso eu deixo de ser mãe. As mães se fazem, nascem junto com os filhos. Cada um tem a mãe que a ele foi reservada. Eu não atendo expectativas. Eu vou sendo.

Eu pari. E vou me parindo como mãe com o tempo. Dia das mães eu não mereço (nos dois sentidos). E a grande ironia do universo vai me fazer passar por ele três vezes. Acho que foi para eu pensar. Que bom, porque agora ficou claro.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Desafio



Eu não sou de poetar, sou de prosear. No entanto, recebi um desafio de um amigo que tenho há trinta - sim, trinta, sou sortuda mesmo - anos, meu amigo de palavras, de textos, companheiro de trabalhos de faculdade, de chacotas que nos dávamos ao luxo de fazer dos monstros literários que tivemos a honra de ter como professores, de fofocas - porque ninguém é de ferro - mas fofocas do bem, por assim dizer, fofocas no contexto literário, em um saudável ambiente de crítica construtiva, "a nível de" cara de pau da minha muito bem desenvolvida capacidade de enrolar até o mais macaco velho dos catedráticos com blablabla pseudo-pesquisado em época de não-Internet, em que tínhamos que mofar na biblioteca porque os sagrados livros não podiam sair de lá, podiam ser atropelados ao cruzarem a Praça do Relógio. Vou ter que aceitar o desafio cold turkey, nem adianta tentar enrolar, meu amigo conhece minha prosa e qualquer tentativa de enrolação resultaria infrutífera. Além disso eu não sou mulher de fugir de desafio. Aqui vai então, com perdão de quem não nasceu pra coisa.


começamos um
multiplicamos infinitamente 
formamos um de novo
começamos a ver outros uns
nos tornamos múltiplos
sem nunca abandonar o um
mas às vezes dele nos perdemos
buscamos outro um
que pode ser outro
e outro 
e outro
multiplicamos em dois
mas a busca 
ah, a busca
ela tem fim
mas 
quero o fim?
um?
ou o mundo?
o verso de um?
ou o universo?


O desafiante entendedor entenderá. E não está sozinho. Mais transparente que eu só a nascente do Rio Tietê nos idos do século passado.
E que fique registrado o perdão aos poetas. Infame, eu sei, mas eu avisei que eu proseio.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Faro


A evolução é uma grande mentira. Os homens continuam com o faro aguçadíssimo. Eu diria mais que os lobos, mais que qualquer animal selvagem. E é ainda mais bonito. A sincronicidade das atitudes dos que pensam com o chamado ancestral resulta muitas vezes em situações hilárias, mas vez por outra, o chamado visceral ainda é fascinante, ainda é de arregalar os olhos quando se presencia. Todas as coisas estão tão delicadamente interligadas que às vezes nem notamos os fios e tropeçamos neles.

Melhor ainda é enredar-se neles, é estabelecer o ídolo e vê-lo transformar-se em humano bem diante dos seus olhos, é descobrir o poder primitivo de Lilith, é aprender a separar o que é uma coisa do que é outra coisa, finalmente, finalmente, finalmente sem drama, sem sangue, sem suor, sem lágrimas, só com: tudo bem. E tudo bem de verdade. É desmistificar totalmente o ídolo e transformar-se nele, porém, sem que isso seja motivo de divulgação, porque, de novo, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E idolatria não é coisa para se lidar no dia a dia, perde o charme.

Ainda que involuntariamente, aguardamos magnânimas. A sábia natureza já dotou os machos com o equipamento necessário para impressionar. As fêmeas precisam apenas ficar lá, sendo.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ney



Vou começar lamentando porque nossos grandes artistas têm um acúmulo de anos de vida. Não porque são velhos, porque artista não fica velho, mas porque, pela ordem natural das coisas, são menos anos que temos para aproveitá-los.

Ney tem 72, como ele contou aqui, entre outras coisas, nessa entrevista muito boa em que ele é quem é, como sempre. E é uma das unanimidades nacionais que também faço questão de pegar a estrada, atravessar o rio a nado, pisar na lama, escalar a montanha, para ir ver. Não sei como passei tantos anos da minha vida perdendo a oportunidade de vê-lo ao vivo.

