sexta-feira, 31 de dezembro de 2010



Eu odeio o Gregório e isso não é novidade. Mas eu gosto de festa-como-se-não-houvesse-amanhã e isso acaba sobrepujando meus escrúpulos e rebeldia. Meu ano novo não é agora mas não faz mal, eu tenho muito o que comemorar. Quase todo mundo reclamou do ano de 2010, foi horroroso, ainda bem que acabou, etc. etc.

O meu não foi horroroso. Pelo contrário, foi o melhor EVER. Eu conheci muitas pessoas, muitas coisas e muitas situações que até agora não sei como tinha passado sem. Finalmente joguei fora coisas supérfluas que eu carregava e nem me dava conta. Como bônus ainda aprendi a me relacionar melhor com quem convivo diariamente e a ir buscar o que me interessa. O medo ainda existe, mas está tão modesto em seu cantinho que muitas vezes me esqueci dele e acabei me jogando de novo. Aliás foi só o que fiz.

Tive momentos duros, tristes, doloridos. Mas eles foram aprendizado, que está sendo tão, tão útil agora. Acrescentei tanto à minha vida apesar de todas as noites longas, e talvez devido a elas.

E aprendi uma coisa - quando pedimos sabendo o que queremos (cuidado), e depois deixamos a porta aberta para o que não parece mas pode vir a ser, tudo vem. E se for considerar o que eu pedi, acho que fui muito generosamente atendida. E quanto mais eu estendo a mão, mais coisas boas caem nelas, e se eu as deixo abertas, elas ao invés de se esvairem se multiplicam, e não tem mais fim.

Assim como o tempo, sem fim, sem começo. Não importa se alguém disse que é 2011. É tempo de viver, sempre. Que nosso coração seja iluminado por fogos de artifícios, hoje, amanhã, ever and ever.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Time warp



Just when I thought I was over you. And I am. But even so, certain things remain out of time and space. I see clearly and totally understand things are what they are, and are likely to be so forever. But there are people and situations that will always be somewhere else, somehow different, somewhat unforgettable. But that happens as time warp and in a place out of nowhere, with no possibilities whatsoever of collapsing into reality, but still, they do. Then in the middle of the day, out of nothing, I think of you. No actions intended, no regrets, no possibilities. It's just there. And the time warp reverses into deep, deep longing. I must confess, longing to at least the last minute before you go forever. And then it's daylight again. And despite of all that - or because of all that - I come back to the real possibilities of the world. Maybe it would had been better not to have been in that place. But I was. We were. And that is unchangeable.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Demonstração pública de apreço.



Você me pergunta se eu tenho sonhos. A maioria dessas perguntas, na hora em que são feitas, de onde vêm, porquê, me desconcertam. Mas ainda assim respondo. Essa resposta pareceu evasiva, respondo que não, espero que as coisas venham.

Mas concordo que foi só meia resposta e concordo tanto que diferentemente da quase discrição habitual, aqui vai sua resposta, publicada.

Eu nem sabia direito, porque desde há muito venho cumprindo o script de vida, fiz todo o esperado, o costumeiro, o certinho, sem pensar muito. Quando comecei a pensar tive que REpensar porque acabei fazendo tudo o que não queria. Isso foi fácil estabelecer, quando se experimenta o que não parece certo para nós é fácil saber o que não se quer. Saber o que se quer é bem mais difícil, com tanta opção e distração.

Agora depois de muita análise e a esperada maturidade posso dizer que o que eu buscava era alguém que falasse a minha língua. Alguém que me ouvisse, as coisas interessantes que eu tenho a dizer e as bobagens também, ou que se recusasse a ouvir quando não estivesse com vontade. Alguém que esteve no mesmo lugar que eu estive e, apesar disso, ou talvez por isso mesmo, não tenha desistido de pular de novo no abismo. Ficamos à beira, ainda estamos, mas pelo menos é na beira que estamos, não é do outro lado, seguro e sem graça. Alguém com quem posso falar dos livros que leio, dos filmes que vejo, dos absurdos que ouço, daquilo que eu estudei e descobri, e encontrar eco, atenção. Alguém que me ajude a ver o que até agora estava cega demais para admitir, e não só ver, mas que me empurre para fazer o que precisa ser feito. Por mais que doa, por mais que atinja aquilo que nos é mais caro.

O prazer da companhia pelo puro prazer mesmo, sem imposição de hora e lugar, as delicadezas diárias, sem afetamento, sem o exagero que me cansa. A atenção. A gentileza. A honestidade muitas vezes dolorosa, mas necessária. E ainda assim, suave. E os ouvidos prontos para ouvir também quando os alarmes territoriais soam.

Você me pergunta se tenho sonhos. Não, não tenho. Não são mais sonhos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010



Contar o tempo parece ser mesmo uma forma de lidar com o eterno, com o que não é. Os dias são ilusões, as divisões e classificações só nos deixam menos embasbacados com o desenrolar do infindável. Mas pode ser divertido pôr coisas em caixinhas, a mente humana certamente precisa de pontos de referência.

E o melhor da festa definitivamente é esperar por ela. O mais emocionante é o caminho, não importa aonde queremos chegar, porque só o que existe é o caminho mesmo. Ele é o fim não os meios.

O fim de semana nestes nossos tempos é tão endeusado, supervalorizado, esperado, como se as coisas esperassem para acontecer. Eu que vivo em um mundo paralelo de contagem de tempo não me importo nem um pouco qual dia da semana convencionou-se dizer que é hoje. Todos os dias são possibilidades imensas abertas.

Da mesma maneira sou avessa aos rótulos, aos nomes, às definições. Não quero pôr na caixinha o que sinto. No entanto, às vezes a intensidade com que vivo faz as coisas transbordarem, por mais espaço que eu tenha para preencher com tudo o que eu busco.

Então, que seja sexta-feira.

domingo, 19 de dezembro de 2010



A vida é unicamente composta de escolhas.

Não notamos, mas desde que abrimos os olhos pela manhã começam as escolhas. Se prestássemos atenção a todas elas, seria impossível viver, os dilemas nos sufocariam. Mas as pequenas escolhas que fazemos todos os dias sem perceber vão se somando e levando às grandes escolhas, que tentamos ao máximo racionalizar para fazer, mas no fundo, são as pequenas que decidem por nós.

Nada surge do vazio. Não existe geração espontânea de problema ou de solução. Gestamos passo a passo aquilo que nasce um dia, muitas vezes nos surpreendendo. É muito fácil depois que as coisas acontecem olhar para trás e ver de onde vieram, bom seria conseguir fazer o caminho inverso e prever onde deveríamos ter virado para a esquerda e não para a direita.

Mas a finalidade não é fin-nada, é o caminho. É o ir, o não estar pronto, as escolhas erradas, os arrependimentos, os atalhos que em vez de poupar tempo nos fizeram perder o caminho, mas que enfim, acabaram nos levando a outra estrada diferente, com outras possibilidades.

E a opção, a possibilidade envolvem desistir, deixar de lado a outra via, e às vezes pensar o famoso "e se", que não existe de verdade, nosso roteiro é improviso.

O tempo todo abrimos mão dos nossos "ses", das outras paragens, das outras conversas, das outras vidas que não tivemos porque escolhemos esta. São tantas as coisas para deixar ir. Mas em alguns momentos alguém olha para nós com tanta perspectiva estampada nos olhos que acabamos deixando ir todos os nossos "como teria sido", "poderia ter sido diferente", "eu gostaria que tivesse acontecido", enfim todos os nossos futuros do pretérito, e esses lugares não existentes que a princípio parecem pesar tanto acabam voando facilmente, e são facilmente perdidos de vista, e aqueles olhos lá, piscando, com os portões abertos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010



Todo mundo diz - estou cansado. Das mais diversas coisas. Este condicionamento ridículo de que o ano está chegando ao final e o cansaço se acumulou é um dos principais motivos. Que diferença faz que se passaram doze meses de novo? Com base em quê? E as horas perdidas, segundo alguns cálculos, "engolimos" já alguns anos nessa conta gregoriana absurda. Enfim, Gergório nos pôs nessa, mas entra quem quiser.

