segunda-feira, 12 de julho de 2010



A sensação de peixe fora d'água é uma imagem tão batida, tão sem graça, mas tão afeita à realidade que não dá para não usar. Os caminhos públicos são tão mais fáceis. Pensei em caminhos públicos pelo aforismo de Pitágoras, que por sinal é "Desviar-se do caminho público". Por que ele tem que dar ideias? É tão fácil seguir o rebanho, entrar no rio dos assuntos que são "atualidades", ouvir as músicas que amanhã ninguém vai mais se lembrar, ter amizades descartáveis para "reciclar" os relacionamentos, assim não é preciso envolvimento, não é preciso o trabalho danado que dá cultivar alguma coisa que pode acrescentar tanto, ou só um pouco, que já é lucro.
Pensando um pouco para trás (muito aliás), fico imaginando como era simples quando a igreja ditava o que se deveria acreditar, como se deveria pensar, e estava fora de questão perguntar ou duvidar, era fogueira na certa. Acusação de bruxaria. Hoje as bruxas são tão aceitáveis que até perderam a graça. Mas o vórtice do conhecimento religioso me puxa, é fascinante a variedade, e apesar de já ter me encontrado isso não foi a solução, foi só ponto de partida para mais e mais questionamento, como dizem os brothers in faith, "Vindes ou ides?" "Vou" "Para onde ides?" "De companheiro a mestre." Sempre indo. No caminho sem volta, a resposta da pergunta anterior só leva à próxima, parece que estamos permanentemente na sala dos passos perdidos, e amanhã vamos estar de novo. A maestria chega algum dia, afinal? E se chegar, so what? Daí fazemos o quê?
Resumindo, isso tudo é só mimimi, é só dar voltas em torno das mesmas árvores, com a esperança de pelo menos saber porquê, ou de ter alguma serventia, porque é uma condenação, saber é uma maldição, questionar é um perigo, vivenciar é o risco maior. E eu ando tão sem coragem de pular, acho que estou perdendo a mão.
E apesar da ponte levadiça estar aberta para as formalidades, eu continuo na torre olhando o mar ao longe, esperando que venha o viking que vai me carregar nas costas, gritando e esperneando.

4 comentários:

Luci disse...

vórtice. adoro a palavra
entrar no rio é, de longe, a melhor metáfora para o momento. ainda mais se fosse um rio rasinho, sabe? pra se ir indo...
viking? gritando? costas?
cara, to bege!
bj

flordelis disse...

Você não tem ideia do que se passa na minha cabeça. Aliás é assustador até para quem presencia :-)

Isa disse...

gritando e esperneando é maravilhoso!

flordelis disse...

também acho Isa, e não vejo a hora! :-)