Ney é unanimidade em todos os sentidos. Depois de uma fase sóbria, em que mostrou um lado que nós, que o conhecemos nos tempos de Secos e Molhados, estranhamos, hoje ele está de volta em todo seu esplendor. Mas o esplendor, o carisma vai além do que se vê. Eu tinha que fazer uma obervação além do óbvio de que ele é maravilhoso, sensacional, esplendoroso, blábláblá (tudo verdade).

Em um recinto onde a maioria esmagadora era de mulheres - diga-se, enlouquecidas ao ponto de erguer cartazes declarando amor e pedindo abraços, vi pouquíssimos homossexuais homens - pelo menos nenhum casal, muitos casais hetero, pouca gente abaixo de 30 anos (nem têm ideia do que estão perdendo, perdoai-os senhor, não sabem o que fazem) e - surpresa - muitos, muitos heteros homens. Claro que de olhar não sei com certeza a preferência sexual de ninguém, mas em geral homens acompanhados de mulheres são heteros e alguns outros com determinados comportamentos denunciam a "heterozice".

Mas o que eu quero dizer é: todo mundo sabe há eras geológicas a opção do Ney. No entanto, ele rebola. E aí não importa se você nasceu homem, mulher, se você decidiu optar por uma vida sexual assim ou assado, todo mundo vai à loucura. Obviamente ouve-se mais os gritos das mulheres, primeiro, porque estamos em maioria quase sempre, segundo porque gritamos mais alto, estamos habituadas a ter que fazer isso para sobreviver, então fazemos isso para o prazer também. Mas os homens gritam. Eu fiquei bege. Eles ficam tão ouriçados como nós. E depois saem falando grosso.

Pessoas, Ney é tão, mas tão bom que está acima do medo dos homens hetero de parecerem gays. Isso é que é ser artista. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Odiar, detestar. não gostar



Me peguei odiando coisas esta semana como nunca. Falei inúmeras vezes odeio isso e odeio aquilo. O mau-humor andava calmo, então notei que é uma característica minha essa de odiar coisas e pessoas que nem nunca vi. Comecei com cantores. Em comentários com amiga, odiei o Tim Maia (um chato), a Elis Regina (a exagerada), a Maria Gadu, que se não fosse apadrinhada pelo Caetano (onde estava a cabeça dele?) eu esfregava a cara dela no chão pra ver se a arrogância dispersava, e bem, como em termos de música eu parei nos anos 80 e depois comecei a odiar todo mundo com raras exceções e sobreviventes, os atuais gritadores jovens internacionais dos quais já ouvi o nome e vi a cara, não odeio porque não dá, só consigo rir, de Justin Bieber, aquela que saiu em 13425678 fotos com a língua de fora mas não lembro o nome, aquela negra escandalosamente linda que apanha do marido, etc. Note-se aqui que não há nenhum preconceito, eu odeio pessoas das mais variadas raças, classes sociais, cores, comprimentos de cabelo e de unha, preferência sexual, aliás, note-se que acho que não odeio nenhum gay, porque eles são muito mais fáceis de amar, amigos leais que são. Me recuso a discutir funk e pagode, que não reconheço como música, obrigada.

E as comidas? Camarão? Lagosta? Aquelas patas e olhos? E todo o resto gosmento que sai do mar? Só gosto de peixe. Eu fui uma comedora compulsiva de lixo, coisas gosmentas pingando, óleo grudado no papel, manchas de condimento pingando na roupa, rótulos com índices de gordura obscenos. Daí meu colesterol me obrigou muito a contragosto a adotar uma alimentação mais saudável e eu fiquei mais chata ainda. Ainda bem que disfarço maravilhosamente bem e finjo que como e bebo com outras pessoas. Mas se eu  sentir cheiro de maracujá seja lá na forma que for caio dormindo. Odeio cair dormindo quando mais quero prestar atenção em alguma coisa.

Odeio que tentem me fazer de boba. Que desrespeitem meu trabalho. Que me desrespeitem porque sou mulher. Que questionem minhas escolhas. Odeio que me dêem ordens (esse é o pior erro EVER). Odeio fala mansa com um punhal escondido. Odeio mentira, falsidade, sorriso amarelo. Odeio quem se vinga, quem se acha superior, quem só reclama da vida.

Daí que concluí que odiar gasta energia demais. Odiar consome, os odiados não estão nem aó pro nosso ódio, os de longe e os de perto, então tem coisas que detesto.