Tudo cansa, sejam excessos ou faltas de atividade. Mas o que mais cansa todo mundo é que as coisas não funcionam como gostariam. Estou cansado de tudo dar errado. Que lindo resumo de - tradução - Tenho preguiça de fazer dar certo.

Já discorri aqui a respeito de quão conveniente é o papel de vítima. As vítimas não precisam se esforçar para melhorar, algo acometeu-as, elas não têm culpa, apenas sofrem. Então poupam-se de tudo. Inclusive de crescer.

Aliás a respeito de crescer vou dizer do que EU estou cansada. Cansei de estar cercada de imaturidade emocional por todos os lados. Cansei das pessoas que passaram dos quarenta ou estão chegando perto mas se comportam como se estivessem no jardim da infância. Cansei da inveja, do ciúme, não deles em si, mas do que certas pessoas fazem com eles. Cansei de ouvir o que não preciso a título de sinceridade - uma vez, ótimo - vinte vezes, vá falar com o espelho. Cansei de ouvir é difícil, não consigo, não vou superar, tudo dá errado, você é [insira aqui um elogio] mas... [não tem que ter mas]. Nada me cansa mais do que a falta alheia de vontade para crescer. A vida vai passando e as pessoas sentam à janela e ficam olhando, sofrendo, reclamando. Com tanta, tanta coisa que a vida oferece. Não é justo nem com a vida.

Enfim, cansei, ponto. Em geral tenho bons ouvidos, mas vou acabar com ouvidos desgastados de tanta coisa negativa que tenta passar por eles. E eles preferem ouvir música. Ou miado de gato, qualquer coisa que não seja desperdício de vida.



Corujas.

Gatos.

Algumas coisas estão ficando pesadas demais. Já são tempos idos aqueles em que eu suportava determinadas coisas para agradar alguém. E sejamos honestos, eu nunca fui muito boa de abrir mão de nada para agradar quem quer que fosse. A uma altura dessas da vida, então... Se eu não fosse eu e tivesse feito escolhas que me fizessem sofrer, eu trataria rapidamente de mudar o status quo.

Porque tudo o que é dor passa. É só não dar comida na boca todos os dias.
Mas tudo o que é bom passa também. É só se ocupar em alimentar o que é ruim.

E então os gatos que espreitavam se aproximam das corujas que - sabidíssimas - dormiam de olhos abertos.

Eu fui de novo à twilight zone. Nota-se.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010



Ao longo de toda minha vida, obviamente como acontece com todo mundo, sofri as mais diversas decepções. Todas são dolorosas, mas a muitas nos acostumamos e vamos desenvolvendo maneiras de superar. Mas as decepções com as amizades, com estas ainda não consegui aprender a lidar.

Eu cultivo. Todos temos nossas vidas para cuidar, somos ocupados, e além disso, muita gente passa pela nossa existência, mas pouquíssimas pessoas para ficar. Mas muitas vezes elas não ficam porque não regamos todos os dias. Ou uma vez por semana. Ou que seja uma vez por mês, por ano, a cada dez anos, algumas depois de mais de dez anos conseguimos retomar exatamente do ponto de onde paramos. É inacreditável como a familiaridade se restabelece em segundos.

Eu tive muitas perdas. Reais e metafóricas. A uma altura dessas todos tivemos, mas nem todos se importam. Eu me importo. Inimigos a quem eu tenha declarado guerra não tive, não tenho e não quero. Mas fui chamada a muitas batalhas. Quando era mais jovem adorei travá-las. Hoje já me cansei disso, descobri que existem tantas, tantas outras coisas melhores para ocupar meu tempo.

É por isso que não entendo. Há alguns dias, lendo algumas coisas, descobri que existe uma patologia chamada Síndrome de Cotard "também chamada de "delírio de negação", "delírio de negação de órgãos", é uma condição médica na qual a pessoa apresenta a crença delirante de estar morta ou de que seus órgãos estejam paralisados ou podres, ou ainda de que amigos, familiares, o mundo à sua volta não mais existem ou estão em via de não mais existir, independentemente do diagnóstico do paciente." [in Dicionário de Síndromes]. Daí que achei que algumas pessoas foram acometidas desse mal e nem perceberam.

A vida para elas acaba. Pode ser algum fato que tenha desencadeado, alguma perda, alguma falta, algum trauma de infência não resolvido, enfim, cada um tem suas razões, cada um tem suas dores, eu não julgo, eu só lamento. E uma vez que não têm mais vida, preocupam-se em demasia com a vida alheia. Quem fala com quem, quem convive com quem, quem disse o que e quando, porquê, quem foi convidado, etc. E pautam suas vidas com base nisso - se ela for não vou, não gosto de quem consta na agenda dela, se você quiser conviver com "x" ou "y" vou medir seu caráter por isso e vou sair distribuindo alfinetadas veladas, porque de tão medíocre que é minha vida, não cabe nada de excepcional, então vivo em meu mundo plano, superficial, fingindo que sou profundo, soltando frases inteligentes e espirituosas, mas não falo abertamente, porque o confronto me torna humano, e não quero mergulhar na vida. Afinal, morri.

Mas isso não é crítica. Não é julgamento. Eu não posso dizer que entendo porque não vivo isso, não escolhi morrer assim em vida. Mas naturalmente não tenho nada que palpitar, cada um faz suas escolhas e convive com elas.

Eu só lamento. Não sou boazinha nem nada, mas lamento tanto cultivar e depois a flor murchar sozinha, por vontade própria, não por negligência minha, que me dou, mas por teimosia de ser um girassol às avessas - virar sempre para o lado escuro. Eu sinto tanto, tanto, perder as pessoas que significam muito para mim. Mas não vou me virar para o lado escuro.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010



Desde o último pôr-do-sol as emoções foram muito fortes.
Eu queria palavras.
Mas só consigo sentir a respiração entrecortada quando penso.
O medo ronda, a dúvida paira.
Mas ele, o arrebatamento, é açambarcador.
Não vai ser agora que os passos vão recuar.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010



'Be very careful if you make a woman cry, because G'd counts her tears. The woman came out of a man's rib. Not from his feet to be walked on. Not from his head to be superior, but from the side to be equal, under the arm to be protected, and next to the heart to be loved'
-Bava Metzia 59:A, The Talmud


Sabedoria não tem época, não tem religião, não conhece nem estranha rituais. Que essa gota no oceano das coisas que não sabemos nos lembre sempre que não existe domínio, disputa, concorrência. Não se admitem hierarquias, não se aceitam cabeças baixas nem olhares do alto. Homens e mulheres não são iguais não. Além do fisicamente óbvio que possibilita e impossibilita infinitos horizontes, as lágrimas das mulheres são dignas da contagem do Criador. A proteção é bem-vinda, a gentileza do que é forte torna fortalecedora a que supostamente seria a protegida, é um entrelaçar de cuidado, uma troca de humanidade, um partilhar da descoberta de que somos afinal do mesmo planeta. Ares cansou da batalha, A sedução de Afrodite lá no fundo foi bem-intencionada. Talvez seja tempo de deixar de lado a luta e aproveitar o presente que tantas, tantas vezes deixamos passar.

terça-feira, 23 de novembro de 2010



Acordar bem cedo e sem a contaminação do mergulho diário e inexorável na "realidade", sem o choque do pensamento, assim, direto do não ser para o ser, e sair do sono direto para um sussurro no ouvido ainda que de muito, muito longe, é uma coisa que não dá pra morrer sem ter vivido.

E eu que nem sabia. Tanta coisa eu não sabia. Tanta coisa eu perdi. Não mais.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

I know this look.
I've been getting it a lot lately.
It's beyond the place words can reach.
It's rapture.
Again.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010



Eu não sei absolutamente nada de mim mesma. Isso é ao mesmo tempo espantoso e frustrante.

Há alguns anos eu não sabia mesmo a que viera, eu vivia em uma espécie de estado anestético e achava que era aquilo mesmo, mas como incomodava, acabei saindo do limbo e essa história é comprida. Mas aí ao sair do limbo, como nossa referência anterior é muito, muito ruim, achamos que qualquer coisa é muito boa, e me enganei muitas vezes achando extraordinárias coisas que eram somente razoáveis. Mas repito, a culpa é do parâmetro errado.