Detesto com todas as forças política, políticagem, tudo que está relacionado a isso, partidos, corrupção e a palhaçada toda que é o país (odeio palhaços, tenho medo deles). Detesto o que se faz com o nosso dinheiro tão difícil de ganhar e não detesto os que votam errado por ignorância, mas por opção de quererem ser ingênuos e acreditarem que não estão vendo o que está acontecendo. Detesto todos os políticos, com exceção do FHC que é meu ídolo-mor, salve, salve, mas porque não gosto do político, mas admiro o intelectual, então dane-se o mundo, FHC é meu ídolo, não me interessa se fez alguma canalhice enquanto governava.

Detesto às vezes ter que sentar e chorar porque nada mais me resta a fazer, detesto ver pessoas que amo partindo, detesto mimimi exagerado, mas respeito o sofrimento alheio, assim como o meu mesmo. Eu me permito chorar e não detesto isso. O que eu detesto é ter que chorar porque as lágrimas têm vida própria e choram na hora errada e onde não deveriam. Eu detesto que minha filha sofra e detesto muito quem a faça sofrer, eu viro leoa na hora e literal e animalescamente parto pra cima com ódio (aqui é ódio mesmo).

Detesto natal, ano novo, papai noel, páscoa, o calendário gregoriano, todas as comemorações dele que são imposições para que a gente saia do nosso eixo. E funciona muito bem. Detesto comprar presentes em datas determinadas, comparecer a cerimônias, fazer de conta, sorrir e acenar, ser hipócrita porque vivo em sociedade e meus pais me deram educação. Por isso na primeira oportunidade solto meus monstros do porão e deixo que eles andem pela casa, porque assim, quando eles precisam sair (e precisam mesmo) o estrago não é tão grande.

Ocorre que aprendi que não precisamos lutar todas as batalhas, podemos escolher, então quero adotar o "não gosto", que é um tanto libertador e não tira a ênfase de nada, apenas é mais calmo, mais sabedor, mais vivido e mais pronto para mudar as coisas para "gosto".

Não gosto mesmo é de ver as injustiças de todos os quilates que são cometidas em grande e em pequena escala no mundo todo, desde matanças em países do outro lado do oceano até o roubo do pobre velhinho que foi buscar sua aposentadoria e foi enganado na fila do banco. Não gosto de mulheres e gays espancados porque gênero e sexo são coisas sagradas e divinas, não motivo de bandalheiras. Não gosto de crianças famintas morrendo aos magotes a cada minuto e fotógrafos tirando fotos delas. Não gosto da geração que passa a vida dentro da tela do telefone e quando acordar vai ter perdido o melhor dos anos que passamos fazendo amigos para a vida toda. Não gosto de quem diz - os homens são todos iguais, ou - as mulheres são complicadas. Somos únicos, especiais, esses clichês só criam mágoas onde deveria existir sementes de amor. Aliás não gosto de clichês mas uso-os o tempo todo, mas não sei escrever mesmo, então não faz diferença. Não gosto de Paulo Coelho. Ele prestou um desfavor à literatura brasileira e à humanidade como um todo. Não posso conceber como Raul trabalhou com ele. Não gosto de religiões quando elas impõem qualquer coisa, seja arrancar a cabeça de alguém ou pagar o dízimo. Não gosto de frio, eu me encolho e tudo me dói. O céu cinza me deixa não gostando de mais coisas.

O que eu gosto mesmo é de me jogar na vida. Nem sempre eu tenho coragem. Mas quando não consigo não gosto.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Aviso às navegantes