Com o tempo fui estabelecendo outros parâmetros e me esforçando para encaixar neles, e como consegui isso até que com razoável sucesso, achei que boa parte das minhas questões estava resolvida.

O que eu não notei é que estamos tão acostumados com determinadas coisas que mesmo quando achamos que saímos delas, elas apenas se disfarçaram em outras, tão peçonhentas quanto, mas com roupa de vovozinha. E os dentes enormes delas continuam cravados na nossa jugular, e nós vamos felizes e contentes cantando no bosque como se não tivesse um elefante na sala.

Eu poderia ter continuado assim ad eternum, porque estava achando que tinha resolvido tudo, inclusive estava bem valente e destemida. E espalhando bobagens para todos os lados, em atos e palavras. E o pior de tudo, com certeza de ter evoluído. Bem, comparativamente, a evolução corresponde à comparação da ameba com o ser humano, mas uma das coisas que aprendi é que não se compara com o que é pior.

E do nada as coisas tomam vida própria e todas as convicções, ideias pré-concebidas disfarçadas de brilhantes, emoções (mal) maquiadas, resoluções capengas e coragens falsas pulam da caixa de Pandora. E eu que sabia tudo de mim não sei mais nada. As certezas que eu demorei tanto a ter viraram pó. Eu ainda insisto em algumas difíceis de largar, mas fica cada vez mais patético isso. E outros olhos me observam atentos. Outras mãos me conduzem no caminho que me mostram, o caminho que vai surgindo em cima dos destroços que eu vou deixando para trás. E ombros largos me guardam. E braços e opiniões fortes me envolvem. É bom finalmente poder admitir a fraqueza e levantar dela com a ajuda de mãos potentes o suficiente para isso.

terça-feira, 16 de novembro de 2010



Eu nao gosto dos rótulos. As etiquetas grudadas na testa, as identificações penduradas em algum lugar como se fôssemos cadáveres. E é essa exatamente a questão - nomear me limita, me mata. Se eu digo que sou isso ou estou aquilo ou tenho aquilo outro, pronto, tenho que me encaixar nas definições correntes para essas coisas, supostamente tenho que seguir os caminhos traçados ou até traçar o meu mesmo, mas que invariavelmente vai ser limitado.

O que é isso que eu sinto? Eu sei o que é, mas não quero batizar. A capacidade que eu tenho de sentir é infinita. Como é que eu vou limitar em palavras e denominações aquilo que se passa em mim? Qual é a língua mais apropriada para os bons sentimentos? E para os maus? De acordo com quem? Se a minha língua materna não me bastar, posso pedir palavras emprestadas? Qual é a língua dos anjos do ágape de Paulo?

Então eu vou tateando como se viver fosse um daqueles jardins para cegos, onde se pode sentir. Mas eu vejo tudo, porque quando não cerceio a criação ela se expande. Ilimitada. Quando abrimos a porta o mundo entra. E são tantas as flores, tantos os perfumes, que seria um pecado cercá-los com nomes e definições, prefiro que fiquem em seu estado suspenso, e que cheguem a mim por outros meios que não os verbais, semânticos, reverberantes.

Quanto menos eu trago para o mundo da palavra mais intenso fica o que eu sinto. E quanto mais intenso mais prazer eu extraio e menos vontade de podar eu tenho.

Eu sinto em estado bruto. Inominada e inominavelmente.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010



As famosas frases de para-choque de caminhão às vezes encerram uma sabedoria inominável. Gostaria de citar "Deus deu a vida para cada um cuidar da sua".

Eu honestamente deveria hibernar, porque tanta gente cuida da minha que eu poderia nem me dar ao trabalho de levantar da cama.

Eu me perguntei muitas vezes o porquê disso, mas é tão óbvia a resposta, que agora até me divirto. Não vou dizer que sou uma santa que nunca fala de ninguém, que não sei o que é fofoca e tal, hipocrisia não cabe. Mas for god's sake, por que algumas pessoas direcionam suas vidas pela dos outros?

Assim: Se ela for lá eu não vou. Se você for lá não falo mais com você. Por que você trouxe ele junto? Eu só vou se você for. Não quero que você vá. Eu não posso ir porque tenho que - opção a = lavar o cabelo; opção b = cuidar do [insira aqui - cão, gato, passarinho, lagarto, bebê]; opção c = trabalhar - tradução: não vou porque não quero mas preciso de desculpas medíocres porque não assumo o que penso, prefiro ser evasivo(a) e dramatizar minha existência porque existência feliz dos outros me incomoda, eu amo a minha infelicidade.

Ou seja, todos os "se" ligam as vidas a outras pessoas, a outras decisões, como deve ser difícil não fazer o que se quer porque o outro vai ou não vai fazer também, como deve ser vazio viver em função da batida de outro coração, desejando-se que ele se envenene.

Meu consolo é: a mágoa é de quem a tem. O ódio envenena o coração que o sente. Invejem-me mesmo, eu mereço. Estou dando todos os motivos. Fiquem com o ódio e a mágoa que eu fico com os motivos para vocês ficarem com sua inveja.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010


(Please meet Chronos the God of Time)


Pouquíssimas coisas estão verdadeiramente sob o nosso controle. Eu até me atreveria a dizer que praticamente nada. O mundo é pulsante, mesmo aquilo que aparentemente é estático e sem vida tem átomos em velocidade incrível se mexendo por dentro. E buracos enormes dentro deles, mas que não nos impedem de ter a ilusão de "real" e "palpável".

É difícil tentar ter o controle de tudo ou de pelo menos alguma coisa. Mas mais difícil ainda é finalmente digerir que isso não é possível. Às vezes parece que chegamos perto, e algumas pessoas acreditam que sim, que têm tudo sob controle. Essa crença é proporcional ao tamanho do tombo quando isso cai por terra.

Eu absolutamente não sei se amanhã vou estar bem. Aliás eu nem sei com certeza se vou estar viva. Com essa já aprendemos a lidar - ok, podemos morrer daqui a pouco, mas nem pensamos nessa possibilidade. Ou pelo menos lidamos bem com nossas conclusões, seja como for.

Mas vou estar bem? Estou bem agora? Vou viver na sombra ou escancarar as janelas? O que é futuro se nem sei do minuto a seguir? Viver hoje já não é mais opção, não há opção. Não viver hoje é a ilusão. A ansiedade que às vezes acelera meu coração não poderia ser mais inútil. Ao mesmo tempo, é bom que ela esteja lá. Ao ouvir o batimento acelerado me lembro constantemente que estou viva. E espero o próximo minuto.

sábado, 6 de novembro de 2010



Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself
(I am large, I contain multitudes) - Walt Whitman

As teorias são lindas. Nós as elaboramos, passamos horas enfeitando, nos convencemos, saímos pregando, e a qualquer minuto - zás - elas vão por água abaixo.

Eu falo muito e muita bobagem. Mas algumas convicções que tenho - ou pensei que tinha - me são muito caras, por isso afirmo-as e reafirmo sempre. E quando eu menos espero elas se viram contra mim. Eu preciso falar menos eu sei, eu sou, eu faço, eu não vou. "Nunca" é uma palavra que caiu em desuso no meu vocabulário. Mas dessas outras palavras e expressões que eu achava que me definiam está sendo difícil me separar.

É bom ter alguém para jogar por terra todas as nossas certezas. Existem muitas coisas que eu não gostei e não gosto de ouvir, e haverá muitas mais. Ainda vou sentir muitas punhaladas no coração. O mais difícil no entanto está sendo ouvir os meus próprios nãos. E insistir em (ainda) encarnar a personagem que sofre. Ela não me serve mais. E no entanto me esforço para me encaixar nela.

Quando é que eu vou começar a obedecer a mim mesma? Quando foi mesmo que eu optei por desembestar a fazer bobagem? Ainda bem que tem muita gente que me pede os conselhos que eu preciso dar a mim mesma, talvez de tanto me ouvir eu decida me atender.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010



Todas as coisas passam.

Não é nenhuma novidade, mas as nuances que vão aparecendo ao longo da vida é que são sempre surpreendentes, ainda que só corroborem o que é o definitivo - vai passar.

Não sou muito afeita a dramas, a convivência com drama queens variadas por muito tempo me deu um certo fastio disso, mas devo confessar que eu mesma já sucumbi à sensação de vivenciar a dor em alto e bom som; não sei porquê, mas parece que todos gostamos disso, alguns às vezes, outros como estilo de vida.

Eu vivi os meus dramas, exagerei, lágrimas jorraram, eu senti o coração partido e esfaqueado, falei que faria coisas - e teria feito mesmo - que por alguma intervenção divina acabei sendo impedida de fazer, amém.

O fato é que quando estamos na dor e sem a menor vontade de sair dela, as dimensões de tudo ficam retorcidas, os monstros que normalmente vivem no porão invadem a casa, cometemos desatinos, falamos montes de insanidades, comportamo-nos com o máximo de insensatez possível, saímos na rua descabelados, com olhar esgazeado, olheiras de zumbi, postura de corcunda de notre-dame, ar de o-mundo-acabou. Isso dura tempos variáveis, como somos obviamente diferentes cada um tem seu tempo de luto.

E um dia - voilà - em algum momento, no meio de um gesto, em uma sensação na garganta ou borboletas no estômago, naquilo que fazemos automaticamente todos os dias, em uma maneira de olhar, nas entrelinhas, no não dito, ou na discrepância entre as palavras e os atos, na honestidade, na sinceridade, na descoberta que nada é tão grave assim, tão esmagador assim, tão doloroso assim, na expressão que muda, na luz que volta a acender no olhar, no sorriso fácil, na descoberta da tranquilidade do amadurecimento, no reconhecimento da mudança, na visão do abismo onde nos sentimos prontos para pular de olhos fechados - de novo; em tudo isso renascemos, a dor não doi mais, o buraco no peito se fecha, os pedaços que pensávamos ter perdido milagrosamente se juntam, a grama fica mais verde, as soluções começam a aparecer, we get up, get dressed and get going, e mais uma vez, antes da próxima tempestade, aproveitamos a joie de vivre, que passa também.

And then all over again. And over again.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010



Eu não acreditava muito em perdão, porque nunca soube perdoar de verdade, e achei que isso não existe mesmo, porque por mais que passe o tempo e as coisas mudem, aquilo que fingimos perdoar vai estar sempre lá, não existe o esquecer.

Eu mesmo sem ter a intenção - e muitas vezes com intenção bastante direcionada - dei motivos para não ser perdoada. Em algumas ocasiões por simples ignorância de vida, por estar crescendo, fui pisando sem saber em terreno frágil que depois acabou erodindo. Outras vezes, mais tarde, pisei mas tentei amenizar, e inúmeras vezes dei mesmo motivos para não ser perdoada, porque o perdão ou a ausência dele não me faziam a menor diferença mesmo.

Hoje, vivendo uma situação onde o não perdão tenta de todas as maneiras possíveis me esmagar, tive uma revelação em relação ao meu perdão, que afinal de contas, parece que existe.

Eu já disse aqui que não conhecemos ninguém. Não é possível dizer - essa pessoa jamais faria isso comigo. Faria, sim. Isso e pior. Mas também não vivemos a dor alheia. E a dor é o que leva ao não perdão. As mágoas levam as pessoas a tomar atitudes que, em outras circunstâncias talvez não tomariam. E eu não estou justificando ninguém, porque sou eu a atingida, e não tem justificativa.

Mas tenho que dizer que, apesar de tudo, me alegro, porque olho de fora e vejo que cresci. Tudo o que podia ser feito para me magoar foi feito, mas foram coisas somente materiais, porque foi só o que restou para me atingir. Ou seja, continuo pairando fora de alcance. O que é material reconstruo. Ao que não dou acesso, não haverá acesso. E nem é proposital, não. Não é vingança. É só o andamento natural das coisas. A gente muda, algumas pessoas acompanham, outras não. Vidas tomam rumos diferentes. E por mais que as setas tenham sido lançadas na direção do meu coração, elas só atingiram o cenário material que me cerca.

O meu coração está tão em paz que, no matter what, que venham as setas, as balas de canhão, os bombardeios, as granadas, tudo se desmancha no ar. Tente pisar, ofender, impor, só o que eu consigo sentir é compaixão. E sendo assim, eu perdôo. E perdoando, meu coração ganha ainda mais paz.

O perdão existe, after all. É uma boa notícia.


Tarde de trabalho, café e coração quentinho, no silêncio. E à espera da noite, que promete um upgrade de tudo isso.

domingo, 24 de outubro de 2010



O vórtice, aquele meu velho conhecido, me puxa de novo. São os resultados da explosão atômica se manifestando. Primeiro a gente não percebe o que aconteceu, depois os tentáculos insidiosos e radioativos vão nos envolvendo, hoje um pouco, amanhã mais ainda, em alguns momentos nos afastam, e quando vemos que longe dos tentáculos existe dor, então pronto, está feita a contaminação.

É o pé escorregando na beira da espiral que gira, gira, gira, hipnotizando, chamando, e mesmo sabendo e ao mesmo tempo não sabendo o que tem lá, o chamado é irresistível. Já escorreguei em outros vórtices antes, o que encontrei lá dentro foi bom e quando ficou ruim, sair de lá foi muito penoso. Mas cada vórtice é diferente dos outros. Nesse já sei que existem turbulências.

Mas. Qual é a outra opção? Ficar na beirada olhando e resistindo? E so what? Não, decididamente a beirada não é para mim. Here we go again.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010



Pois é. Eu que pensava que explosão atômica acontecia só uma vez, acabei me envolvendo em outra. Aliás eu já deveria ter aprendido que isso de único, exclusivo e eterno não existe mesmo. Que seja explosivo enquanto durar. E único sempre, mesmo depois da explosão que vier depois.


Vou repetir um dos clichês mais velhos que já ouvi - o Rio de Janeiro continua lindo. As vistas dos mais diferentes pontos, como essa aí que foi a minha, ainda tiram o fôlego. Não fui lá para ter fôlego mesmo, só saio de casa se for para alguma coisa breathtaking, mas me surpreendi como a beleza subsiste, teima em estar lá, apesar de. E é triste que só temos visto publicamente o Rio triste, de morte e miséria, enquanto tudo aquilo ainda está lá para ser visto, sentido, digerido e incorporado.

Consolidar amizades foi uma das melhores partes, a identificação que temos com algumas pessoas não conhece distância nem tempo, a conversa flui, é tudo fácil.

Alguns outros motivos me chamaram, a aventura tem sido meu prato diário, quando a oportunidade passa pulo em cima dela, e até agora ela só tem me levado a grandes viagens. O que vem depois? Sei lá, mais fins de semana no Rio? Talvez. Fins de semana em São Paulo? Talvez. Só a âncora por enquanto sei que não vai ser jogada em lugar nenhum. As vistas múltiplas estão por demais atrativas.


Então que faz tanto tempo que quero e não consigo vir aqui escrever. Não consigo porque o turbilhão de party-every-day me engoliu, amém.

Semana passada teve Bon Jovi. Tudo foi perfeito, primeiro voltar no tempo e perceber que na verdade não se vem nem vai para lugar nenhum, basta ouvir uma música, sentir um cheiro, ver uma imagem antiga - e voilá - as sensações voltam todas, lá de onde elas nunca saíram, a conversa é retomada exatamente no ponto onde parou vinte anos atrás, os anos e as novidades seguintes perdem-se em um mundo paralelo imaginário-real que sabe-se lá para onde ou para quando foi.

Mas o Bon Jovi. Ele declarou que gosta do assédio feminino, e não é bobo nem nada, faz parte do marketing, mas ele pode. Vamos combinar que em três horas de show o homem parou bem poucos minutos, sacudiu os cabelos que já foram mais longos, arrasou no figurino, e o sorriso... Goooooooooooood o que é aquele sorriso? Sim, eu fui lá para tietar, pular e berrar, as moças educadas e mães de família foram deixadas em casa e foram lá parecer umas malucas, umas macacas saltitantes e gritadoras. Nós podemos fazer isso, porque todo dia vivemos uma vida bem normalzinha, então às vezes tiramos a máscara de "normais" (para quem?) e vamos lá pular e berrar.