Esta história e diálogo são verídicos e publicados com autorização da protagonista, que a cada dia fica mais catatônica com as coisas que ouve e vê. Moça conhece moço. Tomam café, conversam, moça e moço são muito inteligentes e perspicazes, mas moço está tentando jogar umas bobagen só pra ver como moça reage, e moça se faz de morta, moço acredita que manipulou moça, a uma altura dessas moça quer sair correndo e gritando e praticamente faz isso enquanto moço, assim, no primeiro encontro de uma hora à beira da xícara de café, vestido com camiseta de manga longa no p*** calor de São Paulo, contando o quanto o filho dele de onze anos é praticamente o messias de tão maravilhoso e especial, obviamente, porque nasceu dele, praticamente D'us, de tão maravilhoso, especial, brilhante e - detalhe - lindo, solta o seguinte: eu sou para casar. Sim, ladies and gentlemen, no primeiro café o moço anuncia que está em busca de casamento, a moça então levanta-se e lembra-se que deixou algo no forno, não, não precisa me acompanhar até o carro, mas ele insiste, e nos dias seguintes liga desesperadamente, manda mensagens, sms, recados no skype, whatsapp, posts no facebook, todos os recursos possíveis nas malditas traquitanas tecnológicas que tanto facilitam nossa vida como a desgraçam, e um dia, a moça incauta responde no facebook para dar fim à palhaçada toda, porque ela carrega uma culpa judaica-cristã que a impede de o mandar a lugares impublicáveis. Abaixo o diálogo ipsis litteris, entremeado de comentários meus, totalmente irrelevantes mas que não podem deixar de ser ditos, para esclarecimentos e pitacos.
NOTA: somente os nomes foram trocados por motivos óbvios de poupar as pessoas da vergonha própria e alheia.
NOTA 2: lembramos que não nouve NENHUM tipo de relacionamento, apenas UM café.
ELE: Ola Jane Doe
vc pode falar?
ELA: ola posso sim
ELE: tudo bem com vc?
ELA:tudo bem e voce?
ELE: bem tambem
como andam as coisas?
ELA: mais ou menos, esta é uma época muito ruim para o meu trabalho, o que me preocupa um pouco, e com o calor que tem feito não passo muito bem, tenho pressao muito baixa
ELE: sim, vc disse
tentei algumas vezes falar com vc, mas vc acabou nao dando retorno
desistiu de sair novamente?
ELA: parece que sim, eu não gosto muito de ser "testada" e foi assim que me senti com algumas coisas que vc disse e algumas manobras que admitiu ter feito para ver como eu reagiria. desculpe a sinceridade mas sou mesmo muito honesta
ELE: nao entendi
seja clara
manobras????
Nao sei se desligou, ou caiu a conexão, mas vou ser claro tb
em TODOS os momentos percebi QUE VC NAO RELAXA, não ri, nao escreve rsrsrsrsrs, enfim
fica armada todo o tempo e pessoas tensas so conseguem estabelecer relações tensas, ponto final. Nao combinamos, alias, com quem vc combina? [obs. no. 1: com muuuuuuuuuuuuuuita gente, moço]
errei a digitação de seu nome [obs. no. 2: sim, ele trocou o nome dela em uma ocasião e disse que errou a digitação; ela por acaso odeia isso, por que será?] e vc se armou e eu ainda em tom de brincadeira e rindo escrevi que sabia seu nome, lembra? [obs. no. 3: ah que engraçado]
era motivo pra se armar novamente [obs. no. 4: aparentemente ela é dona de um arsenal de armas]
portanto, quando se conectar, reflita sobre o que eu escrevi, porque tambem sou objetivo e seguro [autoelogio no. 1 e 2]
tentei, juro, estabelecer uma conexão com vc, mas é bem complicado
Fique bem.
ELA: foi um problema com a minha conexao, nao foi proposital
ELE: entendo
sem problemas
lamento nao ter sido dócil e flexivel
uma pena mesmo, porque te achei uma pessoa bem interessante, a principio
ELA: não, absolutamente, voce lamenta que EU nao fui dócil e flexível [obs. no. 5: ela não é mesmo, está mais para trator, mas só quando não gosta da companhia]
mas desculpe, nao sou assim mesmo
ELE: faltou a conexão [obs. no. 6: a ula altura dessas, ela já não sabia se ele falava da conexão dela que tinha caído e ele tinha ficado puto ou da conexão de almas que não aconteceu mesmo]
ELA: e acho que é isso que vc procura