O dia seguinte foi cruel, a garganta e alguns músculos que eu não lembrava que tinha se manifestaram, especialmente porque tinham sido usados alguns dias antes em outras atividades físicas tão saltitantes e gritantes quanto. Mas tudo isso se conserta sozinho, o próprio Bon Jovi no início já pediu - Let's enjoy the moment. E já há algum tempo eu já sabia que era só isso mesmo. A vida é uma coleção de momentos aproveitados. O tempo se comporta de acordo com o que nós estabelecemos para ele. Então estabeleçamos que hoje é dia de viver momentos de puro jumping and screaming.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nada não. É só isso mesmo. Já entendi.



Eu conheço um lugar que é uma twilight zone. Aparentemente é um lugar bem comum, com cara de habitação mundana, mas basta transpor a soleira da porta para dentro e me vejo no mais surreal dos mundos. Lá não se anda de sapatos e em geral tudo está muito escuro, no máximo, tem luz de velas. Já aprendi a reconhecer o caminho, mas a cada vez que apareço, novos recônditos se revelam, e me arrastam para espaços que mais parecem fora do espaço.

É uma dimensão paralela, e quando entro lá abre-se uma lacuna no tempo, na minha localização geográfica e no meu lado esquerdo do cérebro. Sou eu, mas não sou eu. Eu vou lá por livre e espontânea vontade e de muito bom grado, mas a partir do momento que entro não sei mais de mim. Ou pelo menos da eu com quem convivo todos os dias.

Tem bichos por todos os lados, mas é um lugar silencioso. Os peixes por si só obviamente vivem no silêncio. Os pássaros parecem respeitar calados o que presenciam, os cachorros parecem ausentes, o gato é o capítulo à parte. E o habitante humano dos domínios é o mais peculiar de tudo, é muito semelhante ao gato, mas ao mesmo tempo é etéreo como se vivesse nas nuvens, e tenho minhas dúvidas se a qualquer momento não possa tocar o ceu só estendendo a mão. E aliás, todos os toques nesse mundo parecem toques de anjo. O silêncio é primordial, as palavras pouco necessárias, e quando se fala, são sussurros.

Escuro, silêncio, presenças que mais parecem ausências. É o lugar onde se fala pouco e se sente muito, profundamente, e fora das demandas do mundo lá fora.

Depois eu volto para ele, o "outro" mundo. Mas é com fôlego renovado, e é bom saber que sempre existe para onde correr.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010



Isto é a pura verdade. Mais ainda quando se trata de comportamento humano. Nós não conhecemos ninguém. Ninguém mesmo, pais, filhos, amigos, namorados, maridos e afins, colegas de trabalho, enfim, nem a nós mesmos. Quase nada do que parece realmente é o que parece, palavras servem para muita coisa, mas não para nos definir ou revelar dos outros para nós.

Eu posso dizer o que quiser. Algumas pessoas se convencem, outras não. As que acham que me conhecem são as mais fáceis de se enganarem. E desisti totalmente de conhecer alguém, não conheço nem minha filha que saiu de dentro de mim, e nem uma estranha que ainda mora aqui dentro e eu de vez em quando encontro por acaso e não sei o que fazer com as manifestações dela.

Disso concluo que sim, tudo o que é sólido se desmancha no ar. Então pra que a preocupação? Não vamos saber mesmo no que vai dar, amanhã podemos ter partido para outro mundo, outro país, pro céu, pro inferno, sabe-se lá. Dizemos o que queremos, ouvimos o que nos é conveniente, acredita quem quer no que for mais convincente. Ou não.

Eu não pretendo convencer ninguém. Muito menos a mim mesma. Aprendi a ficar aqui só sendo. E desfrutando do que tem me levado vida adentro.

terça-feira, 28 de setembro de 2010



Mais um ano sobre o planeta. Nessas ocasiões prefiro o eufemismo, porque não entendo a importância disso. E daí que desde que eu nasci o planeta deu mais uma volta? Mas enfim, a rebeldia agora consciente tem muito mais appeal, escolher dá mais tempero ao que vivemos. Outro dia assisti Vicky Cristina Barcelona. Penelope Cruz é uma das minhas atrizes favoritas exatamente por isso - o drama é totalmente consciente. Não são só as personagens dela, ela tem o agravante de ser a atriz de Almodovar, mas em VCB com Woody Allen ela consegue ser tão irremediavelmente dramática, mas é uma coisa tão natural e ao mesmo tempo tão fake, é como olhar de fora, e fazer a opção de viver isso mesmo assim, ainda que.

E a maturidade trouxe o que eu busquei tanto, o resultado da coragem de ter tomado as rédeas, bem como as consequências e o que eu fiz com elas. Os aprendizados foram algumas vezes penosos, outras, fáceis, dependendo do meu nível de teimosia. Mas de novo aqui o tempero. Posso dizer que em quase tudo esgotei quase todas as possibilidades. Os quase não atrapalham, porque o não-definitivo de tudo foi o que mais me ensinou. Para sempre? Nunca? Garantias, quem tem? Então é hoje, é agora, não importa quantas voltas dê o planeta. Mas o tempo tem sua serventia, principalmente que agora aprendi que sou eu que mando nele e não ele em mim.

Eu declaro o meu tempo meu escravo, e com isso saio dele na hora que eu quiser, para viver aqueles momentos fora do tempo que compõem o mosaico que tem sido a minha vida até hoje. É por eles que eu meço os meus anos.

domingo, 26 de setembro de 2010



Tulips like cold weather.
It's spring time at this side of the planet.
Looks like a contradiction, because tulips are starting to die. And it's spring. But they are really starting to die.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010



Me peguei saboreando um momento. Apesar de estar totalmente envolvida nele, por algum motivo consegui estar dentro e fora ao mesmo tempo, e aproveitar duas vezes. O momento e o fato de saber que o momento existiu. E suspenso no tempo, sem lastros, sem amarras, sem amanhã, sem ontem. Só o agora, a respiração arfante pelo fato de estar viva.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010



Os dias ficaram pequenos para tudo o que aparece para fazer e administrar esse excesso tem sido extremamente agradável. A alma anda transbordando. A cada momento uma gota de pura e simples comunicação humana, de todos os tipos. Eu que andei desiludida das companhias humanas e não gosto de bichos estava começando a me preocupar em como seria depois do Armagedon se restasse só eu. Mas agora já sosseguei, porque encontrei os elos perdidos da conexão com os outros. É só abrir a mão e esperar. Sempre tem alguém pra pegar na mão da gente, ouvir o que dizemos e mostrar outra visão do mesmo mundo que compartilhamos. Estou tendo muita, muita sorte com quem cruza o meu caminho, já era hora de encontrar os anjos há muito tempo caídos e que andaram escondidos.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010



A vida tem sido generosa com quem coloca no meu caminho. Descobri que existem pessoas que dentro de suas imperfeições, seus medos e seus esqueletos no armário, ainda acreditam que compartilhar a vida com alguém não significa acorrentar sua vida em alguém.

Sentar e conversar, pegar o carro e passar o fim de semana em outro lugar, conhecer alguém que te conhece, contar o que se passou e o que queremos que venha não significa assinar um termo de compromisso, oferecer as mãos às algemas nem o cérebro à lavagem cerebral. É só sharing, mesmo. Porque tem muita coisa que a dois é melhor que a um. E não tem efeitos colaterais, só as alegrias de rir junto, descobrir o mundo do outro e dar um pouco do seu.

Por outro lado, entendi coisas que não entendia antes, alguns porquês, nada como viver o medo alheio para saber a medida de quão assustador ele pode ser. Mas mesmo assim continuo pulando primeiro para depois ver quando as asas vão se abrir.

But the rapture. The rapture is a once in a lifetime moment. And I think my moment is gone.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010



Os gatos são a representação viva da languidez.

Ontem encontrei um gato que apesar de só ter me visto uma vez já se considerou totalmente à vontade para enroscar nas minhas pernas e manifestar seu apreço com a língua. Ele me surpreendeu com a disponibilidade, coisa que pouco se vê, normalmente os gatos têm aquela atitude de I-don't-care. Esse gato tem um pelo tão macio que dá vontade de levar embora para casa por pelo menos uma semana, só para ouví-lo ronronar baixinho no meu ouvido, no escuro.

E eu adoro as palavras porque elas me deixam expressar várias coisas ao mesmo tempo que só quem cuida dos olhos consegue ler.

domingo, 5 de setembro de 2010



Quanto mais eu mudo mais interessante fica viver. De semi-clausura a party-every-day muitas águas rolaram. Continuo sem saber o que quero, mas já sei muito bem o que não quero. E estou experimentando aqui e ali para descobrir.

Hoje entendo pontos de vista que há alguns meses me pareciam coisa de outra raça que não a humana. Todos válidos, todos perfeitamente aceitáveis e muito interessantes, diga-se de passagem.

Mais que tudo hoje sei que a palavra "nunca" representa um tempo que não existe. Todos os meus nuncas viraram não-nuncas, e cada vez menos o conceito faz sentido. Como posso dizer nunca se não sei amanhã como vai ser?

A paciência vem sendo cultivada. Acordo antes do sol nascer e com o suor do meu rosto trabalho vinte e quatro horas por dia para fazê-la florescer. E já colhi os primeiros frutos.

Testei minhas perspectivas e todas elas se mostraram válidas, foi como ter o aval do universo para viver como, onde e quando quero tudo o que me der na telha. Algumas pessoas me acompanham, a outras isso não agrada nem um pouco, e ficou fácil escolher quem me importa. Aliás não agradar é muito divertido, quando não totalmente indiferente.

Aprendi também que determinadas coisas dificilmente mudarão, e são as coisas que não tive coragem de ir até o fim para tentar mudar. Mas faltaram-me as forças, e me permiti isso também, deixar de lado algumas batalhas.

A capacidade de expansão é infinita. A intensidade de vida ilimitada. Agora que fiz as pazes com a expectativa do outro, descobri o amplo horizonte da minha própria companhia, e o quanto ainda posso oferecer a mim mesma. E o que é engraçado, quanto mais me aprimoro comigo mesma menos preciso de aprovação, menos carência tenho, mais eu me basto. E quanto mais eu me basto mais eu brilho aos olhos dos outros que mais querem compartilhar disso - que talvez seja, enfim, a tranquilidade da maturidade.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Algumas coisas são tão naturais, descomplicadas e fáceis, que parece "certas".

Mas, nem sempre o que é certo é bom, e nem sempre o que é bom é certo. E quem foi mesmo que estabeleceu o que é certo? E o que é bom? Para quem?

Quando parece certo e é bom, não é bom, é ótimo, mas na atual conjuntura, se continuasse sendo bom e parecesse errado, aí é que eu ia querer mesmo, só para não perder o hábito de contrariar o que é certo, que para mim, por definição, é chato.

Então, certo ou errado, não faz a menor diferença. O que interessa é que é bom. E vai ficando cada vez melhor.

domingo, 22 de agosto de 2010



Onde e em que momento é cedo e quando é tarde demais?

O tempo vai escoando em uma confusão de sentimentos, de fatos, de mudanças, de experiências. E tudo dá tantas voltas e eu acabo no mesmo lugar.

Em que ponto do caminho eu perdi a coragem?

Já sei que não é cedo ainda, mas será que passou a hora, o momento, será que é possível que eu tenha deixado passar a única coisa que não poderia?

Será que um dia essas perguntas terão respostas? Quem tem as respostas também não tem coragem, nem para admitir as perguntas.

And the clock goes on ticking. I know what to do. Just can't figure how.

sábado, 21 de agosto de 2010



O poder corrompe.

O poder de sedução, então, é cruel. Chega a ser uma covardia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

One of a kind




Isto é tão gentil e tão bonitinho que não resisti pôr aqui, e quem pergunta para que gostar de gentilezas com certeza está no aquário da esquerda.

Think about it? There's only 6 maybe 7 billion people on the earth -- 1/2 are women. 3/4 are ugly -- and the remaining pool more than 1/2 are taken (married) a significant number are lesbians. Then we have to further cut the number down so as to eliminate all American women (BTW, they're too fat -- I like a woman that's fit and carries herself well -- hmmm..like you). So anyway, the Latin American woman for the most part don't speak English (and really good --- hmmm....again like you) and divide by 12 any number you come up with -- because only 1/12 of them are Libras. So, discount any woman from Rio -- not my style -- meaning I like a serious woman -- and I doubt you could come up with anyone else besides yourself?


Publicado com autorização do autor.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Los Porteños



Voltando de B. A., onde tudo é bom, gastronomia, cidade, bares, cafés, pubs, restaurantes, tango, enfim, tudo mesmo, tenho que dar destaque a los porteños.

A bobagem toda de futebol que nos faz odiar los hermanos é isso mesmo - bobagem de futebol. Sim, eles endeusam o sem-noção-mor, mas aqui também se fala demais de futebol. Só que eles são muito mais que isso.

Os homens de Buenos Aires - e diga-se, todos, de todas as idades e posições - são maravilhosos. São bonitos, cheirosos, educados, mas isso é literalmente só perfumaria, porque aqui também tem disso, mas o que me impressionou foi a educação, o galanteio, puxar a cadeira, abrir a porta eu já conhecia mas... ao se fazer menção de vestir o casaco - goooooooood! Os homens correm para não deixar uma mulher vestir o casaco sozinha. Eu nem sabia que existia isso.

Enfim, aproveito para deixar meu protesto às mulheres que exageraram na defesa de direitos iguais, porque só tivemos prejuízo. Eu gosto de quem me trata como mulherzinha. Gosto muito de respeito com a minha capacidade - profissional, emocional, pessoal. Mas eu sou mulher. Fisicamente mais delicada, então por favor carreguem o peso para mim. E não me deixe do lado de fora da calçada. E o básico, né? Abrir a porta e puxar a cadeira, obrigada. Se vestir o meu casaco então, pronto, eu me rendo.

Só arrematando, a cidade é maravilhosa, quem não foi ainda vá, e mulheres, levem os casacos. Não é à toa que o símbolo máximo da cidade é o obelisco.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Parece que finalmente comecei a acertar o passo. Vou ali a Buenos Aires ver como se faz, volto semana que vem, as danças me aguardam.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010



Eu passei tanto tempo recolhida de mim mesma que agora que saí de novo para dentro de mim e consequentemente me voltei para fora porque esta é a minha natureza, que eu resolvi reclamar de volta a qualquer custo, que estou maravilhada com a diversidade das pessoas.

Me assusta um pouco a superficialidade que tenho visto, algumas pessoas parecem querer abraçar o mundo mas na verdade estão perdendo tudo, porque não sabem que quantidade não tem nada a ver com qualidade. Palavras são jogadas ao vento como se nada tivesse consequências, mas aprendi a respeitar isso também, cada um vive na profundidade que escolhe.

Por outro lado, tive surpresas maravilhosas, descobri as minhas mentes irmãs, foi um alívio encontrar minhas próprias ideias em outras cabeças, e uma alegria. Muitas vezes me enganei, achando que falava a mesma língua que alguém que acabou demonstrando que não era bem assim, mas não importa, sempre estive e vou sempre estar aberta, quando eu quero saber a temperatura da piscina eu pulo na água, não ponho só o pezinho. Isso machuca às vezes, mas a experiência enriquece - pobreza é evitar arriscar por falta de coragem.

Cada uma dessas surpresas boas compensa de longe as decepções que são tão pequenas e rápidas. A última foi quase surreal. Inesperada mesmo. Entrei totalmente no escuro, tateando à luz de velas, literalmente. A boa música ajuda a transportar para outro mundo, um mundo de alguém que não tem medinho, de outra alma que caminha, sem procurar, mas se acaba encontrando, não teme dar e receber, não para para pensar nos prós e contras, nos riscos - simplesmente vai. E tenho visto que há muitas assim. E ter como objetivo essa troca, não importa por que motivos, por quanto tempo, é o mais fascinante do caminho.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010



Há tanto tempo eu caminho à beira do abismo que já me habituei, e nunca pensei que me acovardaria. Mas os últimos passos têm sido vacilantes, porque as curvas anteriores me fizeram escorregar. Deslizei muitas vezes, em algumas pensei que o vazio me engoliria, mas não - finquei o pé de volta.

Conforme vamos nos acostumando aos perigos do caminho, ou ganhamos mais confiança ou deixamos o medo se instalar de vez. Eu fui ficando mais confiante, mas uma coisa começou a me incomodar.