ELE: vc sugeriu manobras? que diabos sé isso? [obs. no. 7: começando a perder a compostura]
ELA: e acho que tem todo direito
ELE: nao sou ardiloso
é isso O QUE? [obs. no. 8: continuando a perder a compostura]
seja clara
todo o direito A QUE???? [obs. no. 9: a compostura se esvaindo pelo ralo]
que papo maluco [obs. no. 10: fim total da compostura]
ELA: nao vamos discutir, nao é preciso, e nao vai levar a nada [obs. no. 11: ela já ta tão de saco cheio mas ainda quer ser educada (culpa judaico-cristã)
ELE: todo o tempo te procurei e nao entedi NADA
dessa conversa
RELAXE E SEJA FELIZ [obs. no.11: a conversa não tinha terminado?]
ELA: ok entao melhor termina-la por aqui [obs. no. 12: vide obs. no. 11]
ELE: entao seja clara do que viu e eu explico, SIMPLES ASSIM
que tal?
achei um absurdo este comentario
fui gentil [autoelogio no. 3]
educado [autoelogio no. 4]
e tranquilo [autoelogio no. 5]
em NENHUM MOMENTO vi nada errado em vc, exceto esse jeitinho durinho [obs. no. 13: cadê as dóceis e meigas???]
afff
DEIXA PRA LÁ,,
nao tenho interesse [obs. no. 14: imagina se tivesse, já estaria rolando uma ordem de restrição]
ELA: eu nao disse nada ao contrario, mas esse é o meu jeito e obviamente vc procura alguem mais docil
ELE: siim,claro [obs. no. 15: vá a uma doceria]
ELA: sim, é isso, vc nao tem interesse em alguem como eu [obs. no. 16: ou seja, larga do meu pé]
ELE: gostaria de se relacionar com seu espelho? [obs. no. 17: não, tem outros interessados mais interessantes que o espelho, e ??? que pergunta é essa, pqp???]
seja honesta
ELA: entao ok, nao precisa se exaltar [obs. no. 18: a conversa não tinha acabado?]
ELE: nao me exalei, eu exaltado sou bem diferente [obs. no.19: ui que medo]
eu estou muito satisfeita com o meu jeito de ser 
ELE: EXALTEI
certo
TUDO CERTO
vc ficou brava quando SIMPLESMENTE eu digitei seu nome errado [obs. no. 20: ah sim, o problema todo foi esse]
dai eu saquei [obs. no. 21: sacou o que, cara pálida? não tá parecendo]
vamos encerrar, [obs. no. 22: o que é que ela está dizendo desde o início?]
nao nos leva a nada
ELA: entao pra que essa discussao
ELE: vc quem foi incisiva e dura de graça
eu nao sou assim
sou docil, razoavel sim [autoelogio nos. 6 e 7]
ELA: exatamente o que eu disse a principio
ELE: e pra se ajustar uma relação os dois tem de se adapatr
simples assim
uam pena mesmo, Jane Doe
de verdade, vc pareceu uma pessoa seria [obs. no. 23: te enganou!!!!]
que valeria a pena ver de novo [obs. no. 24: isso é novela repetida na globo]
ELA: mas como eu disse, eu nao sou assim, entao é uma pena, mas nao sou o que vc procura, o que nao significa que nao seja seria
so nao tenho uma caracteristica que nao te agrada
ELE: quem disse que vc nao é seria?
sei que é, nao misture as coisas
SERIA ATE DEMAIS [obs. no. 25: é pra ser séria ou não?]
ELA: vc disse que eu "parecia"
ELE: ta vendo, ao pé da letra
nao quis dizer o contrario
somos adltos inteligentes e bonitos [autoelogios nos. 8 e 9 - ops, aqui ela foi incluída]
sem modestia tola [obs no. 26: já se havia notado que isso não existia]
e absolutamente compativeis, penso eu [obs. no. 27: aparentemente só você; porque ela e a torcida do corinthians, não]
ELA: olha, eu vou encerrar aqui antes que nos ofendamos sem necessidade. boa sorte para voce, com certeza é merecedor. [obs. no. 28: pelamor, vamos parar com essa palhaçada]
ELE: seria muito legal colocarmos as cartas na mesa e fazermos os ajustes, nao sou intolerante [obs. no. 29: QUE ajustes? não há nada pra ajustar foi só UM CAFÉ não um noivado; e autoelogio no. 10]
É UMA PROVA QUE DÁ PRA DIALOGAR
nao estou e ofendendo
pare com isso
que bobeira sem graça
DESCONEXO
sustento meus argumentos, simples assim, e nao sou vulgar [autoelogio no. 11]
eu ainda te procurei hoje, tentando conversar e saber o que houve
vc nao aliviou EM NENHUM MOMENTO
acha que dá pra conviver assim? [obs. no. 30: conviver como meu??? quem conviveu com quem? e quem quer conviver com você???]
seja sincera com vc mesma
pra mim, ja nao faz mais diferença
FIQUE BEM
Fim da conversa no bate-papo [amém.]