Podemos escolher caminhar sozinhos, e em boa parte do meu percurso desejei e cumpri isso de coração, eu amo minha própria companhia, é o que me dá força, é o aprendizado. Porém em determinados momentos me agrada que alguém caminhe ao meu lado. E o que me incomoda é não encontrar ninguém digno de tal feito.

Às vezes tem alguém lá, independente de quanto tempo me acompanha, os primeiros passos são sempre os mais fáceis. E observe-se - não quero ninguém atrás de mim, nem à minha frente. Só ao meu lado, e na confortável posição de eu estar entre ele e o abismo. E eu nem peço para segurar a minha mão. Basta não me empurrar.

Mas mesmo assim vão ficando todos pelo caminho. Uns se afastam depois de alguns passos e voltam para o lado mais seguro, onde vários tipos de montanha garantem seu suporte (cada um se apoia na montanha que merece); outros simplesmente sentam no chão e empacam, e se eu olhasse para trás veria inúmeras figuras lá onde ficaram ao longo do caminho, ainda no mesmo lugar. Mas eu não olho. E há ainda os que saem correndo na direção oposta, ou em qualquer direção, que seja longe do perigo.

E o caminho ainda é longo, e o receio que se insinua não pode se instalar, senão quem vai empacar sou eu. E não vai ser agora, depois de toda essa subida íngreme que eu já deixei para trás, que eu vou parar e sentar no chão. A menos que seja para apreciar a paisagem.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010



A maldição desses anjos é que são eles ou ninguém, e por mais que a noite seja suave de bar em bar, em algum momento a brincadeira com o fogo acaba queimando mesmo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Draconis, metus et alii



Felix qui potuit rerum cognoscere causas atque metus omnis et inexorabile fatum subiecit pedibus . . .
(Georgics, Virgil 2.490-492)


*Atendendo a pedidos, a tradução (mais ou menos que meu latim já se foi faz tempo):
De dragões, medo e outros
"Feliz daquele que consegue entender as causas das coisas e ter sob seus pés todos seus medos e destino inexorável"

É marcante como quem mata o dragão é sempre o heroi, quer dizer, o homem. Na grande maioria das histórias - senão em todas, não me lembro de alguma dragon slayer mulher - o dragão é perfurado pela espada masculina (não discutamos a simbologia). E em geral é para salvar a mocinha que está em perigo. E isso se solidifica tanto, entre outras variações do mesmo tema com outros bichos e outras armas, que grande parte das mulheres ainda acha que precisa do salvador com a espada.

Não sou contra salvadores com espada, acho até bem conveniente, porque depois que algumas mulheres inventaram a igualdade, tudo passou a dar muito trabalho e onde bastava piscar os olhinhos agora tem trabalho duro. Os salvadores com espada são úteis em inúmeras situações, e estão rareando. O que se vê muito é o contrário, os homens com medinho dos dragões, dos compromissos dentuços, da intimidade que solta fogo pela boca, do trabalho danado que dá vestir a armadura para que ninguém se aproxime.

Eu não preciso (meus olhos não são azuis como os da imagem, mas eu também sei segurar uma espada) do salvador, mas gosto de ficar na torre esperando o homem da espada. Agora que descobri que ainda existem homens com espada, ficou mais divertido. Salvadores que se jogam, que conversam, abrem suas portas sem medo de invasão, compartilham suas vidas sem medo de entrar eles mesmos no calabouço. Homens que sabem que não são as mulheres que têm as chaves das jaulas onde supostamente querem trancá-los, sabem onde estão os verdadeiros dragões que eles têm que enfrentar.

Esta paisagem é sempre linda. Este último fim de semana o sol e o céu azul colaboraram para torná-la ainda mais deslumbrante. O frio em geral não me agrada, mas passar frio lá é obrigatório. A temporada acaba, outras coisas começam, entrei em um trem cujo destino não sei, e nem quero saber. Just enjoying the ride.

sexta-feira, 30 de julho de 2010



Eu já disse aqui há algum tempo que pessoas brilhantes me fascinam. E continuam me fascinando, por isso vou dizer de novo. Uma das anteriormente citadas mais ainda me surpreendeu, e me pôs para pensar como é animadora a diversidade entre as pessoas. Muitas infelizmente são descartáveis, algumas por falta de oportunidade de serem melhores, e descartável aqui não significa que sejam piores que ninguém, apenas não considero para determinados relacionamentos. Outras são descartáveis em um sentido mais ofensivo mesmo, porque assim o são por opção. Escolhem ser mesquinhas, hipócritas, mentirosas. Mas dessas não tenho tempo para falar.

Quero mesmo é discorrer mais sobre o brilhantismo de uma pessoa que tive a oportunidade de conhecer melhor. É um homem bem-sucedido, interessante, inteligente, mas não foi nada disso o que me fascinou. Isso não é lá muito difícil de se ver, god bless. Um homem bem-sucedido não precisa falar business nem reclamar do stress do trabalho o tempo todo. Todos trabalhamos e não é só por esporte, todo mundo se cansa e ser mártir do trabalho já cansou foi a minha beleza, que é muito facilmente cansável. Uma pessoa inteligente não precisa despejar citações, literatura nem cinema a esmo, eu sei muito bem onde, o que, como e quando, e é para conversar comigo a respeito, não me afogar em frases longas que se analisadas profundamente dizem que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Fora outros vazios que pontuam aqui e ali um carro bonito (e grande), uma boa aparência, um título que supostamente deve impressionar, enfim, os eu sou e eu tenho. E o pior é que nada disso funciona, apesar das crenças em contrário.

O que funciona por trás disso e é tão raro é justamente o não-isso. É o isso sem a consciência disso, ou sem a necessidade de expor em letras garrafais em neon. É isso sem que me seja dito, é o isso que eu mesma concluí, sem ninguém ter tentado me vender. Por que simplesmente é. O que é não precisa de explicação, propaganda, justificativa. Fica lá no fundo, e no entanto pula a todo momento entre palavras, conversas, gestos, olhares. Naturais. Sem a vontade de impressionar.

A não vontade de impressionar é o que me impressiona mais profundamente. E é o melhor afrodisíaco que eu já vi.

To do is to be - Nietsche
To be is to do - Kant

quarta-feira, 28 de julho de 2010



Há muito tempo já percebi que felicidade é um estado temporário. Vivemos procurando escapar da dor, apesar de alguns conviverem bem com ela, dependerem dela e até explorá-la como meio de vida.

Isso tudo é chover no molhado, mas não há outra maneira de dizer, ou pelo menos eu não sei outro jeito, minhas habilidades não chegam a tanto. E se é clichê é porque foi muito dito, e deve ter algum fundamento, muita gente já deve ter experimentado assim.

Meus tempos bons parecem finalmente ter chegado. O mar cujas ondas já quase me derrubaram do barco anda calmo. Sereno, mas com tantos peixes que eles chegam a pular dentro do meu barco.

São as coisas que se acalmam ou nós que nos adaptamos a elas? Ou mudamos aos poucos o que estava ruim e por fim nos damos conta que melhorou? Ou simplesmente olhamos por trás das velas do barco e vemos outros horizontes?

O trabalho tem tido novidades interessantes, consolidei amizades preciosas, a saúde vai bem obrigada, determinadas chateações simplesmente deixaram de me incomodar.

E mentiras sinceras me interessam. Muito. Elogios me compram. Eu finjo que acredito em tudo com prazer e sorrio, pescando mais elogios ainda. Eu dou corda, estendo a mão, mostro alguns dos meus truques. Outros guardei.

no ar que eu respiro eu sinto prazer
de ser quem eu sou
de estar onde estou

E sim, agora só falta você. Para os truques que eu guardei.

segunda-feira, 26 de julho de 2010




Venho lendo história do mundo, que muito me interessa, e talvez a perspectiva posterior seja mesmo o segredo de finalmente se entender o que está acontecendo. Olhar agora para trás é fácil, assim como toda profecia já realizada é muito simples de interpretar, é só encaixar o significado no que aconteceu e pronto - todo mundo fica embasbacado com o profeta.

Mas a questão não é essa. Estou lendo obras interessantes que não se atêm aos porquês, ou seja, aspectos que levaram fatos a ocorrerem, mas sim aos como eram, descrições de rotinas, e acabei tendo uma visão ampla como nunca tinha pensado. E é impressionante como nos habituamos ao que é bom e fácil, e ao ler sobre dificuldades cotidianas em tempos idos, até me espantei, mas é óbvio, nem sempre tivemos telefone, geladeira, esgoto, comida em abundância, etc.

E é claro que não pude deixar de extrapolar para a minha vida. Olhar para trás ainda não é uma perspectiva de milênios de história, mas acho que já cheguei a uma distância de onde posso ver bem claramente. E gosto de onde cheguei. Ver à frente seria muito útil para não desperdiçarmos tempo com dúvidas, mágoas, preocupações. Mas todo mundo sabe que tem que passar por isso de qualquer maneira.

Bom é chegar onde se diz - então era isso. Assim é o equilíbrio, a maturidade - o passar dos anos tem que ter alguma vantagem - e os anos foram gentis comigo. Estou aproveitando muito. Até querer saber se é só isso, daí começa tudo de novo. Ainda bem.

terça-feira, 20 de julho de 2010



Depois da verborragia (sim, a palavra é horrível, parecem verbos jorrando para todos os lados, mas é isso mesmo, não tem outra) que me acometeu nas semanas anteriores, a semana passada arrumei coisas e mais coisas para fazer (so much fun so little time) que nem consegui mais escrever aqui. Nenhuma perda para a humanidade, obviamente, mas venho rodeando um assunto mas não sabia como falar sobre ele, e eis que hoje um fato me revelou o que era que eu estava pensando mas não sabia como dizer.

Amizades sempre foram um capítulo longo na minha vida. Mantenho amigos há dez, vinte, trinta anos. Ex-alunos, todos os meus médicos, amigos da irmã, do ex-marido, e os meus próprios, claro, conquistei, cultivei e mantive, e não me arrependi.

Mas sempre teve a questão da amizade entre homem e mulher. Quando mais jovem a maioria dos meus amigos eram homens, mas a vida era mais simples e nós éramos mais ingênuos e brincávamos na rua. Com o passar do tempo fui teimosa em não querer acreditar no que diziam, que amizade entre homem e mulher nunca é só amizade. Algumas vezes fiquei mesmo em dúvida, mas agora, com amizades novas e antigas renovadas, e com a maturidade, sei que é possível sim. Tenho um amigo que cultivo há quase vinte anos e que tem sido meu ombro amigo em momentos difíceis, e até trabalhar juntos conseguimos, falamos a mesma língua, pensamos da mesma maneira. Como ele conquistei outros mais recentes. Mas não existem milagres. O que eu descobri é que amigos com benefícios são a solução para esse dilema. Aqueles que sabemos que não serão nem amigos porque esticam o olho para nós, mas também não queremos como namorados. Mas eles são tãaaaao... sei lá. Então amigos com benefícios é muito interessante, conveniente e não é para qualquer um, mesmo porque em geral os homens alegam que não querem dar esperanças para as mulheres, as quais por sua vez fingem que não perceberam que eles é que estão enrolados até o pescoço e os deixam fugir de medo, que é o que acabam fazendo, eventually.

Resolvida essa questão, eu estava lamentando muito ter perdido a fé na amizade entre mulheres. Intriga, inveja, comportamento infantil, puxação de tapete, dedo no olho, engalfinhamento, pelos mais diversos motivos, desde o peso (a mais magra é sempre odiada, no caso, eu), passando pelo trabalho (claro que o meu é o mais fácil do mundo) e chegando ao graal das brigas femininas, sim, os homens. Não vou detalhar nada disso aqui para não ficar coisa de mulherzinha demais, mas enfim, tudo isso tinha me decepcionado muito, porque tenho grandes, antigas e novas amigas de quem gosto muito, com quem conto sempre, mas estou sempre atenta, dormindo com um olho aberto quando se trata de amizade feminina. Lamento muito, muito mesmo, mas não gosto de ser hipócrita. Por outro lado, hoje recebi um recado de uma amiga que mora longe, nos vimos pessoalmente só uma vez, falamos pouco, mas ela me disse que sou importante para ela. A surpresa da espontaneidade me emocionou. E me devolveu a fé.

Enfim, homens ou mulheres, sem amigos fica tudo mais difícil, mais monótono, mais pobre. Os homens talvez precisem aprender que nem todas as mulheres estão com o laço na mão com captura em andamento; e as mulheres talvez precisem deixar um pouco de espaço para a outra brilhar. Mas é por isso que a vida tem graça, é para isso que a gente sai da cama todos os dias.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Futilidades



Eu não sei o significado da palavra "férias", mas tenho alguém em idade escolar em casa, por isso sei o que significa o mês de julho. Nesse ambiente festivo (para alguém em algum lugar), eu e a escolar em questão, também minha companheira, associate, apêndice, assistente para assuntos metafísicos e ombro amigo, a.k.a. "filha", resolvemos na semana passada aprimorar nossa cultura e assistimos "Fast and Furious 4"

Não assistimos os outros três, mas dada a profundidade do tema, acho que não será necessário. Já entendemos tudo.

Não, não somos fãs de velocidade. Apesar de eu estar morrendo para aceitar um convite para subir a serra de Campos do Jordão em cima de uma moto e encostar o joelho no chão numa curva, a velocidade só acelera o meu coração de medo mesmo.

E também não foi pelos carros sensacionais, tunados, enfeitados. Eu morro de rir com as associações que faço mentalmente entre os homens e seus carros, e o que possivelmente os carros representam para eles. Questões de tamanho, potência, barulho, acessórios, etc., etc., prefiro não discutir para isto não ficar impublicável. E para não correr o risco de ofender o carro de ninguém.

Tampouco foi o conteúdo altamente cultural e profundamente filosófico do enredo brilhante que nos chamou a atenção para essa obra-prima. Estamos em férias, for God's sake.

Nós assistimos quase duas horas de perseguições e pieguice e mais os extras e as entrevistas só pelos braços do Vin Diesel.

E eu cheguei à conclusão que o diâmetro do braço dele é quase assim como... o diâmetro da minha coxa. E o resto das associações de tamanho, potência, barulho, acessórios, etc., etc., também não vou poder divulgar, tem menores de idade envolvidas, for God's sake.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Só pra constar.



Ainda na linha sou-chata-mesmo-e-daí, arrumei umas coisas novas para reclamar / criticar / implicar. Por que tanto alarde de paz? Grupos com nomes com verbos e adjetivos e "paz". Alguém tem mesmo essa pretensão? Alguém está mesmo achando que vai salvar o mundo e todos vão sair dando abraços e as armas serão extintas? Hello? Não sou contra a paz, obviamente, mas é o falatório que é irritante, porque todo mundo sabe aonde vai dar - lugar nenhum. E os grupos verdes / ecológicos de vamos salvar as baleias, os micos, os golfinhos, whatever, nem vou entrar no mérito de ter crianças para salvar, mas... abraçar árvore? Jogar o barquinho na frente do petroleiro? OK, os desastres e abusos são fatos, mas precisa ser tão chato? Precisa censurar quem esqueceu a luz acesa ou sai de carro todo dia? Se o planeta vai acabar mesmo, alguém está achando que pode fazer alguma coisa? Não é muita pretensão?

E por que mesmo eu teria que saber das últimas novidades do jogador sei-lá-quem que matou não sei quem e os detalhes da carnificina? Por que eu tenho que estar atualizada? Quem disse que eu quero saber disso e não de outras coisas? Mas como assim eu não sei quem casou com quem ou quem vai ser o vice do candidato sei lá quem, porque não faz a menor diferença, seja lá em quem votarmos, já sabemos os resultados. Mas de eleição também estou com preguiça. Acaba copa do mundo, começa o assunto eleição. Entremeado por assassinatos, separações no mundo profundo das celebridades, as novas novelas e as músicas (?) que são hits no momento por mais ou menos três dias.

Eu não sei nem fingir que me importo. Alienada, egoísta, não sei o nome. Sei que I don't care. Esta é uma semana de party every day para mim. Por mim o mundo pode acabar que eu não estou nem aí.

E que venham as pedras.