Conclusões:
1- Onde estão as mulheres que querem se casar, por favor apresentem-se. Porque elas reclamam que eles não querem e eles ficam furiosos quando elas dizem que não querem.
2- Os homens mantêm espelhos em casa? E não só os físicos, mas também os de noção, e isso são perguntas. Mais uma: mulheres, maneirem nos elogios, eu sei que isso pode parecer machista, mas acho que estamos estragando os homens com excesso de elogio, vejam no que dá.
3- Café significa muitas coisas; é o que nos mantém acordadas, o que nos ajuda a trabalhar, o que nos ajuda na ressaca. Tomar café com alguém é um dos maiores prazeres da vida. Mas NÃO é um relacionamento.
4- Culpa is a bitch. Todo mundo precisa aprender a mandar as coisas e as pessoas que incomodam para lugares impublicáveis antes que elas incomodem mais.
5- O cromossomo Y é a desgraça da humanidade em geral, mas precisamos dele para fins reprodutivos e de lazer, por isso ainda não os extinguimos de vez.
6- A observação acima é pura provocação, existem cromossomos Y fofíssimos, maravilhosos, e que fazem a alegria das mulheres. É só saber peneirar.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

De nihilo nihil.


As malas ainda estão largadas, a casa não se limpa sozinha, os livros continuam com as palavras ordenadas na mesma maneira esperando serem decifradas, o mundo continua disponível para o que quer que seja.

Mas eu não quero. Não quero arrumar, nem procurar alguém que limpe. Não quero comer, ler, terminar de assistir o filme que foi interrompido perto do fim. Às vezes precisa-se chegar ao fim do fim para interromper. Ou findar, porque de interromper e retomar chega.

As coisas óbvias gritantes e ululantes em algum momento cessam de ser, porque não há mais razão para tanta clareza, só não vê quem não quer, e em algum momento têm-se que querer, querendo ou não.

Hoje eu declaro o dia fora de mim, não é mais luto porque isso já passou, não é mais lamento porque também já esgotou, não é mais nada, e por nada mais ser, é preciso que se deixe, paradoxalmente, o nada se manifestar.

Apesar de nada, é um nada espalhafatoso. Mas já aprendi a domá-lo e ignorá-lo. E que assim seja e continue sendo, por mais ausente de mim que isso me torne.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Três.



Tomar posse de si mesmo. Seja lá por que meios. Rompendo quais tabus. Superando quais obstáculos. Quanto mais me aposso de mim mesma mais a vida se revela válida, justificada e mais dela me aproprio. Todo caminho é válido, especialmente se não tiver sido trilhado antes. Cheers.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Tem mesmo "It had to be you"?


Há muito tempo ela não se aventurava mais por aquelas paragens. Era como entrar em um mundo paralelo onde de repente era agora, e só agora, não tinha ontem, amanhã ou o dia cheio de tarefas e as questões existenciais, só tinha mesmo agora.

Por motivos que não se sabe e nem nunca se saberá algo, alguém, o destino ou o acaso a atraiu de novo para o mesmo lugar, quem diria, depois de tanto tempo.

A casa semi-vazia, de mudanças, mas cheia de mágoas, tristezas e amargura, que não pertenciam a ela, mas a comoviam como se.

Ele cheio de músculos mas com cara de gatinho abandonado, primeiro a alegria genuína de rever, depois a familiaridade, depois o desabafo e a falta, a ausência total de perspectiva, o terror, a lágrima de pura solidariedade inútil, o desespero frente ao mundo, como é bom poder falar.

Mas então a casa que já teve tantas outras coisas de repente volta a ser o que foi da primeira vez, as velas se acendem, as luzes se apagam, o copo traz surpresas que só se encontram ali, o jazz enche o ar, as palavras rareiam.

E por puro agora, por puro sentimento puro, uma ligação tão forte que se continuasse explodiria a si mesma, silêncio e sussurro, quem diria, ainda pode ser melhor do que já foi um dia.

Ele assume o papel de gato que ronrona, tão só no mundo, tão desamparado, no meio daquela casa enorme, cheia de pedaços de si mesmo, ela estende a mão e só o toque muda tudo para o somente agora, somente agora, a luz das velas, o cheiro de maçã verde no prosecco, somente agora, a música - It had to be you. Somente agora. Não há injustiça, não há fim do mundo, não há mágoa, rancor, arrependimento, não há mundo lá fora, só a brisa que entra pela janela e abraça o abraço do somente agora.

Esse é o lugar onde acontece o milagre do somente agora. Ela foge, sob protestos, mas com a premência de quem ainda precisa descobrir se "o que é pra ser" será ou não. E a resposta não está no lugar onde só tem agora.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O meio da noite - ou - não tente fazer isso em casa


Como se já fosse fácil à luz do dia, acorda-se ainda no meio da madrugada. Tudo na calada da noite tem proporções deformadas, é a hora de entrar na twilight zone, a hora dos monstros saírem do sótão, a hora das mensagens, telefonemas e posts errados. Mas é a hora poderosa em que tudo tem vida própria, não queremos, sabemos que não deveríamos, mas fazemos. Ou as coisas se fazem sozinhas, é o que parece. É quando nossa sombra mais se sente à vontade para sair, afinal, está escuro, ela nem está lá, para todos os efeitos.

As coisas findas agonizam para encerrar de vez, e o processo de assassinato lento por vezes dói mais no assassino que na vítima. É nessas horas vazias que nos ocorrem as obviedades ridículas, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa; tudo passa; amanhã é outro dia (não podia ser o mesmo anyway); foi feito o que tinha que ser feito e a melhor: as coisas são o que são.

Rolar no travesseiro com esse monte de besteira na cabeça não pode ser saudável, então a tecnologia facilita para que fique pior - por que não um sms ou um e-mail no meio da noite? por que não engolir fogo? que tal enfiar uns palitos embaixo das unhas? E a pobre mente racional se debate, grita, reclama, e por fim põe a mão na cara e diz fuck, porque não adianta mesmo, já foi, o enter já foi apertado.

Eu vou me-auto-consolando-a-mim-mesma (licença poética das 3 da madrugada com olhos esbugalhados) me dizendo que isso é assim mesmo, e vou ignorando o silencioso brado que pode - como não - estar insinuando arrependimento. Mas como sou espetacular e bem-resolvida nem dou bola. Volto ao travesseiro e choro, só um pouco, mas muito amargo, esperando que à luz do dia tudo isso não passe de um amontoado de besteira, quem sabe nem aconteceu.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Caminhos



Tanta coisa poderia ter sido. De repente no meio da manhã me assalta o "e se". E vejo atrás de mim um labirinto de caminhos não percorridos. Aqueles que comecei a percorrer e mudei de rumo, os que têm minhas pegadas à beira sem coragem de mexer o primeiro pé, aqueles que fatalmente deram no abismo, com o salto calculado e os prejuízos contabilizados. E o eterno labirinto, de onde parece que consegui finalmente sair, matando, esfacelando, cortando a sangue frio e sem piedade as pontes e selando a entrada com sangue e lágrimas, mágoas, arrependimentos e dores.

Eu estive em latitudes e longitudes que poderiam ter sido outras, outros climas, outras paisagens, outros objetivos. Mas não foram. Naquele momento foram minhas escolhas, nunca se sabe se as fazemos conscientemente ou se alguma mão nos guia ou nos tira do caminho, essa mão retórica que é a nossa mesmo, a que se insinua de dentro do sótão onde guardamos nossos fantasmas.

Se eu tivesse feito isso, aquilo não teria sido aquilo, mas sim aquilo outro, e hoje eu poderia estar assim ou assado, em tal ou tal lugar, com ou sem vários vocês. Mas não foi, as coisas são o que são, foram paridas de acordo com o que eu gerei, nutri e gestei, e agora aqui está o resultado, que não para nunca de ser parido.

O caminho em que escolhi ficar tem sido árduo, cheio de pedregulhos, acabei de voltar a ele depois de uma longa caminhada pulando entre ele e outro, uma canseira sem fim que só podia terminar em um deles dando no abismo. Mas este que permaneceu não é menos espinhoso, de tanto ser pisado e repisado e pulado em cima ficou árido, ressentido, tem flores pisoteadas atrás de mim, as que vêm parecem ter medo de florescer. Já choveu torrencialmente, chuva vinda dos meus olhos, já teve sol, hoje a estrada parece se abrir em infinitas estradinhas partes do mesmo caminho que enfim escolhi. Só me resta ir arriscando para ver aonde vão dar. De qualquer maneira, não sei qual é a certa, porque não sei bem aonde quero chegar, talvez todas levem ao mesmo lugar.